Ressurgente

Capítulo 36


P.O.V Christina

– Ainda falta muito? – Christina perguntou, já impaciente no banco de trás.

– Não, na verdade, já chegamos. – respondeu Meg, enquanto Beatrice encostava o carro em uma vaga. Meg apontou para uma grande, ou melhor, enorme, casa. – É ali a festa.

– Ali que é a sede da Revolução?

– Sim, mas também é conhecida como a casa de Damon. – Meg disse, olhando de soslaio para Beatrice. Esta tentava aparentar tranquilidade, mas Christina desconfiava que fosse só uma máscara, já que ela já tinha roído todas as unhas de nervosismo.

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– Com tudo o que aconteceu... Você sabe... Acha que é uma boa ideia ela ir até lá? – Perguntou indicando Beatrice.

– Se você está preocupada que Damon faça algo... Eu acho que não, mas não tenho tanta certeza. Mas não precisa se preocupar com vocês duas. Se ele fizer algo, será contra mim, e acredite, eu aguento.

Meg e Christina se entreolharam, enquanto Beatrice saía do carro. Obviamente, aquela não era uma ideia nada boa. Christina se preocupava com ela e Meg, mas também com Beatrice, as duas tinham se aproximado desde a viagem. Ela começava a acreditar que podiam reestabelecer a amizade, de uma forma diferente claro, nada seria como antes, não apenas porque Beatrice era agora uma pessoa diferente, mas porque também Christina havia amadurecido e mudado muito nesses últimos anos. E ainda tinha o fato de que ela não poderia simplesmente voltar para Chicago sem Beatrice, o que ela diria para Tobias?

Elas caminharam por um lindo jardim, que parecia exigir muito cuidado, grama verde e diversos arbustos bem podados. Quando se aproximaram, Christina percebeu melhor os detalhes da casa. Uma enorme casa de dois andares, feita, aparentemente, de pedras rústicas. Duas enormes colunas gregas iam do chão, a lados opostos da porta dupla de vidro da entrada, até o teto. Janelas altas o suficiente para ver a grande movimentação de pessoas do lado de dentro da casa, assim como várias pessoas também do lado de fora. Nem em sonho ela diria que ali era a sede para uma organização de rebeldes, mas talvez essa fosse à intenção.

Beatrice seguia na frente, enquanto as duas caminhavam mais atrás. Quando as pessoas, que estavam do lado de fora, perceberam a presença dela, pararam o que estavam fazendo para olhá-la, pareciam surpresos, e alguns até chocados. Mas ela não parecia se importar.

Chegou até a porta e parou, esperando as duas. Quando elas chegaram, Christina pode ver que a mesma reação de surpresa e choque que havia predominado entre as pessoas do lado de fora da casa ao vê-la, também aconteceu dentro da casa. Na verdade, a festa simplesmente parou com a chegada dela. Olhando bem, dava para perceber que apesar de surpresos, os olhares não transmitiam hostilidade. Alguns pareciam até felizes de vê-la.

Um rapaz, em especial, sorria abertamente e se aproximou de braços abertos para ela. Beatrice, que até agora estava séria, também sorriu. Um sorriso aberto de felicidade. Eles se abraçaram durante alguns segundos, e Christina percebeu que ele cochichou algo no ouvido de Beatrice. Após se soltarem, o rapaz, que era muito bonito por sinal, segurou uma mão dela, enquanto levantava a outra mão.

– Se meu pai ainda tivesse vivo, ele diria que o bom filho a casa torna! Vamos beber e festejar pela volta de dois dos nossos: Meg e...- ele olhou para Beatrice com carinho. – Bea!

– Bea? – Christina perguntou sussurrando para Meg.

– Ah, ele a chama assim, tipo um apelido, sabe? Beatrice, corta o trice, e fica Bea. É um pouco bobo, mas esse tipo de coisa é típico do Daniel. – Christina levantou a sobrancelha curiosa. – Daniel é irmão de Damon. Ele é legal, e acho que ele e, bem, Bea são próximos.

–Você acha?

