A outra Potter

Portas no corredor: eu consigo ouvir as vozes também.


– Está tudo bem. – ele murmurou – Você voltará num piscar de olhos. Fala sério. Chegue lá e diga que você vai embora e ele nunca mais te verá, e então ele vai vir junto. – o loiro brincou a arrancou um sorriso de canto da ruiva.

– Obrigada. – ela sussurrou e o abraçou – Eu volto logo. E com ele.

Olhou então para o grupo de pessoas ali. Além dos professores, estavam lá o ministro, os pais de Draco, Harry e Lupin. Ela pegou a mochila branca no chão, e jogou nas costas, andando em direção à cama do melhor amigo. Acenou brevemente para o irmão, e se sentou na cadeira que posicionaram ao lado do menino que dormia.

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– Estou pronta. – ela disse, olhando para Madame Pomfrey – O que eu tenho que fazer?

– Pois bem, segure a mão dele e feche os olhos. Se você dormir, será melhor, mas se não conseguir, tudo bem. E o mais importante por enquanto: não largue essa bolsa por nada, do contrário, perderá tudo que tem para se lembrar dessa dimensão.

Ela assentiu, e segurou a mão do amigo, respirou fundo fechando os olhos. A voz de Madame Pomfrey começou a falar algumas palavras que não faziam o mínimo sentido, e Lawren não conseguia sentir nada que denunciava que ela saíra daquele mundo. Pensou em abrir os olhos, mas ela não sabia se aconteceria algo ruim se o fizesse. Então ficou lá, tentando relaxar, mesmo sendo a coisa mais complicada de se fazer no momento.

Aos poucos, a voz foi ficando mais abafada por um leve zumbido, e antes o que era uma feitiço era somente algo ecoando levemente em seus ouvidos. Até conseguir ouvir somente o silêncio. Os batimentos leves e calmos, e a respiração nada diferente. Um leve vento começou a atingir, e as coisas começaram a mudar sem mesmo ser notado pela ruiva.

Então o barulho chegou novamente, na forma de uma melodia calma. As notas variavam entre altas e baixas, agudas e graves. A música era bonita, e claramente tinha o intuito de transmitir uma sensação de paz. Mas ao ouvi-la, tudo que Lawrence conseguiu sentir foi... Tudo que poderia se dizer ruim. Agonia. Aflição. Dor.

Dor. Isso. Fora exatamente o que sentira quando, com um baque, as costas bateram bruscamente no chão, a fazendo soltar um gemido. Ela começou a praguejar baixinho, esperando pacientemente para abrir os olhos. Se havia algum monstro do “lado de fora”, então seria bem melhor se ela estivesse emocionalmente e fisicamente boa para correr.

– Law? – uma voz suave a chamou, e imediatamente ela abriu os olhos.

O sorriso no rosto de Draco era gigantesco, e ele olhava curiosamente para a amiga. O cabelo estava mais bagunçado que o normal, e as roupas que ele usava eram bem mais casuais do que as que ele deveria usar diariamente. Só então a ruiva reparou no lugar onde estava.

O vento era quase insuportável, mas mesmo assim era um lugar quente. O barulho do mar estava muito perto, e ela conseguia sentir a areia nos seus cabelos. Ela estava escorada num coqueiro, e na sua frente, um oceano gigantesco, com uma ilha aparentemente deserta. O céu estava cinzento, mas isso não mudava nada.

Lawren olhou para sim mesma assustada, e percebeu surpresa, que as roupas que usava antes já não estavam mais em seu corpo. Antes, ela usava um moletom e uma calça jeans, e agora, usava um short jeans bem claro, com algumas rendas, junto com uma blusa soltinha com a estampa da bandeira dos Estados Unidos. Um All Star azul escuro, junto com algumas estrelas brancas completava tudo.

– Draco! – ela exclamou com um sorriso amarelo se abrindo, e abraçando o amigo, que a abraçou tão forte quanto um urso – Onde estamos? – perguntou confusa.

