Caçada

O Nome


A respiração quente de Kishan fazia cócegas em minha nuca enquanto meus dedos brincavam com sua pele lisa e morena do peito. A luz forte do sol nos banhava, deitados em cima daquela cama da casa desconhecida por mim.

Kishan havia colocado de volta a camisa que havia tirado de mim antes de me puxar para deitar em cima de seu peito, mas em momento nenhum permiti que ele colocasse a blusa preta que repousava no chão.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Minha pele ainda sentia os efeitos dos beijos de Kishan minutos antes, e fechei os olhos para passar novamente aquela cena em minha cabeça, ao mesmo tempo em que os dedos de Kishan acariciavam minhas costas com carinho.

Nenhuma palavra saía de nossos lábios, e soube que o príncipe de olhos dourados estava tão perdido em pensamentos quanto eu. Poderia passar o restante do dia em silêncio, apenas aproveitando o contato quente do corpo de Kishan contra minhas roupas, entretanto minha curiosidade falou mais alto.

Com um sorriso, beijei lentamente o peito do homem em baixo de mim e levantei a cabeça, sendo surpreendida por aquele belo par de olhos de pirata, me observando com um misto de alegria e desejo.

Nunca antes tinha visto os olhos de Kishan tão brilhantes como naquela hora, e abri um sorriso preguiçoso quando ele acariciou as maçãs de meu rosto. Por alguns segundos me perdi novamente, sendo engolida por aquele homem, mas meu cérebro parecia trabalhar a parte de meu corpo, e voltou a me deixar alerta.

− Onde estamos, Kishan? – perguntei quase como um sussurro, olhando para o quardo ao nosso redor.

Aquele parecia ser o único cômodo da casa que não estava cheio de poeira; a cama de madeira rústica e entalhada com folhas e flores ficava bem no centro do quarto, uma lareira que parecia nunca ser usada estava espremida em um dos vãos da parede, com uma cadeira de balanço estática em frente. Mais algumas estantes de livros tomavam conta do local, o que me fez pensar em como a pessoa que morava ali gostava de ler.

Na parede oposta, uma singela escrivaninha possuía vários pergaminhos enrolados de forma imaculada e algo que parecia um mapa-múndi muito primitivo. Mas o que me chamou mais a atenção foi o cavalete ao lado da escrivaninha, o qual apoiava uma moldura coberta por um pano branco um pouco sujo.

− Essa é a casa em que Ren e eu moramos com nossos pais depois da maldição – ele murmurou, e pareceu ser uma coisa dolorosa de se admitir, afinal aquele lugar estava cheio de lembranças.

Meu corpo contraiu com a constatação, e eu olhei em volta mais uma vez, agora sentindo a presença de Deschen sentada naquela cadeira de balanço, lendo seus muitos livros enquanto o marido estudava mapas e cartas.

− Eu não sabia que ainda... – Minhas palavras ficaram presas na garganta, e me xinguei mentalmente por ser curiosa.

− Kadam não quis deixar esse lugar abandonado, principalmente porque meus pais... – Ele começou a falar, mas sua voz se tornou grossa e cheia de sentimentos.

Senti seus lábios beijando meus cabelos, e o abracei com mais força, afundando o rosto contra seu peito mais uma vez. Sua respiração voltou a ficar leve e compassada, e eu olhei mais uma vez para seus olhos, que pareciam muito longe de mim.

− No final dessa colina há uma arvore de cerejeira, e é ali que meus pais estão enterrados, logo Kadam não quis... deixá-los.

Novamente o silêncio tomou conta do quarto, e meus pensamentos voaram para quando aquela casa era cheia de vida, e eu imaginei o casal real levando uma vida simples, enquanto tentavam buscar respostas para a maldição de seus filhos.

Meu peito se encheu de ternura e eu toquei com leveza o rosto de Kishan antes de deixar um beijo em seu queixo, sorrindo para o príncipe que sempre se demonstrava tão atento em relação aos pais, principalmente à Deschen.

− Sei que eles zelam por vocês, aonde quer que eles estejam – disse com confiança, recebendo um sorriso iluminado de Kishan.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Senti ele se remexer em baixo de mim e levantei-me, espreguiçando meu corpo como um gato que acaba de acordar de uma soneca no sol. Senti os olhos de Kishan queimando sobre meu corpo e rapidamente olhei para ele, que possuía um sorriso malicioso no rosto.

