A outra Potter

S'il vous plaît, meu antepassado é francês.


– Eu desisto. – disse a ruiva se jogando no chão do salão comunal às duas da manhã.

Fazia dois dias desde que o professor Snape ensinara aquelas mágicas. Ela estava tentando dominar a mais simples de todas desde então, mas até agora o que conseguira fora somente uma leve luz azul na ponta do dedo, que sumia depois de dois segundos. Daniel estava servindo de cobaia para a menina, que no primeiro dia estava animada com a possibilidade de conseguir na segunda tentativa. O loiro se recusou na vigésima tentativa, com o braço todo vermelho pelas batidas dela.

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– Finalmente! – comentou Draco que somente observava as falhas da menina, morrendo de sono no sofá – Quantas tentativas demoraram, para notar que não conseguiria assim tão fácil? – perguntou ele.

– Não sei. – falou Daniel vindo do corredor do dormitório masculino com os cabelos molhados e com uma toalha na mão. Tomara banho há pouco tempo – Parei de contar na octogésima sétima tentativa, que foi ontem às duas da tarde.

– Ah, calem a boca! – resmungou a ruiva – Eu ainda tenho cinco dias para dominar! E já consegui uma chama pelo menos. – falou pensativa, se levantando.

– Chama? Aquilo não pode nem ser considerado uma faísca! – falou Draco com humor, recebendo uma almofadada na cara, e logo depois uma ruiva se deitando no seu colo. Ele pareceu ficar sem ação, mas logo depois observou a garota.

Estava cansada. Mal dormira naquele fim de semana, e muito menos aproveitara ou deixara os outros dois aproveitarem. Ele a vira resmungar umas cinco vezes enquanto dormia no sofá, a palavra “cura”. Lawren nunca conseguiria dominar essa técnica se não descansasse, mas parecia que quanto mais ele tentava alertar a Potter de que cansada ela não faria nada, ela parecia mais convencida de que cansada era quando ela ficava ainda mais forte. Tão orgulhosa.

– Acho que já está na hora de dormir, não acha Lawren? – sussurrou para a menina que já estava quase adormecida no colo dele.

– Só mais... Só mais uma tentativa... – ela murmurou antes de cair em um sono profundo.

Draco suspirou, afagando-lhe os cabelos. Por que ela sempre exigia tanto de si mesma, quase como se quisesse que todos vissem como poderia ser boa? Todos sabiam que ela era boa! Ela não precisava provar nada. Ela chegava ao ponto de cair em exaustão, mas não parava de tentar provar para todos que poderia conseguir.

– Dormiu. – comentou olhando para Daniel, e se admirou ao ver que este também dormia – Era só o que me faltava... – revirou os olhos, só então notando o quão cansado estava também.

Lawrence exigia a presença dos dois sempre. E com esse fato ele também mal dormia. Fechou os olhos, tentando ouvir o barulho da água do outro lado do teto, mas ouviu somente um leve canto das sereias. O som foi ficando cada vez mais baixo e distante. As mãos que afagavam o cabelo da ruiva foram parando calmamente, e caíram ao lado de seu corpo, as pálpebras não se abriam e a respiração ficou cada vez mais calma. Pronto. Dormira também.

***

– Draco... Draco... – alguém sussurrava em seu ouvido – Draco...

– Ah, por favor, Lawrence, eu não quero treinar mais mágicas curativas... – murmurou em meio ao sono – Diz para mamãe que eu quero bolinhos de chuva para o almoço... – completou, fazendo a ruiva revirar os olhos e rir.

– Draco!

– A guerra mundial dos bruxos começou em 1575, professor! – falou, dando um pulo do sofá – Lawren? – perguntou confuso.

– Que você ficava atormentado pelas aulas do professor Binns eu sabia, só não sabia que chegava a sonhar com isso. – ela falou entre as risadas – Então quer dizer que não quer mais me ajudar nas mágicas curativas e que bolinho de chuva no almoço é o seu desejo? – disse debochada – Mas olha que dia lindo Draco! A única coisa que não terá hoje é chuva! – disse animada.

– Lawrence Potter... – o loiro falou calmamente, com as mãos nas têmporas – Que horas são?

– Seis da manhã, mas é que... – ela tentou se explicar.

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– Seis da manhã?! Seis da manhã? Lawrence olha que hora fomos dormir! A última coisa que eu poderia desejar em um domingo de outubro, é acordar seis da manhã! – gritou.

– Le synonyme de l'amour est d'aimer, la joie est synonyme de bonheur, l'angoisse est synonyme de détresse, l'antonyme de chute est en place... – gritou Daniel imediatamente, pulando do sofá e batendo continência.

Malfoy e Potter se olharam, e logo depois olharam confusos para Daniel. Este, ao perceber o que estava fazendo, se jogou de volta no sofá e deu um leve suspiro aliviado. Fechou os olhos, e deu um sorriso ao perceber que fora somente um sonho.

