Meu nome é Aaron

E tudo desanda


Acordei com o sol no meu rosto às 7h da manhã. Era uma segunda feira bonita, que valia a pena sair da cama. Fui direto para a cozinha tomar café com Samuel e Naomi.

– Dormiu bem no seu novo quarto querido? – Naomi me perguntou, e parecia ainda mais contente do que o normal, se é que isso era possível.

– Parece estranho até eu me acostumar, mas dormi bem sim.

– Ótimo, estávamos realmente muito cansados da viajem não é?

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– Sim, sim... – interviu Samuel – Garoto, precisamos conversar.

Estava apostando que iria vir mais uma noticia ruim.

– Você tem que ir pra escola. – continuou Samuel – Esta é nossa nova cidade agora, não falamos disso antes por que iriamos nos mudar logo, mas agora chegou a hora.

Eu nunca havia ido para a escola antes. Nesses treze anos na Terra, tive aulas com feiras nos reformatórios, junto com outros meninos órfãos. Mas é claro que não era a mesma coisa. Por outro lado, era uma experiência valida. Se eu fosse ficar nessa cidade por algum tempo, teria que me adaptar as atividades “humanas” de ser.

– Concordo Samuel – enfim, falei – A mulher da imobiliária falou que as aulas no colégio local começam hoje mesmo. Tem inicio às 9h30min e o término é 15h30min da tarde.

– Então está decidido – Samuel falou com convicção – A tempo de sobra para resolver tudo e ainda chegar mais cedo para fazer a sua matricula.

– Querido, não é melhor esperar mais um tempo? – Naomi parecia preocupada – Ele chegou à cidade hoje mesmo, precisa se adaptar antes.

Eu precisava mesmo era-me ver livre desse cotidiano infeliz.

– Não Naomi, – falei – vai ser bom, posso conhecer a cidade e fazer amigos.

–Ok, se para vocês está bom para mim também está então. – Concluiu Naomi com um sorriso no canto da boca.

Eu tinha um acumulo grande de materiais escolares dos reformatórios que eu deixava com o passar dos anos, isso não era um problema. Meu único medo era de acontecer alguma coisa que fosse mexer com meu emocional e eu acabasse fazendo algo sem minha vontade própria, afinal, ainda precisava de um ancião para me ensinar a controlar meus poderes, por que usa-los eu sabia. Ah, e eu não precisaria mais almoçar com Samuel e Naomi também, decididamente era uma coisa boa.

Por mais incrível que pareça eu estava animado para ir à escola. Estou indo para o primeiro ano do ensino médio. Seria uma experiência e tanto.

Em pouco tempo arrumei tudo, um ou dois cadernos, caneta lápis e o resto do que precisava. Não era necessário ir com meus responsáveis para fazer a matricula, só precisava apresentar os documentos e pronto.

Era 9h da manhã e Samuel estava pronto para me levar para a escola de carro.

– Boa sorte querido. – desejou Naomi – Qual quer coisa me liga.

– Obrigado, não precisa se preocupar.

Estava vestindo calça jeans, tênis, e uma camisa manga curta branca. Havia ajeitado meu cabelo, e eu sabia que a cor ruiva se destacava de longe. Então entrei no Ford 2006 de Samuel e fomos para a escola.

Quando estávamos a duas quadras da escola Samuel parou o carro.

– Vou te deixar aqui garoto, o meu trabalho é para lá. – e apontou em direção à rua que ia contra a da escola. – Terei que voltar se te levar até a porta da escola, e você já está grandinho não é?

Confirmei com a cabeça, me despedi dele e sai do carro. Fiquei ali parado por um tempo apenas olhando o movimento que se formava a meu redor. Ônibus escolares indo e vindo, vários adolescentes com mochilas em suas costas e muito entusiasmados para a volta as aulas. Estava me sentindo normal, e isso era muito estranho. Foi quando, nesse movimento todo, eu reparei na coisa mais estranha do local, lá estava ele: O mendigo de NY, da Central Park e da East Village, que parecia estar me perseguindo. Segurava a mesma placa de sempre: “Sempre há esperança”.

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Eu estava pronto para ir falar com esse homem. Queria saber quem ele era ou se estava realmente me perseguindo, e então vi mais uma coisa fora do normal: D. Milles. Sim, a melhor cozinheira que já tive do reformatório Duddle. Ela estava conversando com o mendigo, e lhe depositou uma moeda em um chapéu que estava aos pés dele. Parti em disparada na direção deles e quando fui atravessar a rua um ônibus passou na minha frente e como num piscar de olhos, os dois sumiram.

