Caçada

As Garras do Tigre


O vento estava ficando cada vez mais forte, e o casaco de Matt já não conseguia me esquentar tão bem como antes. Atrás de mim, Kishan rugia baixinho, encarando Lavander com seus olhos dourados, pronto para agir a qualquer movimento dela.

Eu estava em uma batalha interna, onde parte de mim queria confiar em Lavander e a outra queria deixar Kishan abocanhar sua perna, dando uma vantagem para que nós pudéssemos fugir dali.

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Enquanto eu me mantinha estática e perdida em pensamentos confusos, Lavander se agachou para pegar a alça da sua mochila marrom, tirando de lá um canivete prateado.

Comecei a entrar em desespero assim que Lavander começou a se aproximar de mim. Meus olhos estavam pregados na arma brilhante que ela segurava entre dos dedos. Olhei para os lados, mas não tinha ninguém ali, apenas trailers sujos.

“Ótima hora para morrer, Mia!”

Kishan deu um rugido, pulando em minha frente, enquanto mostrava os grandes dentes afiados para a garota com o canivete em mãos. Lavander parou, dando alguns passos para traz.

– Você pode, por favor, segurar o seu tigre? -Sua pergunta me fez olhar para ela assustada.

– Não antes de você largar essa faca! – Grito, fazendo com que Lavander olhe para a faca, rindo.

– Mia, eu não vou machucar você! – Ela falava devagar, como se tentasse conversar com um bebê.

– Mas...?

– Isso é para você! Eu não sou uma assassina, sabia?

Olhei para a menina e depois de um longo tempo, puxei a corda que prendia Kishan, forçando-o a se afastar. O tigre rugiu em protesto, mas eu levei minha mão até sua cabeça e tentei acalmá-lo.

– Certo. Primeiro você fala que quer me ajudar e depois me presenteia com um canivete. Você pode, por favor, explicar qual é a sua? - A confusão era evidente na minha voz.

– Para onde você vai fugir? - Lavander ignorou minha pergunta e começou a brincar com a faca.

Enquanto eu assistia a brincadeira letal da menina, tentei achar uma boa resposta para ela, mas a verdade é que eu não sabia exatamente para onde ir. O meu plano de fuga foi feito em menos de uma hora, então ele tinha muitos problemas.

– Você não estava pensando em dar um volta pela rodovia interestadual com um tigre estava?

Bem, eu estava.

– C-claro que não. – Menti, desviando meu olhar para a parede enferrujada de um dos trailers.

– Ótimo. Então você precisa me ouvir, não temos muito tempo.

Lavander pegou minha mão e começou a me arrastar. Sem saber o que fazer, olhei para traz, procurando pelo meu tigre e percebi que Kishan nos seguia, cauteloso.

– Benzini não vai ficar nada contente quando descobrir que você fugiu com o tigre, portando, você já deve estar bem longe quando isso acontecer. É muito arriscado fazer o que eu vou falar, mas é a única maneira de não ser pega.

– Estou ouvindo.

Lavander parou quando chegamos na divisa entre o circo e a floresta que rodeava parte do campo aberto em que as tendas e trailers tinham sido montadas. Altos pinheiros e alguns arbustos rasteiros eram visíveis devido a luz que a lua produzia.

Olho assustada para Lavander, depois de finalmente entender o que ela tinha em mente.

– Você não está querendo que eu...

– É isso ai! Você vai fugir pela floresta, assim, o Benzini nunca irá te achar.

Olhei mais uma vez para dentro da floresta apavorante, antes de dar uma risada nervosa.

– Eu não vou entrar ai! Devem ter milhares de lobos e outros animais só esperando uma chance para se alimentar de mim.... E... E eu vou me perder!

– Mia, tudo que você vai achar ai são alguns porcos espinhos e gambas, que não serão perigosos se você não se aproximar deles. E se você seguir reto nessa direção... – Lavander apontou um caminho aberto entre as árvores. - ... Você chegará na reserva florestal da cidade vizinha.