− Você é linda – ele rosnou com a voz rouca e sensual, sentando-se na cama antes de me colocar entre suas pernas. – Eu poderia fazê-la minha agora mesmo.

Mordi o lábio inferior no mesmo instante em que uma onda de prazer tomou conta de meu corpo. Agarrei os braços fortes de Kishan e colei nossos corpos, deixando que seu perfume forte me embriagasse a ponto de me fazer gemer baixinho.

− Eu já sou sua, Kishan – murmurei já ofegante; nossos lábios estavam a centímetros um do outro, e a respiração quente dele se misturava com a minha.

Suas mãos seguraram meu rosto, e os lábios carnudos de Kishan me torturaram esbarrando nos meus. Desci as mãos dos braços fortes do tigre direto para seu peito nu, até que meus dedos encontraram o final de sua barriga e o começo do jeans, onde poucos pelos se acumulavam.

− Você me deixa completamente louco, bilauta – ele sussurrou, acariciando meu rosto com o nariz antes de se afastar e sorrir de forma marota. – Mas quero que seja especial.

Minha boca se escancarou, sem acreditar que Kishan estava me torturando daquela forma, então joguei minha cabeça contra seu peito e bufei alto, fazendo-o rir enquanto me abraçava.

− Isso não se faz com uma garota, Vossa Alteza – reclamei, tentando controlar minha respiração descompassada.

− Ainda podemos... nos divertir – disse Kishan, abrindo mais uma vez seu sorriso malicioso, fazendo-me balançar a cabeça e morder o lábio.

Levantei da cama com um salto, sendo observado por Kishan. Andei até a janela e percebi que possuía uma vista privilegiada da colina e do gramado extenso em nossa frente, toquei nas lombadas dos livros velhos em híndi, parando em frente ao que me deixava mais curiosa naquele quarto: o quadro coberto.

− O que é? – perguntei, virando a cabeça para encontrar os olhos de Kishan. O homem se levantou da cama como um verdadeiro felino, andando de forma cautelosa até parar ao meu lado, segurando a ponta do pano antes de puxá-lo.

Percebi que a tela não era nada mais que um pergaminho amarelado, contendo uma cena que nunca pensei ver. Lembrei-me dos livros de história que papai costumava me mostrar, com quadros um mais bonito que outro de reis e rainhas.

Na tela, um homem alto e usando um traje indiano imponente e cheio de acessórios dourados me encarava com olhos castanhos mel, sua postura era séria e sua pele era cor de oliva igual à de Kishan. Olhei mais atentamente para o homem, e pude reconhecer marcas no rosto adulto que se assemelhavam com o do tigre parado ao meu lado.

O homem segurava a mão de uma mulher magra, sem muitos traços indianos. Sua pele clara contrastava com os olhos azuis e os cabelos negros lisos. Sua roupa parecia uma mistura de quimono com sári, e uma bela tiara estava presa no topo de sua cabeça.

Em frente ao casal, dois meninos chamaram minha atenção e senti um aperto no peito. Em frente a mulher um menino alto e magro vestia trajes finos, tentando segurar o riso enquanto o irmão, em frente ao pai, tentava lhe bagunçar os cabelos cumpridos e pretos. Os olhos azuis do menino alto eram inconfundíveis, e sorri ao ver Ren tão novo.

Tive que segurar o riso ao perceber que o menino arteiro tinha olhos dourados e um sorriso travesso no rosto. As mangas de sua camisa estavam dobradas até o cotovelo, e parte da barra estava para fora da calça.

− Bom saber que você sempre foi hiperativo – disse por fim, ouvindo a risada nasal de Kishan. Minha atenção continuava voltada para a pintura da família Rajaram, e a beleza de Deschen me prendeu por alguns segundos.

− Fazia semanas que eles estavam pintando esse retrato e eu não queria mais ficar parado por horas em uma sala enquanto papai ralhava comigo. – Kishan tentou se defender, mas apenas lancei um olhar incriminador em sua direção.

