Os olhos negros e irados do humano se encontravam em Jenny.

—Você é uma bruxa, você e essa criança! Ambas devem morrer! – gritou o homem sacudindo a tocha, enquanto as chamas dançavam pela madeira. Em seu rosto, havia fúria. Pois algo dentre de si, sabia que a causa de tudo que acontecia era daquela velha. Aquela que amaldiçoara a tão amada cidade.

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— Por favor, ela é só um bebê, não tem culpa de nada, deixem-na viver... – implorou a loira com os olhos azuis lacrimejando.

Falsas, claramente. Jenny sabia como conseguir o que queria e quando queria. Algo fez com que eles parassem. Não era compaixão, mas sim um toque de manipulação em humanos tolos, sempre funcionou afinal. E ela não perdeu a chance de fugir dali, sabendo do perigo que corria com o movimento político e social aclamado pela população, a caça ás bruxas. Tudo começara com a epidemia de malária e o crescente número de mulheres mortas acusadas de bruxaria. A ignorância daqueles seres era pútrida, ao seu ver. Adentrara a pequena casa de sapé bruscamente, buscando quaisquer item precioso que era enfiado em uma pequena trouxa sobre os braços.

— Edmund, eu vou embora! – exclamou, logo vendo a figura do menor surgir. Os cabelos negros de Edmund ocupavam sua fronte e seus olhos eram cinzentos e serenos, mas ainda sim, seu semblante era vazio.

— Você acha que consegue escapar? De humanos burros, é óbvio. Mas deles não. A seita sabe onde todos nós estamos. Nós magos, nascemos quase com um rastreador. Ao descobrirem que você usou magia negra, matarão você e ela... – dissera o jovem tranquilo girando uma maçã mordida.

— E você não se importa? Ela é sua irmã! Você... Vai... Me ajudar a fugir!- dissera a velha, com o semblante irado, fitando o menor. Aproximara-se, fazendo com que o garoto batesse as costas na parede e cerrou os punhos sobre seu pescoço, apertando firmemente, até ver a coloração do rosto do outro tornando-se avermelhada pela falta de ar. Ele jogou-na com força para longe, não escondendo a feição de repudio, sentindo o coração palpitar.

— Não vejo o por quê, querida bisavó. Você destruiu minha vida. - murmurou, sem ligar para a reação da outra. Ele lembrou-se das histórias que sua mãe dizia sobre a maldição que a bisavó rogou. Sua mãe fazia uma imitação tenebrosa da velha e esse pensamento lhe fez estremecer, porque ela estava morta e a culpa era dela. De Jenny.

Observou atentamente o olhar assustado da mulher, que agora já carregava a criança em braços, sua querida irmã. Quando Jenny matara sua mãe, quando ela soltara o último suspiro, seu olhar era direcionado a filha. Prometera que protegeria a mesma, mas jamais conseguiria manter tal promessa, pois havia algo maior ali: a sua própria criança, que ainda habitava o ventre de sua esposa.

Era a hora:

— In nomine... – retirou da bainha uma espada, segurando-na firmemente, enquanto a movia sobre o ombro direito da mulher. — Veritas... – murmurou, com um sorriso de canto ao ver a velha contorcer-se, já sentindo a dor. — Amen... – elevara a espada aos céus, pedindo aos grandes sábios tudo que desejava. Era agora ou nunca. — And attack! – grunhiu por fim, disparando a espada para a bisavó que deu um grito agudo, decepando-lhe a cabeça, sujando toda sua roupa com o tom vinho de sangue e com apenas um toque de dedos, todo seu corpo pegara fogo. Estava feito, só era necessário saber se o desejo seria realizado.

Uma garota ruiva, de cabelos avermelhados e profundos olhos verdes surgiu, com um sorriso brando no rosto. As pequenas e delicadas mãos alisavam a barriga, já com uma certa saliência. Ela aproximou-se do outro, tocando-lhe o rosto com ambos indicadores, acarinhando as têmporas.

— Muito bem, meu amor! Isto é mágico e garantirá a proteção de nossa filha. Estou tão orgulhosa!

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Mas Edmund não sentia-se orgulhoso. Sentia-se frio por não conseguir sentir tristeza por alguém de sua família. Ela pedira por isto, não? Se aquela droga de maldição não existisse, sua mãe não teria morrido e consequentemente ele não teria se tornado o ser pútrido que hoje era. Não teria que fazer quaisquer sacríficio para salvar sua filha.

Ambos abraçados, assistiram o corpo da velha e da criança pegarem fogo, tornarem-se cinzas e serem esquecidas para sempre.