Isso parece maluquice. Aquela mulher, D. Milles, sempre me tratara tão bem e demonstrara preocupação em tudo que tivesse relação a mim, o que estaria fazendo ali? Não conseguia compreender. Minha vida parecia estar sendo um quebra-cabeça complicado com mais de cem peças para ser montado.

Estava enlouquecendo. Deveria ser essa a resposta. Via miragens e outras coisas que na verdade não existiam. Era essa a explicação. Sem olhar mais para direção alguma fui para a escola.

Era exatamente como eu pensei que fosse: Enorme! Levando em consideração o numero de habitantes da cidade, é claro. Era como aquelas escolas que aparecem em filmes universitários que te fazem querer estar lá. Havia um enorme gramado que rodeava toda a escola, com morros e lugares onde o os alunos poderiam descansar durante o almoço e intervalos. Era excepcionalmente fascinante estar ali. Eu estava feliz.

Tomei coragem e fui. Havia uma escada que levava da calçada de pedestres até a entrada da escola. Estava andando no meio do caminho quando olhei para o lado, em direção ao gramado. Havia uma menina abanando em minha direção. Eu queria que você entendesse como ela é linda. Tinha 1,70m mais ou menos, seus cabelos eram loiros e seus olhos azuis. Seu corpo parecia ser milimétricamente desenhado por anjos. Era a menina mais linda que eu já vira. Olhei para trás para ver se havia alguém, mas não havia ninguém. Quando virei o rosto para frente ela estava na minha frente.

– Olá, eu estava abanando pra você mesmo. Prazer eu sou Emma Grace. Minha mãe esteve na sua casa ontem e disse que você poderia começar a escola hoje e pediu que eu falasse com você. – era difícil prestar atenção no que ela falava, mas era preciso.

– Ah, claro. Ela me falou de você. Prazer sou Aaron. – fiquei com medo de gaguejar, mas felizmente não aconteceu.

– Você é novo por aqui né? Posso te mostrar tudo o que precisar. – sorriu quando acabou de falar.

– Muito obrigado. Acho que o que eu preciso agora é chegar à sala da direção, preciso fazer minha matricula.

– Vamos. – disse – eu te mostro. – e eu a segui.

Emma ficou ali o tempo todo esperando enquanto eu fazia a matricula. Foi rápido e quando ia saindo a mulher me entregou o horário de aulas.

– Posso ver? – pediu Emma

Eu a entreguei sem falar nada.

– Temos o primeiro, o quinto e o sexto períodos juntos. Posso te mostrar a sala se quiser. – falou ela.

– Eu adoraria.

O percurso que caminhamos até chegar à sala foi àquela velha rotina de quem acaba de se conhecer. Pediu de onde eu vinha, do que gostava de fazer e se eu tinha “deixado algo para trás”. Entenda como quiser essa ultima pergunta que me foi feita.

– Pronto, chegamos. Primeiro período é de Sociologia certo? Vem vamos sentar com o Ethan.

A sala era grande e ampla. Havia doze mesas na sala que cabiam três alunos cada. Emma estava se dirigindo para o fundo da sala com o seu amigo que deveria ser o Ethan e eu a seguia.

Estava passando pelo meio da sala, quando senti um pé em minha canela, que me fez tropeçar e cair de cara no chão, ouvi risos momentâneos ao redor.

– Mark, seu grande imbecil. Por que fez isso? – Emma falou olhando para o garoto que estava sentado onde eu havia caído.

– Qual foi Mark? – esse deveria ser Ethan, o amigo de Emma – Já no primeiro dia de aula? Só porque ele estava com a Emma?

Levantei-me sacudindo minha mão que estava dormente. Encarei-o por um segundo e me dirigi para o lado de Emma e Ethan

– Cale a boca, idiota. – Mark falou para Ethan. – eu não tenho culpa se o seu novo amiguinho não sabe andar

Mais uma vez risos tomaram conta da sala.

– Vem Aaron, deixa esse imbecil para lá. – falou Emma

Nós três sentamo-nos à mesa no fundo da sala, Ethan no canto, Emma no meio e eu no outro canto.

– Obrigado por aquilo cara, sou Aaron, prazer. – falei para Ethan.

– Tranquilo. O Prazer é meu. Aquele idiota do Mark até hoje não superou a Emma ter o largado. Ele deve ter visto você com ela e achou que estivessem juntos.

Meu rosto corou no mesmo instante em que ele falou.

