É quase de tarde quando o Peeta acorda.

– Nenhuma novidade? – perguntou

– Não, no mínimo é estranho. – eu falo – os Gamemakers não terem feito nada ainda.

– Pois é, quanto tempo será que nós temos ainda? – questiona

– Provavelmente a qualquer momento. – respondo – Eu acho que nós devíamos sair, ficar aqui só vai adiar as coisas.

Nós preparamos uma grande refeição não deixando quase nada de estoque, já que hoje provavelmente seria o final dos jogos. Eu me sentia suja, e estava com sede depois de comer tanto. Deixamos a caverna como numa despedida, ela nos serviu por um grande tempo, nos protegeu, seria difícil esquecer. Só que uma surpresa desagradável nos esperava, o riacho estava completamente seco, sem uma gota d’água.

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– As coisas estão ficando claras por aqui. – o Peeta diz – O lago, eles querem que a gente vá para o lago.

– Sim.

– Vamos logo, enquanto estamos cheios. – ele fala.

Eu seguro a sua mão, nós vamos andando, nem devagar, nem muito rápido, sem querer apressar as coisas. Durante o caminho nós não falamos nada, e passamos por lugares que trazem alguma lembrança. A árvore que nos dormimos no primeiro dia, a árvore em que eu ataquei os carreiristas com as tracker jackers. Quando eu me aproximo da Cornucópia, eu estremeço minimamente lembrando o dia em que a Rue morreu, essa lembrança me seguiria por toda a minha vida, e eu não esperava nada menos que isso, se eu esquecesse a Rue, eu esqueceria uma parte da minha vida.

Nós chegamos ao lago e enchemos as nossas garrafas, o sol estava quase desaparecendo.

– Se escurecer o que faremos? – o Peeta questiona – Não é produtivo voltar para caverna.

– Você conseguiria subir numa árvore? – pergunto

– Acho que sim. – ele fala.

– Então vamos esperar mais meia hora, se ele não aparecer vamos recuar. – explico.

Eu reparo nas árvores e há vários mockinjays, eu começo a cantar, fecho os meus olhos porque sei que o Peeta estava me olhando, e não queria parar por vergonha. A música de Rue toma conta da floresta pelas gargantas dos gaios.

Eu observo meio encantada, e o Peeta olha para mim parecendo não perceber o que acontece em volta.

– Só faltam as duas tranças. – ele fala e eu rio.

– E um vestido vermelho, não? – ele concorda.

Quebrando toda a magia, a música dos gaios se transforma em gritos estridentes, o Peeta se levanta e eu armo meu arco me preparando para o que quer que venha. Só que o Cato aparece correndo em nossa direção, sem arma nenhuma só que como ele não para, solto a flecha, mas ela o atinge sem resultado algum.

– Peeta? – grito quando ele não para de vir, porém ele passa direto.

– Kat? Do que ele está correndo? – me pergunta.

Eu não sei, mas eu acho que devíamos correr também. Eu estava prestes a lhe dar essa dica.

– Corre Katniss. – e eu obedeço.

Meias dúzias de criaturas estranhas, parecendo cachorros cruzados a lobos, andam sobre duas patas e parecem se comunicar entre si, eu percebo que o Cato segue para a Cornucópia e eu o sigo sabendo que depois eu posso me arrepender. Antes de subir olhos para checar e preocupada vejo que ele está muito longe, tento retardar os animais com as minhas flechas, mas só consigo derrubar um deles.

– Suba Katniss, vamos você tem que subir. – ele fala.

Eu hesito um pouco, mas sei que eu não vou conseguir ajuda-lo, eu começo a subir a Cornucópia tem fendas em que se consegue apoiar pés e mãos e facilita a subida. Olho de relance e me asseguro de que o garoto do 2 esteja ainda sem poder fazer nada e me viro para ajudar o Peeta que havia alcançado a cauda. Ofereço a minha mão e ele a agarra se esforçando para subir. Com esforço ele tenta se apoiar na Cornucópia, mas é interrompido, não só pela perna que ainda não está totalmente sarada, também por um cão que com suas garras sai arranhando tudo e até os seus companheiros.