Olhei o retrato por mais alguns minutos, antes de voltar-me para Kishan, envolvendo sua cintura com meu braço. Senti um beijo sendo depositado em meus cabelos e um sorriso satisfeito tomou conta de mim.

− Sua mãe era linda, uma verdadeira rainha – comentei, enquanto Kishan tampava o quadro, não antes de olhar mais uma vez para a família.

− Ela teria gostado muito de você – ele disse apenas, fazendo com que meu coração se enchesse.

− Fico feliz em saber disso. – E eu não estava mentindo.

Pegando-me de surpresa, Kishan entrelaçou seus dedos nos meus e me puxou para fora do quarto com um sorriso sapeca no rosto. Descemos as escadas rindo e senti as mãos firmes do príncipe em minha cintura, fazendo-me pular o último degrau.

− Vou te mostrar o restante da casa. – Seu rosto tinha o mesmo brilho sapeca do menino do quadro, e não pude deixar de rir.

Acabei descobrindo que além da cozinha e da sala, a casinha possuía dois quatros no andar de baixo, mas eles também estavam empoeirados e sem muitas coisas. Encontrei um pequeno soldado de brinquedo em cima de uma das camas, usando roupas indianas e montado em um elefante.

− Minha mãe costumava guardar nossos brinquedos – Kishan explicou, passando os dedos longos pelo brinquedo entalhado na madeira.

Uma porta na cozinha levava direto para uma pequena varanda com um banco largo de madeira, o qual Kishan não demorou em me colocar sentada. Olhei a paisagem calma e suspirei pesadamente, jogando minhas pernas para cima do colo de Kishan.

− Deve ter sido maravilhoso morar aqui, eu amaria – comentei, observando enquanto uma borboleta pousava de flor em flor, parecendo dançar nas pétalas brancas do arbusto.

Sem a resposta de Kishan, voltei meu rosto para o seu, e percebi que ele estava pensativo; tombei a cabeça para o lado, observando com um sorriso no rosto o perfil de Kishan: seu queixo anguloso e as maçãs do rosto bem trabalhadas o faziam perfeito.

Não sabia o que o príncipe pensava, mas quando finalmente falou, acabei levando um susto com o som de sua voz rompendo o silêncio.

− Qual será o próximo desafio? – questionou Kishan, finalmente prendendo seus olhos dourados nos meus, os quais se demostravam realmente preocupados, e as lembranças do último desafio no templo de fogo fez minha pele arrepiar.

− Acho que qualquer coisa será melhor do que ser tostada viva – zombei, tentando tirar a tenção do momento, mas senti os músculos de Kishan ficarem tensos sob minhas pernas.

− Não vou deixar aquilo acontecer novamente – ele disse, decisivo, olhando para mim e tomando minhas mãos nas suas, como se selasse uma promessa, o que me fez sorrir.

− Eu queria acreditar nisso, Kishan, mas você sabe que a maldição não quebrará se eu não passar pelos desafios – murmurei, acariciando os dedos longos do príncipe em uma tentativa de acalmá-lo. – O pior elemento nós já superamos.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

− Lokesh já sabe de você e provavelmente está atrás de nossa localização, precisamos quebrar a próxima parte da maldição rápido – ponderou Kishan, antes de começar a brincar com os dedos do meu pé, fazendo-me rir com as cócegas.

Percebendo minha reação, um sorriso maroto tomou conta dos lábios de Kishan, e ele prendeu minhas pernas com os braços, enquanto atacava a sola do meu pé com cócegas, as quais me faziam contorcer no banco.

Meu peito doía de tanto rir, e comecei a bater nos braços fortes de Kishan na tentativa de me libertar, mas ele parecia muito disposto a continuar com aquela tortura. E ele só parou quando eu já não conseguia mais puxar ar para os meus pulmões.

Sua risada rouca encheu o ambiente, mas eu apenas revirei os olhos, batendo em seu peito com o punho fechado antes de saltar para fora do banco e segurar sua mão, puxando-o em minha direção.

− Vamos lá, tigre, temos mais uma maldição para quebrar! – gritei a última parte, pois meus pés começaram a correr pelo gramado verde, e levantei os braços enquanto o vento forte jogava meus cabelos para trás enquanto eu descia a colina.

