Leah e Bella

Capítulo XV


CAPÍTULO XV

No mesmo instante em que a tigela caiu no chão, o som repercutiu a casa inteira e o vidro se estilhaçou bruscamente, lançando-se para todo lado. Leah ergueu-se da cadeira num impulso assustado e preocupado. Bella estava bem? Bella havia se machucado? Leah não sabia; apenas sabia que Bella não mexia nenhum músculo. Apenas respirava.

Leah falou calmamente e avaliou toda a Bella, a procura de um corte ou machucado. Nada, nada além de uma camada de nervosismo assustadoramente forte e depois disso não foram necessárias muitas palavras para a loba começar a entender o que possivelmente estava acontecendo, e por que aquilo havia deixado Bella nervosa. Leah tentou manter a calma quando foi a vez de Isabella Swan falar as verdades, deixar de omitir alguns fatos. Leah tentou ser tão compreensiva quanto a garota Swan, mas simplesmente não conseguiu.

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Victoria quer me matar, fazer com que Edward sinta o mesmo que ela” ― aquilo foi o suficiente para Leah começar a tremer por inteira. Seus olhos negros já não eram mais os mesmos e por um segundo, Bella temeu Leah. Leah tentou se recompor e mostrar o seu lado mais contido para Bella, mas não conseguiu. Leah apenas sentiu seus ossos se multiplicando, uma dor assustadoramente forte percorrer sua espinha e um rosnado escapando de seus lábios. Leah correu para o quintal da casa, gemendo de dor e tropeçando nos próprios pés.

Ela caiu de joelhos no chão e finalmente se libertou daquela dor alucinante, finalmente se transformando. Bella estava na porta dos fundos, olhando tão preocupada quanto assustada a cena. Leah apenas se virara e soltara um ganido a Bella antes de sair correndo em direção à floresta.

Era tanta ódio fluindo dentro de Leah que ela tinha a sensação de que seu sangue corria pelas veias queimando-a, juntamente fazendo um desagradável calor subir e descer por seu corpo. Sua garganta estava seca e o ar grosso, dificultando a sua respiração.

A loba estava cega de tanta raiva: enxergava tudo em tons de vermelhos e estava tão concentrada na sua própria raiva que não conseguiu nem ao menos sentir a dor quando afundou as patas nos espinhos que estavam espalhados no chão. De qualquer forma, aquilo já estaria curado em questão de minutos. E mesmo que estivesse tão enraivada, Leah sentiu uma pontada de alivio por estar longe de Bella nesse momento: jamais se perdoaria se deixasse o rosto de Bella desfigurado, jamais se perdoaria se fizesse o mesmo que Sam fez com Emily.

Leah apenas necessitava nesse momento correr até a raiva passar, e também precisava de Victoria. Sim, Victoria. Leah desejava insanamente arrancar os braços da desgraçada por Harry, Sue e Seth. Arrancar o possível coração por Bella; queria a cabeça da sanguessuga em suas garras, queria a cabeça dela entre seus dentes. Leah já podia imaginar o cheiro detestável de Victoria quando escutou seu próprio rosnado, um rugido áspero.

Leah correu e correu, até chegar a ponta do penhasco, onde o ar era gélido e fino, onde era possível respirar. Abaixo da loba, as ondas ricocheteavam nas pedras, tornando a brisa mais gelada ainda. Leah respirou profundamente e olhou para todos os lados, para todas as direções. Rapidamente, a loba se inclinou, esticando as pernas e erguendo o rosto enquanto soltava um uivo, um chamado. O som atravessou toda a floresta e Seth e Jared levantaram-se do chão, se entreolhando por alguns rápidos segundos antes de começarem a correr na direção da alfa. Leah soltou outro uivado, queria Quil ali também. Leah acendeu as luzes de sua casa e soltou o ar em um ato de alivio quando escutou a respiração de Sue no andar de cima. Estava calma e dormia tão bem que ressonava baixinho.

