Caçada

Os Irmãos


Nunca imaginei que em algum dia de minha vida acabaria assistindo uma briga entre dois tigres ferozes no meio de uma floresta Indiana, sem sair correndo e gritando por medo das garras afiadas e das presas fatais.

Entretanto, eu estava sentada em uma pedra larga, olhando um tigre branco e um tigre negro brigarem fatalmente enquanto tentava organizar meus pensamentos para conseguir que os dois irmãos parassem de lutar.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Não conseguia pensar em nenhuma ideia útil, pois não fazia sentido para mim a enorme raiva que os irmãos demonstravam um pelo outro.

Seus corpos atacavam um ao outro com certo poder, as peles de cores opostas se misturavam quando os dois pulavam a acabavam com no chão, produzindo um barulho altíssimo. As garras arranhavam qualquer coisa que encontrassem, e os rugidos faziam com que pássaros saíssem voando.

Meu corpo respondia à adrenalina da cena, e tudo parecia muito mais violento que os documentários do Animal Planet.

Um rugido alto de dor fez meu coração parar por alguns segundos, e ao olhar para onde os tigres estavam, percebi que o pelo negro de Kishan sangrava com um ferimento, mas ele atacava o irmão com os dentes, afundando-os nos pelos brancos do torso.

− Pare agora, Kishan! – gritei, levantando-me abruptamente e indo em direção aos dois tigres que gemiam de dor.

Agachei-me em frente ao tigre negro que me estudava com os olhos dourados. Passei a mão por seu corpo e o ouvir rugir baixinho de dor, o que me fez bufar e balançar a cabeça antes de voltar para o tigre branco caído na grama.

− Vocês estão agindo como duas crianças – relhei, estudando o enorme ferimento na barriga de Ren que curava com lentidão. – Ren você está fraco, como ainda consegue lutar?

Recebi olhares envergonhados dos tigres, mas por nenhum segundo amoleci, nem quando Kishan afagou minha perna com a cabeça peludo e ronronou.

− Vocês são dois adultos de trezentos anos, e além de tudo são irmãos – disse com a voz afetada, colocando as mãos na cintura quando me levantei. – Eu não vou ficar assistindo vocês dois se mataram como crianças.

Afastei-me deles mais uma vez, ignorando a vontade de voltar correndo para cuidar dos animais feridos. Peguei a mochila a qual Kadam havia deixado para nós na caminhoneta e comecei a procurar por um lugar afastado dos dois.

− Caso vocês queiram resolver seus problemas, quaisquer que sejam, conversem! – gritei, dando as costas para onde Kishan e Ren me observavam calados. – E acho melhor fazerem isso logo, pois as horas como humanos estão acabando.

Dito aquilo, adentrei mais pela floresta, afastando-me poucos metros da caminhoneta Ford, encontrando um pequeno lugar rodeado de árvores e bem iluminado pela Lua. Suspirei de forma cansada, jogando a mochila no chão e me sentando com as costas contra um tronco grosso.

Meu corpo gritava por algumas horas de descanso, mas minha mente ainda trabalhava com uma enorme velocidade devido a nossa luta para resgatar Ren. A imagem de Lokesh ainda me amedrontava e sua voz fez me corpo se arrepiar de medo.

Barulhos vieram da floresta, e eu soltei um suspiro de medo, olhando para todos os lados apenas para confirmar que Lokesh não sairia de trás dos arbustos.

Abri a mochila e peguei o primeiro sanduíche que apareceu em meu campo de visão, além de uma garrafinha de água. Minhas roupas estavam sujas, e as botas já não estavam mais confortáveis, além de poder sentir as adagas contra minhas pernas, causando uma sensação de perigo.

Abri o longo zíper das botas, tirando-as e colocando as lâminas negras em um pequeno bolso da mochila. Olhei para minhas meias pretas e suspirei com alivio, aconchegando-me melhor contra a árvore antes de abrir o pacote que envolvia o sanduíche.

− Oh! – Soltei um gemido de prazer. – Parece que não como há dias.