Queria aproveitar aquele último momento, pois sabia que quando chegássemos em casa, voltaríamos e nos preocupar com a maldição, afinal, agora era a vez do colar do senhor Kadam, e ainda não tínhamos nem ideia de qual era o seu elemento.

Olhei para trás, procurando um corpo musculoso vindo em minha direção, mas apenas encontrei o vazio e franzi o cenho, parando de correr. Demorei alguns segundos para entender o que acontecia, quando um vulto preto passou correndo ao medo lado.

Ouvi um rugido alto, e encontrei o tigre negro balançando a cauda para mim, metros à frente. Seus olhos dourados vivos pareciam me desafiar, fazendo-me fechar a cara e voltar a correr como uma louca.

− Isso é trapaça! – Minha voz era intercalada com gargalhadas, enquanto eu tentava acompanhar o ritmo do felino enorme em minha frente.

Permanecemos o caminho todo daquela maneira; por certas vezes o tigre parava e se fazia de cansado, deixando que eu passasse na frente antes de correr novamente, esbarrando em minhas pernas de forma brincalhona.

Quando finalmente avistei a porta de entrada da enorme casa, a qual estava tão acostumada, respirei aliviada, sentindo o suor correr por minha nuca. Meu pulmão queimava e tive que me apoiar nos joelhos no primeiro degrau da entrada.

− Se eu tivesse superpoderes de tigre também você iria ver, Kishan! – disse ofegante, ouvindo o tigre bufar baixinho.

− Disse a garota que conseguiu acabar com várias criaturas supernaturais – zombou Kishan, e assim que levantei a cabeça, encontrei o homem mais uma vez com suas roupas pretas, estendendo as mãos para mim.

− Mas em nenhum momento eu tive que apostar corrida com um tigre – expliquei, levantando-me antes de pular nas costas de Kishan, pegando-o de surpresa.

Envolvi o pescoço de Kishan com os braços, e deixei minhas mãos descansadas contra seu peito. Minhas pernas envolviam seu tronco, e eles as segurava com força, colando meu corpo contra o seu.

− Para onde a princesa deseja ir? – ele perguntou em um tom jocoso e eu escondi meu rosto em seu pescoço, rindo baixinho.

− Para a biblioteca real, meu servo – respondi de forma pomposa, fazendo com que ambos ríssemos.

Quando as amplas portas de madeira foram abertas, fomos recebidos por dois pares de olhos nos observando, e o brilhos dos olhos cobalto de Ren me prenderam. O príncipe com roupas brancas sorriu de forma marota para mim e eu revirei os olhos.

− Sempre soube que você não conseguiria me deixar – comentou Ren, quando Kishan deixou meu corpo cair na minha poltrona ao lado da mesa de Kadam.

− Esqueci quão humilde você é, irmão – zombou Kishan, bagunçando o cabelo comprido do irmão.

Ren rugiu para o irmão de forma brincalhona, e naquele momento não pude deixar de conter meu sorriso. Virei minha cabeça e encontrei os olhos de Kadam sorrindo para mim, e aquela cena fez meu coração se encher.

− Acho que estamos todos aqui por um mesmo motivo – disse Kadam, chamando a atenção e todos para si.

Ele segurava o Pergaminho do Tigre em uma das mãos, enquanto a outra envolvia o amuleto de Damon e senti uma sensação de quentura tomar conta de mim. Tirei meu próprio amuleto de dentro da camisa, e segurei-o em meus dedos.

− Precisamos quebrar a segunda parte da maldição o mais rápido possível – disse, levantando-me e indo até o lado do Sr. Kadam, sendo seguida pelos olhos dos dois príncipes.

− Conversava sobre isso com Ren, senhorita Mia – explicou Kadam, entregando eu amuleto para mim. – Já temos ideia de tudo o que precisamos fazer, então acho que vocês podem ir em busca do próximo desafio amanhã mesmo.

Minha mente trabalhou de forma acelerada enquanto eu tentava estudar as palavras de Kadam, até que eu arregalei os olhos e me voltei para Ren, apontando o dedo para ele de forma acusatória.

− Você não está querendo ir conosco, está? – perguntei, fazendo com que Kishan segurasse a risada do outro lado da sala.