Leah continuava enraivada, mas precisava trocar de roupas. Não era vaidade, era pelo simples fato de que a roupa que ela havia escondido na floresta estava com um cheiro horrível e molhada, pingando água de chuvas de dias passados. Leah subiu as escadas, atirou as roupas no chão do banheiro e entrou debaixo do chuveiro, fechando os olhos e tentando por os pensamentos em ordem.

A ruiva, que se chamava Victoria, queria matar Bella. Queria vingança, queria fazer Edward sentir o mesmo que ela sentiu, porém, Edward não estava mais no meio de tudo isso. Edward havia abandonado Bella. Leah tentou imaginar se Victoria daria um jeito de trazer Edward para assistir tudo no camarote ou se ela iria desistir porque Bella e Edward não estavam mais juntos, porque Bella não amava mais Edward.

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Não seja ingênua, Leah ― Leah xingou-se mentalmente com aquele pensamento idiota. ― A ruiva quer a Bella, não importa se o sanguessuga está aqui ou não. Não é mais questão de fazer o Cullen sofrer, ela quer Bella sofrendo.

Leah passou as mãos pelos cabelos que escorriam água e assentiu consiga mesma, desligando o chuveiro e passando a toalha em volta do corpo. Por um instante, Leah quis resolver tudo aquilo na floresta. Chamar Quil, Jared e Seth, contar-lhes o que Victoria queria, armar uma armadilha e naquela noite ainda, acabar com a brincadeirinha de Victoria, mas não.

Leah não conseguiu manter a calma com Bella, mas conseguiu manter a calma naquele momento. Leah foi sensata e decidiu ir para casa, juntar os outros integrantes da alcateia, contar tudo e aumentar o número de rondas. Não queria agir de cabeça quente e não queria dividir uma única informação com a matilha de Sam.

― Você devia chavear a porta. ― comentou Jared que continuava com uma careta, que continuava irritado por não ter sido liberado da ronda. Leah revirou os olhos e terminou de descer as escadas, entrando na cozinha.

― Olha só, Leah ― Quil estava com as mãos nos quadris como uma dona de casa. ― Eu espero que seja realmente importante porque eu estava ocupado...

― Sim, nós sabemos que você estava ocupado Quil... ― Jared inclinou levemente a cadeira para trás e gesticulou com a mão direita uma punheta. O olhar de Quil sobre Jared tornou-se ameaçador e Leah franziu o cenho.

― As moças podem levar na seriedade uma única vez? ― Leah nunca desejou ser alfa, mas sentia agora em todo seu corpo a sensação de que havia nascido para tal cargo. Jared crispou os lábios e Quil parou de olhar ameaçadoramente para Jared.

― O que aconteceu? ― questionou Seth, pronunciando-se pela primeira vez.

― A ruiva quer Bella. ― Leah apoiou as mãos na mesa, indo diretamente ao assunto principal. Quil franziu a testa, parecia tão descrente quanto surpreso. Seth negou e Jared semicerrou os olhos.

― Por que ela iria querer Bella? ― Jared parou de inclinar a cadeira para trás.

― O Cullen matou o amante da ruiva ― Leah tinha consciência de que os garotos tinham um pequeno conhecimento sobre os Cullen e o relacionamento de Bella com o Cullen.

― Então, ela quer matar Bella? ― Seth perguntou, num tom de voz baixinho.

― Sim. ― Leah concordou.

Houve um minuto de silêncio. Leah continuou com o rosto franzido e Jared se permitiu um curto devaneio: juntou todas as peças do quebra-cabeça dado por Leah, as desmontou e as montou novamente. Quil ficou em silêncio e secretamente tentou imaginar o quanto de raiva e dor Leah estava sentido agora. A ruiva tinha parte na morte de Harry e para completar, a ruiva ainda queria ter parte na morte de Isabella Swan. Quil jamais havia pensado na conexão vinda junto do imprinting... O amor incondicional e o instinto protetor. Talvez, Leah entrasse em combustão a qualquer segundo! Explodindo de preocupação por Isabella, medo por ela e raiva pela morte de Harry. Quil pigarreou:

― Então ― Quil cruzou os braços. ― O que vamos fazer?

― Dobrar o número de rondas ― Leah tirou as mãos da mesa. ― Correr por um perímetro maior.