– Olha, não é como se minha vida girasse em torno dela, sabe? E Beatrice sempre foi muito fechada, não é como se ela me contasse esse tipo de coisa. - Meg ficou constrangida. – Eu sei que quando cheguei disse que nós éramos amigas, e para mim era isso mesmo, mas para ela, eu não sei. Ela não é de compartilhar muito, e eu também era como uma subordinada, então não sei se naquela época ela realmente me considerava uma amiga.

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Christina assentiu, não queria deixar Meg mais constrangida. Ela entendeu o que Meg quis dizer, algumas vezes tanto na amizade quanto no amor, o sentimento era uma via de mão única. Você gostava, se dedicava, compartilhava seus sentimentos, enquanto a outra pessoa não. E Christina já havia percebido que apesar de Meg ter uma personalidade forte e ser bem resolvida, ela também era um pouco carente e frágil. E era isso o que Christina mais amava nela, essa capacidade de ser duas coisas tão diferentes ao mesmo tempo: forte e frágil, feroz e doce.

P.O.V Beatrice

– Minha querida, está tudo sobre controle. – Daniel disse, enquanto a conduzia até uma pequena mesa ao canto do imenso salão. Meg e Christina seguiam os dois. – Precisamos conversar.

– Desde quando você mantém as coisas sobre controle, Dani? Achei que você fosse mais do tipo que não se preocupava muito com esses pequenos detalhes. – Perguntou irônica, enquanto sentavam.

– O tempo que você e Damon me abandonaram aqui sozinho, foi isso que me aconteceu. Acho que eu amadureci mais nesse tempo do que em toda minha vida. Tomar decisões que afetam a vida das pessoas causa esse tipo de coisa. Humm, e essa morena adorável quem é? – perguntou olhando para Christina. Beatrice deu uma risadinha.

– Essa é Christina. Ela é, digamos, uma antiga amiga. E nem adianta tentar flertar com ela, Meg passou na sua frente.

Meg e Christina ficaram vermelhas. Que tolice, era meio óbvio que elas estavam juntas. E por que elas precisavam se esforçar tanto para tentar disfarçar? Afinal, nenhuma delas devia nada a ninguém.

–Ah, uma pena. Mas se eu fosse você, também ia preferir a Meg- Ele disse para Christina, que ficou ainda mais vermelha. – De toda forma, é um prazer te conhecer, Christina.

– Pare com isso! – Beatrice respondeu em meio às gargalhadas. Daniel sempre era assim, um mulherengo incorrigível. Adorava provocar as garotas, especialmente as que não estavam interessadas nele. Não que havia muitas mulheres assim. Daniel era lindo, era muito parecido com o irmão, apenas os olhos que, ao invés de verdes, eram castanhos. Era na personalidade que os dois realmente se diferenciavam, enquanto Damon tinha um gênio difícil e um humor extremamente volátil, Daniel era um cara engraçado e sociável que gostava de se divertir, era fácil gostar dele. – Ele só está te provocando Christina. Não ligue. – parou subitamente de rir. – Agora que você já terminou com suas gracinhas, Dani, já podemos falar sério?

– Ah, sim. Você poderia começar me explicando porque resolveu desaparecer, sem nem ao menos se despedir.

– Alguns problemas. – ela respondeu enrolando os dedos no cabelo loiro. – Eu pretendia voltar logo, por isso não achei que fosse necessário uma despedida.

– Pretendia? Isso quer dizer que agora você não pretende mais?

– Muitas coisas aconteceram. Digamos que voltar é algo inviável no momento. – Daniel olhou para ela, percebendo que ela estava enrolando. – Agora é minha vez. Como você sabia onde me encontrar? Foi Damon que te disse?

– Não exatamente. Eu já havia localizado Damon, e quando ele voltou sozinho, ou melhor, sem você, eu pedi a um conhecido meu para ficar de olho em você. Então, pode se dizer que eu sei o que estava acontecendo nesses últimos dias, e acho que entendo porque Damon voltou sem você. – ele respondeu. - Quando Damon voltou, ele inventou uma história sobre você estar muita próxima de pessoas que trabalham para o governo, mas não foi isso, né? Ele chegou aqui te acusando de traição, e foi traição, mas não a do tipo que ele queria que nós pensássemos, não é?