Quando todos eles se juntam e ficam de pé eu me desespero e tento puxar totalmente o Peeta, eles não conseguem se apoiar na Cornucópia, pois ela está quente. Só que um deles se enche de coragem e consegue se prender a Cornucópia ficando próximo ao Peeta, olhando para ele eu percebo o que chama tanta atenção, os olhos, os olhos desse cão são verdes e seus pelos são loiros. Há também a sua coleira com o número um e eu percebo que o cão é Glimmer.

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Eu me espanto e quase largo o Peeta, o cão – que agora eu identifico como Glimmer – não consegue se prender mais no metal e escorrega, eu consigo me controlar e seguro o Peeta com toda a minha força novamente, mas antes que eu o agarre totalmente um cão que voltou a atacar morde a perna do Peeta, eu ouço o seu grito.

– Mate-o, Peeta mate-o. – eu grito para ele chorando.

Quando eu consigo o puxar para mim, eu o abraço e examino os cães e vejo detalhes, são todos eles, eu vejo a Foxface... E a Rue.

Eu grito não conseguindo me conter.

– É ela Peeta, é ela. – eu falo gritando.

– O que Kat? – ele me pergunta parecendo conter um gemido de dor.

– A Rue... Os olhos dela, os olhos deles, de todos eles. – falo choramingando.

Bem o Peeta não parece muito bem para reparar nessas coisas, mas eu o ouço arfar de dor, não de reconhecimento. Eu me distancio dele para nos proteger, me aproximo mais da borda e armo uma flecha, quando eu acerto uma felcha num dos cães maiores que provavelmente dever ser o Tresh, eu ouço uma movimentação ao meu lado e percebo que me descuidei, eu havia esquecido o garoto do 2 e agora ele prendia o Peeta em seu braço, numa gravata.

Eu não tinha como atingi-lo não com essa roupa dele, e eu batia a minha cabeça em busca de algum lugar em que eu pudesse ataca-lo sem com que ele leve o Peeta junto. Ele tinha um sorrisinho no seu rosto, ele sabia que eu estava impotente. Eu posso ver que o Peeta já está quase sem ar, ele se esforça um pouco para tentar tirar o braço do menino do seu pescoço, mas não consegue, então num ultimo esforço ele levanta os dois dedos indicadores e faz um x na mão dele, e eu sei que o Peeta é um gênio, um segundo depois minha flecha atravessa a sua mão e o Peeta o derruba, os cães o atacam. Eu corro para o Peeta e o abraço, ele geme um pouco de dor e eu o ajudo a deitar, eu me junto a ele.

Escondo o meu rosto na curva do seu pescoço me impedindo de ver o que acontece lá em baixo. Os sons de rosnados, os gritos de dor, o metal raspando. O Peeta também não está muito bem, eu ainda não havia parado para olhar a sua ferida, mas sabia que não tinha sido um corte bobo.

O hino de Panem toca e ainda não havia soado nenhum canhão, só os seus gemidos, os cães haviam o derrotado, porém ele ainda não estava morto. Os cães pareciam curtir a dor dele, o fazendo sofrer o máximo possível.

Eu tomo coragem e olho a ferida do Peeta que sangra muito, como as nossas mochilas estavam no lago, eu não tinha nenhum suprimentos que parasse o sangue, então eu tiro a minha blusa colocando a jaqueta novamente, o frio estava insuportável. Pego uma das mangas da camisa e faço um torniquete bem abaixo do seu joelho, eu pego uma das minhas flechas e giro até apertar o máximo que ouso. Ele estava pálido, eu sabia que isso era muito arriscado, mas o que mais eu poderia fazer?

– Não é para você dormir, ok? – ele assente e me puxa para ele, abrindo a sua jaqueta e ame aconchegando com o seu calor.

As horas se arrastam enquanto eu escuto o garoto do 2 gemendo, implorando e só choramingando enquanto os cães o torturavam. Apesar de tudo, ver esse menino sofrendo era tudo que eu não queria agora.

Ainda há o Peeta que parece cada vez menos disposto a ficar acordado, e eu grito cada vez mais alto por ele.

– Ei, eu não cheguei até aqui para você me deixar. – eu sussurro.

– Eu estou tentando Kat. – ele também sussurra.

– Eu sei que você consegue. – falo e ele sorri fraco.

