Valley West

Seminu


Coloquei uma toalha em baixo da porta e abri o registro do chuveiro, deixando que o vapor invadisse o quarto. Abri um pequeno vão na janela para que nós três – eu, Peeta e Gale. – não morrêssemos sem ar.

Sentei no carpete, pegando um cigarro do maço debaixo do colchão e o acendendo com meu isqueiro, assistindo Peeta fazendo o mesmo. Gale apenas sentou na minha cama, me encarando e balançando a cabeça negativamente. Ele não fumava e nem bebia, e odiava que eu fizesse ambos.

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– A questão é: porque raios você estava beijando esse idiota? – ele apontou para Peeta, que fez uma cara de irritado.

– Eu não estava “beijando esse idiota”, Gale. – me virei para ele e fiz minha pior carranca. – E você não pode chamá-lo de idiota. Só eu posso.

– Eu preciso ficar aqui ouvindo essa briga do casal? – Peeta perguntou, soltando um sopro de fumaça no meu rosto. – Isso está bem entediante.

– E você, seu CDF idiota, cale a boca. – Gale rosnou.

– Se chamá-lo de idiota mais uma vez, eu enfio esse cigarro na sua garganta. – ameacei, apontando a parte acesa para o seu rosto. – Mas, sim Peeta, você tem que ficar aqui. Afinal, a culpa de estarmos discutindo é sua.

– Boa noite. – ele se deitou no carpete, com o cigarro pendendo no lado da boca, fechando os olhos.

Balancei negativamente a cabeça e soltei uma risadinha, virando-me para Gale, que me encarava visivelmente irritado.

– O que você viu nesse otário? – ele sorriu, irônico.

Levantei e abri minha gaveta, pegando o desenho de Peeta e jogando nele. Gale desdobrou o papel, e seus olhos acinzentados escureceram.

– Você posou para ele? – o garoto se levantou e agarrou meus braços, apertando-os. – Você posou para esse idiota?

– Não! – exclamei. – Eu não posei para ele! Peeta fez isso por conta própria, sem que eu pedisse. – fiz uma longa pausa, olhando para seus olhos. – E já eu disse que você não pode chamá-lo de idiota. – rosnei.

– Que tipo de relacionamento nós temos? – ele indagou. – Nós dois longe um do outro, eu estudando e você posando para um imbecil. – Gale apertou mais forte, começando a me machucar. – Aposto que dormiram juntos. Diga a verdade, vocês já transaram?

– Me solte! – gritei. – Está me machucando!

Gale apenas riu, o que me fez ficar completamente irritada com ele. Qual era o problema daquele animal?

Peguei o cigarro que eu apertava em meus dedos e esmaguei em seu rosto, na parte que queimava. Ele apenas soltou um grito de dor e me soltou, colocando as mãos na parte em carne viva. Apenas sorri, feliz por ele ter me soltado. Eu realmente não dou uma boa garotinha indefesa e assustada.

– Agora suma daqui. – ainda sorria, apontando para a porta. – Não quero mais te ver pelo resto da minha vida. E, juro, se você aparecer em Valley West novamente, muitas outras partes do seu rostinho lindo ficarão queimadas e desfiguradas.

Ele apenas deu meia volta, abriu a porta e saiu, sem dizer nenhuma palavra.

Espreguicei-me, fechei o registro do chuveiro, guardei a toalha e abri a janela, deixando que um pouco de ar puro entrasse no meu quarto. Não estava chateada e nem um pouco triste, afinal, Gale nunca foi um “namorado dos sonhos”. Estava até um pouco aliviada.

Peguei um dos travesseiros da minha cama e o ajeitei em baixo da cabeça de Peeta, colocando um lençol em seu corpo, depositando um beijinho com cheiro de cigarros em seu rosto, pegando o resto do cigarro queimado da boca dele. Peeta, apesar de ser um tremendo irritante, tinha um lugar reservado no meu coração.

Até poderia admitir, sem medo nenhum, que eu o amava de um jeito especial.

(...)

