Caçada

Novo Lar


Abri os olhos assustada e tentei me levantar para olhar pela janela, mas acabei dando de encontro com a cabeça de Kishan que se encontrava perto da minha. Uma dor tomou conta da minha testa e eu tinha certeza que aquilo iria criar um galo horroroso.

– Ai! Kishan! – Reclamei alto, esfregando o local dolorido.

– Desculpe, Mia. – Abri os olhos e vi que ele me encarava. – Deixe eu ver como está.

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Mesmo assustada com a proximidade dos nossos rostos, tirei a mão de cima da testa e fiquei observando Kishan fazer careta. Meu coração disparou no peito, quando o perfume forte dele me invadiu.

– E-e ai, está muito ruim? - Sussurrei, vendo Kishan sorrir.

– Não está tão mal assim, bilauta.

E quando eu vi, Kishan já tinha se aproximado mais de mim, depositando em leve beijo em minha testa, fazendo o local dolorido latejar, mas nada se comparava com a sensação de ter milhões de elefantes pisoteando meu estômago.

– Vejo que a senhorita já acordou. – A voz de Kadam fez Kishan se afastar abruptamente, se jogando na poltrona ao meu lado.

– Sim... Nós já chegamos? - Perguntei, tentando controlar a ardência em meu rosto.

– Ah, sim! Estamos nos preparando para pousar no pequeno aeroporto de Mumbai, olhe pela janela, Mia.

Joguei o cobertor que me cobria em cima de Kishan, que resmungou baixinho enquanto dobrava o mesmo. Levantei a pequena cortininha e dei de cara com uma bela vista.

Lá em baixo, um belo oceano brilhava devido ao forte sol e, mais a frente, eu podia ver pequenos prédios e casas, rodeados de partes verdes. Quando o jatinho fez uma pequena curva, pude ver uma enorme ponte atravessando as duas partes da cidade.

Um pequeno sorriso se abriu em meu rosto assim que percebi que eu realmente estava na Índia.

– É fantástico. –Murmurei.

– É com certeza uma bela cidade. – Disse Kadam, rindo. – Mas agora acho melhor a senhorita trocar de roupa, pois está fazendo muito calor lá em baixo.

Olhei para as roupas que eu vestia e percebi que debaixo da calça jeans e do suéter eu já começava a suar. Fiz uma pequena careta, pensando que nada dentro da minha mochila serviria para um clima quente.

– Eu só tenho roupas quentes na minha mochila.

– Não tem problema, Mia. – Nesse momento, Nilima entra na cabine. – Nilima te levará até o banheiro e lá a senhorita encontrará roupas apropriadas.

Me levantei e passei por Kishan sem olhar para seus olhos, ainda envergonhada com o que tinha acontecido. Nilima sorriu para mim e me puxou pelo braço, me levando para fora daquela cabine.

– E quanto a você, Kishan, é melhor voltar para a forma de tigre, pois ainda precisamos passar pelo aeroporto e pelas minhas contas não te sobra muito tempo na forma humana.

Foi a última coisa que ouvi, antes de ser arrastada até um corredor apertado, que levava até uma pequena portinha.

– Espero que as roupas sirvam, Mia. – Nilima disse, me empurrando para dentro do banheiro.

Fechando a porta, olhei em volta e encontrei uma muda de roupas dobrados em cima da tampa do vaso. Me assustei quando olhei meu reflexo no pequeno espelho da pia. Meu cabelo estava armado e embaraçado, meu rosto estava amaçado e enormes bolsões roxos dominavam meus olhos.

– Estamos precisando de uma belo banho e doze horas inteiras de sono. – Suspirei, começando a tirar minhas velhas roupas.

Depois de vestir os shorts marrom e a regata preta, penteei o cabelo com o pente que achei e escovei os dentes com a escova descartável que Nilima trouxe para mim. Arrumei meus cabelos em um rabo de cavalo e finalmente voltei para onde o senhor Kadam e Kishan, de volta a sua forma de tigre, estavam.

– Sente-se, Mia, estamos pousando. – Kadam disse, apontando a minha poltrona.

