Pare! Não se aproxime
21 - Bela adormecida às avessas
Capítulo vinte e um
Bela adormecida às avessas
“O fato de você se sentir inseguro, não significa está sendo excluído, o problema é que você se exclui.”
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Na quinta a Diana, minha chefe temporária, fez uma aposta comigo. Se eu fosse de maquiagem, incluindo rímel e batom, para a viagem e bater uma foto me daria R$100,00, até uma câmera me emprestou para isso. Não sei qual o problema deles de sempre tentar me convencer a me arrumar mais.
E com toda a certeza tive que ter uma aula com ela. Sim, não queria usar nada disso, todavia por um dinheiro a mais eu aceitei. O outro dia chegou rapidamente, e acordei 2h40 para me arrumar e dar tempo de chegar a tempo no estacionamento.
Nem parecia que eu tinha uma olheira enorme embaixo do olho.
Corri para o ônibus da nossa turma, com aquela máscara no meu rosto, um gorro branco com pompom em cima, coturno de veludo, legging normal marrom e um sobretudo preto. O cabelo estava em formato de trança. Sentei-me na janela perto dos últimos assentos e fiquei olhando a paisagem de forma distraída depois de caminhar até lá de cabeça baixa.
Ao ouvir uma gritaria sabia que o Henry tinha entrado na condução e todos o olhavam e provavelmente torcendo para que ele sente junto deles. Suspiros e assobios foram dados pelas mulheres, todavia o castanho parecia não ligar enquanto procurava alguém. E adivinha que lugar escolheu? Sim, do meu lado.
– Bom dia Amy. Dormiu bem? – sussurrou com o tom rouco.
Nem me dei o trabalho de virar para ele.
– Estou ótima. – ironizei.
– Não vai nem olhar para mim? – questionou.
Já que nada respondi, por estar distraída vendo um cavalo preso, pegou em minha mão de maneira firme. E eu simplesmente o fitei para repreendê-lo e soltei-me dele, fazendo-o arregalar os olhos em surpresa.
– O que foi? – disse de forma rude.
– É que você parece mais ainda uma boneca assim coelhinha. – confessou.
Meu rosto ficou quente de repente.
– Não é para me chamar assim. – revidei.
Ficamos em silêncio desde então, e aproveitei o sossego para desenhar no vidro, já que estava embaçado. Fiz um boneco de palito apenas, com uma saia e um cabelo encaracolado. E Henry vendo colocou um homem desenhado da mesma maneira do lado da menina, fazendo os dois darem as mãos. Seu sorriso chegou a me assustar, ajeitando-se no seu assento novamente.
– Qual sabor de sorvete e picolé é o seu preferido? – quis saber.
Praticamente rolei meus olhos depois de escutá-lo.
– O primeiro é de torta de limão e o outro é de pedacinho do céu. – respondi sem vontade.
– Eu prefiro sorvete de coco branco e picolé de coco queimado. E estilo musical?
– Para que quer saber? – sem paciência já.
– Curiosidade apenas. – disse.
Ninguém merece!
– Eu sou eclética. – quis acabar com o assunto.
– Também. Viu como temos algo em comum? – praticamente riu.
– Isso nem conta. – revidei.
– Mas é alguma coisa. – devolveu.
Ignorei-o e fiquei encolhida em um canto, não querendo dormir de maneira alguma. Havia uma dor ali ou outra que me incomodava, mas nada tão grave. Já queria estar em casa e não ainda no começo da viagem. Com o tempo notei que o Nagel tinha cochilado, e até babando estava.
– Vamos só vir aqui um pouquinho tá. – sussurrou um garoto.
Pegaram um batom e colocaram na boca do de olhos azuis, colocou um “I” na testa, um coração em uma bochecha e “boys” na outra. Uma tiara de uma menina enfeitava sua cabeça. Por fim pegaram um papel e colaram com fita no banco em cima dele, em que estava escrito “Sou gay e gosto de dar a bunda”.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Quem mandou adormecer primeiro. E ainda acabaram filmando e batendo fotos do processo. O que realmente arrancou risadas de todos, até da professora. E foi neste instante que despertou.
– Chegamos? – questionou para mim.
– Não. – disse, olhando-o de maneira séria.
Os alunos tinham combinado de não avisá-lo, então estava me mordendo para não abrir a boca. Só que, para a tristeza deles, o galã de quinta categoria olhou para a janela, que já não estava mais embaçada, e notou que estava todo pintado.
– Por que não me acordou? – repreendeu-me.
– Nem vem! A culpa é sua, não minha. – irada.
– Deve estar no facebook já... Meu Deus! Espero que meus pais e parentes não tenham visto isso. – choramingou.
– A sua mãe curtiu e comentou na foto Angel, desculpa. – gritou uma guria loira.
– O que ela disse? - nervoso.
– Deu-me saudades do tempo que a vestia de menina. E seu pai acabou de escrever: Não criei filho para ser veado, apaguem essa coisa já. – disse.
Depois disso ficou atento enquanto os outros gargalhavam até não poder mais. E eu me perguntava o motivo de estarem acordados às 6h20 ao ponto de verem o que os outros postaram. Provavelmente foram dar uma olhada antes de trabalhar.
Quando deu umas 9h40 chegamos no zoológico, e demorou tanto que nem sentia minha bunda mais. Logo na entrada havia uma placa enorme e um guia nos esperando com aquele farda enorme e um chapéu que o tampava inteiro. E realmente me arrependia por estar tão quente hoje.