– Mellark, vamos logo. – chacoalhei seu braço, fazendo seus lindos olhos azuis se abrirem, as pupilas dilatadas. – Temos que sair, agora.

– O quê? – ele coçou os olhos. – Para onde vamos?

– Para o Prego. Faremos a “compra do mês”.

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Peeta se levantou cambaleante e caminhou até o banheiro, se olhando no espelho. Seus olhos estavam inchados e vermelhos, e sua roupa cheirava à fumaça.

– Antes – ele voltou para o quarto. –, preciso tomar um banho para tentar melhorar a minha cara. E uns remédios para dor também. – sorriu de canto.

– Remédios para dor?

– É. Estou com um torcicolo horrível. – aproximou-se de mim, as mãos na nuca. – Parece que o chão não é tão confortável quanto a minha cama no quarto ao lado.

Ele segurou meus braços, no mesmo lugar que Gale tinha apertado na noite passada. Suas mãos eram firmes, mas ao mesmo tempo delicadas – tão delicadas que podiam desde pintar um pôr do sol, até me desenhar de um jeito bonito e delicado –, o que me fez, mesmo sem querer, sorrir.

– Isso não vale. – eu murmurei.

– O quê? – mirou os olhos em mim.

– Fazer isso. – olhei para suas mãos. – Me segurar de um jeito delicado. Querer mostrar que é melhor que Gale. Que é doce.

– Não sei se sou melhor do que seu ex-namorado, mas sei que você não precisa dele. – sorriu, acariciando minha maçã do rosto. – Ele não é bom para você.

– Eu sei. – disse, dando um passo para trás, afastando-me dele. Peguei a trouxa de roupa de Peeta e uma toalha em cima da cama. – Eu trouxe isso para você. Senti o seu cheiro ontem, e sabia que iria querer tomar um banho. Mas temos que ser rápidos, já que Johanna não ficará lá fora para sempre.

– Quem é Johanna? – ele pegou as roupas e começou a caminhar até o banheiro.

– Ela é uma amiga minha, e nós vamos ao Prego juntas desde que eu vim para cá e precisei de grana. Foi ela que me ajudou com esse “comércio”. – sorri.

– Certo. – Peeta entrou e deixou a porta entreaberta para que pudéssemos continuar conversando. – E porque você quer que eu vá com vocês?

– Eu confio em você, Peeta. – me joguei na cama e me cobri com o edredom novamente. – E, além do mais, você também está precisando dos meus serviços.

– Parecemos um casal de velhinhos. – ouvi a voz dele abafada pelo som da água caindo no chão de ladrilhos. – Uma hora nós estamos brigando, na outra estamos quase nos beijando.

Corei com aquele comentário infame.

– Isso é mentira, Mellark. – tentei fazer uma voz equilibrada. – Eu nunca quis te beijar. Seus lábios são imbeijáveis para mim.

– Imbeijáveis? – o registro do chuveiro foi desligado. – Acho que essa palavra não existe, Katniss.

– E daí? – me virei para a porta, onde ele apareceu com a toalha branca emprestada enrolada na cintura. Assustei-me. – O que pensa que está fazendo? Desde quando temos essa intimidade?

– Calma! – levantou as mãos em sinal de rendição. – Eu não estou pelado.

– Eu não quero te ver seminu. Vá logo, vista essa roupa senão eu vou te matar. – cobri meu rosto com as mãos, tentando não ver alguma coisa. – Eu não estou brincando!

Naquele momento, a porta do meu quarto se abriu, e pude ouvir a voz melodiosa e estridente de Effie Trinket.

– Inspeção de quarto! – cantarolou, e então, quando viu Peeta Mellark apenas de toalha na cintura no meio do meu quarto, e eu deitada na cama coberta com um edredom, soltou um grito horrorizado. Ah, quase me esqueço de comentar: sexo entre os alunos também era proibido. Resumindo: estávamos ferrados. – Para a sala do diretor Snow! – apontou para a porta, os olhos cerrados e furiosos. – Agora!

Você me paga, Peeta Mellark!, pensei, enquanto era escoltada por Effie e Peeta já vestido até a sala do diretor de Valley West.