– Em uma praia que eu gostava de ir quando era pequeno. Costumava ter mais pessoas, mas acho que não é mais tão frequentada. E você? O que faz por aqui? Não sabia que já tinha terminado o curso de auror. – a menina franziu as sobrancelhas.

– Bom... Não terminei. Nem comecei falando a verdade.

– Haha, você é tão engraçada. Seu humor mudou bastante desde o último ano da escola quando você se casou com o Daniel. Onde ele está agora?

A ruiva não estava entendendo exatamente o que acontecia. Mas por algum motivo, ela achava que Draco não fazia a mínima ideia de que estava em um sonho. Estava óbvio que o que o Malfoy pensava que estava no futuro. Então, por via das dúvidas, resolveu fazer o que Snape mandara: mentir.

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– Ah... O Daniel? Provavelmente na França com a nova mulher dele. Não ficou sabendo que nos separamos? Ele até me convidou para ser madrinha de casamento!

– Se separaram? – Draco perguntou, ainda sorrindo – Isso não é algo feliz. Mas vamos mudar de assunto. Assuntos tristes, não! Como vai a Carly? Ela já deve estar bem crescida. É incrível que mesmo depois do nascimento de seu segundo filho você ainda mantém um corpinho de atleta.

A Potter arregalou os olhos, se engasgando. Okay. Isso não estava dentro dos planos de ninguém.

– Bom... A Carly... Minha... Ah... Hum... Filha, eu suponho...? Ela está... Bem. Com o Daniel. Na França. Com a nova mulher do... Daniel. Que está na França.

– Ah! Mais assuntos tristes, não! Venha, vamos para a minha casa! Lá podemos tomar um chá ou café. Eu me lembro de que você costumava gostar bastante de café. Se quiser, podemos comer maçãs. Eu me lembro de que você gostava bastante de maçãs também. – o sorriso dele voltara novamente.

A ruiva o olhou e cerrou os olhos, abrindo um leve sorriso.

– Ah. Não. Eu passei a odiar café desde que o meu pai... Morreu queimado por um bule gigante deles. – ela tentou.

– Nossa! Ah, mais assuntos tristes, não, não, não...

Então era isso? Draco não poderia ouvir notícias tristes. Isso era certamente algo bom, e uma arma vantajosa. Se tristeza era o que fazia Draco mais fraco, então tudo bem. Ela procurou pela bolsa, mas não a achou, e na hora começou a ficar desesperada. O frasco. O frasco que Snape dera estava na bolsa. Ela não largara a bolsa momento algum, como... Ah. Ela se lembrava agora. Deixara cair quando bateu com força no chão.

O loiro bateu palmas duas vezes, e o cenário mudou de uma hora para a outra, assustando a ruiva que se ocupara pensando na bolsa. Na sua frente, começou a aparecer grandes paredes pretas, junto com portões de ferros gigantes, que se entrelaçava, em meio a plantas silvestres. O céu não mudara nada, mas ao redor, tudo estava diferente. A estrada era cinzenta, e levava até uma grande porta, onde um homem de preto esperava.

– Vamos! – ele exclamou, e saiu correndo com a mão de Lawrence entrelaçada junto a sua, e fazendo a menina ficar assustada.

Ele passou pelo homem o cumprimentando alegremente, e um sorriso torto da ruiva foi tudo que o sujeito recebeu. Draco subiu as grandes escadarias ainda rapidamente, sem deixar que Lawrence visse o que havia dentro da casa. Aparentemente era um lugar com uma grande sala de estar luxuosa, com várias portas e corredores que levavam para cantos desconhecidos por ela. A escadaria que subia com Draco era gigante, em largura e altura. Quase como as de Hogwarts. A ruiva estava fascinada com o lugar, e seus olhos brilharam ainda mais quando ao chegar ao topo da escadaria, havia grudado na parede um grande brasão com um M dourado.

– Onde estamos? – perguntou com um sorriso no rosto.

– Na minha casa. – ele falou como se fosse à coisa mais óbvia do mundo – Sinceramente Lawrence, você está estranha. Você já veio aqui tantas vezes, e não se lembra de nenhuma delas?