Senti o olhar de Kishan me estudar enquanto eu passava por ele, que estava jogado no chão. Depois de me sentar, apertei o sinto de segurança e senti o jatinho descer cada vez mais rápido, o que me fez segurar no banco com força.

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Senti uma coisa gelada na minha perna e vi que o meu tigre tinha se aninhado nos meus pés e agora lambia minha perna.

– Não faça isso, Kishan, eu já estou pouco nervosa! – Reclamei, ouvindo o tigre bufar e o senhor Kadam rir.

– Relaxe, senhorita Campbell.

Fechei meus olhos e tentei não pensar que estávamos sendo jogados em direção ao chão e que poderíamos bater a qualquer momento. E quando abri os olhos, já tínhamos parado e o senhor Kadam já me chamava para sair.

Respirei fundo e me levantei, me esticando para pegar minha mochila que se encontrava no pequeno porta malas em cima da minha poltrona. Infelizmente minha falta de estatura não ajudou muito e nem ficando na ponta do pé eu consegui alcança-la.

– Precisa de ajuda, bilauta? - A respiração quente de Kishan bateu em meu pescoço, me fazendo arrepiar.

Senti que ele estava atrás de mim, com uma de suas mãos na minha cintura, enquanto a outra ia de encontro a alça da mochila, a puxando para baixo e me entregando.

– Ah... Obrigada, Kishan. – Tentei sorrir, enquanto me afastava um pouco de seu corpo.

– Sem problemas. – Ele abriu um enorme sorriso, segurando minha mão e me puxando para fora do avião. – Temos que sair logo daqui, não tenho muito tempo como humano.

– Afinal, para onde exatamente estamos indo? - Perguntei, confusa.

– Para casa.

E enquanto eu via Nilima e Kadam conversando com alguns homens em híndi, fiquei imaginando como seria a casa de Kishan. Será que o palácio do reino Mujulaain ainda existia? Pouco provável.

Quando vi, Kishan já tinha me puxado até um pequeno Jeep de trilha. Ele abriu a porta para mim e eu pulei para banco traseiro, jogando minha mochila no chão e vendo ele se sentar ao meu lado logo em seguida. Olhei para a janela, desconfortável com a proximidade dos nossos corpos.

– O que foi, Mia? - Kishan perguntou.

– Nada. Só estou um pouco cansada. – Abri um sorriso.

As duas horas seguintes dentro do Jeep foram as mais traumatizantes da minha vida, pois tivemos que enfrentar o transito maluco da Índia. Algumas vezes eu me agarrei tão forte no pelo de Kishan, que ele rugia alto em protesto.

– Falta muito para chegarmos? - Perguntei, finalmente respirando quando conseguimos chegar na auto estrada.

– Mais umas três horas, senhorita Mia. – Kadam respondeu com um sorriso.

Tirei alguns cochilos, deitada com a cabeça em cima de Kishan e quando fizemos uma parada para abastecer, fui até a loja de conveniência e fiquei observando as comidas exóticas que tinham ali para vender. Acabei ficando com uma barrinha de chocolate.

Voltei para o Jeep, tentando abrir o mínimo possível da porta, para que ninguém visse o enorme tigre negro que estava esparramado no banco. Kishan levantou a cabeça quando eu comecei a abrir o pacote do chocolate, ele pulou em cima de mim e começou a lamber meu braço, me fazendo rir.

– Tudo bem, eu te dou um pedaço. – Balancei a cabeça enquanto quebrava um pedaço da barra e entregava para Kishan, que abocanhou tudo de uma vez só.

– Estamos quase chegando! – Senhor Kadam entrou no carro animado, dando a partida assim que Nilima fechou sua porta.

Andamos mais alguns minutos pela estrada, até chegar no começo de uma floresta enorme. Estava observando as árvores pelo vidro da janela, quando percebi que o senhor Kadam tinha virado o carro, e agora nós estrávamos na floresta.

– Pera ai! – Gritei, assustada. – Para onde estamos indo?

– Bem, nossa casa não fica em um lugar normal, Mia. – Kadam começou a explicar. - Não podemos morar em uma cidade com Kishan na sua forma de tigre, então...

Olhei mais uma vez para a paisagem tropical que nos rodeava e abri a boca, ainda perplexa.

