Safe and Sound

Capítulo 17 - Enzzo


– Filho, hoje pela primeira vez você assistirá aos Jogos Vorazes. – disse Snow orgulhoso.

– É, pode ser. – suspirou Enzzo.

– Por que você está tão desanimado filho? – perguntou.

– Porque eu já vi na televisão, não acho necessário ir para o local onde fica o Chefe dos Idealizadores. O que muda afinal?

– A emoção filho! Você tem que se entusiasmar um pouco, agora que fez doze anos tem que começar a participar dessas coisas mais assiduamente com seu pai. – fitou seu filho seriamente.

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– Pai, eu não acho isso certo, quer dizer, deve se horrível para essas famílias assistirem seus ente queridos lutarem até a morte.

– Enzzo, você já me ouviu falar um milhão de vezes. Isso é necessário para manter a paz na Panem, se a gente não controla os Distritos eles se rebelam. Você já estudou história e sabe disso.

– Snow, você já me imaginou indo pra arena? O que você iria fazer? – debateu.

– É impossível e você sabe disso, Enzzo. Nós somos a Capital e eu comando os jogos, as regras são claras: Somente tributos dos Distritos. – disse Snow pacientemente.

– Como você pode fazer parte de uma coisa tão cruel? – Enzzo o olhava atentamente com os olhos marejados. – Eu me nego a assistir isso.

Snow ficou de pé e se aproximou ameaçadoramente, Enzzo já se preparou para levar um tapa bem forte no rosto quando percebeu que seu pai estava tentando ao máximo se controlar. Respirava e inspirava diversas vezes, buscando adquirir o controle de seus nervos.

– Você não tente me questionar, garoto! – gritou Snow. – Você é meu filho e querendo ou não tem que fazer parte disso.

– Sua politicagem é suja e me enoja! – cuspiu Enzzo.

Agora Enzzo estava quase certo de que realmente iria levar uma surra. Snow se aproximou bruscamente, ergueu o braço bem alto e esbofeteou seu filho fortemente no rosto, deixando uma marca quente e vermelha de cinco dedos em sua face.

Snow por longos minutos ficou em silêncio olhando de forma incrédula para seu filho. Seu primogênito o refutar sem pestanejar.

– Se você alguma outra vez ousar se opor contra mim de novo. Questionar a integridade da minha política, meu bom senso e minha tomada de decisões eu não vou poupar sua vida, Enzzo. – seu olhar possuía uma raiva genuína. – Eu vou matar você, mas antes me certificarei a matar todos seus irmãos em sua frente, os torturando e citando seu nome para que eles saibam que você seria unicamente o motivo de suas mortes. Depois matarei dolorosamente sua mãe, você me entendeu bem?

O corpo daquele garoto tremia inquietamente. Em meio a uma ameaça tão dura e direta jamais poderia se opor. Sabia que seu pai não recuava e também era ciente que se Snow ameaçava, obviamente cumpria. Enzzo amava sua família e jamais permitiria que algum mal os acontecesse.

– Sim, pai. – disse engolindo seco. – Eu daqui pra frente farei tudo o que o senhor mandar.

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Aquele local era de longe o mais desconhecido de toda a Cidade 12, totalmente afastado do centro e, provavelmente, nunca antes visitado. A cabana era pequena e cheirava a madeira molhada, continha apenas um quarto, sala, cozinha e banheiro, mas o que era interessante ali para Enzzo não era a comodidade, mas sim seu grande porão. A estrutura de sua “nova casa” era formada por toras de madeira, com portas e janelas velhas que rangiam ao vento pelo pouco uso, Enzzo já havia trazido todos os seus equipamentos modernos e instalado no porão. Fizera daquilo sua estação de trabalho. Realmente, para ele a falta de luxo que aquela cabana tinha não era importante, afinal, aquele local era somente uma moradia temporária afim de alcançar os seus objetivos.

A noite não estava fria como as anteriores, havia uma iluminação natural nas ruas devido a presente personificação da lua ao céu escuro. Isso era bom, porque Enzzo estava ciente que mais uma vez passaria a noite em claro trabalhando, bolando planos e os pondo em prática.

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Seus capangas estavam em serviço, ao todo mais de vinte homens. Ele sabia que não eram devidamente qualificados de acordo com suas expectativas, ele precisava de homens com características militares e próprios para o campo, mas eram fieis e tinham palavra, sabiam lidar com uma arma e não possuíam remorso, era exatamente de pessoas assim que ele precisava.

Em sua infância, Enzzo sempre fora um menino muito doce e apegado à família, isso aos olhos de seu pai era no mínimo uma grande fraqueza. Snow não permitia fraquezas. Seus outros irmãos sempre foram os mais queridos pelo pai, talvez por serem exatamente o seu oposto. Sua mãe, pelo contrário, era uma pessoa muito querida e preocupada com seus filhos, ela sempre esteve presente na vida de Enzzo completando as lacunas que seu pai formou.

Snow não era o tipo de pai que toda a criança sonhara. Claro que ser filho de um Presidente tinha grandes vantagens, fartura, riqueza e conforto. Mas seu pai era completamente rígido, exigia as melhores notas de seus filhos na escola, quando voltavam para casa tinham aula particular de política e história com seu pai. Snow buscava passar a eles valores e moralidades que foram ensinados a ele quando criança. Sua mãe ficava perplexa com a brutalidade do marido, mas nunca pôde interferir, se fizesse, sabia que amanheceria com a cabeça degolada em uma bandeja.