Tirei minha touca e sai a passos lentos do ônibus, sendo seguida pelo meu parceiro. Como eu tenho a obrigação contratual de estar com ele, teria de aguentá-lo até o final da viagem. Além de ter de segurar uma pasta enorme com comida e uma roupa extra.
– Esse é o elefante, eles estão se acasalando e... – explicou.
Sua animação era igual a minha, o que me fazia me identificar completamente. E enquanto falava segurava, na mão gordinha, um pacote com sanduiche. Já os outros nem o miravam, apenas riam da cena. Sim, não sabem o quanto é apavorante esse animal montado no outro.
Depois de fazer o caminho e apresentar todos os bichos nos liberou, fazendo com que ficássemos ao cuidado dos educadores apenas. Tinha um pasto enorme com duas lhamas presas, e com toda a certeza o que me chamou atenção foi uma loja perto dela. Aproveitando para comprar um suco gelado de uva de caixinha.
– Diga xis Amy! – gritou o retardado do Henry.
Simplesmente não o obedeci e continuei a andar com o liquido sendo sugado com ardor, estava tão delicioso que não consegui parar de beberica-lo por um segundo sequer. O flash foi visto e eu corri em direção aos dois animais brancos, um de black power e outra com um topete de emo.
– Não se preocupem, logo sairei. – sussurrei para o que me olhava.
Isso o fez ir me minha direção e colocar a cabeça por cima da grade, enquanto mastigava algo de maneira barulhenta. Fiquei escorada ali enquanto fitava o menino, e justo no momento em que o animal colocou a boca no meu cabelo e puxou bateu outra foto minha.
Que droga! Ficou tudo babado.
– Bicho mau, muito feio! – repreendi-o.
O garoto que estava do meu lado deu um sorriso torto e riu.
– Sabia que ele nunca irá te responder? – questionou.
– Fica quieto que é melhor. – a raiva e a vergonha me dominando.
Fomos até a multidão de alunos quando um professor chamou a todos e entramos em um local fechado, onde havia várias pessoas com jalecos e uns animais machucados. Só que não ficamos ali, mas sim em um que havia vários remédios.
– Trouxe-os aqui porque o nosso trabalho será sobre as fórmulas química dos medicamentos encontrados nessa sala. Então anotem o que encontrarem. – gritou.
Todos se dispersaram e um esbarrão era iminente, fazendo-nos entrar em pânico para achar. Realmente a matéria era muito difícil, e não sabíamos se iria dar o nome um outro dia. Cai quatro vezes e nem sabia quem me socorreu, porque o número de pessoas ali era enorme.
Por sorte eu consegui colocar no papel alguns e fomos embora. Entrei no ônibus, Henry do meu lado e uma vontade imensa de vomitar. Sorte que era só enjoo, e com uma bala amarga melhorei. O meu parceiro me deu a lista e eu vi “curativo” nele, o que me deixou surpresa com a burrice dele. Risquei sem nem avisá-lo, aproveitando para dormir depois que um adormeceu também na frente.
Só que infelizmente tive um pesadelo com meu pai novamente, fazendo-me me remexer no banco e cai em prantos. E o pior era que não conseguia acordar e interrompê-lo. Um tempo após aquele agonia senti algo encostar em meus lábios, deixando-me completamente desnorteada e confusa.
Abri meus olhos e vi que um garoto estava me selando, mas não um qualquer, e sim o Nagel. Era algo singelo e terno, mas foi tão aterrorizante que fiquei estática. Pareceu sorrir ao me mirar, e ao verificar a cor da íris tão de perto notei o quanto era belo. Mas me recuperei ao notar que passava a língua nos meus lábios sem minha permissão.
Era um maldito de um canalha! E além de ter a coragem de fazer isso, ainda passava mão pelo meu corpo, ora na cintura, ora nas costas.
Dei um tapa em seu rosto com toda a minha força e o fulminei com toda a minha ira e constrangimento. Eu nunca havia sido beijada e nem tocada. E sabe qual foi a sua reação? Dar um sorriso torto em minha direção.
– Nunca mais coloque essa coisa nojenta em mim. – sussurrei.
Fez um biquinho em divertimento.
– O quê? A língua ou a boca? – quis saber.
– Se repetir mais uma vez essa palavra insana vou te matar. – gritei.
Foi o estopim para que burburinhos fossem ouvidos dentro da condução.
– Não assassine o nosso Henry! – exclamou uma garota.
Então todos começaram a repetir isso em voz alta, tanto os gays, garotos heterossexuais quanto os professores. Será que eu mereço mesmo essa retaliação? A cada dia que passa tenho mais certeza que fui aliada de Hitler.
– Só quis te acordar, parecia tão sofrida que só consegui com um beijo. – disse.
– Mas poderia ter parado depois de eu ter abrido os olhos e não enfiar aquela coisa na minha boca. – sussurrei em resposta.
Mais nenhum diálogo foi trocado entre nós e a música do “João roubou pão” foi soado no ambiente. E eu não fui pronunciada em nenhum momento, e se fui nem notei. Só prestava atenção na paisagem, seja no morro ao fundo, na casa ou nos bois da fazenda. Descemos e nem o olhei ou fui procurar a Jully, simplesmente fui embora de forma discreta.
Será que eu fui beijada de verdade e aquele é o que todos dizem ser tão bom nos filmes? Não sei, mas realmente foi meio asqueroso e quente. E toda aquela calma e ternura fez-me me sentir segura e esquecer o pesadelo por um tempo. Mas isso não o exime de o achar mais desrespeitador e galinha agora.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Enfim... esse dia foi cheio de emoções não?
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