No Alto da Torre

Capítulo Único


Me revirei na cama.Virei para um lado, depois para o outro, mas eu não conseguia dormir.Bufei irritada comigo mesma.Imagens de suas faces risonhas banhavam minha mente.Eu não poderia estar gostando de James Potter.Não mesmo.Eu, Lílian Evans, gostando de James Potter?

Nunca.

Suspirei novamente, e me revirei na cama.Cansada de minhas tentativas falhas de dormir, me levantei.Olhei para as camas.Alice suspirava durante o sono, e grunhia de quando em quando.Marlene roncava alto, com os braços estirados para o lado, um deles pendendo da cama.Dorcas ressonava baixinho, toda encolhida na cama, parecendo um gatinho loiro em seu sono.Eu sorri.

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Me levantei e caminhei até o guarda-roupa.Eu era monitora-chefe e deveria dar exemplo disso, mas sinceramente, acho que um pouco de tempo sentindo o ar frio da Torre de Astronomia ia ser bom para o meu sono.Tirei delicadamente o pijama, tomando todo o cuidado do mundo para não acordar uma das minhas companheiras de quarto.Principalmente Marlene, que provavelmente faria o maior escândalo se me visse saindo do quarto a noite.

Coloquei uma suéter, já que estava bem frio.Relutei ao constatar que a única suéter que eu tinha disponível no momento era a que James havia me dado de Natal no sexto ano.Era uma suéter verde, com um lírio vermelho no centro.James havia me informado que sua própria mão havia feito o agasalho.Também foi o último que a Sra. Potter fez antes de morrer, e usá-lo me fazia se sentir suja, já que um dia, as mãos hábeis de Dorea Potter correram por esses fios de lã.

Eu já havia tentado devolver,mas o Potter disse que a mãe dele gostava de mim, e que eu merecia ter sua última suéter.Mas eu vi a dor nos olhos dele quando ele me disse aquilo.Eu mesma senti essa dor logo depois, quando, como agradecimento, eu entreguei a última pulseira dourada que minha mãe havia feito para James.

Suspirei e coloquei várias blusas finas antes de colocar a maravilhosa suéter que a Sra. Potter havia feito sob medida para mim.Depois coloquei uma calça grossa, por cima de uma calça fina, e por fim, dois cachecóis vermelhos listrados de dourados envolta de meu pescoço.Também ajeitei uma touca nos meus cabelos ruivos.

Caminhei pelo quarto furtivamente, com o intuito de não acordar ninguém, mas Marlene tinha ouvidos de águia e disse bem baixinho me fazendo pular de susto:

–Onde a Evans pensa que vai?

–Sair.-Respondi apreensiva.Marlene sorriu.

–Para onde?

–Torre de Astronomia.

–Porque?

–Não consigo dormir.

–Quando voltar, não acenda a luz.

–Nunca.-Marlene sorriu.

–Boa garota.-E dizendo isso, tombou na cama, literalmente desmaiando, e imediatamente começando a roncar.Revirei os olhos e desci as escadas do dormitório bem devagar, com passos mansos e cuidadosos.

Ao chegar na Sala Comunal, suspirei aliviada, e então passei pelo buraco do retrato.Lá fora, nos corredores sem uma lareira quentinha para nos aquecer, estava muito frio.Me abracei, tentando repelir os tremores.

Caminhei vagamente até a Torre de Astronomia, e ao chegar na porta, me deparei com a pessoa que eu menos queria ver no momento.

O vento bagunçava os cabelos negros dele.Os olhos escurecidos, sem a felicidade que antes irradiava de cada poro de suas faces coradas.Sentimentos que eu nunca sentiria por James Charlus Potter se apoderaram de mim.Pena, compaixão, e até mesmo uma pitada de amor.

Suspirei.Ele me olhou.Deu um sorriso amargurado e disse:
–Pode sentar do meu lado, ruivinha.Eu não mordo.

Sorri e caminhei até ele, me sentando ao seu lado no chão frio.A lua não aparecia no céu, deixando as estrelas mostrarem seu brilho.O véu negro salpicado de diamantes que era o céu noturno, estava mais lindo do que nunca.O vento frio balançou meus fios ruivos, me obrigando a abraçar-me para não sentir frio.

James me olhou.Os olhos dele transmitiam tristeza.Então ele sorriu, mas mesmo assim, o sorriso não chegou aos seus olhos, que não brilhavam já fazia tempos.

–O que a monitora certinha faz aqui a esta hora da noite?-Questionou um James Potter risonho.Sorri.

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–Para seu governo, Potter, não sou tão certinha assim.Estou sem sono.-Acrescentei.Ele sorriu, e mirou o céu estrelado, soltando um suspiro.

–É, eu também estou sem sono.-Engoli o bolo na minha garganta.Algo me dizia que a culpa era minha.

Ultimamente, James não havia me convidado para sair.Tinha parado com suas cantadas infames, e não me paquerava na frente da escola toda.Sirius havia me dito que James tinha desistido de mim.E eu acreditava plenamente nele agora, já que eu podia ver a tristeza de seus olhos.Potter chegava até a me contagiar com tanto melancolismo.

Mas no fundo, James não havia desistido de mim.Eu sabia disso.Ele estava só se magoando, porque, agora que ele me ignora, ele me deu uma esperança de que nós possamos ficar juntos.Talvez esse seja o seu plano.Ou talvez, ele me ama, e desistiu de mim porque acha que eu não me amo, e então, bem, ele fica assim, triste, sem mais nenhuma razão para viver, já que seus pais morreram, e não tem irmãos, e a única coisa que ele tem na vida, é o apoio de seus amigos.