Percebi que minha garganta estava seca quando bebi um gole de água para ajudar o sanduíche a descer, e comecei a pensar em quantas horas havíamos estado naquele prédio para eu me sentir tão mal.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

A floresta estava novamente silenciosa, e eu brincava com as folhas que formavam um tapete em baixo de meu corpo, até o momento em que meus olhos capturaram o pingente de tigre em meu pulso e um suspiro saiu de meus lábios.

Pensei nos machucados que Kishan tinha e o sangue que escorria em sua pele negra, e me arrependi de tê-los deixado para trás.

− Eles devem ter se matado – resmunguei, apoiando meus braços no chão para levantar, mas naquele momento um arbusto perto de mim mexeu-se, e dois tigres saíram da escuridão da floresta.

Kishan me encarava profundamente com seus olhos dourados, e um arrepio correu por meu corpo, mas logo aquela sensação foi substituída por espanto quando olhei para o tigre branco que mancava, sangrando em uma das patas.

− Eu estava ficando preocupada com vocês dois – disse, abraçando o pescoço do tigre negro e senti-o lamber meu ombro carinhosamente.

Ren desabou ao meu lado e resmungou de dor enquanto balançava a cauda branca. Os machucados pareciam muito ruins, e arregalei meus olhos ao perceber que eles não haviam se curado ainda.

Passei as mãos pelo torso de Kishan e senti sua pele sangrando, mesmo que a mordida já estivesse bem menor.

− Olhe só o que vocês fizeram. – Balancei a cabeça, abrindo a mochila e tirando alguns sanduíches, barrinhas de cereal e água. – Precisam comer agora.

Levei um pequeno susto quando os dois tigres voltaram para a forma humana simultaneamente, e agora olhos dourados e azuis me encaravam de forma intensa. Olhei para o chão enquanto lhes entregava a comida, e pude sentir meu rosto corando violentamente.

− Fiquei preocupado, bilauta – disse Kishan com uma voz engraçada, pois agora ele devorava o sanduíche de atum de Nilima, fazendo-me rir e balançar a cabeça, enquanto tirava algumas ataduras da mochila.

− Você podia sentir meu cheiro de onde estava, não pense que isso vá fazer eu ficar menos brava com vocês – disse, indo até onde Ren estava sentado, encostado em uma árvore enquanto bebia a garrafinha de água.

Olhei para a perna direita com um enorme machucado na coxa, o qual estava exposto pelo rasgo na calça de algodão. Abria minha própria garrafa de água para limpar o sangue de sua pele, quando ele me afastou com o braço.

− Não se preocupe comigo, Mia – ele disse, abrindo um pequeno sorriso misturado com sua dor, fazendo com que eu olhasse incrédula para ele.

− Você é sempre teimoso assim? – perguntei, dando um tapa de leve em sua mão, para que ele a afastasse e deixasse eu me aproximar. – E coma alguma coisa, você está muito fraco.

Ouvi uma pequena risada nasal vinda de Kishan, mas Ren apenas bufou, rasgando o pacote do sanduíche e dando uma grande mordida antes de sorrir para mim.

− Você costuma ser tão mandona assim? – provocou Ren, enquanto me observava limpar seu ferimento.

− Apenas com tigres brancos – rebati, buscando um tubo de pomada dentro da mochila, entretanto as recomendações estavam em híndi, e rapidamente joguei-o para Kishan, que estudou o remédio antes de balançar a cabeça e devolve-lo para mim.

− Espalhe bem e não deixe que acumule – aconselhou Kishan, abrindo sua terceira barrinha de cereal enquanto me observava passar os dedos pelo ferimento de Ren.

− Imagino que vocês estejam prontos para explicar-me o motivo daquela briga – murmurei baixinho, dando tapinhas no joelho de Ren para que ele levantasse a perna, e rapidamente passei a faixa de pano por sua coxa, apertando-a com força.

− Você não precisa se preocupar com aquilo, Mia – disse Kishan, e rapidamente lancei um olhar mortal para o homem de olhos dourados, enquanto olhava mais uma vez para os suprimentos deixados por Kadam.

