Armin passou os dedos pelo enorme cristal onde Annie jazia. Tinha textura engraçada, ele concluiu rindo amargamente. Cruelmente engraçada, completou, pois aquele enorme cristal tinha textura de cristal, e não mais que isso. Previsível. Débil. Trágico. Ela certamente merecia lugar melhor que aquele. Parecia mais uma peça que os deuses (ele não era alguém religioso, porém acreditava na existência de uma entidade divina. E por que não mais que uma? Não rezava, mas acreditava, ou fingia acreditar; às vezes era confortante) – os cruéis deuses – pregavam. Annie, ali? Naquele cristal, para sempre? Era inútil. Doloroso. Irreal. Annie agora estava tão inalcançável que ele sequer acreditava poder tocar o lugar onde ela “jazia”.

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Ela realmente está ali?

Nunca mais ouviria sua voz? Nem veria sua cara mal humorada? Custava acreditar. Mas a textura era real. Sentia o cristal quase entrar na sua pele, contaminando-o, levando-o para perto dela. Desejava que fosse verdade. Contudo não era; a sensação era fruto da abstinência. Ele queria estar lá, naquela paz que Annie tão estupidamente exalava. Parecia ter ido para outra realidade, um mundo no qual escolheu viver. E estava tão bonita! Mais ainda do que lembrava ter visto algum dia. Com os cabelos dançando suavemente como se ventasse.

Mas não havia vento. Não havia nada.

Annie estava assim.

Nada que pudesse fazer ou falar mudaria esse fato. Mas... Onde está a pessoa boa que Armin acreditou habitar Annie? Por que ela o deixou ali? Sentia-se fraco como jamais se sentiu antes.

Encostou-se no cristal, como que querendo abraçá-la, fitando o rosto lindo que ela tinha. E como queria que ela estivesse de olhos abertos! Como queria poder ver o azul lindo e reconfortante de seus olhos! Como queria que ela visse suas lágrimas, que caíam em abundancia, limpar o maculado cristal horroroso!

[Talvez assim ela entendesse o mal que fez ao abandoná-lo ali].

E então chorou mais, meio que agarrado ao cristal, quase não imaginando ver Annie chorar junto.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.