– Sinto muito por isso – falei olhando para Emma

– Relaxa Aaron, você parece ser um menino legal, o problema é só que Mark acha que pode mandar em todos e fazer o que quiser a hora que quiser.

– Ele precisa de uma boa lição, isso sim. – Ethan concluiu

Ethan era mais alto que eu, moreno e olhos castanhos. Ele era o amigo que eu sempre quis ter, aquele amigo que você pode contar para todos os momentos e saber que ele vai estar lá para te ajudar quando precisar.

Ficamos conversando e rindo por um longo tempo. Parecia que nos conhecíamos há décadas, realmente nós estávamos nos dando muito bem. Nesse momento estava me sentindo completo. Então a professora chegou e tivemos que silenciar.

Não conseguia prestar atenção na aula, estava ocupado demais pensando nessa maluquice toda de “vida normal”. O período não demorou muito para acabar, e eu me separei de Emma e Ethan. O tempo na escola era divido entre seis períodos, dos quais, três deles eu passava com meus novos amigos. O segundo e o terceiro período eu ficava sozinho. E eles se arrastaram, era como se o tempo tivesse decidido parar. Depois desse longo tempo de espera, o terceiro período bateu, o qual anunciava a hora do almoço.

Tive um pouco de dificuldade para achar o refeitório. Mas quando entrei me surpreendi: tudo parecia grande naquela escola, e o refeitório não era diferente. Havia muitas mesas redondas espalhadas pelo ambiente e estava lotada, pois os alunos preferiam ficar dentro da escola com tamanho sol e calor que fazia lá fora.

Dei uma olhada ao redor e avistei Emma abanando para me juntar a ela e Ethan. Eles já haviam pegado seu almoço, então eu fiquei na fila por algum tempo e depois me sentei com eles.

– Achou fácil o refeitório? – pediu Emma – Não esperamos você por que não sabíamos em que sala você estava.

– Sem problemas, pedi algumas informações e logo achei.

Comemos enquanto conversávamos sobre as mais diversas coisas. Eles eram fantásticos e tinham um estilo de vida muito diferente do meu. Ocultei a parte que passei treze anos em reformatórios, falei apenas que era adotado.

No meio dessa felicidade toda em que estava por ter novos amigos e estar desfrutando desse bom momento, o pior aconteceu: Uma almôndega voou diretamente na minha nuca e explodiu molho para todos os lados, inclusive na roupa de Emma. Estava completamente abismado.

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Olhei para trás, e lá estava o autor da brincadeira: Mark.

Peguei o guardanapo, limpei a sujeira em minha nuca, bati com ele na mesa, me levantei e fui até onde Mark estava e percebi que Ethan vinha atrás.

Eu sabia que poderia quebrar cada osso dele se eu quisesse, poderia fazê-lo levitar e o jogar contra parede, ou para fora do prédio. Claro que eu não poderia fazer isso, havia muitas pessoas observando. Mas ele precisava de uma lição.

– Se você tem algum problema comigo é melhor falar agora Mark, não suportarei mais isso. – falei olhando fixamente para ele, e nesse momento cinco amigos de Mark se levantaram e se postaram atrás dele como grandes guardas.

– A princesinha se sujou de molho? Acho que você precisa de um babador, posso arrumar com minha irmãzinha se quiser. – os amigos de Mark riram em uníssono.

Eu estava fervendo, meu sangue estava quente e conseguia ouvir os batimentos do meu coração cada vez mais alto. Previa algo errado a acontecer.

– Deixa isso para lá Aaron, esse babaca ainda vai ter o que merece. – Ethan falou para mim, olhando com raiva para Mark.

Tentou puxar meu braço e me levar para a mesa que estávamos, mas eu nem me mexi, continuei parado olhando fixamente para Mark.

– Você tem uma chance. Ou pede desculpas e não faz mais isso, ou irá se arrepender. – falei apenas isso, meus poderes poderiam dar falha a qual quer momento, o pior poderia acontecer.

Mark riu tanto que teve que colocar a mão na barriga para aliviar.

Dei cinco passos e me postei diretamente na frente da face dele. Éramos da mesma altura e isso fez com que parecesse que íamos no beijar. Se eu fosse uma pessoa normal, com toda certeza apanharia muito. Ele jogava no time de futebol da escola e aparenta ter no mínimo duas vezes o tamanho do meu corpo.

