ADENDO

O fogo.

Havia fogo e uma fumaça densa, roxa e assustadora pra onde quer que eu olhasse. É a primeira coisa de que eu me lembro. Estava claro e queimava minha pele, então ele se foi.

Mas aí veio a escuridão, e eu me senti perdida, como se uma lembrança sombria pudesse voltar a qualquer momento. Era de um negro profundo, e a dor da perda era maior ainda.

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Quem eu havia perdido? Eu não lembrava, e isso tornava tudo pior.

Foi nesse momento que o fogo voltou. Ele parecia espantar a dor da perda e a escuridão, e eu me senti feliz e plena com isso. Ele não machucava mais, ele fazia parte de mim, e eu fazia parte dele.

Agarrei-me àquela sensação e a aproveitei, embora lá no fundo, eu soubesse que aquela estranha euforia era completamente nova, mas era algo com que eu me sentia confortável. Porque de alguma forma eu entendia.

Um rosto veio a minha mente, e eu me foquei nele. O rosto era masculino, pálido, emuito bonito. Com cabelos escuros e encaracolados, olhos grandes –– que eram de um vermelho escuro bonito, como um tom de vinho, deixando-me hipnotizada –– e lábios carnudos…

Ao ver aquele garoto que era extremamente familiar e desconhecido ao mesmo tempo, meu coração disparou, e eu soube que era dele que eu sentia falta. Ele havia morrido? Eu havia morrido? Coloquei a mão no peito, surpresa; era como se eu não esperasse meu coração batendo. Mas, é o que os corações fazem, não? Eles batem e bombeiam sangue e oxigênio para todo nosso corpo. Porém um coração batendo esangue soava estranho –– e por um segundo até mesmo atrativo, o que tornava tudo ainda mais confuso –– para mim.

Tentei forçar a minha mente a lembrar dele, eu precisava de mais dele. Minha cabeça latejou com o esforço, e fui obrigada a parar.

De repente, toda aquela estranha luz que vinha com o fogo aumentou, e ficou quase que impossível enxergar alguma coisa.

Não olhe –– sussurrou uma voz doce que alguma parte do meu cérebro embaralhado decifrou como masculina.

Eu fechei os olhos.