Anjos Caídos

Capitulo 14


Mackenzie

O vento gelado atravessou a janela. Eu estava sentada no chão, escrevendo “tudo que eu lembrava”. Eduard pediu pra eu fazer isso. Ele estava na minha frente. Então eu escrevi: Meu nome é Mackenzie Sturt, 16 anos. Sou um anjo branco, que vive no Mundo Branco.

Pensei mais um pouco.

– Ah! Desisto! – falei, colocando o caderno e a caneta no chão e cruzando os braços.

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Eduard mexeu no cabelo.

– E se eu te levar pro seu lugar favorito? – perguntou.

– Que lugar?

– Não fica aqui. – ele se levantou. – Não é muito longe, e acho que vai te ajudar um pouco.

Eduard me ajudou a levantar. Levou-me para um lugar que ele chamou de Los Angeles. Eu realmente gostei. Estava nevando e todos estavam agasalhados. Eduard me levou para uma loja e comprou um casaco de moletom branco pra mim e um verde pra ele. Estava realmente frio. Depois, Eduard me levou para um restaurante japonês. Ele falou que eu amava comida japonesa e pediu alguns sushis pra mim e um yakisoba pra ele. Fiquei rindo igual uma louca quando ele se atrapalhou todo com os palitinhos. Depois pediu um garfo.

– Como você consegue? – ele apontou o garfo pra mim.

– É simples. – respondi. – E eu não sabia que eu sei comer com palitos. - Ele sorriu, e pude perceber que sua boca estava um pouco machucada. – O que é isso? – perguntei, apontando pra boca dele.

Ele colocou a mão na boca.

– Não é nada.

Cerrei os olhos. Um machucado não iria aparecer tão de repente.

– O que foi isso? – perguntei de novo.

– Levei um soco. – ele disse. – Não quero falar sobre a guerra.

Ouve um momento de silêncio entre nós dois. Eu ouvia pessoas rindo e conversando. Os garçons andando por todos os lados. O barulho da caixa registradora. O cara da mesa ao lado batucando os dedos na mesa enquanto escutava música nos fones de ouvido. Eu e Eduard pagamos a conta e andamos pelas ruas cobertas de neve. Chegamos a um parque. O parque tinha pessoas andando, crianças brincando e animais correndo. Encontrei uma árvore. Ela era simplesmente linda. Estava sem folhas, os galhos cheios de neve. Na ponta de cada galho, encontravam-se duas, três flores, todas brancas. Sentamo-nos embaixo da árvore. Toquei na neve, sentindo o gelado na minha mão e se espalhando pelo meu braço. Foi ai que eu me lembrei de uma coisa.

– Acho que lembrei. – comentei.

– Lembrou do que? – perguntou Eduard.

– Há alguns meses atrás, acho que foi a três meses, nesse parque. Passamos seu aniversário aqui.

– Acertou. – falou, sorrindo. – Mais alguma coisa?

– Hum... não. – respondi. – Tive uma ideia.

– Qual ideia?

– E se passarmos essa noite aqui? Tipo, acampar.

– Não acho uma boa ideia.

– Por quê? – fiz cara triste.

– Não podemos ficar até tarde na Terra. É a regra.

– Foda-se as regras. Nós vamos passar a noite aqui. – cruzei os braços.

– O.k., e onde vamos dormir?

– Eu encontrei uma barraca de baixo da minha cama. E ela não é pequena.

Ele colocou a cabeça entre os joelhos.

– Vamos nos ferrar. – falou.

– Deixa disso, vai ser divertido.

***

No fim da tarde, Eduard e eu já estávamos nos preparando para acampar. O parque ficou menos movimentado, o que ajudou um pouco. O céu foi ficando escuro e pontinhos brancos apareceram. Estrelas, pensei. Deitei-me no chão, coloquei meus braços na cabeça. Eduard acendeu uma fogueira, e o fogo derreteu o gelo que estava em volta. Uma música veio na minha cabeça. Comecei a cantá-la em voz baixa.

Lá no bosque, havia uma cabana. Na cabana de madeira, uma lareira. O fogo baixinho, no som da minha voz...

Pensei para lembrar um pouco, não me lembrava o resto.

Irei continuar a cantar. Até você chegar. – completou Eduard.

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– Como você sabe a letra? – perguntei.

– Cantávamos essa música aos nove anos. – respondeu.

– Essa música apareceu na minha mente. – eu disse.

– Isso é bom. Acho que sua memória vai voltar aos poucos.

Eduard sorria. Eu podia ver o contorno de seu rosto do outro lado da fogueira. Sentei-me e arrumei meu cabelo. Já estava começando a ficar com sono.

– Durma. – falou Eduard. – Fique de um lado da barraca e eu fico do outro.

Apenas balancei a cabeça. Fui até a barraca e me deitei. Fechei os olhos e dormi.

Meu sonho foi o seguinte: eu estava no meio do nada. Não exatamente no meio do nada. Havia corpos ao meu redor. Muitos. Todos ensangüentados e machucados. Eu também estava machucada, mas não estava morta. Andei por alguns metros e vi o corpo de Eduard. Fiquei aterrorizada, e decidi me afastar. Alguém gritou meu nome. Olhei em direção do grito. Um garoto corria em minha direção. Não o reconheci. Ele tinha a pele branca, cabelo escuro e olhos de diferentes cores. Ele parecia desesperado.

– Mackenzie. – ele gritava. – Cuidado Mackenzie!

Uma sombra apareceu atrás dele. A sombra crescia cada vez mais, e foi quando ela o tomou, e eu fiquei sozinha, no meio de muita gente morta.