― E Bella? ― indagou Jared.

― Eu quero um de nós perto da casa dela a noite ― Leah apertou os lábios por um segundo e prosseguiu: ― A ruiva é sádica, mas não é maluca ao ponto de atacar Bella na escola ou em qualquer outro lugar público.

― Você vai ter que falar com a Bella antes. ― lembrou Seth.

― Eu sei... ― Leah coçou a têmpora e mexeu a cabeça. ― Eu sei.

***

Cara, que merda esse negócio da ruiva” ― Seth deitou a cabeça sobre as patas. Jared suspirou.

Não comenta com a Leah, mas... Definitivamente, a namorada dela é um imã para problemas” ― Jared coçou a orelha esquerda, levemente irritado com a chatice das pulguinhas. “Primeiro ela namorou um bebedor de sangue e agora, está sendo perseguida por um.”

Maior carma...” ― comentou Seth antes que começasse a chover. Jared bufou.

Ótimo...” ― falou em um tom de escárnio quando as gotas começaram a cair. Seth riu roucamente e fechou os olhos. Havia insistido com Leah de que ele ficaria perfeitamente bem na ronda e que no dia seguinte, não teria nenhum conteúdo importante na escola. Que ele sabia tudo sobre o livro que estava sendo lido na aula de inglês, que O Sol É Para Todos era fichinha. Jared, assim como Seth, se deitou e escorou a cabeça nas patas da frente: já eram quase duas da tarde e só agora decidia fazer sol em Forks.

Tudo parecia estranhamente silencioso na floresta. Até mesmo as corujas daquela noite que havia passado decidiram ficar em silêncio. Jared ergueu o rosto quando ouviu passos bruscos entre as folhas e galhos... Um vulto passou correndo por eles, um vulto esbranquiçados e 'peludo'.

Quando os pés de Seth afundaram na terra, Jared rugiu alto, erguendo-se do chão e tomando sua frente.

A água gelada da chuva escorreu entre os pelos de ambos e o cheiro forte de cachorro molhado se destacou ainda mais. Seth tomou à frente de Jared, porém, não soltou nenhum barulho ameaçador: não queria assustar o novato. O novo lobo.

Tanto Seth quanto Jared conheciam perfeitamente cada um dos lobos da matilha de Sam. O de pelo castanho, o de pelo cinzento, o de pelo negro, mas de todos aqueles lobos, não existia nenhum com pelos brancos.

Mais um para a nossa matilha!” ― Seth não conteve a animação presente no pensamento.

Jared não deu importância ao pensamento vindo de Seth e continuou a correr velozmente. Jared novamente, tomou à frente de Seth.

Vamos encurralá-lo!” ― Jared já tinha consciência de o novato não pararia de correr com convites delicados e sutis: o lobo novato estava assustado e desesperado. Seth assentiu e Jared aumentou o ritmo, trocando de lado e cortando o caminho em um atalho. Seth também apurou os passos; Jared chegaria na frente do lobo e Seth na atrás, causando o elemento surpresa e o deixando sem saída.

Jared soltou um latido e caminhou na direção do lobo branco que recuou. Seth, como no planejado, chegou por trás. O lobo branco soltou um ganido, chorando e acabando por tropeçar bruscamente em Seth: o novato ainda não sabia dominar as quatro patas, era atrapalhado, desajeitado. Seth cambaleou e caiu juntamente com o lobo branco, que caiu encima de Seth. O lobo branco choramingou enquanto levantava-se do chão. Seth ergueu-se, mas quase voltou ao chão quando olhou nos olhos castanhos do lobo.

O coração de Seth acelerou, o ar lhe faltou e ele sentiu como se milhares de cabos o ligassem ao lobo branco. Mas aquela sensação não era única de Seth: o lobo branco também sentia aquilo, tão forte e verdadeiro quanto Seth, compartilhando do mesmo sentimento. O lobo branco deu um passo para trás quando Jared deu um passo para a frente.

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Por favor” ― sua voz era doce e chorosa, feminina. “Não me machuquem.” ― falou ela, a loba branca.