Salvadora

Sem saída.


“De vez em quando, eu fico um pouco solitária e você nunca está voltando”

Era tudo o que Robin queria. Só precisava daquela imagem pra sair correndo em disparada. O homem de máscara não fugia, parecia até estar a espera de Robin que chegou onde o vilão estava, sem muitos problemas, devido a seu cinto de utilidades. Mas o líder não se demorou em uma conversa. Apenas avançou no homem corpulento, sem pensar muito. O homem se defendia de cada soco, chute, ou golpe de bastão. A raiva era visível em cada movimento que o menino prodígio fazia.

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– O que está planejando? – Richard dizia enquanto imobilizava Slade pelas costas, apertando o pescoço do homem com o braço.

– O que EU estou planejando? Nada mesmo... Ás vezes você se esquece de quem eu realmente sou, não é, criança?! – Slade fugiu da “chave” de Robin, e o acertou com um soco, jogando o rapaz no chão.

Um pouco tonto, Dick ainda pôde perceber que o vilão faria mais. Wilson jogou uma pequena esfera perto do líder dos Titãs, que liberou um gás de cheiro insuportável, que deixou Dick asfixiado. Sem nenhuma pressa, Slade Wilson deixava o local, não sem antes dar uma espiada na cena de caos que era reproduzida um pouco abaixo de si.

Fraco e rastejante, Robin pegou com esforço seu comunicador e logo fez contato com um dos Titãs. Mutano atendeu o aparelho, e via através do pequeno visor, seu líder em desespero que ainda assim tentava mostrar o local. Mutano logo reconheceu e se dirigiu para o topo do prédio em forma de um grande pássaro. O pouco tempo em que socorreu Dick, era tempo suficiente para também deixá-lo um pouco tonto perto do gás, mas se afastou rapidamente, e devagar, o líder se recuperava.

Aos poucos os policiais e os heróis controlavam a situação. Depois de quatro horas, todos os prisioneiros estavam de volta à prisão genericamente “reformada”.

“De vez em quando, eu fico cansada de ouvir o som das minhas lágrimas”

Com tudo normalizado e os feridos encaminhados para o hospital, os Titãs voltaram à Torre, visivelmente cansados e esgotados.

– Mas que diabos foi isso? – Robin perguntava furioso – O que será que ele queria?

– Ele quem? – Ciborg perguntou confuso.

– Slade! – Ele estava lá! Mas o deixei escapar... – Robin agora andava pela sala inquieto – Mas tudo bem! “De galinha de casa, a gente não corre atrás”...

Mutano sentia vontade de rir, Robin era conhecido por seus provérbios humorados em horas não humoradas, pelo menos ele nunca tinha ouvido o “santa macarronada!!!”.

– Seja o que for, isso não pareceu nada elementar... – Ravena se apressou em dizer.

– Eu pensei a mesma coisa... – Robin disse sentando-se ao sofá.

– Isso foi algo muito estranho e realmente me deixou surpreso, mas... bom, além de mim, não somos de ferro né?! Então o que vocês acham de pedirmos uma pizza, hum? – Cib bradou.

” De vez em quando, eu fico um pouco nervosa que o melhor de todos esses anos se foram”

Todos comemoraram mentalmente. Robin primeiramente pensou “como eles podem pensar em pizza num momento como esse de extrema tensão?!!!”, mas esse pensamento se esvaiu com o som de seu estômago roncando mas que ele mesmo à noite. Eles não viam a hora de comer algo e dormir. Diferentemente de Robin que não pensava em fazer a última parte. Ele ainda estava absorto em pensamentos quando todos se levantaram para tomar banho, exceto Estelar que permanecia no sofá há alguns metros de Dick.

“De vez em quando, eu desmorono”

Ela ainda não sabia por que estava ali na presença dele. Afinal, acreditava que as chances que tinha ou poderia ter com Dick Grayson haviam acabado. Ele era mestre em não demonstrar sentimentos, mas agora estava fazendo isso num nível épico. Para ela, era como ser ferida a pequenos cortes de navalha, e sinceramente ela preferia um golpe final de espada. Era melhor a rejeição revelada, do que o talvez por debaixo dos panos.