Então e menina notou o que estava acontecendo. Ela estava em um sonho, e nem percebera que começara a ser manipulada com ele sem mesmo querer. Esquecera completamente de onde se encontrava, e se deixou levar pela ilusão que Draco estava criando para ela. Suspirou e deu um sorrisinho olhando para os lados.

– Onde... Onde é o banheiro? Estava precisando. – ela perguntou.

– Segunda porta a direita. Eu te espero na porta no fim do corredor, tudo bem? – ele perguntou, olhando fixamente nos olhos dela. Por um momento, ela pensou que Draco diria algo. O sorriso desaparecera por dois segundos de seu rosto, e aqueles olhos queriam transmitir algum aviso. Ela franziu as sobrancelhas e mordeu o lábio inferior. Logo, o sorriso bobo dele apareceu.

– Ah... Tudo bem. Eu... Eu vou indo.

Ela praticamente correu para o banheiro. Ao virar o corredor, soltou um gritinho quando outro homem de preto esbarrou nela, tendo um sorriso quase maníaco no rosto. Ela suspirou e sussurrou um pedido de desculpas, abrindo a porta logo atrás do homem e entrando no banheiro. Ela nem mesmo reparou em como o banheiro era grande e bonito, com uma banheira de hidromassagem e tudo. Ela simplesmente trancou a porta a soltou todo o ar que deixara nos portões. Escorregou até o chão e colocou as duas mãos no rosto. Ela nunca desejara tanto que Daniel estivesse do seu lado. E o pior de tudo: ela sentia que precisava da ajuda do seu Professor de poções.

Estava mais que claro para ela, depois de pensar um pouco, que as pessoas de for não sabiam nada sobre esse feitiço. Era somente magia negra. Ninguém realmente tentara explorá-lo a fundo. Eles somente sabiam que a pessoa revivia momentos felizes. Mas como Draco poderia estar revivendo momentos felizes se ele nem mesmo estava no passado para se lembrar de algo. Ele estava no futuro. Ele não poderia reviver algo que nem mesmo havia acontecido! Havia muita coisa por trás dessa mágica, e coisas boas não eram.

– Tudo bem, Lawrence. Pense. Pense. Lógica. Concentre-se. Enfocar. Enfocar. Enfocar. Calma. Você está ficando muita precipitada. Tudo bem. – ela se levantou um pouco mais calma, e abriu algumas portas do pequeno armário que havia ali – Okay. Poção para dor de cabeça... Acho que estou precisando de uma dessas agora... Poção para a juventude... Não, eu tenho somente quinze anos! Poção para cura extra-rápida...? Isso talvez me ajude um pouco. Mas nada parece ter o mesmo aspecto azul que a poção do Snape me deu. Eu perdi minha bolsa, e eu preciso achá-la. Como? Como eu posso fazer isso? Pense Lawrence Potter! Pense! Enfoque! Bom... Aparentemente Draco acha que eu tenho dois filhos, me casei com o Daniel, ainda tenho um “corpinho de atleta”, pensa que eu vim aqui várias vezes e que eu amo café mais do que tudo, o que acaba por ser a única verdade que ele falou hoje. Então o Draco diz o que ele quer que tenha acontecido? Então nós podemos dizer que aqui, nesse sonho, ele controla qualquer coisa? A vida dele, a vida de Daniel, a minha vida... Isso é mal. Então isso provavelmente significa que se ele disser agora que eu estou para me casar em quinze minutos, eu vou aparecer com um vestido indo para a Igreja? É eu realmente estou ferrada se ele disser que um carro vai me matar em cinco segundos. Tudo bem. Mas isso deve significar que se eu disser para ele que perdi minha bolsa, certamente ele irá achá-la num piscar de olhos. Eu posso usar esse poder de Draco contra ele. Tudo bem Lawrence, tudo bem, continue pensando...

– Lawren? Você está bem? – uma voz perguntou do outro lado da porta. Ela olhou para trás rapidamente, e pegou o frasco de cura extra-rápida, colocando dentro do bolso dos shorts. Com sorte, Draco não notaria.