– Vocês moram no meio da floresta?

– Você vai adorar a casa, Mia. – Nilima disse, sorrindo para mim.

E ela não estava brincando quando disse que eu iria adorar a casa. Assim que o Jeep adentrou em uma enorme clareira, eu arregalei os olhos com a construção ao meu redor.

Um lindo jardim, com chafarizes e bem iluminado formava um caminho até a enorme casa. Ao nos aproximarmos da garagem, que poderia caber até um iate dentro, consegui ver uma piscina gigante com ofurô na lateral da casa.

Quando o Jeep finalmente parou, demorei alguns segundos para finalmente pegar minha mochila e sair do carro, sendo seguida por Kishan, que saltitava alegremente.

A casa de três andares era pintada de branco e creme. Todos os andares continham enormes sacadas e a maioria dos cômodos tinham paredes de vidros. Quando chegamos na entrada de mármore, fiquei estática por mais alguns segundos, até ser empurrada pela cabeça de Kishan para dentro.

– Sinta-se à vontade, Mia, essa casa agora é sua também. – Kadam disse, dando tapinhas em meu ombro.

– Isso aqui é fabuloso. – Sussurrei enquanto observava a sala que nos rodeava. Enormes divãs e estantes estavam distribuídos por um belo tapete.

– Gostaria muito de mostrar toda a casa para a senhorita, mas a viagem foi longa e você deve estar cansada, então irei leva-la até o quarto.

– Tudo bem.

Senhor Kadam me guiou até o segundo andar, abrindo uma porta grande de mogno. O cômodo era amplo, com paredes nas cores brancas e cinzas. Uma cama com dossel se encontrava no meio do quarto, perto da porta de vidro que levava até a sacada.

– É lindo! Muito obrigada, senhor Kadam. – Sorri, ainda olhando os outros móveis e os vasos com rosas brancas.

– Fico feliz que tenha gostado, agora deixarei a senhorita sozinha.

Quando ele fechou a porta, eu tirei meus velhos tênis e afundei meus pés no delicioso tapete dourado que cobria quase todo o piso. Uma porta alta levava até o banheiro, onde a banheira de mármore chamou minha atenção.

Peguei uma das toalhas pretas fofinhas e andei até a ducha, ao lado da banheira. Tirei toda aquela roupa e senti meus músculos relaxarem quando a água quente bateu em meu corpo. Fiquei ali por longos minutos até finalmente desligar o registrou e me enrolar na tolha, indo até o closet cheio de prateleiras e gavetas, com sofazinhos no meio.

Percebi que tudo estava cheio de roupas, sapatos e acessórios e eu até começaria a mexer em tudo se eu não tivesse com tanto sono. Procurei nas gavetas até achar uma camisola de seda prata, que vesti, voltando para o quarto logo em seguida.

Em cima da cama estava uma bandeja com sanduiches e sucos, que eu acabei comendo incrivelmente rápido.

Deitada na cama e coberta pelo enorme edredom, também na cor negra, fiquei observando meu quarto até que ouvi um barulho. A porta da sacada foi aberta e lá de fora, meu tigre negro apareceu, me observando com seu olhar brincalhão.

– Ah, olá Kishan! – Sorri. – Aposto que você ajudou a decorar esse quarto, certo? - Apontei para todas as coisas na cor preta que me rodeavam.

Kishan rugiu baixinho e caminhou até minha cama, mas não subiu, apenas deitou no tapete. Rolei no colchão até parar na beiradinha, onde estiquei minha mão e acariciei seu pelo.

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– Obrigada, por tudo. – Sussurrei.

Depois de algum tempo acariciando o tigre, eu finalmente me aconcheguei na cama, deitando entre os travesseiros. Fechei os olhos e tentei dormir, mas tudo o que conseguir foi rolar na enorme cama.

Ouvi um rugido baixinho e senti alguma coisa pesada afundar o colchão. Quando percebi, Kishan já estava ao meu lado, me encarando. Sorri e passei a mão pela sua orelha, me virando em seguida e deixando minhas costas tocaram as do tigre.

– Boa Noite, Kishan. – E só então eu consegui pegar no sono.

Continua...