Ressurgente

Capítulo 42


POV CALEB

— Deixe-me explicar o que nós fazemos aqui. — disse Charles enquanto conduzia Caleb pelos corredores — Preste muita atenção, pois não irei repetir.

Caleb ainda estava nervoso com o fato de Charles estar armado e pronto para atirar nele. Não deveria agir suspeitamente, portanto estava tentando imaginar como deveria ser sua reação para a revelação de Charles. Assentiu, olhando para o homem.

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— Estamos no momento fazendo um procedimento que, por enquanto, não é do seu interesse. É algo complicado, demorado e é impossível sem minha participação. Mas como eu tinha que dar um tempo de recuperação para o paciente, vim falar com você.

— Então, agora eu vou te ajudar com algo? — questionou com a expressão mais inocente do mundo.

— Sim, quero ver quais seus conhecimentos sobre o cérebro, por enquanto.

— E eu vou fazer o que?

— Você, querido Caleb, será o meu novo assistente.

...

Caleb achava meio inadequado trazer uma arma para uma sala de cirurgia. Mas quem era ele para reclamar?

Charles tinha a arma presa por baixo da roupa hospitalar e poderia pegá-la a qualquer momento para estourar os miolos de Caleb. Ele tentava muito não deixar esse detalhe incomodá-lo e prestar atenção na cirurgia que estava acontecendo diante de seus olhos, mas era quase impossível.

Quando entrou na sala, após aprontar-se adequadamente, Caleb se surpreendeu pela idade da menina deitada na mesa cercada por aparelhos, pois ela não deveria ter mais do que dez anos de idade. Os sons dos bipes do seu coração e os sons do aparelho de respiração o incomodavam, e principalmente o fato da menina ser loira não ajudava em nada.

Como assistente, seu dever era fazer qualquer coisa que Charles mandasse. Ele acabou descobrindo que ninguém quis aquele cargo e que o último assistente de Charles saiu porque não o aguentava mais (sabe, os enfermeiros conseguem ser muito fofoqueiros).

O curioso, para Caleb, é que durante toda a cirurgia ele não pode olhar para o procedimento em si. Então, por que estava lá? Ele só entregava equipamentos e respondia perguntas aleatórias feitas por Charles, que interessantemente tinham a ver com o hipocampo e o córtex cerebral.

Droga! Pensava Caleb durante todo o procedimento. Do jeito que ele estava não conseguiria descobrir nada do que veio descobrir. Ele queria levantar a cabeça e espiar um pouco, afinal ele precisa disso. Mas havia um problema. Charles tinha uma arma e ele estava vigiando Caleb.

Preso nessa sua dúvida, ele resolveu esperar. Os riscos não valiam a pena e ele ainda tinha tempo.

Pelo menos, no fim, valeu a pena. Charles gostou de Caleb e, logo depois, o contratou oficialmente.

...

Fazia poucos dias que Caleb trabalhava no hospital, mas já começava a ganhar confiança de muitos funcionários, inclusive Charles. Segundo o seu novo chefe estava tudo de acordo com os padrões exigido, como a sua ficha policial e etc.

Sua tarefa, além de "servir" Charles, era acompanhar a menina que tinha feito cirurgia há poucos dias, já que seu chefe parecia estar muito ocupado para isso.

— Você compreende sua condição aqui? — perguntava Caleb à menina, que logo descobriu ter o nome de Saya.

—Sim. — respondia com a voz doce e firme — Assim como os outros, eu estou em uma condição rara e não posso sair daqui.

— Você é uma pessoa mentalmente instável por enquanto. — Caleb sorriu para ela afagando seus cabelos — Tudo vai ficar bem.

— Sou doidinha, em outras palavras.

— Não, você não é. — Caleb dizia isso para Saya todos os dias e ela parecia acreditar cada vez mais nele. — Agora vamos fazer mais alguns testes motores?

Era estranho para ele pensar dessa maneira em relação àquela menina, porém Caleb começou a se apegar muito a ela nesses dias, talvez por ser a única pessoa que ele se sentia confortável em conversar ali. E eles conversavam o dia inteiro sobre qualquer coisa. Depois disso, ele dava a Saya seus remédios e a deixava aos cuidados de uma enfermeira.

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Isso obviamente não tirou Caleb dos trilhos de ajudar a irmã. A cada dia que passava, conseguia aprender um pouco mais sobre o hospital e, consequentemente, entendia um pouco mais sobre Beatrice. Ele admitia que o lugar não era um paraíso, entretanto, mesmo que quisesse negar para si mesmo, não via o bicho de sete cabeças que esperava encontrar. Isso, para ele, tinha que significar que ainda não sabia o bastante para ver o que aquele lugar realmente era. Tinha que ser isso.

