Pare! Não se aproxime

28 - O adeus é pior que a despedida


Capítulo vinte e oito

O adeus é pior que a despedida

“Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo. É o arremate de uma história que terminou, externamente, sem nossa concordância, mas que precisa também sair de dentro da gente.”

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(Martha Medeiros)

Sábado – casa do Henry

– Você de novo? – a mãe dele disse com desdém.

Fitei-a de uma forma fulminante, tanto que pareciam que raios laser saiam de meus olhos. E eu tinha a certeza de que sua nova provocação não ia ficar assim.

– Qual o seu problema... – mas fui cortada.

Bem, lógico que foi o filho a nos interromper.

– Vamos fazer o trabalho logo que tenho de sair. – disse.

Sabia que era para defende-la, até porque até eu concordo que não sou muito fácil de lidar as vezes. Quando decido revidar é para valer. E quando entramos no quarto isso ficou me corroendo, até não conseguir mais segurar.

– Por que a sua mãe me trata assim? – quis saber.

Não tinha mais volta, até porque já tinha perguntado.

– Nem se preocupe, ela é assim com todas as que vem em casa. E também é muito protetora, principalmente depois que a minha irmã foi para a França. – explicou.

E adivinha no que eu prestei atenção? No “com todas as que vem em casa”, então possivelmente ele leva bastante garotas para cá. E isso me fez ficar com nojo só de imaginar o que fazia com elas nesse local, fazendo-me levantar rapidamente da cama e sentando-me no tapete.

Recebi um riso alto e contagiante como resposta.

– Não transei com ninguém no meu quarto Amy, mas posso abrir uma exceção. – sussurrou depois de um tempo.

Fiquei tão assustada e envergonhada que fui para trás, batendo com a cabeça na escrivaninha mais próxima. O resultado foi uma dor enorme na nuca, tanto que quando encostei tinha um galo nela.

E enquanto ficava massageando o lugar vi uma pessoa correr em minha direção.

– Está tudo bem? – parecia preocupado.

Acho que nunca me acostumarei com o seu jeito.

– Sim. – menti, mas a minha voz saiu mórbida e preguiçosa.

E então senti meus olhos ficarem pesados, forçando-me a querer dormir. Mas eu não podia, tinha uma lesão ali. Não dizem que é ruim adormecer depois de se machucar na região do crânio? Então, tenho de ficar acordada.

– Espera que vou trazer gelo e um remédio. – berrou.

Realmente a dor estava agonizante.

Quando voltou com uma caixinha em mãos e um saco fiquei aliviada. Coloquei o segundo onde estava machucado e tomei o comprimido, esperando um tempo enquanto me piscava toda para não entrar no mundo dos sonhos. Ou pior, ver a morte de perto.

E que constrangedor seria ir para um lugar melhor na casa de um garoto não é?

– Estou melhorando. – disse em um tom baixo.

Percebi que agora deu um suspiro, deixando o nervosismo de lado.

– Pensei que ia te perder. – confessou.

Por que tudo tinha de soar galanteador e com duplo sentido?

– Então vamos fazer a atividade?

Mas antes de responder já pequei o caderno e coloquei no chão. Sim, ainda me recusava a tocar naquele edredom. Comecei a procurar pela matéria enquanto ele me fitava de maneira pensativa e concentrada.

– O que foi? – quando a minha paciência foi para o ralo.

De novo aquele sorriso de novela foi direcionado a mim.

– Só vendo o quanto não se importa com sua própria saúde! – deu um sermão.

Que droga, odeio quando ficam dando palpite na minha vida.

– Precisamos terminar, é para a semana que vem. – esbravejei.

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Aproximou-se de mim lentamente, para depois posicionar a sua mão na nuca. E constatar que havia um morrinho ali. Ao rodar com o polegar no local dei um grito, até porque ainda era recente.

E o pior, eu não sabia o porquê te der me acostumado com seus toques.

– Viu? Você está morta de sono, e o seu galo ainda nem diminuiu. – rebateu com ira.

Rolei os olhos ao ouvi-lo.

– Se continuar a falar deste assunto eu vou embora. – ameacei.

É, eu realmente detesto quando ficam reclamando das minhas decisões.

Ficou em silêncio, dando de continuar o que estávamos fazendo. E em meio aquelas formulas, letras e um monte de números avisou que ia tomar um banho, já que ia sair daqui uma hora.

Resolvi que ia finalizar um outro sozinha, para depois pedir para ele copiar e imprimir. Mas para isso precisa do que realizamos até o momento. Tentei procurar no computador, mas não achei.

– Onde está a atividade sobre Brás Cubas e o romantismo? – berrei.

Ouvi o registro do chuveiro ser desligado no momento, fazendo-me ter de repetir a pergunta.

– No pen-drive que se encontra na primeira gaveta do cômodo. - devolveu.