– Mais ou menos, pensando bem, eu realmente estou, ou estava, próxima de pessoas que trabalham para o governo. – Daniel a olhou duvidando. Não adiantava tentar engabelá-lo, ele a conhecia bem demais – Mas, a gota d’água para mim e Damon realmente foi que eu o traí. Depois disso, ele resolveu voltar.

– Hurrum, não quero atrapalhar a conversa de vocês. – Interrompeu Meg preocupada. – Mas falando em Damon, cadê ele?

– Ele está chegando. Foi buscar mais bebidas com...humm... Connie. – Beatrice o olhou surpresa.

Connie? Ela quase riu. Lembrava-se muito bem da sua briga com Damon antes dele sair de Chicago, ele havia dito que tinha se encontrado com Connie e que eles tinham ficado, no momento Beatrice podia jurar que aquilo era mentira, afinal ela não morava em Seattle e fazia parte da Revolução há anos e encontrá-la ao acaso lhe parecia improvável. Será que aquilo era mesmo verdade? Damon poderia ter a traído, antes dela traí-lo com Tobias? Não era muito o perfil do Damon, porém provável, sabia como Connie mexia com ele e fingia não se importar. Aquilo que ele fez com Tobias quando os flagrou juntos poderia ter sido apenas encenação? Ele deve ter adorado, no fundo ele já queria terminar, e ela deu a ele um ótimo pretexto para isso, e o melhor, fazendo com que ela fosse a culpada. Mas ela não tinha certeza. Sorriu, afinal o rompimento deles não deveria ser culpa dela.

– Ah, entendo. De toda forma, eu só vim mesmo para...

Beatrice se calou quando viu que Damon havia chegado, e o pior, ele já a tinha visto. Seus olhos brilhavam de fúria, ele com certeza não imaginou que ela o desafiaria assim. Ele havia a alertado que ela não era mais bem vinda à Revolução, e ops, lá estava ela sentada despretensiosamente, conversando com Daniel, como se nada tivesse acontecido. Ele seguiu como um furacão até onde eles estavam, uma mulher, provavelmente Connie, vinha logo atrás dele.

– Que merda você pensa que esta fazendo aqui? – Ele perguntou em voz baixa, provavelmente para não atrair a atenção dos que estavam em volta. Mas cada sílaba havia saído com fúria.

– Damon, irmão. Relaxa. – Daniel levantou indo para perto de Damon, colocando uma mão em seu ombro. – Eu a convidei para a festa. Ela é uma de nós. Não importa qual foi a merda que rolou entre vocês, isso não muda o fato que ela é uma de nós.

Beatrice deveria ficar calada e deixar Damon se acalmar. Deveria. Mas ela estava com muita raiva para deixar as coisas fáceis para ele, raiva por ele ter a ofendido e a acusado, enquanto o desgraçado estava fazendo a mesma coisa que ela.

– Até onde eu sei, Damon, você não é dono da cidade. E você pode até pensar que é dono da Revolução, mas surpresa você não é. E você também não manda em mim, até onde sei sou livre para ir aonde eu quero, e neste momento eu quis estar aqui. – Ela falou acidamente. Virou para Connie, tentando manter um tom agradável, mas apenas conseguindo um irônico. – Você deve ser a Connie, acho que ainda não fomos devidamente apresentadas. Damon sempre se esquece das boas maneiras, mas você já deve ter percebido isso. Eu sou Beatrice. – disse estendendo a mão para a outra. Chocada, Connie apenas apertou a mão dela num cumprimento. – Já ouvi falar tanto de você, que sinto como se já te conhecesse. Nem sempre foram coisas boas... Mas isso é compreensível, eu acho.

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– É melhor você tomar cuidado com o que vai dizer, Beatrice- ameaçou Damon.

– Ora, Damon! Não irei falar nada de mais, só estava me apresentando a sua nova, ou seria ex nova, namorada. Tentando ser agradável, sabe? Que pergunta idiota, é óbvio que você não sabe o que é isso.

Os dois se encaravam. A tensão era palpável.