– Ah... Eu estou ótima. – ela falou meio atrapalhada – Desculpe, já estou saindo. Só preciso lavar o meu rosto! Está cheio de areia.

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– Ah, certo. Espero aqui fora, tudo bem? – ela franziu as sobrancelhas. Todo que Draco dizia, parecia que ele perguntava se Lawrence aprovava. Como se o que ela falasse fosse adiantar.

– Ah. Tudo certo!

Ela olhou em volta, procurando por algo novo. Onde ela metera sua varinha? Olhou para baixo, então notando, muito desagradavelmente, que ela colocara entre o fecho de seu sutiã, por baixo da blusa.

– Nossa Draco, não tinha como ser mais vulgar, não? – perguntou silenciosamente para o amigo, que controlava tudo. Abriu a porta e sorriu calma para o amigo, que retribuiu – Estou pronta. Aonde vamos?

– Para a biblioteca. É um lugar legal, e... – ele parou de andar na hora, e arfou. De repente, tudo ficara escuro, e um vento entrou no corredor, assustando Lawrence – Mudança de planos. Vamos para o meu quarto. – ele sorriu amarelo, mas mesmo assim não parecia nada feliz. Como deveria estar.

Um grito ecoou no andar de baixo, fazendo Lawrence olhar para as escadas. O que estava acontecendo? Arfou. Draco agarrou sua mão instintivamente, e outro grito ecoou seguido de risadas. Risadas cruéis.

– O que está acontecendo? – ela perguntou. Suas teorias haviam ido por água abaixo.

– Corra para a penúltima porta. Estou logo atrás de você. – ele sussurrou, e ela negou.

– Não! Temos eu ajudar quem está lá.

– Quem está lá já deve estar morto, Lawren! Olhe, eu tentei, eu juro. Isso aqui não está em minhas mãos, e eu estava torcendo para que não viesse, mas você veio. Isso aqui não é o paraíso como devem estar achando. Está mais para inferno. Agora corra se não quer que eles te peguem.

– Quem?

– Os homens que estão por todo lugar. Não podemos fugir deles, mas podemos nos esconder. E até onde eu consigo notar, eles não conseguem entrar no meu quarto. Agora, corra!

A ruiva assentiu, mas pegou a mão do loiro, saindo correndo junto com ele. O menino começou a gritar, para que ela o soltasse. Perguntava toda hora o que acontecia, e o motivo de ela estar fazendo aquilo.

– Olhe aqui Draco! – ela gritou, parando e se virando bruscamente, fazendo com que o amigo esbarrasse nela – Eu corro. Mas eu não deixo você para trás. Eu posso ser fria, calculista, ignorante e egoísta. Mas não é do meu feitio deixar pessoas para trás, para que sejam mortas no meu lugar. Isso é maldade e crueldade. E até onde eu sei, eu ainda não sou cruel. E muito menos má. Então, por que você não cala essa sua porcaria de boca, e pare de alertar para Merlin e mundo que estamos aqui? – ela sibilou a última frase ameaçadoramente, fazendo o loiro assentir e sair correndo junto com ela.

***

Eles entraram arfando dentro do quarto, e Draco trancou a porta. A ruiva se sentou na cama, e se deitou, arfando e olhando para cima com as duas mãos na testa. O loiro escorregou até o chão, arfante igualmente, e suando.

– Olhe. Você poderia simplesmente dizer que quer ir embora, e esse pesadelo acaba. – ela falou depois de alguns minutos.

– Eu...

Ela apurou os ouvidos, e pediu por silêncio. Estava ouvindo alguma coisa. Andou lentamente até a porta, e olhou pelo buraco da fechadura. Caiu para trás ao ver uma multidão vestida de preto lá. O barulho foi ficando mais alto, como uma cantiga. Ela olhou para Draco, que estava sério.

– Você consegue ouvir também? Elas te perturbam, não? Não é algo bom. Pense ouvir isso todas as noites por onze anos e alguns meses.

– O que é isso?

– Chame como quiser. Macumba, rituais, magia negra... Tudo a mesma coisa. Não fique preocupado em como as vozes se chamam. Fique mais preocupada com o que elas causam.