Esse lugar, ás vezes, parecia normal demais. Tinha uma rotina a ser seguida com medicamentos e exames constantes na quantidade de pacientes que viviam lá. Mas Caleb não podia tomar decisões precipitadas sem conhecer realmente o que acontecia, ele nem acreditava que todos os funcionários lá sabiam. Ter que seguir Charles para qualquer canto, também não ajudava em nada.

Caleb vagarosamente andava pelos corredores relendo o seu relatório sobre Saya, que entregaria para Charles. Bateu na porta de sua sala.

— Senhor, eu estou com o relatório da Saya aqui. — falou por detrás da porta, esperando a resposta de seu chefe, que demorou um pouco.

— Saya... Ah, sim, a paciente 0087. — Charles enfatizou o nome da paciente, já que para ele, não deveriam chamá-los pelo nome sempre. Isso lembrava a ele muitas coisas, pois era um quase "não se apegue" e isso nunca significava boa coisa.

— Sim, paciente 0087. Desculpe. — Caleb revirou os olhos, pois felizmente ainda estava atrás da porta — Posso entrar?

— Sim, sim, entre logo.

Fechou a porta atrás de si e entregou o relatório nas mãos de Charles, que apenas o folheou sem prestar muita atenção e voltou à atenção para outros papéis sobre a mesa.

Caleb esperou pacientemente por novas ordens.

— Ficou quase feliz por ter alguém para fazer esses relatórios por mim. —comentou de cabeça baixa — Sabe, meu pai sempre fazia esse tipo de coisa por aqui e tinha me garantido que sua paciente preferida, e curada obviamente, iria fazer isso por ele, entre outras coisas. Mas nããão, isso tinha que acabar para mim...

— O que aconteceu essa paciente? Por que ela não está aqui? — questionou. Ele iria tirar alguma coisa de Charles.

—Bem, ela meio que saiu daqui sem ninguém saber...

— Fugiu? — interrompeu Caleb, levantando a sobrancelha.

—Isso, isso, tanto faz. — moveu a mão no ar despretensiosamente — Então, ela não está aqui cumprindo o seu dever. E meu pai... ele foi atrás dela em vez de ficar aqui e ajudar o próprio filho. Sabe, às vezes...

Beatrice. Tinha ser de Beatrice que ele estava falando. Talvez por isso se recusasse a dizer nomes enquanto falava com Caleb.

— Para onde ele foi? O se pai? — Caleb indagou com o coração um pouco acelerado.

Charles fechou a cara.

— Por que você quer saber?

— Nada, só curiosidade. — engoliu a seco. Será que tinha parecido suspeito o suficiente para ter uma bala no meio da testa? A expressão de Charles não ajudava, pois o mesmo parecia sério e pensativo, porém, para a extrema felicidade de Caleb, sua expressão suavizou-se.

—Eu acho que ele estava em Seattle, mas agora ele deve estar em Chicago ou pelo menos está chegando lá. Espero que ele volte bem. Mesmo com nossos problemas eu amo meu pai.

—Volte bem? O que pode acontecer com ele?

— Só digamos que a situação dele em Chicago não é a mais pacífica. A situação ficou um pouco mais,hm, dura.

O coração de Caleb falhou uma batida. O que diabos poderia estar prestes a acontecer em Chicago? Será que sua irmã já tinha voltado para lá? E se o Doutor já tivesse a capturado e estivesse já no caminho de volta? De qualquer maneira, Caleb tinha que manter aquele cargo e ganhar a confiança de Charles.

— Ah, eu tenho uma novidade para você. — exclamou, deixando todos os papéis de lado e levantando-se na direção dele — Hoje, daqui à uma hora, vou te mostrar como fazer aquela operação no cérebro. Sabe, igual aquela que eu fiz quando você chegou e não lhe deixei ver.

— Sério mesmo? Nós temos um novo paciente?

— Na verdade não. — o homem umedeceu os lábios — Vamos ao necrotério e deixo você escolher um para treinamento.

— Cirurgia em gente morta...

—Claro. Por que assim não corremos o risco de matar ninguém durante o treinamento, acredito que esse procedimento seja de praxe nas universidades. Não que isso seja realmente um problema... — Charles riu pressupondo que Caleb não entenderia aquela última frase, mas ele entendia e muito bem. Um arrepio percorreu todo o seu corpo.

Assim, ele se despediu de Charles e disse que iria se preparar psicologicamente para a operação. Fechou a porta atrás de si quando saiu.