Então fui onde tinha dito. E depois de algumas vezes estando na casa de alguém acaba adquirindo algumas liberdades. Só que parei ao ver um livro com uma capa em que dizia:

“Lista de conquistas”

Isso realmente me deixou curiosa, fazendo-me olhar para os lados antes de abrir o caderno com cuidado. E nela havia alguns nomes, que estavam escritos, e os que estavam riscados eram os que já havia beijado – pelo menos é o que explica na primeira página.

Thalia Menezes

Jully Travis

Lorena

Patrícia Oliveira

Amanda Young

Ursula Eyng

Nádia Lee

Carla Rivera

Amélia Ortiz

Realmente só havia eu e uma daquele grupo, sendo que continha muito mais pessoas rabiscadas ali. O que me deixou surpresa foi que a garota que queria ser minha amiga também já havia provado dos lábios do castanho. Mas a minha raiva aumentou ao ver o último nome, que era o meu.

Também de mim mesma, por ter sido boba o bastante para deixa-lo se aproximar de mim. De ter contado um dos meus segredos, e permitir que me tocasse. Mesmo que no começo tivesse dado muitos tapas nele.

– Ainda está aqui e... O que está fazendo com isso em mãos? – parecia um pouco.

Mas não mais que eu, pode apostar.

– Eu que pergunto: por que meu nome está nessa maldita lista?

Larguei o objeto em mãos por conta da ira que sentia, e também por conta da tremedeira que tomava conta do meu corpo. E nem sequer me importei por estar sem camisa. Mesmo se estivesse pelado eu não ia mudar a expressão.

– Não tinha o direito de mexer nas minhas coisas. – revidou.

Isso nem é o que está em jogo!

– Eu tinha certeza que só tinha se aproximado para que eu fosse mais uma a ser riscada desse caderno. Só que simplesmente dei de ombros. Só que eu entendo, para que ia querer uma pessoa antissocial, assexuada e feia como eu senão por uma aposta ou para aumentar a lista não é? – disse tudo tão rápido que nem eu me entendia.

Mas era verdade, tudo fazia sentido agora.

Neste instante estava tão atordoada que lágrimas começaram a sair de meus olhos e correr por entre minha face pálida. Coloquei as mãos e escondi meu rosto para que não me visse.

E foi só quando me abraçou de forma terna que notei que estava em sua cama.

– Você não é o que diz! É linda sim, e fofa também. Pare de se menosprezar Amélia, pare. Se quiser eu tiro o seu nome de lá, não me importo. – parecia desesperado.

É como se tudo voltasse ao zero, na verdade estava no negativo. Deixando-me completamente enojada por causa do seu jeito, que naquele instante me dava a impressão de que estava sendo falso. E foi isso que me fez me soltar de seu enlaço.

– Eu não quero saber! Nada me fará acreditar em você de novo. – disse sem me importar. – Algo sempre dizia para me afastar, mas não sei porque confiei em ti. Ainda falei sobre a minha mãe! – determinei.

– Por favor, eu fiz isso quando nem te conhecia... – declarou.

Eu não o ouvi mais e simplesmente sai, da sua casa e da sua vida.

Uma semana depois

E lá estava eu no outro dia olhando para um retrato com o Sinistro do meu lado, naquele lugar solitário e sossegado. O estranho era que isso estava me incomodando, como se o normal seria estar com aquele idiota do meu lado.

Ver aquilo me doía, e pior ainda é estar vestindo seu moletom. Eu teria de acabar com isso, e irei. Porque é muito melhor combatê-la de uma vez do que ficar se remoendo pelo que deveria ter sido e não foi.

– Sofrer por ele é concordar que sou uma fraca. – sussurrei.

As lágrimas rolavam pelo meu rosto, mas eu tentava não me importar. Simplesmente peguei uma caixa e coloquei aquele quadro do super-man e a vestimenta que eu ainda não tinha a devolvido nela.

O que me passou na cabeça foi que não trocamos nenhuma palavra, e eu realmente tinha razão de não fazê-lo. Mas o surpreendente foi que o Nagel nem sequer tentou falar comigo ou arriscar uma possível reconciliação.

É... realmente eu tinha razão de julgá-lo como galinha sem coração.

Entrei no primeiro ônibus que chegou perto do domicilio e parei em frente aquela casa enorme. Sabendo que não entraria mais no local, e nem ao menos veria a cara daquela mulher que tanto me odeia. Toquei a campainha do portão, colocando o objeto ali, para depois ir caminhando em direção a parada.

Amy? – berrou alguém atrás de mim.

Eu sabia que era ele, e foi por esse motivo que nada disse. Simplesmente corri de maneira desesperada enquanto novamente mais lágrimas vinham.

Aquilo não era uma partida, era como um adeus para mim.

E ainda me sentia uma boba por sofrer por causa dele. Por uma pessoa que me se aproximou lentamente, mas ainda de forma intensa e invasora. Muitas vezes me desobedeceu e me tocava ou vinha com suas brincadeiras, sem se importar com a minha possível reação.

Então decidi que junto com o que deixei em sua casa um novo ciclo se fecharia. O que significava que seria a antissocial de sempre. Isso até me trouxe um certo alivio, mesmo que algo lá no fundo me contrariasse.