− Não ouse dizer isso para mim, Kishan – ralhei, enquanto lia o rótulo em inglês anunciava suplementos de vitaminas, com o desenho dos personagens de Vila Sésamo estampados no rótulo. – Eu fui queimada por uma deusa e acabei de ter uma conversa animadora com Lokesh.

Entreguei o potinho de vitaminas para Ren, vendo-o enquanto o homem de olhos cobalto estudava os suplementos de forma séria, até que balançou a cabeça e riu.

− Não vou tomar vitaminas para criança – ironizou Ren, fazendo com que eu revirasse os olhos, com vontade de enfiar aquele potinho em sua garganta.

− Pense que as vitaminas de crianças farão você não precisar de Kishan para andar – disse, abrindo um sorriso convencido ao perceber que havia ganho, e agora Ren jogava algumas pílulas coloridas na boca.

Engatinhei até Kishan que estava com a cabeça contra o tronco de uma árvore e os olhos fechados, e por alguns segundos observei seu rosto sereno iluminada pela Lua, e meu coração bateu mais forte, além da enorme vontade de beijar seus lábios carnudos que estavam entreabertos.

− Como estão as coisas, tigre? – perguntei baixinho, vendo-o abri um sorriso para mim ainda de olhos fechados, levantando o braço que escondia o enorme rasgo na camisa preta, mas sua pele já estava curada e lisa. – Você não devia ter feito aquilo.

Sentei-me mais uma vez entre os irmãos, olhando para a barraca desmontada dentro da mochila com desânimo, então simplesmente peguei uma pequena coberta bem dobrada ali dentro, estendendo-a no chão antes de deitar-me e soltar um suspiro pesado.

− Ren veio para cima de mim – disse Kishan, e eu revirei os olhos ao perceber que estávamos de volta para a briga infantil dos dois príncipes.

O homem de olhos azuis soltou um grunhido ao meu lado, e rapidamente me levantei, jogando o braço contra o peito dos dois príncipes enfezados.

− Eu estou muito cansada, e a última coisa que quero é outra briga entre vocês dois – murmurei, vendo-os relaxarem ao meu toque, voltando a se sentarem um de cada lado. – O som da voz de vocês se explicando é tudo o que eu peço.

Por longos minutos, todo o barulho que conseguiu ouvir era o que vinha da floresta, e quando virei minha cabeça para Kishan, vi que ele brincava com o pingente do colar de couro que eu havia lhe dado.

Abri um pequeno sorriso e levei minha mão até a sua, que descansava no colo, e o vi olhar para mim de forma carinhosa quando nossos dedos foram entrelaçados.

− Nunca perdoei Kishan por ter fugido quando nossa mãe morreu – Ren disse, com a voz muito baixa, fazendo com que eu olhasse para ele surpresa. – Nosso pai estava mal, e quando ele morreu, tive que vê-lo chamar por meu irmão inúmeras vezes.

Meu coração apertou e meus olhos se arregalaram frente à confissão do príncipe de olhos azuis; seu peito subia e descia lentamente com o ritmo de sua respiração, e quando ele voltou-se para mim, pude sentir toda a tristeza pela qual Ren passara refletida em seu olhar.

− A morte de mamãe me abalou – respondeu Kishan, apertando minha mão com força, e eu rapidamente acariciei sua pele com um dos dedos. – Não conseguiria ver papai ir embora.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

− Eles eram nossa família! – explodiu Ren, fazendo com que eu prendesse a respiração por alguns instantes esperando o recomeço de uma briga, mas os dois apenas suspiraram pesadamente. – Eles eram os únicos que ainda tinham esperanças.

Por um momento, a imagem de dois irmãos perdendo os pais pareceu muito familiar para mim, e naquele momento quis puxa-los para um abraço e despencar-me em lágrimas.

− Eles eram os únicos que tinha esperanças, e quando se foram, a esperança acabou, Ren – sussurrou Kishan, que estava novamente com os olhos fechados, mordendo o lábio inferior. – Eu não achei mais razão para continuar, e fugi. Nossas brigas constantes apenas entristeciam mamãe, e no momento pareceu uma boa ideia, mas fui capturado pelo circo.