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Mais uma vez, Richard fez o que sempre fazia. Encarava-a por longos segundos, mas dessa vez ela preferiu não responder ao olhar do moço, embora soubesse que ele estava se dirigindo a ela de forma silenciosa. Não demorou muito para que ele se levantasse do sofá sem dizer uma palavra e deixasse o lugar.

“De vez em quando, eu desmorono”

Ela não sabia mais o que pensar ou fazer. Aquilo já estava irritando a moça, todavia ela também não tinha coragem para iniciar uma conversa. Ultimamente ele só vivia estressado, e o dia já havia sido cansativo demais para que ela fosse dormir chorando, por uma resposta malcriada que ele daria. As coisas não eram como antes, como há anos atrás em que eram adolescentes. Ela o peitava, e o colocava na parede sempre que podia para que ele dissesse o que ela queria – ou não – ouvir. Mas atualmente ela não faria isso. Ele estava ficando cada vez mais sombrio e Estelar tinha medo que de alguma forma ela fosse a culpada por isso.

“De vez em quando, eu fico um pouco irritada e eu sei que tenho que sair e chorar”

A pizza logo chegara, e todos sentaram à mesa para comer. Os comentários se resumiam na batalha recente, que apesar de poder terminar de forma trágica, ainda rendia boas gargalhadas. Falavam dos prisioneiros loucos, dos engraçados ou dos ensandecidos. Apesar de tenso e preocupado, Dick ria bastante. Estelar por vezes parava seu olhar no sorriso do moço, que era grande e brilhante. Era incrível como Robin ficava ainda mais fantástico quando estava feliz, nisso consistia o pensamento da moça. Ela ficava chateada por presenciar isso poucas vezes.

– Não acredito que isso aconteceu! – Ciborg ria de forma histérica e Ravena o olhava cética, embora achasse o fato contado por Mutano realmente engraçado.

– É sério! – Garfield já chorava e não tinha mais ar, de tanto rir.

A noite se encerrara ali. A conversa tinha sido realmente divertida e agradável, mas o cansaço falava mais alto. Se dirigiram para seus respectivos quartos e a Torre tomou um ar silencioso, que não incomodava em nada, o único ali que estava acordado.

Dick estava em sua escrivaninha. Na parede a sua frente havia fotos do trágico incêndio, algumas pessoas envolvidas, aparições de Slade e recortes de jornais. Robin era um detetive nato e possuía dom para isso. Recapitulou todo o ocorrido da tarde e o fato de Slade estar lá o perturbava. Não pelo simples fato de ser Slade, seu maior inimigo, mas sim pelo fato de que tudo aquilo não parecia ter nada a ver com ele. Mas o Exterminador era imprevisível e qualquer coisa que ele fizesse podia sim estar interligada com fatos aleatórios. “... Ás vezes você se esquece de quem eu realmente sou”, era o que Robin repetia diversas vezes em sua cabeça. O que ele queria dizer com isso? Inúmeras possibilidades passavam em sua cabeça. Robin não pôde prosseguir com os pensamentos, pois de repente ouviu um grito assustador e desesperador vindo do corredor. Saiu correndo de seu escritório que era perto do quarto de onde vinha o barulho. Era o quarto de Estelar.

“De vez em quando, eu fico um pouco agitado e sonho com algo selvagem”

Ele sabia o código mestre para entrar em todos os quartos em caso de emergência, ao abrir a porta, a Tamareana se contorcia na cama, mas estava com os olhos fechados. Dick não sabia se agradecia por ser apenas um pesadelo, ou se ficava desesperado pelo fato de a moça estar sofrendo intensamente.

–Estelar!– ele disse segurando-a pelos ombros – Estelar! – balançou-a mais forte e a moça acordou.

– Robin – ela sussurrou um pouco aérea olhando para todos os cantos do quarto, enquanto o moço ainda a segurava.

– Está tudo bem! Foi só um pesadelo...

– Um pesadelo horrível – as lágrimas se apressaram logo em correr pelo rosto vermelho e quente da moça. Ela balançava a cabeça em tom de negação, estava desesperada.