− Você me ofende com essas palavras, priya – disse Ren, com o tom de voz melodioso.

− Ren, você acabou de sair da prisão macabra de Lokesh, não acho que esteja pronto para sair lutando com monstros – argumentei, colocando as mãos na cintura apenas para defender meu ponto de vista, mas percebi que Ren me via como uma gatinha raivosa, então bufei.

− Se eu treinar por algumas horas, aposto que venço você no corpo a corpo – provocou Ren, fazendo-me estreitar os olhos e fechar as mãos em punho.

− Isso é um desafio, tigre? – Os olhos cobalto de Ren brilhavam de empolgação, mas ele havia me provocado, e eu não podia recusar.

− Aposto tudo na Mia – disse Kishan, rindo de forma escandalosa em sua poltrona, enquanto assistia à briga entre o irmão e eu.

− Ainda pode desistir – provocou novamente Ren, fazendo-me rosnar baixinho antes de voltar-me para Kadam.

− Vamos terminar logo com isso, senhor Kadam, um tigre está pedindo para levar uma surra. – disse, antes de segurar o amuleto em minhas mãos com mais firmeza e sussurrar a palavra “Prakata”.

O amuleto brilhou na cor azul tão estonteante quanto os olhos de Ren, e senti um frescor invadindo meu corpo. Pude jurar que ouvi o barulho de ondas batendo contra pedras, e rapidamente abri um sorriso, fechando os olhos com o prazer da sensação.

− Água – disse com um sussurro, antes de devolver o amuleto para Kadam com um sorriso.

− Acho que temos uma localização – disse Kadam, fazendo com que os irmãos se levantassem e viessem em nossa direção. Senti as mãos de Kishan em minha cintura, abraçando-me por trás e lhe abri um sorriso.

Kadam posicionou o Pergaminho do Tigre em cima do mapa da Índia, e prendi a respiração quando o símbolo da água se alinhou com o nome de uma cidade. Rapidamente o velho homem circulou de vermelho a localização no mapa antes de digitar apressado no computador.

− Templo Kanaka Durga, um dos templos mais antigos de devoção à deusa da água. – Ele virou o monitor para nós, e fotos de uma cidade cortada por um largo rio encheram a tela. – Vamos para a cidade de Vijayawada.

A euforia ainda dominava a casa quando eu voltei para o meu quarto, encontrando minha mochila repousando cuidadosamente em uma das poltronas e sorri, tentando me lembrar de agradecer à Nilima.

Com pulos para entrar na legging preta terminei de me vestir para treinar, com um top também preto e os cabelos em um rabo de cavalo. Eu sorri para o espelho, sabendo que nunca conseguiria vencer de Ren em uma luta, mas seria bom treinar um pouco.

Corri pelo corredor vazio, descendo as escadas que levavam até a sala de treinamento com pulinhos. Quando entrei no cômodo amplo, vi uma cena que me deixou de pernas bandas.

No centro dos acolchoados azuis estavam Ren e Kishan, os dois sem camisas e empunhando lâminas. Kadam estava afastado dos dois, mas gritava palavras de comando em híndi, as quais eram seguidas com obediências pelos dois.

Observando daquela posição, era visível a diferença entre os irmãos. Kishan era mais baixo, mas compensava os poucos centímetros com músculos, que esculpiam a pele morena no tom oliva; seus cabelos negros e curtos estavam colados na testa, seus movimentos eram fortes e calculados.

Em contra partido, Ren usava sua altura e corpo mais esguio para se movimentar com leveza e rapidez, sempre bloqueando e atacando de surpresa. Seus cabelos já na altura dos ouvidos, contrastavam com a pele branca e suada.

A luta era equilibrada, mas muito mais violenta, e por alguns segundos senti vergonha de meu corpo fraco e quis sair correndo e me esconder.

− Você está pensando em desistir, Mia? – rugiu Ren, enquanto desviava de um chute de Kishan. Vi que os dois príncipes sorriam, e me esqueci de que eles sentiam meu cheiro, portanto sabiam que eu estava observando-os.

Corei e olhei para o senhor Kadam, sem querer encarar os corpos perfeitos que lutavam em minha frente.