Eu queria achar uma forma de confortá-los, tanto Kishan que havia se tornado parte de mim, como Ren, o qual havia conhecido em tão poucas horas. Puxei nossas mãos entrelaçadas e beijei os nós dos dedos de Kishan, antes de colocar a outra sobre o ombro de Ren, recebendo um sorriso agradecido.

− Você não entende o que passei quando fui capturado por Lokesh, tudo porque você simplesmente quis pensar nos próprios sentimentos, mais uma vez. – A voz melodiosa de Ren era cheia de rancor e o vi travar o maxilar, fazendo seu rosto marcado ficar ainda mais bonito.

− Acha que você ser pego por Lokesh é minha culpa? – Kishan riu sarcasticamente, passando a mão livre pelo rosto e pelos cabelos negros, bagunçando-os.

− Caso você estivesse comigo, nós teríamos uma chance de vencer os homens de Lokesh. – Soube no momento em que Ren respirou profundamente, que as palavras seguintes não seriam nada boas. – Se você não tivesse se apaixonado por minha noiva, talvez isso nunca estaria acontecendo.

A menção de Yesubai no conflito fez com que meus músculos se retesassem, e eu olhei para o horizonte, tensa enquanto esperava pela resposta de Kishan, que não tardou nem mais segundo para invadir meus ouvidos.

− Eu nunca estive apaixonado por Yesubai, Ren – disse Kishan, de forma séria e convicta, mesmo que sua voz estivesse muito baixa.

− Muito peculiar você falar isso agora, Kishan. – Ren voltou-se com um olhar furioso para o irmão, e caso a conversa não fosse tão séria, eu teria zombado do tigre branco por falar como um pequeno dicionário. – Pois quando veio implorar para eu cancelar o casamento, você alegou que eu nunca conseguiria ama-la da forma como você amava.

Aquelas palavras foram como um soco em meu estômago, e por alguns momentos eu me senti enjoada, segurando as lágrimas que insistiam em se acumular em meus olhos. Xinguei-me internamente por ter insistido em começar com aquela conversa entre os irmãos.

− Eu não sabia o que era amor de verdade – disse Kishan em um sussurro, mais como se quisesse que apenas eu ouvisse, pois ele apertou nossas mãos, e quando olhei para seus olhos de pirata, eles brilhavam da forma familiar, fazendo com que meu corpo derretesse. – Aliás, você sabe que ambos fomos enganados por ela.

Ren começou a rebater a ideia do irmão, quando eu os calei, colocando para fora tudo o que estava em minha mente desde o começo da discussão, vendo que os irmãos me olhavam espantados.

− Talvez vocês devessem parar de se culparem por algo que nunca fizeram – murmurei, ainda tocando nos dois como uma forma de conforto, mas meus olhos encravam a meia que cobria meus pés. – Vocês eram tão jovens quando tudo isso aconteceu, não poderiam prever que um simples casamento acabaria em uma maldição.

Olhei para Ren e apertei seu ombro com carinho, vendo-o sorrir para mim enquanto eu organizava meus pensamentos.

− Você sempre fora treinado para governar um reino, Ren, mas nunca lhe ensinaram a lidar com uma maldição – disse, vendo os olhos azuis do príncipe se arregalarem com minhas palavras, e com um sorriso, voltei-me para Kishan que me estudava de forma séria. – Kishan, você sempre seguiu seu coração, mas precisa acreditar que aqueles que amam você, ainda vivem ai dentro, e a esperança nunca vai acabar se você perceber isso. Nunca mais vai precisar fugir.

Tudo ficou silencioso novamente, e eu pude ver os rostos pensativos dos dois irmãos, que pareciam tão parecidos um com o outro, compartilhando as mesmas dores vividas em trezentos anos, as quais os fizeram se separarem.

− Vocês são irmãos, deveriam compartilhar o amor um do outro, não o ódio. – Continuei a falar, perceber que minhas palavras afetavam os dois lindos homens ao meu lado. – Por que a culpa de tudo isso é de Lokesh, e ele vem jogando vocês um contra o outro desde sempre, tornando-os fracos.