O tempo continua a passar e lentamente o Peeta me indica que o sol está aparecendo, mas mesmo assim não há nenhum sinal de canhão.

– Será que você não consegue mata-lo? – o Peeta pergunta.

– Bem, eu acho que sim. – e me lembro de que a única flecha que tenho está na sua perna. – Mas a última está ai.

– Pode tirar, depois provavelmente estaremos em casa. – ele fala.

Eu tiro e aperto novamente o máximo que consigo, eu me arrasto e o Peeta me segura, eu o encontro em meio ao sangue, e como eu só tenho uma flecha coloco força para que seja o suficiente.

– Você conseguiu? – o canhão responde por mim.

– Então eu acho que vencemos. – eu falo quando ele me arrasta para cima novamente, eu o abraço, mas não há felicidade só alivio.

Nós vimos os cães sumirem num buraco que se abri no chão, eu escorrego até o chão e ajudo o Peeta a descer. Espero eles anunciarem que vencemos os jogos, mas nada acontecia, eu olhei o Peeta e vi que ele estava cada vez mais pálido.

– Peeta, Peeta? – eles tinham que fazer alguma coisa, ele não podia ficar aqui assim.

– Kat, será que nós não temos que sair daqui para eles pegarem o corpo. – eu não sabia, mas resolvi fazer mesmo assim.

– Vamos tentar, não é? Que tal irmos até o lago, você consegue? – ele assente e nós vamos.

O barulho que os gaios fazem quando os aerobarcos chegam é bem vindo. Quando eu chego ao lago eu dou um pouco de água a Peeta, eu não conseguia ver mais seu sangue escorrer e procurei algum galho e achei uma flecha, com toda a rapidez refiz o torniquete. Só que o tempo passa e não há nenhum sinal de que eles vão nos levar para casa.

– Saudações aos finalistas do septuagésimo quarto Hunger Games. A mudança anterior foi revogada, uma análise mais atenta às regras revelou que apenas um vencedor está autorizado. Boa sorte e que as chances estejam a seu favor. – diz Claudius Templesmith.

Que as chances estejam a seu favor.

Que as chances estejam a seu favor.

Elas nunca estão ao meu favor.

Eu olho o Peeta que não parece nem um pouco surpreso com tudo o que Claudius falou, e no fundo para mim também não é. Eles querem um grande show e o que melhor a se fazer do que obrigar duas pessoas que se amam a se matarem.

– Venha aqui. – o Peeta abre os braços e eu lhe abraço. – Você sabe que isso não é nenhuma surpresa. Eu te amo, nunca se esqueça disso, ok?

Eu não podia deixar.

– Não, por favor, não fale assim. – eu digo, já chorando.

– Katniss, - ele falou meu nome todo e isso nunca é bom, eu o olhei – não faça ser mais difícil do que já é. Você vai para casa, e vai dizer a Pearl todos os dias o quanto eu a amei e me orgulho de ser pai dela. Você vai voltar e vai continuar vivendo, eu não quero que você se prenda a mim, você vai ser feliz, ok? Prometa-me que você vai tentar?

– Não, não, não Peeta. – eu quase grito – Eu não vou sair daqui sem você.

– E como você vai fazer Kat, você sabe que pode ser pior, eu não quero morrer como o garoto. – suas palavras me fizeram fechar os olhos – Você não está tornando as coisas fáceis.

– Eu não vou tornar as coisas fáceis para você Mellark, - gritei – você me prometeu que não nós deixaria em paz lembra, que mesmo que eu não quisesse você perto de mim, você não me largaria.

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Ele suspira, e eu vejo o quanto ele está tentando parecer bem com a ideia de me deixar, ele está fazendo isso por mim. Eu me agarro a ele novamente, eu sabia que ele tinha razão, mas eu havia me acostumado a ideia de voltar para casa com ele, e deixa-lo não seria assim tão fácil.

– Eu também te amo, sempre. – falo – E é por isso que eu não vou deixar você morrer.

– Como você é difícil. – ele grita, e o Peeta nunca grita – O que você quer fazer, eles tem que ter um vencedor, ou então nenhum também, acho que eles não teriam nenhum problema em mandar aqueles cães novamente e nenhum de nós dois tem como se defender. Você sabe o que tem que fazer.

Sim, eu sabia.