− Não vai ser nada fácil, irmão – comentou Kishan, tentando sair de um golpe muito bom de Ren. – Posso dizer que Mia é muito boa com as pernas.

Arregalei os olhos quando notei a malícia na voz de Kishan, e senti minhas bochechas queimando violentamente. Naquele momento, quis enfiar minha cabeça em um buraco e não sair mais dali.

− Por hoje é o suficiente, podem descansar. – Agradeci mentalmente por Kadam interromper aquele momento constrangedor, mas quando vi que Ren acenava para que eu me aproximasse, não achei tão bom assim.

Senti as mãos de Kishan envolverem minha cintura no momento em que ele ficou de frente para mim, e seus lábios deixaram um beijo bem estratégico no conto de minha boca, fazendo-me fechar os olhos.

− Destrua ele, tigresa – ele sussurrou antes de ir em direção à Kadam, para fora dos acolchoados azuis, deixando-me sozinha com Ren.

Os olhos felinos do tigre branco me estudavam, e sua postura mostrava que ele estava pronto para derrotar um exército inteiro.

Não duvidei que ele conseguiria.

− Pronta? – ele perguntou, mas eu não respondi, apenas me coloquei em posição de ataque e comecei a me movimentar.

Eu estava acostumada com a luta de Kishan, que estudava o adversário e o pressionava a atacar, mas não tinha muita paciência de esperar e atacava se fosse necessário, mas Ren era completamente o oposto.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Ficamos ali nos movimentando por minutos, e senti muitas vezes Ren estudar cada expressão corporal minha, sem nunca perder a paciência. Eu estava ponto de implorar para que ele atacasse, mas Ren apenas abriu um sorriso convencido.

Estávamos sem armas, e eu estava ficando irritada, então corri em sua direção com os punhos fechados, pronta para lhe dar um soco certeiro em seu rosto, mas fui facilmente bloqueada por seu braço, recebendo um chute na barriga que me desiquilibro para trás.

O ar de meus pulmões sumiu e minha visão se tornou borrada, portanto não percebi quando Ren me atacou mais uma vez, agarrando meus braços e os prendendo em minhas costas.

Ele não estava pegando leve comigo, mas em momento algum eu queria que fosse diferente.

Respirei fundo, sabendo que meu primeiro ataque foi impulsivo. Pensei nas diversas vezes que treinei com Kishan e me encontrei naquela situação.

Sentia a respiração quente de Ren bater em minha nuca e soube que sua cabeça estava bem próxima de mim, logo joguei meu pescoço para trás em um movimento certeiro, e senti quando minha cabeça bateu no nariz de Ren, que xingou baixinho em híndi.

Ouvi Kishan vibrar, mas minha cabeça estava a mil, e rapidamente avancei, girando o corpo e chutando a lateral do corpo de Ren, acertando-lhe as costelas.

Suas mãos foram para o local machucado, e tentei aproveitar o momento e lhe dar uma rasteira, mas Ren se mostrou muito mais atento do que eu esperava, e segurou minha perna enquanto esperava que a dor na barriga passasse.

Por longos minutos tentei acertar Ren de todas as maneiras possíveis, mas o príncipe de olhos azuis parecia muito mais atento aos meus movimentos depois do meu golpe em suas costelas. Recebia os gritos de incentivos de Kishan a todo momento, até que a voz de Kadam nos interrompendo me fez respirar aliviada.

− Você foi muito bem, senhorita Mia, conseguiu acetar Ren de forma certeira – disse Kadam, fazendo-me sorrir ao mesmo tempo em que tentava puxar o máximo de ar para meus pulmões.

Percebi Ren se aproximar de mim, rocando em meu queixo, fazendo-me olhar fundo nos seus olhos azuis cobalto.

− Você não foi nada mal, priya – ele zombou e eu ri, dando um soquinho leve em seu ombro antes de ir em direção à Kishan, que me observava como um pai orgulhoso.

− O que você achou? – perguntei, estendendo os braços antes de envolver seu troco nu em um abraço.

− Eu não sei dizer, fiquei muito ocupado olhando para seus movimentos – ele disse de forma sedutora, fazendo-me rir ao mesmo tempo em que meu corpo se arrepiava.