– Cuidado, Beatrice. Vou deixar passar essa sua pequena ousadia de vir até aqui, mas acho que você deveria ser comportar de uma forma mais prudente.

– Damon, por que você não vai por as cervejas no congelador? – Daniel tentou quebrar o clima. – Vai acabar esquentando, e ninguém gosta de cerveja quente.

Damon ainda manteve os olhos nela durante alguns segundos, antes de assentir e sair. Connie foi atrás dele, ela parecia não entender o que estava acontecendo.

...

– Então, qual é a pena por traição? – Ela perguntou. Já havia bebido algumas cervejas, e estava aproveitando a onda de calmaria e efervescência que a cerveja lhe causava.

– Humm, acho que a morte. – Daniel a respondeu. Os dois agora se encontravam sozinhos, haviam deixado Meg e Christina sozinhas na mesa, alegando que precisavam respirar um pouco de ar puro para acalmar os ânimos. - Bem, não me lembro de ter tido nenhum caso desses, mas é o que suponho. Quase consigo imaginar um belo pelotão de fuzilamento.

– Pelotão de fuzilamento? Isso não é nada romântico. – Beatrice riu. Os dois estavam conversando sobre a acusação que Damon havia feito sobre ela, e então subitamente ela havia entrado nesse assunto. Não que isso fosse realmente acontecer, estava mais que claro que ninguém ali acreditou ou se importou com essa acusação, ela só havia ficado curiosa.

– E o que você ia preferir? Ser enforcada?

– Acho que se eu pudesse escolher, seria algo mais marcante. Tipo, uma guilhotina. Então eu gritaria alguma coisa legal, antes de bem... – ela fez um sinal com a mão perto do pescoço. – algo tipo liberdadeee e tum, lá se vai minha cabeça.

– Meu Deus, Bea, só você para ter essas ideias. – Daniel balançou a cabeça reprovando. – Estou feliz que você esteja aqui.

– Também estou, mas não vou ficar por muito tempo. Você sabe que eu te considero quase como você fosse meu irmão, mas... – suspirou. – Tem muitas coisas que eu não contei a você, nem a Damon, sobre mim. Eu achei que poderia deixar o passado para trás, mas acontece que para o bem ou para o mal, ele sempre acaba voltando para mim.

– Humm, sobre isso. - Beatrice olhou para ele, havia algo na forma que ele havia falado aquilo que lhe chamou a atenção. – Bea, para mim você é da família, namorando ou não meu irmão. E é por me sentir assim que acho que deveria te contar uma coisa. Quando Damon voltou, ele resolveu fuxicar um pouco na sua vida. Não acho que ele tenha feito isso de má intenção, acho que ele só queria entender, sabe? Quer dizer, ele ama você, você sabe disso né? Ele está com raiva de você, e pode até ter voltado com Connie, mas não acho que ele tenha simplesmente parado de amar você. O amor não funciona assim, não é algo que se possa controlar. E acho que ele queria entender mais sobre você, para, sei lá, saber onde ele errou. Entende? Acho que ele pensa que ele deve feito algo para ferrar o relacionamento de vocês, antes de você tê-lo traído. – ele passou as mãos pelo cabelo nervoso. – Voltando, ele resolveu mexer no seu passado, e achou que o cara que estava te procurando, era um bom lugar para se começar.

– Cara? Você quer dizer o Doutor Zank? – ela sentiu o coração apertar. Não, não importa o que ela tinha feito a Damon, ele não faria isso. Não isso.

– Ele foi atrás desse cara... Humm, o que importa é que ele achou um caderno. Parece que tem coisas escritas nesse caderno sobre você...

Ela não chegou a ouvir o que Daniel falou. Maldito, maldito, maldito. Não isso, por favor. Como ele pôde? Ela voltou para dentro da casa, precisava encontrá-lo. Damon maldito, como pôde? Ela sentia tanto ódio, que não conseguia enxergar nada a sua frente. Ou talvez, o motivo por não conseguir enxergar direito, era porque seus olhos estavam cheios d’água. Tentou impedir que elas caíssem, agora não era hora de chorar. Precisava falar com Damon.