Mark fez movimentos estranhos com a boca, e logo após me deu uma cusparada na cara. Ouvi momentaneamente pessoas ao redor se assustarem com a ação dele e colocarem a mão na boca. Agi com naturalidade e passei a mão no rosto para limpar. Sorri e depois disso você sabe o que aconteceu:

Abaixei-me tão rápido que Mark não pode nem piscar, o levantei em minhas costas e o derrubei em cima da mesa que eles estavam almoçando. A mesa se espatifou no chão com ele ainda em cima. Continuei o encarando cheio de mim. Ele tentou levantar, mas parece que a queda o machucou. Mandou seus amigos me segurarem, mas nem sequer um teve coragem. Encarei um por um e me retirei, mas antes pude ver Ethan se aproximar e cuspir em Mark.

– Isso é pela Emma. – ouvi-o dizer.

Seria fácil dizer que foi simples assim. Mas é claro que algo tinha que acontecer. Olhei para minhas mãos e elas haviam sumido, minha inviabilidade estava falhando novamente, pois havia mexido muito com meu emocional. Coloquei as mãos no bolso e corri para o banheiro.

Fiquei trancado lá por algum tempo até eu ver que já estavam voltando ao normal, ouvi a vós de Ethan no banheiro.

– Aaron, você esta aqui?

– Estou Ethan, só um minuto. – então sai.

– O que aconteceu cara?

– Foi só uma tontura, mas já estou bem – menti.

– Você deu um show lá, aposto que Mark vai ficar na dele pra sempre. O problema agora é que o diretor quer falar com você, parecesse que ele já ficou sabendo o que aconteceu.

– Incrível, mal cheguei à cidade e na escola e já arrumo problemas.

– Isso é o de menos agora Aaron, você é meu ídolo e de vários outros alunos que queriam fazer aquilo com Mark há anos. – rimos juntos por um tempo. – Fale com a Emma depois, ela está preocupada.

– Pode deixar... – falei – Ethan, o que me diz de você e Emma irem há minha casa após a aula? – não sabia o que Naomi e Samuel achariam, mas não me importei com isso agora.

– Ótimo cara, Emma vai amar também, combinado então.

Sorrimos e nos despedimos, então fui para a sala do diretor. Foi uma ladainha sem fim. Falou mil vezes a mesma coisa, primeiro dia de aula e já havia problemas comigo. Então depois de uma interminável discussão ele me concedeu uma advertência que precisava ser assinada pelos pais.

Voltei para a sala a tempo de pegar o ultimo período, esse eu estava na companhia de Emma e Ethan, e foi melhor. Disse para Emma que estava bem e não precisava se preocupar.

A aula acabou, e então, Emma, Ethan e eu fomos para a minha casa. Havia combinado com Samuel que ele me levaria para a escola e eu voltaria a pé, pois nossos horários não batiam.

A conversa com eles era sempre muito prazerosa, rimos sobre diversas coisas até doer à barriga, e nem vimos o tempo passar. Quando avistamos minha casa lá longe era um pouco mais de 4h

– Ali na frente é a minha casa.

Não sabia o que Naomi e Samuel iam pensar em eu trazer amigos para casa, que conheci hoje mesmo na escola. Mas a verdade era que eu não ligava.

Subimos o quintal da minha casa em direção à porta, bati nela, mas ninguém deu sinal de ter ouvido para vir abri-la. Então ouvimos um barulho nos fundos da casa, e pensei que Naomi deveria estar lá. Arrodeamos a lateral da casa e fomos para os fundos, quando nos deparamos com a pior e mais assustadora coisa que eu já havia visto na minha vida.

Lá estava Naomi, Samuel e aquele outro casal de NY que Naomi emprestara o pote, Helena e Rodolfo. Eles não eram humanos, incluindo meus pais. As suas bocas eram como a de um lagarto e cabiam quase duas mãos inteiras dentro delas. Havia enormes dentes pontiagudos que eram horríveis e uma língua pegajosa. Seus cabelos haviam sumido e no lugar tinha enormes tatuagens não identificáveis. Usavam um sobre tudo preto como roupa. E o pior, era que eles estavam comendo as substancias que estavam dentro dos potes. E agora eu tinha certeza: eram órgãos. Consegui identificar um coração, um cérebro e um pulmão. Tudo indo goela a baixo. Emma e Ethan estavam tão aterrorizados quando uma pessoa pode estar. Então, sem querer, Emma esbarra na garrafa de vidro ao lado dela, e a deixa cair como um baque surdo. O som invade o local inteiro e ela fala:

– Aaron, como pôde fazer isso? Trazer-me para um covil de Chandrianos!

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.