Pare! Não se aproxime

3 - Os vários tipos de bullying


Capítulo três

Os vários tipos de bullying

"Estar sozinho não é estar isolado de tudo e de todos...
É ter muita gente a sua volta, mas não poder contar com nenhuma delas;
É conviver com os defeitos dos outros, nem ninguém suportar os seus;
É ter que dar carinho e atenção mesmo quando não tem mais de onde tirar, mas ninguém se dar ao luxo de doar-te o que sobra do amor que recebe;
É ouvir todos desabafarem, mas parecer que todos são surdos ao ponte de não ouvirem o seu desabafo;
É fazer tanto para ver o próximo feliz a ponto de desistir da própria felicidade, enquanto a felicidade de outros é ver sua tristeza;
É viver amando sem ser amado"

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(Sueidy Silva de Araújo)

Coloquei o contrato que fiz com o diretor na cômoda do quarto da minha progenitora para que pudesse assinar, junto com o bilhete enfatizando isso.

A noite eu mal dormi, os ferimentos ardiam e doíam duas vezes mais em contato com a cama. Não tinha um curativo em casa ou faixa, o que infelizmente esqueci de comprar. E quando consegui adormecer tive pesadelos com meu pai. Gritei tanto por causa disso, mas ninguém veio me consolar.

No café minha mãe não pronunciou uma palavra, parecia que eu era invisível. Peguei o ônibus da parada perto da minha casa. Faltavam quarenta minutos para a aula começar, eu tinha de ir cedo para falar com a bibliotecária e ajudar a arrumar o local.

A escola estava praticamente vazia, sem Megan, Lorena ou Thalia para me humilhar. Era o céu quando isso acontecia.

Organizei os livros e uma menina começou a rir de mim.

— Você é patética, tão sem noção de moda. — Declarou.

E ela não era das mais populares.

Ser medrosa me fazia não retrucar. Estava com um moletom preto do Mickey Mouse e a calça padrão. O capuz sempre me acompanhando e a expressão de cansaço e tristeza. A olheira e a falta de maquiagem contribuíram para parecer uma garota de filme de terror.

O sinal tocou e após entregar o papel do Senhor Clemente tive a sorte de ir para a sala sem ser interrompida. Ao chegar o Henry já estava na parede e com a minha carteira e o assento ao seu lado. Ele deu um sorriso galanteador e tinha um band-aid na sua bochecha. O que me fez ficar sem graça por lembrar do tapa que dei.

— Sente aqui. — Começou de forma animada.

Qual a necessidade de ser falso?

— Não fala comigo. — Sussurrei o olhando de maneira mortal.

E ao virar para frente e visualizar o que tinha na mesa do professor me assustei, ele ia nos ensinar a fazer uma...

— Bom dia baderneiros, hoje vamos aprender a fazer bomba caseira. — Falou ele ao entrar.

Isso ai mesmo. Ele quer que uma tragédia ocorra, só pode.

— Nada de quebrar o becker como no ano passado ou ficar fazendo gracinhas. — Como era conhecido sabia da fama da classe.

Eu simplesmente peguei o objeto sem perguntar ao meu parceiro e comecei a fazer a fórmula. Não deixava ele tocar em nada. Nisso o educador chegou na nossa carteira.

— Amélia, sei que é inteligente o bastante para fazer tudo sozinha, mas esse é um trabalho em dupla e tem que deixar o Nagel fazer alguma coisa. — Aconselhou.

Eu fiz um meneio com a cabeça e avisei para o castanho escrever a ordem dos ingredientes. Acabamos rapidamente e tudo estava correto, mas logo escutei um estrondo.

— Não podem jogar isso pela janela, seus encrenqueiros. — Gritou o que nos comandava.

E os garotos só riram. Já Henry estava sério do meu lado e verificando o papel, parecia concentrado. Acho que nem escutou o que ocorreu. Prontamente escreveu a fórmula de cada nome dos frascos e sorriu de maneira superior.

Ele tinha errado só dois, o que me deixou muito surpresa. Peguei a borracha e o lápis e concertei. E depois de acabar o Senhor-sou-canalha entrelaçou seus dedos com os meus. Chacoalhei para que esse contato acabasse, mas não adiantou. Fiquei vermelha e parecia que ia morrer.

— Se não quer outro curativo no seu rosto faça o favor de me largar. — O tom baixo.

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Não queria chamar atenção, mas infelizmente esse garoto era praticamente o oposto de mim.

— Apenas se não contar o que viu no banheiro. — Revidou ao aproximar seu rosto do meu.

A maioria já estava observando a gente.

Maldito manipulador.

— Então me solta. E nunca mais coloque essa cara horrenda perto de mim. — Respondi com nojo.

Não que seja feio, mas o seu ato me deixou desnorteada e sem reação. Coisa que eu detesto. Simplesmente gargalhou, fez o que pedi e quando o sinal tocou afastou a carteira e posicionou-se do meu lado. Fiquei no meu canto de sempre, já o homem de química pegou o que realizamos por precaução.

Foi neste instante que percebi que a guria que se encontrava naquele assento tinha ido para o outra sala. Isso significava que eu era obrigada a aguentá-lo.

— Onde mora Henry? — Questionou uma de cabelo roxo.

— Duas quadras do colégio. — De maneira carinhosa.

— Quer sair comigo? — Declarou outra.

E nesse momento me olhou de forma demorada, parecia esperar algo vindo de mim. Apenas virei o rosto e fiquei mirando a parede. E realmente era mais interessante do que passar constrangimento. Não escutei o que falou, estava prestando atenção na matéria passada no quadro.

As aulas passaram lentamente e na terceira aula o de olhos azuis me mandou um recado via bola de papel.