Viu Connie sentada despojadamente no sofá sozinha, e foi até ela.

– Onde ele está? – Connie a olhou analisando-a. Deu de ombros. Beatrice a puxou pelo braço a levantando do sofá. – Olha, aqui sua vaca, eu não estou tentando roubá-lo de você. Eu quero que vocês dois se fodam. Mas agora, eu preciso falar com aquele maldito. Então eu vou repetir: onde ele está?- Apertou mais o braço dela, virando-o para trás. Ela tentou se soltar, mas Beatrice havia a pego se surpresa e tinha força o suficiente para manter o braço dela naquela posição dolorida.

– Me solta, sua piranha. Ele está na droga do escritório. Ele me largou aqui sozinha, para ir pra merda do escritório. Por sua culpa. Você não podia ficar quieta na droga do fim de mundo onde estava? Tinha que voltar para tentar atrapalhar minha vida?

Beatrice a soltou, satisfeita.

...

– O que você quer? – Damon estava sentado em frente a uma grande escrivaninha que havia no cômodo que ele usava como escritório. O cômodo, como quase todos os outros que haviam na casa, era amplo, e tipo um estilo arcaico. Nas paredes, havia enormes estantes com centenas de livros de todos os tipos. Uma grande parte dos livros que havia ali, foi proibida pelo governo. Muitos livros relatavam como era o mundo nos séculos passados.

– Onde está, Damon? Eu sei que está com você. – Damon a olhou como se ela estivesse louca, e naquele momento, talvez ela realmente estivesse agindo como uma. – O caderno! O maldito caderno daquele médico filho da puta!

Damon sorriu.

– Ah, sim. Daniel te contou. Eu não posso confiar no meu irmão, ele sempre acaba ficando contra mim. Eu já imaginava que ele fosse te contar.

– Onde ele está? – Beatrice foi até uma das estantes que havia no escritório. Procurou entre os livros, jogando-os no chão. Parecia desespero, e era.

– Minha querida, porque está tão nervosa assim? –Ainda sentado, ele abriu a gaveta, pegando algo, que quando ele levantou, ela imediatamente reconheceu. O caderno estava realmente com ele, ela havia rezado para que aquilo fosse mentira de Daniel. – Olha só, ele está aqui comigo. Você quer?

Beatrice avançou contra ele, tentando recuperá-lo. Ele se levantou, encostando-se à estante que havia atrás da escrivaninha. Esta última separava os dois em lados opostos. Ela tentou se aproximar, subindo na escrivaninha, engatinhando, tentando cerca-lo. Mas Damon era forte, e mais alto que ela, ele segurou o caderno sobre a cabeça, e ela por mais que tentasse não conseguia pegar.

–Por favor, Damon. Você já sabe o que tem aí, por que não me devolve?

– Humm.- ele a empurrou para longe dele. Ela caiu no chão, mas não se levantou, não fazia sentido. – Na verdade, ainda não li. Quer dizer, só li a primeira página, que convenhamos já é bem interessante. Ressuscitação, que história é essa?

– Você não leu? – ela perguntou surpresa. Ok, já era bem ruim ele ter lido a primeira página, e saber sobre a ressuscitação, mas ainda havia esperança para o resto. Talvez, se ela contasse algumas partes da sua história, ele não ficasse mais tão curioso e entregaria o caderno a ela. - É verdade o que está escrito aí. Eu morri. Aquele lugar... Onde eu estava, era lá que eu morava antes disso acontecer. Caleb, Christina, Tobias... Eu conheci essas pessoas antes da minha morte. E então esse médico, ele achou uma forma de me trazer de volta. Eu não sei por que eu fui uma das escolhidas. – Damon pareceu surpreso. – Isso mesmo, houve outras pessoas. É isso, Damon. Só isso. É horrível, eu sei, mas é só isso. Por favor, me devolve.

– Essa é uma história difícil de acreditar, mas pra ser sincero, eu acredito em você. – Ele disse pensativo. Deu um sorriso sarcástico. – Mas não acredito quando você diz que é só isso. Você está descontrolada demais, tem mais coisa aqui que você não quer que eu leia, não é? Sabe, acho que este é um bom momento para ler este caderno.

