Dies Incertus

Pessoas Inesperadas.


Ivan tocou a cabeça do Segundo. Suas mãos, que antes formigavam, passou a sensação para o jovem rapaz. O que aconteceu a seguir foram puro espanto e histeria. Assim que as mãos tocaram Ismael, grandes lufadas de ar irradiavam de seu corpo. Com os olhos revirados, o moço murmurava algumas palavras irreconhecíveis, o que causou uma súbita curiosidade e que durou pouco tempo. Pois um feixe de luz atingiu em cheio o Segundo e o fez levitar. A mulher, que foi seu guia até a sala, estava estarrecida:

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‒ Oxalá! O que você fez com o nosso garoto?

As atenções antes voltadas para o inusitado acontecimento se focaram para Ivan. Um a um questionaram exasperadamente o Primeiro. Acreditaram que Ivan era um bruxo, uma pessoa má. Então começaram a agir exaltados. Na outra extremidade da sala, mulheres e anciãs tentavam, por meio de danças e rezas, libertar Ismael da suposta bruxaria. O rapaz estava em maus lençóis, e desejou que alguém o socorresse daquela inusitada confusão.

Aconteceu de maneira bem rápida, uma forma disforme surgiu. Só se conseguia distinguir o dourado de sua armadura. Mas a luz foi tomando forma, e aos poucos foi possível observar mais quem era aquele ser estranho. Começou com os cabelos, loiros – e lindos – que caiam graciosamente nos ombros, em ondas espessas. O rosto era fino e bondoso, olhos ambares e honestos. Era em suma, um ser perfeito. O resto do seu corpo foi aparecendo. Corpo levemente musculoso e de cor branca. Por baixo da reluzente armadura dourada era possível visualizar algumas partes com tecido branco. Na cintura, descansava uma espada, de cabo cor dourada encrustada de rubis e de lâmina prateada. O ser olhava tranquilamente para todos. E os ânimos se acalmaram. Ismael ainda estava em transe, o que fez o misterioso alado ir até ele em passos firmes, mas imponentes. Pousou a mão do jovem e falou como se somente Ismael ouvisse.

‒ Que Eloah seja tua força!

Então o rapaz caiu desacordado. O anjo pegou-o nos braços e foi até onde Ivan estava. A velha que estava sentada em uma cadeia, com roupas cerimoniais, pediu à mulher que guiou Ivan que buscasse o garoto. Ela obedeceu e foi, com receio, levar o jovem desacordado dos braços do ser misterioso. Então, com certa autoridade, se dirigiu ao alado que assistia tudo simplesmente sem dizer palavra alguma:

‒ Divindade! Que fazes aqui em nosso terreiro?

O alado se dirigiu um pouco mais próximo à senhora.

­

‒ Saudações, Terrena. Meu nome é Amael e sou um general celeste. – pausou. A mulher, que antes soava com autoridade, quase se encolheu diante de tão grande imponência. – antes de falar o motivo da minha vinda até aqui, deixem-me explicar o que houve. – caminhou até perto de Ivan, que tremeu por estar tão próximo dele. – o mundo sobre o qual vocês vivem corre o risco de acabar. Deus cansou de dar chances para que a humanidade se corrigisse. Portanto, ele deu a ordem aos arcanjos para que o Sétimo Dia fosse executado.

Todos que estavam presentes na sala se espantaram, era visível o terror e o medo em suas faces com a possibilidade de que o mundo que eles conheciam tão bem se acabar. Porém, estavam certos, de que chegaria tal momento um dia. Mas estar acontecendo agora era estranho. Ele continuou:

‒ Porém, não são todos os arcanjos que aderiram à causa de Deus. Dois dos Primeiros Filhos, que foram as seis primeiras criações de Eloah, decidiram entre eles que a humanidade ainda merecia ser salva. – se dirigiu próximo a Ismael, ainda desacordado. ‒ Entretanto, teriam que ver as consequências dos próprios pecados. Decidiram então, aleatoriamente, abençoar três terrenos com dons especiais. Para que se juntem aos Dois e se dirijam até o Supremo para convencê-lo a amansar a sua divina ira.

Um dos homens que batucava na cerimônia timidamente perguntou ao general alado. – era visível o medo de estar diante de tão belo ser. – Quais são os profetas escolhidos?

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Amael apontou para Ivan e Ismael e falou:

‒ São estes. Os escolhidos para advogarem toda a humanidade.