– O que, por Merlin, foi aquilo Daniel Surrey? Isso é... Francês? – perguntou Lawrence confusa.

– Não sabia? – respondeu o loiro depois de alguns segundos, tentando se acalmar – S'il vous plaît, meu antepassado é francês, meu amor. Meus avôs são da frança. Vivi minha infância toda lá antes de vir para Londres. Eles tinham um treinamento bem rigoroso quando se tratava de sinônimos e antônimos. – fez uma careta ao se lembrar daqueles tempos.

A ruiva começou a rir. Rir não. Gargalhar. A xícara de café que estava na sua mão, foi pega imediatamente por Draco, pois a menina ia deixa-la com toda certeza cair. Colocava a mão na barriga, indo para frente e para trás, revelando um pouco da barriga lisa. Não era para menos: o que ela estava usando naquele dia era uma calça jeans rasgada, um Converse preto e uma blusa do Mickey Mouse. A blusa chamaria a atenção de qualquer um que passasse por ali: era de manda comprida, com a estampa cheia de caras do Mickey. A blusa era meio curta, deixando boa parte da barriga, até o umbigo a mostra. Não era vulgar. Somente acentuava as curvas da menina, que não eram poucas.

– Pelo visto café realmente faz seu dia mais bonito. – comentou o Surrey, que não estava entendendo bem a situação. A xícara na mão de Draco tinha a frase “Coffee makes my day more beatiful”, e era toda vermelha.

– Não é isso... – ela falou limpando uma pequena lágrima do canto do olho – É que... O jeito que você fala em francês... Com... Esse biquinho... – a ruiva simulou um biquinho de beijo para os dois, e Draco se pôs a rir também. Daniel se irritou com os dois.

– Sabia que as pessoas não deveriam rir do antepassado dos outros? – resmungou. Isso somente causou mais gargalhadas. Malfoy colocou a xícara na mesa, pois não gostaria de ver desastre algum acontecendo.

– Desculpe... – murmurou Lawrence, reprimindo a vontade de gargalhar – Mas não diga que não tem graça, por favor... Porque... Porque tem sim! – e começou a rir de novo. Arrancou um leve sorriso de Daniel com isso.

– Okay Lawren. Entendi. Quanto mais eu falo em francês, mais eu estrago a minha reputação. Agora, pode me explicar porque estavam gritando a essa hora? – perguntou, notando que ainda estava com muito sono. Ainda nem amanheceu direito. – Draco ficou sério.

– Ah! É! Realmente tinha me esquecido! É seis da manhã Lawrence! O que você tanto quer? – sibilou.

Ela sorriu.

– Eu... Eu acho que dessa vez eu consegui. Quando levantei antes, bati meu pé na mesa. Decidi tentar. E eu consegui fazer a chama ficar por cinco segundos a mais que antes! Se ela aumentar um pouquinho o tamanho, vai ficar ainda melhor! – disse com os olhos brilhando – Olha... Eu sei que vocês estão cansados e querem dormir, mas eu preciso da ajuda de vocês somente nessa semana. Depois, eu juro que incomodo outra pessoa. Mas até agora, vocês são os únicos que eu sei que me apoiariam até eu conseguir. – ela falou calma.

Os dois loiros suspiraram, se olhando com o canto dos olhos. Draco passou as mãos nos olhos, e olhou para cima, clamando por ajuda. Por fim, olhou para Lawren, e se rendeu. Fez um leve consentimento com a cabeça, e ela sorriu animada. Daniel a olhou com a sobrancelha, enquanto ela esperava ansiosa.

– Ah Merlin, por que você foi me dar uma melhor amiga tão sexy? – murmurou – Tudo bem Lawrence. Posso pelo menos escovar os dentes? – ele perguntou, e ela assentiu dando um pulinho de alegria.

– Obrigada, obrigada, obrigada, obrigada, obrigada, obrigada!

– Tudo bem. – falou Draco – Somente prometa que poderemos dormir esta noite. – ela sorriu e assentiu, enquanto via o loiro sumir para dentro do dormitório masculino.

***

– Nada... – choramingou – Eu não consigo entender! Eu consegui tão bem! Hoje de manhã, a chama ficou por cinco segundos. Deu até um ventinho. – ela continuou, vendo os olhares estressados dos melhores amigos.

Estavam ali fazia três horas. Era um lugar isolado em alguma parte atrás do castelo. Ninguém ia ali, mas tinha um jardim bonito. Um texugo, uma serpente, um leão e uma águia foram cortados de uma forma bonita nas plantas. Algumas outras formavam outras formas também, mas as quatro principais encontravam-se em cada ponta do grande H que tinha no chão. O céu ficara azul, e os meninos podiam sentir o cheiro do café da manhã.