– Por favor, Damon. Não faça isso, não isso. Se você quer me castigar, faça outra coisa, eu aceito, eu mereço. Mas não isso. – ela implorou. – Isso vai me destruir, você não entende.

– Meu amor, você sabe o quanto eu sofri quando eu vi você e Tobias juntos? Nós estávamos morando naquela casa, Beatrice, e estávamos dormindo naquela cama. E você transou com ele na droga da nossa cama! – ele gritava agora. - Te destruir? Isso me parece ótimo. Você me fez sangrar aquele dia, e agora é sua vez de sangrar.

Ele abriu o caderno, folheando. Ela apenas continuou jogada no chão, abaixou a cabeça para que Damon não pudesse ver que ela estava chorando. Não tinha sentido tentar evitar esse momento, uma hora ou outra isso iria acontecer, por mais que eu desejasse que não.

– Vamos ver, vamos ver. Esse aqui parece promissor:

“Dia 21, a paciente Beatrice parece aceitar tudo que lhe é informado, ela não demonstra lembrar-se de nada, posso considerar que o procedimento para que sua memória fosse apagada foi bem sucedida. Acredito que esse procedimento foi umas das minhas melhores ideias, tive receio de usar o soro da memória e não funcionar nela, por causa de sua divergência. Dito isto, pretendo utilizar a mesma técnica com outros futuros pacientes.”

– Então você não se lembrava de nada, imagino que deveria ser uma merda, não é? Vamos para um outro dia:

“Beatrice participou de mais um processo cirúrgico com sucesso. Acho que ela... “

– Bla bla bla. Que chatice. Quando as coisas começam a ficar interessantes hein?- ele folheou mais algumas páginas, sempre lendo alto, para que ela também pudesse ouvir. – Esse dia:

“Hoje Beatrice parece estar mais nervosa. Todo os dias sucessivos a minha pequena vista noturna, ela...”

Damon parou de ler em voz alta durante alguns segundos.

“Admira-me que ela ainda não tenha se acostumado, na última noite ela gritou e implorou, como se isso fosse ajudá-la em algo...Ela não percebe o quanto isto é importante para seu amadurecimento não vê o quanto estou ajudando-a, ela precisa aprender a ser forte...”

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Damon parou, Beatrice só ouviu o som do caderno caindo ao chão, mas ela ainda não conseguia olhá-lo.

– Isso é verdade? – A voz dele saiu estranha. – Eu não fazia ideia, eu não teria... – Ela ouviu ele tentava se aproximar, dando coragem para ela finalmente olhá-lo. Ele já havia dado a volta da escrivaninha, e agora só havia o espaço de alguns metros entre eles. - Eu não teria lido se soubesse disso. Eu... Me perdoe.

–Saía de perto de mim! Não encoste em mim! - ela gritou, com a voz embargada pelo choro, quando ele tentou se cruzar o espaço que os separava. – Você... eu pedi, eu implorei para que você não lesse isso, e mesmo assim você o fez. Não venha bancar o bonzinho agora. Você queria me ver sangrar, você mesmo disse. Me diga, Damon, está satisfeito? Está feliz?

– Eu não teria lido...eu não sabia- Ele parecia desesperado e arrependido, mas agora era tarde para isso.- Você sabe que eu não faria isso, se eu soubesse...

– Cala a boca, Damon. Espero que esteja se sentindo bem, conseguiu se vingar de mim. Não era o que você queria?

As lágrimas ainda desciam, mas o ódio que ela agora sentia, conseguiu diminuir a intensidade do choro. Levantou cambaleante, indo em direção à saída. Não havia mais nada que ela pudesse fazer ali. Ela nem devia estar sentindo raiva de Damon, fez por merecer o castigo que teve. Não podia culpá-lo por aproveitar a chance que teve de feri-la, afinal, ela também o feriu. Abriu a porta, e olhou para ele. Ele ainda tentava se desculpar, chocado.

– Não se preocupe, sairei da cidade o quão rápido for possível. Tenho algumas coisas para resolver... Apenas, me deixe em paz, Damon.