"Passa seu número. - Henry"

Deixei de responder, até porque poderia ser pega. No intervalo eu diria. E foi isso que aconteceu. Disse a ele que celular eu não tinha, apenas o telefone. E eu infelizmente dei.

Depois disso fui correndo até o banheiro ao ver as três. Fiquei lá escondida na última cabine com medo. Meus braços enlaçavam o joelho. Não queria novamente levar uma surra.

— Sei que está ai, medrosinha. — Gritou Lorena ao bater na minha porta.

Minha boca não abriu para rebatê-la.

— Abre senão vai ser pior outra vez que te encontrar. — Esbravejou Thalia. A voz comparada a de um trovão.

Então a obedeci e elas me pegaram pelo cabelo com força. Como sempre Megan nunca encostava em mim, entretanto seu sorriso era diabólico. O baque do meu corpo com a parede foi tão forte que rapidamente escorreguei por causa da dor.

— Levanta Lixomélia. — apelido mais tosco não existe.

Deve ser por causa do cérebro dela, aposto que é do tamanho de uma ervilha.

Acatei e minha cabeça foi de encontro ao local, a brutalidade do ato fez com que sangue saísse de lá. Como o azulejo era branco deu de notar o que ocorreu e então cai. Ficaram me chutando até que não vi mais nada. Apaguei. Porém ouvi antes de desmaiar: é para você aprender a não bater no nosso Henry.

Acordei e constatei rapidamente que estava na enfermaria. Talvez uma faxineira tivesse me visto lá e me trazido para o local. Ao lembrar-me do ocorrido chorei. E não foi pouco. Passar por isso de novo era humilhante.

— Amélia Ortiz da 303? — Questionou uma mulher ruiva.

— Sim. — Devolvi prontamente.

— Por acaso você se corta? — Desconfiada.

— Nunca. — Discordei.

— Eu sei que deve ser difícil contar sobre o assunto, mas não queremos que ocorra um suicídio nesse colégio. — Comentou.

E ao olhar para meus braços constatei que realmente havia uns riscos profundos neles. Forcei minha mente e o que veio foram imagens de unhadas nesse local, só que mais parecia ser provocado por uma lamina.

— Que hora é? — Questionei ao me lembrar do meu emprego.

Apenas me fulminou ao escutar o que foi dito.

— Estamos falando de algo sério e quer saber disso? — Braba.

— Tentarei melhorar Senhora. Desculpe-me então pelo que falei, mas trabalho a tarde. - Fui educada.

Estava revoltada por saber que não acreditariam em mim e que delatá-las e nada seria praticamente a mesma coisa. O meu destino é se enfiar nos livros e ser uma rata de laboratório, é isso que eu espero.

— São 11h55. Se é por causa disso te darei alta. — Respondeu finalmente ao me dar uns remédios para que eu passasse nos hematomas e machucados.

Peguei agilmente e ao sair da maca quase cai. Fiquei tonta e não aguentava meu peso. O equilibro era quase zero e minha cabeça doía. Entretanto eu ia comparecer na loja, nem que seja me arrastando.

Neguei a ajuda da mulher e fui até o ônibus mais próximo olhando a paisagem. Como todos já tinham saído pude visualizar melhor o ambiente. Nem deu tempo de chegar em casa e fui direto para o emprego. Como meu turno começava 13h30 dava tempo de comer algo por lá.

— Desculpe o atraso, Dona Diná. — Ao entrar no lugar.

Praticamente dei de cara no chão ao dar outro passo.

— Você está terrível! — Declarou.

Uma menina que estava por perto me segurou e levou-me ao balcão.

— Amélia, está dispensada por hoje. Pegue esse bolo de quatro leites e a lasanha e vá embora. — concluiu a idosa.

— Mas ficará cuidando da loja sozinha? — perguntei de maneira assustada.

— Não há nada de mas, fiz isso praticamente minha vida inteira. Ligarei para minha nora. Você precisa é descansar, meu docinho. — Revidou.

Ela praticamente me jogou de lá e eu tive de concordar. Até porque seria desrespeitoso brigar com uma pessoa da terceira idade. Passei pela porta da residência cansada por ter passado na farmácia. Tinha curativos por todos os lados, mas os cortes estavam destampados.

Ver esses machucados deixaram-me arrasada. Desde criança fui estranha e era julgada. Não pude ter amigos por causa disso. Comi um pouco da lasanha com um suco de pacote. E ao começar a lavar a louça o telefone tocou.

— Alô. — Disse de maneira desanimada.

— Alô, Senhorita-não-me-toque. — Respondeu.

Pelo apelido não deve ser trote.

— Quem é? — Perguntei já irada.

— Henry, é claro. — Rindo.

Nem em casa tenho paz? Estou me arrependendo de ter dado o número.

— O que quer? — Mal humorada.

Só de me recordar de sua ousadia me dava um arrepio.

— Como está?

Por que ele fica fazendo isso? Esfregando na minha cara o que sofri. Preocupado nunca estaria e com toda a certeza quer contar aos amigos depois e rir do que eu disse. Nisso mais lágrimas corriam pelo meu rosto. Fiquei uns segundos em silêncio, apenas ouvindo sua respiração.

— Tchau. — Falei após algum tempo.

— Você... — Não deu tempo de terminar a frase, pois desliguei.

Odeio quando alguém tem pena de mim. Não necessito disso, pois nunca precisei de um colega para me acudir. Espero que ele saia com algumas das gurias da escola para parar de ficar me atanazando. O aparelho ressoou mais algumas vezes, entretanto não atendi.

Por hoje chega de escutar sua voz, seu riso e sua falsidade.

Adormeci mesmo com o som irritando meus tímpanos.

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