A Herdeira de Hécate

Capítulo 43 - You and I


A Herdeira de Hécate

You and I just have a dream
To find our love a place
where we can hide away
You and I were just made
To love each other now, forever and a day

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Capítulo 43 - You and I (Scorpions)

A primeira coisa que pensei quando abri os olhos era que havia morrido. Estava escuro, sombrio e quente. Quando me acostumei com a leve escuridão, percebi que estava em um jardim. Não um jardim qualquer. Ele era lindo, com várias frutas e as que mais me chamaram a atenção foram as romãs. Por um segundo, me senti tentada a comer, mas lembrei-me que quando se é semideusa, nada chamativo pode fazer bem, então tentei controlar meu impulso irrefreável de morder uma delas. Olhei para trás, dando de cara com um campo que parecia ter quilômetros e quilômetros de extensão. Vi várias pessoas vagando por ali e pensei em perguntar onde estávamos. Mas assim que dei o primeiro passo em direção a elas e semicerrei um pouco os olhos, percebi que não tinham formas corpóreas definidas. Eram fantasmas.

Respirei fundo duas vezes para evitar que o grito preso na garganta saísse.

Não eram muitos lugares que haveriam fantasmas ou almas vagando por aí, então eu só poderia estar no Mundo Inferior. E deveria haver um motivo para que eu estivesse ali em um sonho e eu queria descobrir qual era. Se eu vim parar nos jardins de Perséfone, acho que talvez ela quisesse falar algo comigo, mesmo que eu não soubesse o porquê. Então virei-me para o castelo obscuro e majestoso à minha frente e segui em direção ao portão. Fui recebida por esqueletos de fuzileiros, soldados e marinheiros. Por um instante, pensei que não me deixariam ir adianta, mas eles simplesmente abriram o grande portal de metal negro e indicaram que eu avançasse. Franzi o cenho, confusa, mas o fiz.

Deparei-me com um grande salão. Havia dois tronos colocados estrategicamente ali. Um maior e majestoso, parecendo ter sido montado com esqueletos. Poderia ser assustador a qualquer outra pessoa, mas meu sangue divino também vivia no Mundo Inferior, então não seria problema para mim. O trono menor era feito por flores e folhas, mas estava vazio. O que me assustou foi Hades se levantar de seu trono ao me ver.

– A Herdeira de Hécate. – ele disse, sua voz grossa e rouca como a de Nico, mas muito mais intimidadora e assustadora.

Quando recuperei-me do choque, ajoelhei-me em revência ao dos deuses que sempre mais simpatizei, mesmo que imaginasse que ele não sentia o mesmo por mim. E não era porque ele não era um dos Olimpianos que eu o menosprezaria e faltaria com o devido respeito como muitos faziam.

– Lord Hades. – eu disse, abaixando a cabeça.

– Ao menos bom senso a garota tem. – ele comentou sarcasticamente e comecei a imaginar porque ele iria querer me ver. – Levante-se, garota, não tenho muito tempo para você.

Assim o que fiz e engoli em seco ao ver o olhar duro e cruel que ele me mandava. Essa não era uma visita em sonho amistosa, e isso eu tive certeza quando ele semicerrou os olhos em ameaça.

– Quero apenas lhe dar um recado, filha de Hécate. Você e meu filho podem ser importantes juntos por enquanto, porque se sua mãe perder o poder, não é só o Olimpo que pode decair, mas o Mundo Inferior também, mas quando isso acabar, o relacionamento de vocês também acabará.

Abri a boca para retrucar, dizer que eu desistiria de Nico tão cedo e um outro discurso imenso que Paige me fizera decorar para mim mesma sempre que eu pensava que talvez não fosse para ser, mas minha garganta travou a um simples movimento da mão de Hades.

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– Eu disse calada! – ele urrou, e eu travei meu lábios para que não fosse pior para meu lado. – Não permitirei que meu filho fique com alguém como você, então quando essa missão terminar, dê adeus a esse romancezinho de verão.

Ele virou-se e saiu por uma porta lateral. Comecei a pensar em como iria acordar para sair dali, mas as sombras dos candelabros foram crescendo e se misturando ao chão. Aproximaram-se sorrateiramente de mim e me cercaram, subindo por minhas pernas. Tentei controla-las como havia feito antes, mas nada pareceu surtir efeito e eu comecei a entrar em desespero quando foram tomando meu corpo. Por fim, elas me cercaram por completo e eu apaguei com o sufoco.

– Anjo, o que foi? – perguntou Nico quando eu sentei ofegante na cama.

Eu estava ofegante, e as lágrimas que escorriam não adiantavam muito o meu trabalho de tentar respirar novamente. Nico se sentou e eu mal percebi que ele estava sem camisa. Claro, corei um pouco, mas, diferentemente de como eu pensava, meu corpo relaxou quando ele me abraçou contra seu peito nu. Inspirei e expirei algumas vezes com dificuldade, mas aos poucos consegui ir me acalmando e tomando novamente o controle sobre minha respiração e pulsação. Permiti que Nico mantivesse os braços ao meu redor e me aconcheguei mais a ele quando me recompus.

