Fomos nos aproximando devagar, eram mais ou menos cinco da manhã. Não havia muitos carros na pista. Rapidamente os carros abordados iam embora. Não percebi quando era a nossa vez.

— ID? – Um rapaz de cabelos ondulados de óculos escuros, aparentemente da minha idade falou apontando a lanterna para o rosto de Oliver.

Oliver entregou um cartão ao rapaz.

— Mas o que está acontecendo. – Falou Oliver cordialmente.

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— Assuntos restritos, senhor Oliver Baker. —Disse ele olhando para um aparelho em sua mão.

O rapaz ainda não havia percebido minha presença, mas quando ele me enxergou seu olhar enrijeceu.

— Está tudo bem com a senhora? – Ele me disse preocupado.

Eu havia esquecido o estado em que me encontrava. Meu vestido estava surrado e com manchas de sangue, eu estava suja e com o cabelo desarrumado. Eu estava tão aérea que não percebi meu próprio estado.

— Sim, senhor é que a festa de ontem foi um estrondo. E eu acabei me machucando. —Falei imitando um sotaque sulista arrastado, mostrando meus pulsos enfaixados.

Fiquei abismada com as mentiras que saiam da minha boca.

— Sei. —Ele me olhou nos olhos com desconfiança.

— Desçam do caminhão. —Ele ordenou.

Meu coração parou. Encarei Oliver para ver se ele me mandava algum sinal do que fazer, mas ele só assentiu e desceu. Com receio, fiz o mesmo. E se Robert fizesse algum barulho? Meu coração acelerou de maneira abrupta.

— ID senhorita. Ele me perguntou quando desci.

Como eu não estava com nenhum dos meus cartões, eu disse o número.

— 12323232—Falei sem pausa.

Pelo jeito ele conseguiu me acompanhar. Esperamos longos cinco minutos e ele se mostrava meio impaciente.

— Senhorita Charlotte Pierce. Ele disse surpreso.

— Sim.—Concordei.

— Ora, ora, normalmente recebemos as informações imediatamente. Mas havia tantos bloqueios no seu ID, que recebemos só o seu nome. – Ele falou como se eu não soubesse.

— Isso não é crime certo. —Disse confiante

— Não, é só irritante.

— Podemos ir? — Disse Oliver

— Qual é a pressa senhor? Indagou o homem

— Temos que chegar à Nova York até ás oito. – Disse Oliver visivelmente irritado.

— Certo, temos que só verificar o baú do veiculo. - Disse o homem correspondendo a irritação de Oliver.

Minha mente dava voltas, eu não conseguia disfarçar meu nervosismo, tanto que o rapaz percebeu.

— Tem certeza que não precisa de ajuda senhorita? Disse ele levantando os óculos e mostrando seus olhos de um profundo azul.

— Tenho, é só meu ferimento que está incomodando.

— Entendo. – Falou ele com um tom de sarcasmo.

O homem se virou e chamou alguém.

— Sou o agente Andrews do setor de localização da AFII, meu superior está vindo com a autorização de busca. —Ele disse me encarando.

Tentei desviar meu olhar, mas mesmo sob os óculos eu sentia os olhos dele sobre mim.

— Ela já não disse que está bem senhor? – Falou Oliver pegando a minha mão quando percebeu meu desconforto.

Isso me aliviou, e me deu confiança.

—Será que ela está mesmo? – Falou Andrews em um tom de zombação.

Andrews retirou os óculos e encarou Oliver nos olhos.

Qualquer um que se aproximasse podia sentir a rivalidade que se formava entre eles, nesse pouco tempo de convivência.

Notei alguém se aproximando

O homem que se aproximava era negro, alto e usava uma espécie de Black Power, o que não ornava com seu traje formal.

Oliver ainda encarava o agente Andrews.

— Senhores e senhorita. —Disse o homem chamando a atenção.

Oliver e Andrews ainda se encaravam.

— Acho que quase posso ver os raios se formando. –Uma voz forte e grave disse. Esse comentário me pegou de surpresa.

Olhei para o homem que tinha um sorriso de satisfação no rosto.

— Agente Andrews?

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Andrews se virou subitamente e ficou levemente corado.

— Me desculpe, senhor. – Falou ele em posição de saudação.

— Sou o agente Owen , líder de operação da AFII

Quando o agente Owen colocou os olhos em Oliver, seu olhar mudou. O olhar tranquilo e descontraído deu lugar a uma surpresa seguida de um olhar sombrio.

— Pode liberar a passagem deles agente Andrews.—Ele disse isso se virando, recusando a cruzar o olhar com Oliver.

Andrews ficou surpreso e aflito.

— Mas senhor? Temos que verificar todos os caminhões que passarem por aqui.

— Não discuta comigo agente! Libere o caminhão agora.

A súbita mudança de humor do Agente Owen também pegou Andrews de surpresa, mesmo assim ele nos deu passagem para continuar nosso caminho. Mas antes ele me entregou um cartão.

— Eu sei que está acontecendo alguma coisa, posso ver no seu olhar. Eu simpatizei com você, se precisar entre em contato comigo. – Ele disse baixo bastante para somente eu ouvir.

Eu peguei o cartão com hesitação. E assenti antes de fechar a porta do caminhão. Saímos de perto do bloqueio com certa velocidade. Finalmente eu pude respirar melhor.

— Mas o que acaba de acontecer? – Perguntei sem esperar respostas.

— Situações assim são estressantes, achei que você iria desabar a qualquer momento. -Ele disse já em um tom descontraído.

— E você não? A toda hora eu pensava em Robert no baú do caminhão. O que teríamos feito se por acaso eles...

Ele me interrompeu.

— Eu teria matado todo mundo.

Eu o olhei e vi certa centelha no seu olhar, será que ele teria feito isso?

— Calma é só brincadeira. – Ele falou quando percebeu minha seriedade.

— Às vezes eu esqueço que você não entende brincadeiras. -Ele completou

Não sei como ele ainda pode fazer esse tipo de brincadeira, depois de tudo o que aconteceu, não tenho humor para nada.

— Mas agora falando sério, eu não acho que eles nos prenderiam por causa disso. Não estamos mais em Tornville. O máximo que eles fariam era pedir o ID deles. Eles não possuem orçamento para caçar ou prender criminosos comuns. Quando eles estão por ai e que alguma coisa grave aconteceu. Possivelmente tem haver com terrorismo ou espionagem.

Os olhos dele permaneciam focados na estrada. Olhos castanhos como avelãs.

— Você sabe por que o Agente Owen ficou incomodado com a sua presença? – Perguntei sem dar importância.

— Ah, isso? É por que nós já trabalhamos juntos.