–Talvez você deva compartilhar seus sofrimentos...-Comentei.Isso melhorava, mas eu também estava curiosa pelo motivo de ele não poder dormir.O que será que tirava o sono de James Potter?Ele sorriu.

–É irônico que a única pessoa que esteja aqui comigo, é única para quem eu não quero contar meus sofrimentos.-Ele disse.Sorri.

–Se quiser, pode fingir que sou outra pessoa.Ou até mesmo fingir que não estou aqui, e que está falando sozinho.Se isso melhorar...-Eu disse.Ele me olhou.

–Posso fingir que você é minha mãe.Você é bem parecida com ela.Olhos verdes, cabelos ruivos, sempre risonha...-E dizendo isso, uma lágrima se formou em seu olho esquerdo.Eu senti um aperto no peito, e uma vontade repentina de abraça-lo.Sorri.

–Pode ser.E se te fizer sentir melhor, eu te conto meus sofrimentos depois.-Eu disse.Ele sorriu, ainda com uma lágrima lhe escorrendo pelo rosto.Senti um impulso de limpa-la, mas consegui me conter.

–Já parece a minha mãe falando desse jeito.Sabe, dizer coisas como "É para o seu bem" ou "Se isso te fizer senti melhor...".-Sorri.Ele retribuiu o sorriso.

–Sou uma boa atriz.Devo interpretar meu papel corretamente.-Então eu passei meu braço pelos ombros dele, fazendo-o recostar a cabeça no meu peito.Brinquei com os cabelos dele e disse, com uma voz responsável e caridosa, como uma verdadeira mãe faria.-Pode falar pra mamãe o que te aflige.

–Eu não consigo parar de pensar nela,mãe.-Ele fechou os olhos, e disse com a voz tristonha,como se estivesse mesmo falando com a mãe.-Ela tira meu sono a noite, tira meu fôlego de dia, e agora chega até a perturbar meus sonhos.Mas ela não gosta de mim.E dói ,mãe.Muito.E, a única coisa que eu quero saber no momento, é como fazer parar de doer.Como esquecer ela.

Engoli em seco.Eu sabia exatamente de quem ele estava falando.E agora eu também sabia que el sofria por mim.Ele suspirou, e mais uma lágrima escorreu pelo seu olho esquerdo.

–E eu sinto sua falta mãe.E mais que tudo, sinto falta de você.-Ele disse, e com um último suspiro, abriu os olhos.Então ele sorriu tristonho.-Por um momento, cheguei a pensar que você era ela.

–Amigos...-Comecei.Engoli o nó na garganta e continuei, sorrindo.-São para essas coisas.

–Agora.-Ele disse com um sorriso, dando tapinhas em suas coxas.-Pode falar pra mim a sua dor.-Sorri, e deitei minha cabeça em seu colo.Ele começou a fazer carícias e eu suspirei.

Fechei os olhos, e tenteio imaginar com quem eu queria falar sobre isso.Marlene provavelmente riria da minha cara.Dorcas daria lição de moral.Alice seria carinhosa demais, fantasiaria demais, e me daria falsas esperanças.Petúnia nem me ouviria.Mamãe enlouqueceria.Meu pai sentiria ciúmes.

A única pessoa que eu conseguia me imaginar falando aquilo, era James.Então abri os olhos, encontrando olhos castanho-esverdeados me olhando.Sorri e comecei a dizer.

–No começo, eu neguei meus sentimentos.Eu saí da cama tentando esquecer.Mas aí, eu cheguei na Torre de Astronomia e encontrei a pessoa perfeita para conversar.Mesmo que não falando muito com ela, e na maioria das vezes em que eu lhe dirigia a palavra, era com desprezo, eu soube que só essa pessoa poderia me entender.Afinal, não foi ela que passou anos a fio sofrendo por mim?

Suspirei novamente e olhei no fundo dos olhos de James, que tinham um brilhinho de esperança.Forcei as palavras saírem por minha garganta.

–Eu sentei ao lado dela, inicialmente desconfortável, afinal não era ele que eu pensava que tinha um coração de pedra, que nunca sentiu alguma coisa na vida?Mas aí eu ouvi as coisas que ele me disse, e pude perceber o quão idiota eu era.Anos procurando a pessoa certa, anos procurando o amor da minha vida, o homem dos meus sonhos, e nunca na vida, percebi que eu não queria um príncipe.

Ele sorriu.Eu retribuí.Fechei os olhos, lembrando do que minha mãe me disse uma vez "As vezes, não precisamos de um príncipe, querida.Ás vezes, só o que a gente quer, é um pouco de carinho.Mesmo que esse carinho venha do sapo mais horrendo, nós o aceitamos.Porque, querida?Porque nós não procuramos perfeições, e sim defeitos para amar.", e só agora entendi o que ela queria dizer.Eu não queria alguém perfeito.Não queria o príncipe.Eu queria o sapo, aquele de que eu dizia que nunca iria gostar, aquele que eu sempre tratei com desprezo.Eu agora, só queria alguém com defeitos.Uma pessoa com tantos defeitos, que fosse capaz de amar as minha imperfeições também.Abri os olhos e sorri.Continuei.

–Eu quero o sapo.Sempre quis o sapo.Porque, quando eu ama-lo, ele vai virar meus príncipe.-E dizendo isso, eu me levantei, ficando sentada ao lado de James, que me olhou confusa.-Eu quero o James.Eu sempre quis o James.Mas fui cega demais para perceber isso.

E dito isso, eu o beijei.E posso dizer, que aquele não foi o único.Na verdade, milhares de beijos se seguiram depois desse, mas nenhum se comparou ao beijo do alto da Torre.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.