Enzzo claramente nasceu de uma família perturbada e complicada, mas com o tempo, passou a admirar seu pai. Cresceu em meio àqueles valores, aprendeu a ama-lo e respeita-lo como seu parente e mentor, aprendeu a gostar aceitar suas regras e valores a ponto de trocar sua vida pela de sua família. Lealdade, União e Compromisso. Essas três palavras definiam o lema da família Snow.

– Senhor, preciso informar o status da missão. – o rádio de comunicação anunciou o aviso de Eddard.

– Aonde você estão? – disse Enzzo.

– Estamos em frente a casa do tordo, Senhor. - Edd fez uma pausa. - Por enquanto não temos contato visual com nenhum indivíduo.

– Mesmo depois do bilhete? Nem Gale, nem Johanna e nem Haymitch? – disse surpreso.

– Não. Peeta e Katniss não saíram de casa e ninguém também apareceu.

– Você tem certeza, Eddard?

– Absoluta, senhor.

– Continue vigiando, se alguma coisa diferente acontecer preciso que me mantenha informado.

Katniss Everdeen, o motivo da Revolução, o tordo, o símbolo que denota a morte de seu pai. Enzzo mal esperava para colocar as mãos naquela garota, tortura-la e vê-la sofrer, implorando no mínimo por uma morte rápida. O gosto de vê-la morta fazia seu coração se tomar pela vingança.

Após a morte de Snow, todos seus irmãos passaram pelo pior, foram presos, levados, torturados e maltratados pelos rebeldes. A presidente Paylor aceitou livra-los da morte, mas isso não era favor nenhum porque tudo já estava acabado: Família, dignidade e seu legado. Viver sem os benefícios que sua vida antiga o proporcionava não era bem uma opção. Enzzo tinha um plano político e pessoal em andamento.

Parte de seu plano fora elaborado durante a Guerra, Enzzo tinha a intenção de começar a caçar Katniss Everdeen no Distrito 13 mas seu pai jamais permitiu. Para a Capital, Enzzo foi a pessoa principal por trás dos ataques e estratégias de guerra. Ele fora o cabeça de toda a organização, mas isso não era bom aos seus olhos, para Enzzo a única coisa que fez foi fracassar. Fracassou em salvar seu pai, falhou em manter a política. As únicas coisas que seu pai passou a vida toda tentando o ensinar ele simplesmente não conseguiu fazer: Salvar o governo e sua família.

Contendo a raiva, Enzzo sabia que a hora de remediar seus erros estava para chegar. Muitos amigos seus que hoje estão envolvidos disseram a ele que isso era uma missão suicida, sem volta e sem tempo para arrependimentos, mas a vida que Enzzo dizia considerar não existia mais. A verdade que ele conhecera a tantos anos simplesmente foi alterada e isso ele não podia ir contra. Então, seu último objetivo era vingança e ordem, se para isso sua vida tiver que ser tirada no final, pouco se importava. Preferia morrer a viver daquela forma. Enzzo estava tão focado em seus pensamentos que não percebeu dois de seus homens entrarem.

– O que fazem aqui? Achei que estariam em missão.

– Nossa missão é falha senhor. - disse o rapaz magricela da direita.

– Como é seu nome, moleque? - Enzzo disse seriamente.

– Carl, senhor. - disse o menino.

– Percebe que acabou de me contrariar na frente do seu colega? - questionou Enzzo.

– Não senhor, eu só acho que essa missão é falha. Não temos porque vigiar a casa do Major Gale. - disse Carl buscando firmeza em sua voz

Enzzo se aproximou lentamente do rapaz, com sua Magnum 44 na mão e fez menção de apontar.

– Você entende que quem decide se sua missão é falha ou não sou eu, não entende?

– Sim, peço desculpas. - disse o menino.

Carl deveria ter em torno de vinte anos de idade, tinha os cabelos castanhos e os olhos verdes, era muito magro e frágil mas era um garoto inteligente. Uma pena que Enzzo não tinha paciência para aquele tipo de atitude.

– Suas desculpas não me servem de nada, criança. - O tiro ecoou por toda a cabana, fazendo as corujas que estavam do lado de fora baterem as asas apressadamente.

– Se-senhor? - disse o rapaz que estava na esquerda.

– Não gagueje homem, se não será o próximo. Faça questão de que todos do meu pelotão saibam desse situação. Eu não vou ser contrariado. Se dei uma ordem é para cumprir. - Enzzo cutucou o corpo estático com o pé o fitando meio de lado. - E limpe essa sujeira.

– S-sim, senhor. - disse o rapaz.

O plano andava de acordo com suas expectativas. Armas, munição, homens e um objetivo era tudo o que Enzzo precisava para realizar sua meta, um sorriso nos seus lábios se materializou quando pensou que estava perto. Perto demais de pegar Katniss Everdeen e faze-la passar por tudo. Tudo o que seu pai puritano a evitou de passar.

– Agora é a sua vez de ver o poder da família Snow, Katniss. sorriu Enzzo malevolamente ao retirar as balas de sua arma. - Com o meu pai, aquilo foi meramente brincadeira de criança. Só que agora, não temos mais crianças para brincar.