Lucy

Flutuando por entre as densas nuvens de algodão doce incrustadas com diamantes, estava a garota de duas tranças louras que pendiam uma de cada lado de sua cabeça, reluzindo com os raios de sol que despontavam acanhados por trás das nuvens cor-de-rosa como algodão doce.

Olhos de caleidoscópio, com fragmentos de todas as cores.

Aquela garota que tinha o arco-íris nos olhos e o mundo nas mãos, mas não fazia ideia disso.

Lucy, naquela vasta imensidão de diamantes que se estendia até onde os olhos alcançavam e a vista cansava.

Lucy no céu de diamantes.

Lucy com seu buquê de tulipas de celofane.

Lucy. A garota do oitavo andar. Desconcertada. Estranha. Sonhadora desde o berço. Terror das senhoras fofoqueiras do quinto andar. Lucy, a garota ligeiramente esquisita, com um parafuso a menos e um pezinho na loucura.

Lucy. Aquela que tinha o sol nos cabelos e a curvatura da lua retida no meigo sorriso.

Lucy.

A mesma Lucy que foi encontrada com os olhos vidrados no nada, - seus olhos feito eclipse, com as pupilas dilatas cobrindo sua íris quase por completo - presos na paz eterna em uma terça-feira cinzenta com o céu opaco, sem diamantes.

Nem infarto, nem cortes, nem colares de corda, pontes, tiros ou comprimidos.

Apenas uma singela overdose.

Não era sua intenção, claro que não. Nunca é.