Eu estava apavorada, cada célula do meu corpo gritava: Corra dessa maluca! E eu estava com vontade de dar meia volta e desistir daquele plano insano, mas quando eu me virei, os olhos dourados de Kishan se encontraram com os meus e a promessa que eu tinha feita para meu tigre negro voltou a minha cabeça.

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“Eu não vou deixar você, Kishan”

Se eu desistisse agora, eu iria deixar que Benzini o vendesse para o homem estranho e nunca mais eu iria ver meu tigre novamente.

Então, com um suspiro pesado, puxei a corda de Kishan, para que ele viesse para o meu lado e encarei Lavander com determinação.

– Tudo bem, eu vou.

– Beleza. Leve isso com você, talvez seja necessário. – Lavander estendeu o canivete para mim e um pouco receosa, eu o peguei, sentindo o metal gelado em minhas mãos.

Guardo a faca em um dos milhares de bolsos que a minha mochila esfarrapada tinha. Acariciei as costas de Kishan e antes de adentrar no floresta, olhei para Lavander e peguei sua mão.

– Lavander... Você poderia cuidar do Matt por mim?

Os olhos da menina brilharam por um segundo e ela apenas assentiu, com um sorriso tímido no rosto.

E finalmente eu estava dando as costas àquele lugar que tinha me feito sofrer muitas vezes, ao colocar os pés dentro da floresta, eu estava dando “olá” a minha liberdade.

Quando finalmente olhei para traz, eu já não conseguia mas ver o caminho atrás de mim e, o Benzini Brothers se tornou apenas uma lembrança ruim.

Andava em silêncio, ouvindo o som de meus passos no chão cheio de folhas secas e dos animais noturnos. Já tinha perdido a noção do tempo, mas eu já sentia o sono e o cansaço chegando, mesmo eu me recusando a parar de andar.

Seguíamos o caminho indicado por Lavander, com Kishan logo atrás de mim. Sempre que olhava para ele, percebia seu olhar perturbado, como se o tigre estivesse em uma batalha interna.

– Quando você quiser parar é só avisar, Kishan. – Sussurro, com medo de que algum animal nos ouvisse.

Mas é claro que o tigre era capaz de correr uma maratona, enquanto eu já estava começando a ficar ofegante e com câimbras.

Fome, sono e frio. Até quando eu iria aguentar andar? Uma hora eu iria ter que parar.

Chegamos em uma clareira que tinha alguns troncos espalhados pela grama. Olhei ao redor, mas estava escuro de mais para enxergar qualquer coisa, então decidi que ali seria onde passaríamos a noite.

– Kishan, acho melhor passarmos a noite aqui. Estou com dores nas pernas e você provavelmente tem necessidades felinas para fazer e...

Minha voz morreu assim que olhei para traz e encontrei o vazio. Kishan tinha sumido e tudo o que restará foi o nó da corda.

Entrei em desespero.

Comecei a olhar atrás de todas as árvores, na esperança de que Kishan tivesse apenas ido de aliviar.

– Onde está você, seu tigre idiota!

Meu grito de revolta fez eco em toda a clareira, fazendo com que alguns pássaros que dormiam em árvores próximas, saíssem voando.

– Mia?

Todo meu corpo de arrepiou e um frio desceu por toda minha espinha ao ouvir a voz baixa e grave chamar meu nome. Minha cabeça começou a lembrar de filmes de terror que eu tinha assistido com Matt.

Essa era a hora em que a mocinha se virava e o monstro matava ela?

Com o medo corroendo cada parte de mim, comecei a me virar, pronta para encarar a minha morte.

Um par de olhos castanhos amarelados me encaravam apreensivos e o dono deles era um homem alto e moreno, mas eu não tive tempo para prestar atenção na sua aparência, pois meus pés começaram a se mover e logo eu já estava cambaleando para longe daquela pessoa estranha.

O homem começou a se aproximar de mim mesmo eu tentando fugir. E a última coisa que eu fiz antes de tropeçar em um tronco de árvore, cair no chão e desmaiar, foi gritar.

Continua...