– Está melhor agora, Anjo? – ele perguntou, depositando um beijo no alto da minha cabeça.

– Um pouco. – sussurrei de volta, respirando fundo mais uma vez e passando meus braços pela cintura de Nico.

– O que aconteceu? – ele perguntou, e eu me encolhi um pouco contra ele. – Você começou a gritar e se remexer, e quase não acordou.

– Foi um sonho. – sussurrei contra a pele de seu pescoço e quase não percebi que ele se arrepiara. – Um pesadelo, na verdade.

– Sonho comum ou de semideus?

Nico me puxou para deitar novamente, aconchegando-me o mais próximo possível de si e acariciando meu braço para me esquentar. Nos cobri até a cintura e relaxei sobre seu peito nu, fazendo círculos com o polegar em sua cintura. Pensei bem no que poderia dizer a ele. Talvez não fosse tão legal ele descobrir que o pai estava nos ameaçando.

– Se eu disser que seu pai me fez uma visita, o que você diria? – comentei, esperando que não causasse uma má reação.

Nico, porém, ficou tenso e eu senti isso em seus músculos que estavam sob minha mão.

– Ele fez o quê?! – ele perguntou e ainda demorei alguns segundos desnecessários para perceber o tom raivoso e ultrajado em sua voz.

– Calma, Nico. – eu pedi, me inclinando um pouco e segurando seu rosto em minhas mãos quando percebi que sua aura e presença começavam a se tornar pesadas e obscuras.

– O que ele disse, Cristal? – Nico perguntou, sua voz séria e os olhos duros.

Engoli em seco antes de responder e abaixei meu olhar. O que não foi uma das melhores ideia que já tive, já que meu olhar recaiu sobre os músculos peitorais de Nico, que eram no exato meio entre perfeição masculina e sedução jovial. Então simplesmente foquei meu olhar na mesinha de cabeceira.

– Ele disse que por enquanto, tudo bem o nosso relacionamento, porque de algum modo será importante na missão, mas que depois que a finalizarmos, isso deve acabar. – contei-lhe, temendo sua nova reação.

– Hey, Anjo. – ele me chamou, segurando abaixo do meu queixo e levantando meu rosto para encará-lo nos olhos. Quando encontrei seus orbes negros, eu vi ali segurança. Uma segurança que jamais pensei ver em Nico e que eu mesma jamais conseguiria transmitir. – Não vou deixar que ele a tire de mim. Jamais. Daremos um jeito, nem que tenhamos que fugir ou que eu precise te sequestrar.

Eu sorri docemente, sentindo-me leve e livre, não importa o quanto Hades tenha nos ameaçado. Eu pertencia a Nico e Nico pertencia a mim. Era algo tão simples e fácil quanto dizer que era impossível contar as gotas de água no mar.

– Que romântico, Nico, saber que você me sequestraria. – eu brinquei, mesmo sabendo pelo seu tom de voz que ele dizia a sério.

Nico sorriu para mim, abrindo aquelas covinhas pelas quais eu havia me apaixonado.

– Bem, talvez a parte do sequestro não seja tão romântico, mas a parte de enfrentar os deuses e o mundo talvez seja. – ele disse e, por um segundo, pensei que não haveria outro garoto no mundo com quem eu gostaria de estar naquele momento.

– Não precisa enfrentar os deuses por mim, eu não sou nada demais. – comentei, externando uma parte dos meus receios a ele.

Nico me girou na cama, ficando sobre mim e acariciando minha bochecha. Seus olhos negros tinham um brilho que Paige havia dito ter surgido apenas depois de me conhecer.

– E eu já te disse, Anjo, você é tudo para mim. – ele sussurrou, e eu sorri, emocionada.

Nico me beijou, apenas um encostar de lábios e eu mesma estava prestes a aprofundá-lo quando ouvimos uma batida na porta.

Oh, casal do submundo, estamos indo comer, então se não querem que acabemos com toda a comida, é melhor pararem de se agarrar e virem de uma vez! – Paige disse do outro lado da porta, e eu quase abri a boca para mandá-la ignorar a comida e ir agarrar o Travis.

Mas, como sou educada demais para isso, apenas disse que já estávamos indo.

– Melhor irmos antes que eles entrem aqui. – sussurrei para Nico quando ouvi passos se afastando.

– Tem razão. – comentou Nico, depositando um demorado selinho em meus lábios. – Terminamos isso depois. Especialmente depois que eu te der chocolate.

Eu ri, dando um tapa em seu ombro para logo após afastá-lo. – Eu sabia que teria chocolate no meio.

– Acredite, Anjo, chocolate ainda fará parte da nossa história. – ele disse, mandando-me uma piscadela.

Acho que talvez Nico não tivesse ideia do quanto uma piscadela sexy dessas me deixava um passo mais perto do ataque cardíaco.