− Ok, galanteador – disse por fim, beijando-lhe a bochecha antes de entrelaçar nossos dedos. – Vamos para o seu quarto, pois eu preciso de um banho quente, e eu aposto que sua ducha é divina.

A mão de Kishan soltou-se da minha e ele envolveu minha cintura pela lateral, fazendo nossos corpos colarem enquanto ele levava os lábios até meu ouvido. Sua respiração quente me fez arrepiar.

− Você está se convidando para tomar banho comigo? Porque eu adoraria. – Fechei os olhos quando uma imagem começou ase formar em minha mente, e minhas bochechas esquentaram, fazendo com que eu escondesse meu rosto no peito de Kishan enquanto ele me guiava pelo corredor.

Respirei aliviada quando o familiar quarto entrou em meu campo de visão, e eu sorri, correndo até a cama e me jogando em cima dos lençóis escuros. Os olhos de Kishan me estudavam como um felino, e ele subiu na cama engatinhando, parando em cima de mim com um sorriso carinhoso no rosto.

Meus braços envolveram seu pescoço e puxei seu corpo para que caísse em cima de mim, fazendo nossos lábios se unirem em um beijo lento. Eu me sentia completa a cada toque de Kishan em mim, mesmo que fosse o mais casto.

Em um movimento rápido, o príncipe com olhos de pirata deitou no colchão, puxando meu corpo para ficar em cima de seu abdômen. Envolvi seu tronco com as pernas e endireitei-me até ficar sentada em sua barriga nua.

− O que mudou? – perguntei, jogando para o lado os cabelos que saiam em meu rosto. Para qualquer mulher aquele ato seria sensual, mas para mim foi algo desengonçado, que fez um sorriso fofo se abrir no rosto de Kishan.

− Sobre o que? – Kisha perguntou, acariciando meus braços descobertos pelo top.

− Sobre você e Ren. – Era impossível não notar o comportamento relaxado e amigável entre os dois, o qual parecia muito longe dos irmãos que viviam brigando.

− Acho que foi o quadro e todas as lembranças que ele trouxe. – Lembrei da pintura da família Rajaram na casinha da colina e sorri. – Percebi que nós sempre fomos muito unidos, e nada deveria acabar com isso.

Eu não tinha mais o que dizer, apenas sorri frente àquelas palavras tão sinceras e beijei os lábios quentes de Kishan, deitando-me sobre seu peito enquanto ele brincava com meus cabelos levemente ondulados.

Com muita dificuldade, consegui tomar um banho quente – sem Kishan – e acabei por vestir uma de suas blusas que encontrei no closet, e percebi o quão baixa eu era quando o tecido bateu em meus joelhos.

Explorei o quarto pelos minutos que seguiram o banho de Kishan, mas assim que ele saiu pela porta vestindo nada mais que uma calça de moletom com o abdômen molhado, puxei-o de volta para cama, apenas para sentir seu perfume amadeirado.

− Você me faz completo, bilauta – disse Kishan, com os lábios tão próximos dos meus que formigavam.

E quando ele estava a ponto de nos unir mais uma vez, o barulho de algo quebrando chamou nossa atenção. O corpo de Kishan ficou tenso, e eu me levantei com um pulo, apenas para ouvir outro objeto sendo quebrado, seguido por um grito de angustia.

Meu coração bateu mais forte e eu soube que era Ren.

Minhas pernas se movimentaram sozinha, e quando percebi, já havia atravessado o corredor e estava para em frente à porta de Ren, a qual Kishan abriu com um supetão.

O quarto que era arrumado e harmonioso, agora parecia o cenário de um furacão, com cadeiras reviradas e vasos estilhaçados. Os cabelos de Ren estavam rebeldes e seu rosto vermelho no momento em que ele jogava um abajur no chão.

− Ren! – gritei, levantando as mãos para frente de meu corpo.

O príncipe de olhos azuis cobalto olhou para mim, e seus olhos pareciam perdidos no tempo. Ele caiu de joelhos e tentou me tocar estendendo a mão, fazendo-me prender a respiração. Ren sorriu e abriu a boca para dizer algo, mas o nome que sussurrou estava longe de ser o meu.

− Kalika.

Continua...