Não muito tempo depois Caleb andava pelos corredores aleatoriamente pensando no significado daquele dia para ele. Se fosse o que ele estivesse pensando... Se fosse uma maneira de descobrir como tirar aquele dispositivo de Beatrice... Sua missão lá estaria finalmente completa e ele poderia voltar para ajudar a irmã.

De repente, alguém puxou a manga de sua camisa. Era uma paciente do hospital que nunca tinha falado com ele.

Ela o observava com olhos verdes-esmeraldas de maneira atenta e sigilosa. Os cabelos grandes e castanhos estavam presos em um rabo de cavalo. Caleb estava sendo segurado de maneira forte e mesmo puxando o braço não conseguia escapar de jeito nenhum (ele não queria machucá-la, ok? Não é porque ele é fraco...). Por que ela não dizia nada? Ela ficava apenas o analisando e respirando de maneira nervosa.

A menina mordeu o lábio e olhou para os lados, como se estivesse com medo de estar sendo vigiada. Tudo bem, isso estava começando a assustar Caleb.

—Hãã, então... — falou coçando o cabelo com sua mão solta. Caleb não fazia ideia do que falar, mas tentava entender o que estava acontecendo. — Você, hã, o que...

Subitamente ela pôs o dedo no peito de Caleb fazendo-o calar a boca.

— Você... — sussurrou com a voz melodiosa — Você conhece Beatrice?

Caleb permaneceu estático por um momento, sem saber o que dizer. Como alguém descobrira sua relação com Beatrice? Ele sabia que havia corrido um grande risco usando seu nome verdadeiro, mas mesmo assim... Poderiam existir vários outros Prior no país...Ela era apenas uma paciente e não tinha acesso aos dados de Caleb. Mesmo se ela conhecesse sua irmã, quando esta ainda estava no hospital... Como ela o conheceria?

— Beatrice... — ele coçou o queixo pensativamente, sem saber ao certo se respondia verdadeiramente ou não, isso podia ser perigoso. Se Charles houvesse descoberto, ele sabia que não teria como negar, mas uma paciente...

— Sim, ela mesma. — exclamou a garota animando-se — Você é muito parecido com ela, deve conhecê-la, não sei. É parente dela ou algo parecido?

— Oh, eu pareço com ela... — Será que foi assim que ela presumiu que Caleb e Beatrice eram parentes? Isso parecia muito aleatório...

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— Vamos lá... Ela é uma pessoa loira de olhos claros... A cara dela parece um pouco com a sua... Não sei, talvez eu apenas esteja enganada...

Caleb estava começando a ceder, mas estava com medo de ser uma armadilha ou algo assim. Entretanto, se ele não confessasse que a conhecia podia parecer suspeito, pois afinal de contas ele conhecia Beatrice, só não deveria saber que ela estava viva.

— Eu tinha uma irmã chamada Beatrice. — respondeu — Mas ela morreu faz alguns anos...

— O que? Como assim você não sabe? — ela parecia perplexa.

— Não sei o que? — Caleb fez-se de desentendido.

— Olhe, meu nome é Eleonor. — falou olhando para os lados rapidamente — Vá ao meu quarto depois do "horário de dormir". Eles não vão se importar mesmo...

— Por que você quer conversar comigo?

— Não agora... Te vejo depois, tudo bem? É sobre sua irmã e acho que você pode gostar da história.

Eleonor não se despediu, apenas saiu apressada para algum lugar, deixando assim um Caleb curioso para trás.

...

Caleb ia se encontrar com Charles para a tão esperada operação. Ele estava feliz e ansioso, quase não conseguia conter o sorriso em seu rosto. Ele finalmente descobriria o que precisava.

O necrotério era um lugar enorme do hospital. Era uma grande sala lotada de corredores no subterrâneo do prédio, o que o deixava mais arrepiante. Colunas e filas de corpos formavam as divisórias entre os corredores largos. Todos eles estavam em uma caixa, onde, na frente via-se a identificação de cada um.

O lugar estava frio, congelando praticamente, para a preservação dos corpos. Caleb não conseguia parar de tremer, nem de apertar os braços ao redor do corpo tentando se aquecer. Charles, porém, parecia estar em casa, com o passo leve e rosto suave, parecia que ele realmente gostava de lá.

— Aqui é tão vazio e cheio ao mesmo tempo. Entende? — comentou distraidamente — Reconfortante.

Caleb assentiu com os dentes batendo.

— Bem, vamos para o corredor 5. Lá vamos encontrar o que queremos.

— Por que lá? — Caleb perguntou.

— Não é óbvio? — Charles balançou a cabeça em desapontamento depois da resposta negativa de seu assistente — É onde estão os cadáveres mais frescos.