– Mas o que houve? – Dick se sentou na cama.

– Eram os Gordanianos! Eles me pegavam de novo e...

– Calma, está tudo bem, isso não vai acontecer de novo. Mas você precisa descansar, está esgotada.

Ela ficou em silêncio, com as lágrimas ainda caindo. No momento Dick nem pensou se era o certo ou não, mas aninhou a moça em seus braços e pôs a cabeça dela em seus ombros. De certa forma, o pequeno gesto fez a respiração da moça normalizar. Dick olhava para o teto e de repente todos os pensamentos que estavam em sua cabeça há poucos minutos atrás desapareceram, ele não conseguia pensar em nada. Apenas estava ali naquele momento tentando confortar alguém de um passado que veio à tona. A ruiva pegara no sono rapidamente e Richard viu aos poucos seu sono chegar também. Ele tinha acabado de se recuperar do ataque de Johnny, e já se metera na confusão dos prisioneiros, sem contar o maldito gás que quase o matou. Eram motivos razoáveis para que ele merecesse uma boa noite de sono. Ciborg o chamou pelo comunicador para saber se os gritos eram um motivo para preocupação, o líder explicou tudo a ele, para que voltasse a dormir tranquilamente.

“De vez em quando, eu fico um pouco desamparada e me deito como uma criança em seus braços”

Richard acordou do rápido cochilo ao sentir Koryander se mexendo novamente em seus braços. A respiração dela já se alterava de novo, e os braços se juntavam pelo pulso, como se ela estivesse tentando evitar ser algemada, uma tentativa falha, pois novamente ela chorava e negava com a cabeça. Ele não via outra alternativa a não ser acordá-la, não queria mais ver aquilo.

– Kory! Vamos acorde... – ele dizia agora desanimado, não queria ver aquela cena nunca mais.

A moça acordara assustada dessa vez e parecia não esperar pela presença de Robin.

– Olha... vamos sair daqui!Por favor não durma de novo. – Dick disse se levantando e segurando- a pela mão. A alien levantou sem relutar, queria qualquer coisa menos sentir tudo aquilo.

“E eu preciso de você agora esta noite
E eu preciso de você mais do que nunca
E se você simplesmente me abraçar forte
Nós estaremos juntos para sempre”

Pelo corredor Estelar não sabia se estava acordando, ou se havia passado do pesadelo para o sonho, pois Robin ainda estava de mãos dadas com ela. Ela nem imaginava se ele tinha se dado conta disso. E se tinha se dado, será que ele fazia ideia do quanto estava deixando-a feliz?

“E nós estaremos apenas fazendo o certo
Porque nós nunca estaremos errados”

Ele apertou o botão do elevador e entraram ainda de mãos dadas. Não diziam nada um ao outro, mas cada um dentro de si, sentiam-se em paz. Chegaram no topo da Torre, e caminhando um pouco mais para o meio dele, Dick sentou-se no chão. O olhar que dirigiu a Kory tinha um tom convidativo, e não demorou para que ela fizesse o mesmo. Ficaram em silêncio por um tempo, apenas observando a cidade. Não havia muitas luzes figurando a noite como estrelas. Muitos estabelecimentos já estavam fechados e a maioria das luzes dos prédios já estava apagada.

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Kory estava inquieta como quisesse dizer algo, mas nada saia de sua boca. Estava com medo de estragar aquele momento, mas Dick tomou a dianteira por ela.

–Acho que não vou suportar ver aquilo de novo. – Ele disse ainda olhando a cidade. A simples imagem de Estelar tendo um pesadelo com seu passado, o fez imaginar o quanto aquela frágil e meiga garota havia sofrido nas mãos dos malditos gordanianos. “E que família de merda ela tem!”, ele pensou.

Ruborizada e tímida, Estelar dizia:

– Eu também espero não passar por isso novamente...

– E não vai – ele a olhou nos olhos – Se depender de mim, ninguém vai fazer mal a você desse jeito de novo. Eu vou te proteger.

Ela riu.

– Você? É mais fácil eu te proteger.