Uma mulher apareceu no salão. Não usava trajes ritualísticos, apenas um vestido branco caído até próximo aos pés. Tinha a pele em tom marrom semelhante ao chocolate, seus cabelos, ondulados, deslizavam graciosamente até ao meio das suas costas e seu olhar era firme, porém, naquele momento, hesitante com a cena que se desenrolava naquele local. Observou bem, estavam na sala um grupo de pessoas ‒ os que dançavam há tempo atrás ‒ um jovem repousando no chão e um rapaz que aparentava ter uns vinte e cinco anos. Seu olhar pousou no alado. O observou por alguns segundos e o reverenciou. Um senhor que estava com o grupo, confuso com a cena, perguntou:

‒ Jussara. Por que se curva diante dele?

‒ Não será necessário eu lhes explicar. Desculpem-me por isso. ‒ levantou as mãos ‒ seria importante se vocês pudessem saber o que se passa. ‒ Abaixou as mãos, seu olhar se dirigiu para o anjo, que se mantinha calmo e sereno. ‒ Certas coisas não podem ser espalhadas.

‒ Não entendo. ‒ falou a senhora que tinha feito o primeiro contato com Amael ‒ Por que não podemos saber sobre tal coisa? ‒ seus olhos encontraram os de Jussara. Estava visivelmente exasperada ‒ se isso nos interessa. Já que nosso mundo, onde moramos e construímos tudo, pode estar perto de se acabar?

A mulher não se abalou com as palavras da velha. Foi até ela, tocou-a nos ombros.

‒ É política celeste. Algo que você nunca irá entender.

Antes que a anciã pudesse retorquir, Jussara levantou as mãos. O ar do ambiente mudou, ficou pesado. Mas a aura do anjo continuava pulsando imensamente. Ivan o olhou. Era verdadeiramente imponente. Seus olhos foram para a mulher que agora levitava poucos centímetros do chão. Seus cabelos estavam esvoaçando levemente. Como se uma leve brisa soprasse em seu rosto. Com uma mão, ela apontou o grupo de pessoas.

‒ Você não pode fazer aquilo que eu penso que fará! ‒ gritou a mulher que serviu de guia para Ivan.

‒ Eu posso! Como também eu farei! ‒ falou Jussara em um tom sarcástico. ‒ Ouçam! Falo com a mente de vocês. Esqueçam o que aconteceu aqui! Imaginem que o jovem garoto saiu em viagem com amigos. E que vai passar alguns meses longe daqui. Vivam a vida normalmente, sem terem a mínima luz de que esse episódio de hoje aconteceu.

Ivan e o anjo a olharam.

‒ Me desculpem, mas foi necessário. ‒ ela franziu. ‒ temos que nos prevenir de possíveis histerias coletivas. Concordam?

Os dois assentiram. Não estava claro para Ivan quem era ela. Como uma pessoa humana teria capacidades sobrenaturais?

‒ Quem é ela? ‒ sussurrou para o anjo ‒ por acaso a conhece?

‒ Sim. ‒ afirmou o alado. ‒ ela é uma sentinela.

Ivan ficou confuso.

‒ Sentinela? Como assim?

Jussara tomou a dianteira.

‒ Não temos tempo para isso, nos leve para onde Uziel o espera.

Então todos iriam ao encontro de Uziel. Ivan olhou para o estranho grupo. Um rapaz desacordado, uma mulher paranormal, um profeta ‒ que no caso é ele ‒ e um anjo. Espera. O que fazer com o anjo? Ele não pode sair daqui com essas asas. Pensou.

‒ Já pensei nisto, Ivan. ‒ Amael sorriu pela primeira vez. Ver o sorriso de um anjo o deixou hipnotizado. Realmente são criaturas magníficas. ‒ Somos anjos, temos a capacidade de ler os pensamentos dos humanos. É assim que recebemos suas orações. ‒ Se dirigiu até a janela para observar as pessoas na rua. ‒ Vou adquirir um avatar. O problema é que necessito de um corpo humano, e que o mesmo tem que me dar permissão para que eu possua o seu corpo. Uma questão de livre-arbítrio, que é dado tanto aos humanos quanto as hostes celestes. Então, onde eu encontro?

­

‒ Pode me usar. ‒ respondeu timidamente um rapaz que ficava entre o grupo que dançava ‒ sempre fiz o bem, quero dizer, já pequei muito nessa vida. Mas quero me redimir. Eu dou permissão.

‒ Que assim seja. ­‒ Caminhou até o homem, tocou sua mão. Instantaneamente o corpo do anjo se dissolveu. E a nuvem dourada entrou pela boca do rapaz, que estremeceu um pouco e caiu desacordado no chão. Segundos depois, o avatar acordou. Tocou seu rosto, visualizou as mãos. Estava inteiro. Então olhou para Jussara e Ivan, que carregava o jovem rapaz desacordado em seus braços. ‒ Tudo certo, vamos?

Então se dirigiram para o quarto de hotel onde Ivan estava hospedado.