Valley West

"Eu te amo"


Quando recobrei a consciência, senti como se tivesse dormido por anos por efeito de morfináceos. E estava certa, tinham vidros de medicamentos ao meu lado. Meu corpo doía, minha cabeça latejava, e, ao me lembrar exatamente o que aconteceu, lágrimas começaram a brotar dos meus olhos.

Prim está morta.

Me virei e vi Peeta sentado na poltrona cor-de-rosa do quarto de Prim. Eu estava deitada na cama dela, cercada de seus bichinhos de pelúcia preferidos. Na janela, Buttercup me observava. Como eu odiava aquele gato! Sorrateiro e mórbido, com a orelha mutilada e tudo.

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Buttercup me olhava com medo, procurava Prim através da janela de vidro. Com o olhar choroso, disse sussurrando:

– Prim morreu. Ela não está mais aqui, gato idiota. – Ele não se mexeu, mas começou a chorar. – Ela está morta! – elevei o tom de voz. – Por acaso não entendeu? Ela não vai voltar.

Me virei para Peeta.

– Peeta? – Minha voz quase não saiu.

Os olhos dele se abriram em um susto, e ele pulou na minha cama e me deu o abraço mais apertado que eu já recebi em toda a minha vida.

– Ah, Katniss! – Sua voz saiu abafada, pois ele afundava o rosto nos meus cabelos. – Estava tão preocupado. Você demorou a acordar. Levou uma pancada bem forte, e os remédios que te receitaram praticamente sedaram você.

– Ela morreu. – concluí, começando a chorar. – Minha irmã.

– Está tudo bem, meu amor. – Peeta me sentou em seu colo e começou a afagar meus cabelos. – Está tudo bem. Eu estou aqui, certo? Cuidarei de você.

Percebi que ele me chamou de “meu amor”. O primeiro cara que pronunciou aquelas palavras para mim.

– Sua mãe disse que quando você acordasse era para eu chamá-la. – falou, começando a se levantar.

– Não. – Coloquei a mão em seu rosto. – Ela pode esperar. Fique aqui comigo, está bem? Só mais um pouquinho.

Peeta se deitou ao meu lado e me enlaçou em seus braços, um gesto que sempre fez eu me sentir mais segura. Adorava os braços de Peeta, adorava dormir neles e senti-lo colado a mim, me acalmando.

– Está sentindo alguma dor? – Seus olhos estavam preocupados.

– Tirando a dor do coração, estou com dor no braço direito. Foi a parte mais afetada pela pancada do carro. Mas, sabe, não posso culpar o motorista, afinal, corri como uma louca para o meio da rua.

(...)

Depois de conversar com minha mãe, descobri exatamente o que aconteceu. Prim estava brincando no parquinho da praça, como fazia todo o dia depois da escola. Mas ela não voltou para casa no horário combinado.

Depois de toda a vizinhança ajudar minha mãe a procurá-la – Prim era amada por todos. – encontraram seu corpo em um rio. Na borda, Buttercup chorava, todo molhado.

Ela morreu tentando salvá-lo da enxurrada do rio.

Eu e Peeta ficamos no quarto de Prim depois daquilo. Fiquei observando tudo que tinha lá, tudo que era dela. As roupas, os brinquedos, a mobília, tudo. Depois, eu e Peeta sentamos na varanda e ficamos conversando um pouco. Buttercup não voltou mais, já que eu o expulsara, com ódio. Tudo foi culpa dele.

Nós ficamos ali por um tempo, abraçados e nos olhando nos olhos. Às vezes, Peeta me abraçava mais forte, quando percebia que eu estava ao ponto de começar a chorar, quando a verdade me atingia. Em algum momento, me levantei rapidamente, em silêncio. Peguei a mão de Peeta e fomos caminhando silenciosamente para o corredor, sem fazer ruídos para não acordar minha mãe, que, com muita dificuldade, conseguiu tirar um cochilo.

Parei ao lado da mesa de bebidas do meu pai e, depois de observar e lembrar de todos os momentos que eu o vi naquele cantinho, peguei duas doses de conhaque. Entreguei o copo a Peeta, mas não o deixei beber, bem, não naquele momento.

Entramos no meu antigo quarto, o que eu morava antes de ser “internada” em Valley West. Os pôsteres ainda estavam nas paredes, o tapete estava no mesmo lugar e meus livros continuavam empilhados no chão, uma fina camada de poeira sobre eles. Tranquei a porta e liguei o som, uma música incrivelmente bonita tocando em uma rádio qualquer.

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Nós bebemos rapidamente, e as coisas começaram a se desenrolar. Peeta tinha um toque delicado e minha pele ardia em chamas. Nós fizemos amor naquela noite, a nossa primeira vez, sem pressa e sem medo.

Dormimos daquele jeito, abraçados, o coração acelerado, sorrindo.

(...)

Quando acordei, ainda estávamos deitados como dormimos na noite passada, eu com a cabeça no peito dele, ouvindo seu coração acelerado e sentindo sua respiração.

Peeta me deu um beijo de “bom dia” e, sem aviso, soltou:

– Katniss, eu preciso te confessar uma coisa. – Eu olhava pela janela, o sol começando a nascer. Me virei para ele, para encarar seus olhos.

– O que é?

– Bem... – Peeta respirou fundo. – Eu te amo. – Sorriu.

E aquela frase, apenas aquelas três palavras, me acertaram em cheio. Droga, Peeta Mellark me amava? Não conseguia pensar em coisa melhor para dizer, por isso, soltei:

– Ah, Peeta, você não acha que está cedo demais para dizer uma coisa dessas? – Sentei-me na cama e me enrolei com o lençol.

– Cedo demais? – Cerrou as sobrancelhas, sentando para me encarar nos olhos. – Nós dormimos juntos ontem e você acha que está cedo demais?

– Bem...

– Katniss – ele me cortou no meio da frase. –, nós nos conhecemos há alguns meses, nos beijamos anteontem e fizemos amor ontem. Tem certeza sobre ser cedo demais?

– Peeta... – Comecei, mas ele já tinha se levantado. – Aonde vai?

– Já cansei de você, Katniss! – gritou, colocando a calça jeans. – Parece que tem medo do amor! – Respirou fundo e baixou o tom de voz. – Isso não é justo. Eu tentei me aproximar de você por muito tempo, engoli meu orgulho quando você me humilhava, e é isso que eu recebo? Seu desprezo?

– Não estou te desprezando, Peeta. – Mirei seus olhos, que estavam tristes.

– E como chama isso? – Cerrou as sobrancelhas. – Te dei todo o meu amor, tudo de mim, e você diz que “é muito cedo”. – Fez uma imitação barata da minha voz. – Isso não é justo. – repetiu, pegando a blusa e os sapatos e saindo do quarto.

Gritei seu nome, mas ele fingiu não ouvir.

Isso mesmo, pensei, jogando um sapato na porta – que a fechou com um estrondo –, Katniss Everdeen estragando tudo novamente.

Me joguei na cama novamente, me sentindo o pior ser da face da Terra.