− Mia... – Kishan murmurou, acariciando meus dedos, mas simplesmente balancei a cabeça, sentindo lágrimas gordas descendo por meu rosto.

− Por muitos anos eu me culpei pela morte de meus pais, e isso me fez uma pessoa triste e fraca, uma pessoa que não vivia mais. – As lembranças das imagens vistas no desafio de Durga voltaram em minha mente, e um sorriso tímido surgiu em meus lábios. – Quando conheci Kishan e descobri a maldição, eu simplesmente quis sair correndo e me esconder em baixo das cobertas, pois aquilo parecia muita loucura para uma pessoa como eu, mas sem tudo isso, nunca teria aceitado que a morte de meus pais era um acidente, e que nada era culpa minha.

− Mia... – Aquela foi a vez de Ren chamar minha atenção, e senti que agora ele também segurava minha mão, acariciando a palma de forma confortante.

− Eu nunca teria aprendido a viver – murmurei as últimas palavras, sentindo os lábios de Kishan em minha bochecha, secando todas as lágrimas com seus beijos quentes

Os lábios de Kishan esbararam em meu roto até a chegar em meu ouvido, e ele deixou um beijo ali, fazendo meu corpo arrepiar com sua respiração quente em minha pele.

− Eu amo você, bilauta – ele murmurou, fazendo-me fechar os olhos apenas para apreciar a sensação prazerosa que aquelas palavras causaram em meu corpo.

− Você é especial, priya – Ren disse, fazendo com que eu abrisse um sorriso para suas palavras doces, limpando o resto das lágrimas que molhavam minhas bochechas.

Rapidamente, os dois irmãos trocaram olhares, e por alguns segundos suas expressões eram sérias, e Kishan até mesmo fazia uma careta, mas em um ato que me deixou surpresa, os príncipes abriram um pequeno sorriso e seus olhos brilharam quando tocaram o braço um do outro em um cumprimento íntimo, fazendo com que meu coração aliviasse.

Entretanto, um ofego saiu dos lábios de Kishan e Ren fez uma careta de dor, e eu soube que o tempo dos dois como humanos havia acabado. Olhei para eles com certo desespero, mas Dhiren apenas sorriu, inclinando-se sobre mim para deixar um beijo rápido em minha bochecha.

− Obrigada por ser tão mandona – ele disse, abrindo um sorriso e apontando para a perna enfaixada, antes de transforma-se no enorme tigre branco de olhos cobaltos que brilhavam com animação.

Instantaneamente, senti braços envolvendo minha cintura, e quando virei meu rosto os lábios de Kishan colaram nos meus em um beijo intenso, fazendo com que eu fechasse os olhos e acariciasse sua nuca pelos segundos aquele momento durou, antes de Kishan transforma-se no tigre negro que eu estava tão acostumada.

− Aconteceram tantas coisas em um único dia – resmunguei, deitando-me na colcha e tentando encontrar uma posição confortável para minha cabeça. – Eu quero dormir por uma semana inteira.

Um bocejo alto escapou de meus lábios, e levantei meu corpo apenas para amarrar meus cabelos bagunçados e sujos em um coque frouxo. Assim que voltei a me deitar, fui surpreendida com o enorme corpo de Kishan servindo-me de travesseiro, enquanto o tigre ronronava para mim, aconchegando-me em seus pelos quentinhos.

− Esse com certeza é o melhor travesseiro de todos – disse, soltando um suspiro de prazer enquanto acariciava as orelhas felpudas de Kishan, ao mesmo tempo em que Ren aproximava-se de mim, deitando-se ao meu lado na colcha, olhando-me com os olhos cobalto como um pedido para que lhe acariciasse o pelo branco.

E entre aquela aconchegante cama improvisada de tigres, senti meu corpo ficar pesado e meus olhos piscarem cada vez mais lentamente, até que com uma última observado para o céu estralado e emoldura pelas copas das arvores, peguei no sono.

Continua...