– Ah, me poupe Lawren. Sou seu amigo, te adoro, sou muito leal, mas eu quero café da manhã. Estou com fome! Estamos aqui há três horas, e não conseguimos formar nem mesmo um leve brilho que possa indicar uma leve faísca! Eu vou para dentro. – falou Daniel, se virando apressadamente e estressado, e andando em direção ao salão principal.

Draco olhou com a sobrancelha arqueada para onde o menino saíra apressado. Estava sentado escorado na parede, com uma expressão despreocupada, quase como se não estivesse sentado ali há quase duas horas inteiras. Estava bonito, poderia se dizer. Não que a ruiva tenha reparado. Ainda encarava o lugar onde Daniel estava, estática.

Ele usava uma camisa branca de botões. As mangas compridas estavam na altura dos cotovelos, já que foram dobradas. A gravata estava frouxa, e a calça jeans era razoavelmente larga, mas não tanto. O tênis de atleta era branco, e tinha algumas linhas pretas atravessando. O cabelo estava despenteado, e o rosto antes despreocupado, agora parecia levemente entediado. Nas mãos encontrava-se uma maçã verde.

– Você não quer ir também? – ela murmurou, sentando ao lado dele, escorando a cabeça em seu ombro. Ela parecia realmente deprimida com seu desempenho, já que estava prestes a chorar – Não tem nada mais que lhe prenda aqui. Eu desisto. Eu não quero mais aprender algo que nunca conseguirei aprender.

Ele sorriu de canto, e suspirou, soltando uma leve risada pelas narinas, e mordendo a maçã.

– Quem é você e o que fez com a Lawrence? – ele falou, olhando para o nada – Em todo esse tempo, eu nunca lhe vi desistir, Lawren. Na verdade, eu sempre fiquei tão impressionado. Porque eu admito que nunca esperei grande coisa de meninas, e você se tornou melhor do que eu poderia imaginar. Sempre diz o que quer, sempre levanta a cabeça e tenta mais uma vez, sempre com essa vontade de provar que pode, com essa inteligência, com essas palavras sábias, com esse jeito de falar e não falar. Sempre observei tudo isso bem quieto. Sem querer comparar, mas é impossível. Se fosse qualquer outra garota, choraria e desistiria na segunda tentativa. Você ainda tem cinco dias, ruiva. Se acalme e tente de novo. E de novo. E de novo. E se não conseguir dentro do prazo, continue tentando e prove para o Snape que mesmo assim você consegue. Descanse, coma, durma, por favor, durma, é sério. – a menina soltou uma risada – Eu cheguei a achar que era um vampiro por não dormir. Agora... O que você acha de tomar café? Pode tentar disfarçar, mas eu consigo ouvir sua barriga daqui. – ele falou.

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– Mentiroso! – ela gritou, se levantando e tentando acertar a cabeça dele, que somente ria e se esquivava – Essa é a sua barriga, seu bobo! – ela completou, começando a rir assim que a situação se inverteu, ela caiu e ele se levantou fazendo cócegas em sua barriga – Não Draco Malfoy! É sério! Não! Essa é a minha barriga! Essa é a minha barriga! Por favor, para! – ela tentava falar entre as risadas. Ele ria também.

– Quer que eu pare? – ela assentiu, no meio das risadas – Não ouvi!

–Sim! Para! – ela se contorcia no chão.

– Então diga: Draco Malfoy é o garoto mais sexy dessa escola! Bem alto! – ele sussurrou no seu ouvido.

– Eu me nego! – ela gritou – Eu me nego!

– Ah, é? Isso gera um preço a pagar... – ele falou, olhando nos olhos dela.

– Mais cócegas não... – ela murmurou ao perceber que ele parara.

Só então notou o quão constrangedora era a situação em que estava. Para começar, estava deitada em cima do grande H no chão. Para continuar, ele estava por cima. Para continuar a continuação, a blusa dela já era meio curta, e agora estava um pouco... Curta demais. E sem comentar sobre como o perfume dele podia ser embriagante quando estava muito perto. Ele arfava, e ela também. O peito subia rapidamente. Ela se recusou a corar. Somente deixou o sorriso sumir, e falou séria.

– Acho que a brincadeira acabou por hoje, não acha? Já podemos ir tomar café. – os olhos cinzentos eram tão... Argh! Tão suplicantes. Os lábios estavam meio avermelhados, e entreabertos. O hálito dele chegava a suas narinas: menta e maça verde. Ótimo Draco! Que grande combinação!

– Para falar a verdade, eu discordo. – ele murmurou, com a sobrancelha arqueada, um sorriso de canto, e uma leve covinha na bochecha.

– Da parte do café ou da parte da brincadeira? – ela sussurrou, ao perceber ele se aproximando. Afaste-se, afaste-se, afaste-se! Não entre na brincadeira, Lawrence Potter!

– Das duas. – falou antes de colar os lábios aos dela.