– Me senti um lixo agora – Dick riu confuso, não esperava aquela resposta.

– Não é isso, não disse que você não é capaz – ela sorriu – é que ultimamente parece que você é quem precisa de proteção... E ás vezes você é... Mentalmente perturbado...

Ele gargalhou.

– Mentalmente perturbado? Não acredito que disse isso... Mas é... – Ele tornou a olhar a vista da cidade ao longe – Não estou nos meus melhores momentos.

O silêncio veio novamente.

– Richard? – Estelar dizia decidida. O tom de sua voz e o fato de tê-lo chamado pelo nome, fez com que Dick olhasse diretamente para ela – Eu intimido você?

– O quê? – ele disse sorrindo sem graça, e sentiu o rosto ficar quente. Procurou olhar para todos os lados.

– Intimidar. Essa é a palavra quando uma pessoa inspira medo ou temor na outra? Você tem medo de mim?

Ele a encarou por um tempo, sabia exatamente onde aquela conversa ia dar, e sinceramente ele não estava preparado para aquilo, não naquela hora. “Malditos Gordanianos!”

– Koryander, eu não tenho medo de você.

– Então por que fica me evitando? Eu te fiz algum mal? – Ela perguntava indignada, mas ainda inocente.

Ele estava odiando aquilo. Então era aquilo que ela pensava? Acreditava estar fazendo mal a ele de alguma forma?! “Que horror Grayson!”

– Estelar eu não te vejo como menor ou menos especial que os outros Titãs, você é tão import...

– Não estou falando como guerreira... Estou falando como mulher...

“Touché!”

A brisa estava gélida, mas gotículas de suor se formavam pelo corpo de Richard. Ele passava a mão pelos cabelos negros, e seu olhar procurava por algo indefinido, naquele espaço. Viu-se sem alternativas, mas a verdade era tão mais complicada. O que para ele era complexo, para ela era algo tão simplório. Ou é ou não é. Sim ou não. Mostarda ou maionese. Tudo tão simples. De um segundo para outro, o olhar dela se tornou um imã, era difícil não olhá-la, quando suas grandes orbes verdes imploravam pela reciprocidade.

Falar era tão difícil.

Sem pensar ele a beijou.

O beijo já começara com ardor. Os dois se exploravam com toda vivacidade que possuíam. Kory tocava o rosto do moreno, e as mão dele não se demoraram em passear pelos longos cabelos ruivos dela. Enganchou sua mão no couro cabeludo da moça, firme e ao mesmo tempo suave. Ele jurava ter ouvido Kory dar um leve suspiro, e não queria sair dali nunca.

“Juntos nós podemos levar isso ao fim da linha
Seu amor é como uma sombras em mim todo o tempo
Eu não sei o que fazer e estou sempre na escuridão
Estamos vivendo em um barril de pólvora e soltando faíscas”

O sentimento era mais do que novo. Ambos sentiam como se fossem uma criança que desde janeiro esperasse pelo presente de Natal. Melhor do que o beijo, era o beijo pelo qual esperavam a vida inteira. Não o beijo por disfarce numa missão, não o beijo para transmissão de uma nova linguagem, mas sim o beijo que representava fisicamente o que palavras não conseguiam expressar. Era como uma conversa muda, onde um dizia para o outro “Eu te amo”.

Separaram-se depois de um tempo, e Richard encostou sua testa na testa da ruiva.

– Kory... Você é especial pra mim como mulher... Mas não sei se... sintetizar isso vai fazer bem a você... a nós.

– Mas por quê?

– É complicado – ele lhe sorriu tristemente.

“Eu realmente preciso de você esta noite!”

Estelar aceitou aquelas palavras – por enquanto – mas não desistiria. Ela não queria estragar aquele momento. E embora ouvir da boca de Dick que não era possível ficarem juntos, ela estava feliz.

“A eternidade vai começar esta noite”

Richard se levantou e estendeu a mão para que a moça se levantasse. Assim ela o fez e caminharam para o quarto dela. Lá ele a aninhou em seus braços, e finalmente Estelar conseguira dormir.

“A eternidade vai começar esta noite”.