Amor internacional

Nunca vá ao Havaí


O diretor do colégio se deu o trabalho de ligar pra todas as famílias dos alunos que foram para a excursão dizendo que iria reembolsar o dinheiro (imagino ele chorando nessa hora) e que teríamos a segunda feira de folga depois do que ele nos fizera passar.

Como o prometido, no dia seguinte eu iria com Kim para o médico, e ela estava tão ansiosa que me ligara um milhão de vezes no domingo me contando que precisava saber como era, e perguntando como que contaria aos seus pais. Eu a ajudei, e depois passei a tarde inteira com Peter antes de ele ir para a casa de John para ter uma conversa. E, bem, eu estava muito ansiosa pra saber sobre o que eles conversariam.

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– Peter Von Uckerman, me fala! – Exclamei, ficando na sua frente e pondo as mãos na cintura, irritada.

– Eu já disse um milhão de vezes, Celina! Eu só vou conversar com ele, e pronto. – Explicou, tentando enxergar a TV atrás de mim, enquanto apertava botões que nem um macaco adestrado.

– Não disse, não. – Bufei, e tirei o cabo USB da TV, fazendo o joguinho bobo dele desligar e Peter começar a ter um chilique.

– Você está parecendo uma menininha, Peter. Senta aí, vai, e me fala exatamente o que vai falar. – Pedi, com um sorriso afetado, sentando ao seu lado.

– Eu te conto depois. Ah, e por falar nisso, já são duas horas. Tô indo pra lá, tchau, Pouca Sombra. – Antes que eu pudesse protestar ele me deu um selinho e saiu de casa.

Ele me tira do sério!

Peter.

Eu tentei me fingir de calmo e acho que Celina acreditou, quando na verdade estava com vontade de furar os olhos do John com um garfo. Ok, ele não tinha culpa da minha fúria, pra falar a verdade, mas enfim. A Celina é linda, legal e divertida, então acho que meu amigo podia muito bem querer sair com ela, principalmente achando que eu nem ligava. Mas eu ligo, e muito, só que ele não sabia, então resolvi me acalmar e respirar fundo umas quarenta e cinco vezes antes de entrar na casa dele.

– Olá, Sra. Waterson. – Sorri ao ver a mãe de John (sua cópia feminina mais velha).

– Peter, querido, entre. John está no quarto assistindo um filme com a namorada. – Sorriu ela de volta. Antes que eu pudesse perguntar ela me levou até a porta do quarto, pediu para eu bater antes de entrar e foi para a cozinha.

Bati na porta e ouvi alguma agitação antes de John aparecer descabelado e vermelho, com a roupa amarrotada. Eu devia estar com uma cara de taxo, já que ele logo perguntou o que havia acontecido.

– Posso entrar? – Perguntei, seco.

– Claro, é claro. – Ele assentiu. – Julia, meu amor, você pode ir ajudar minha mãe na cozinha até eu acabar de conversar com Peter?

– Claro... – Uma voz conhecida disse lá de dentro, e logo vi Julia saindo do quarto com a cor de tomate típica das meninas quando se envergonham. – Oi Peter.

Cumprimentei-a e a esperei ir até a cozinha. Entrei no quarto que, pela primeira vez desde que os dois haviam terminado, estava arrumado e cheiroso. Fiz a minha tática de respirar várias vezes antes de falar algo que me incomodava enquanto John me encarava, sentado na cama.

– Três palavras. – Eu disse, por fim. – Eu. Celina. Você.

Vi seu rosto se iluminar em compreensão e depois John fazer aquela cara de envergonhado típica dele. Quando éramos crianças, toda vez que algo acontecia, nós fazíamos o jogo das Três Palavras. É mais ou menos assim: Quando alguma coisa nos incomoda, falamos três coisas envolvidas no problema e logo o outro entende.

– Cara... Ela está triste comigo e você veio tirar satisfações? – Perguntou.

– Não, idiota. Eu vim aqui pra te dizer que gosto dela e não quero mais que você chegue perto dela daquele jeito. – Disse, vendo que a minha tática da respiração havia funcionado ao perceber minha voz só um pouco alterada.

– Você? Gosta... Meu Deus, Peter, você finalmente está gostando de alguém! – Exclamou ele, e fez uma festa antes de sentar novamente. – Mas não se preocupe amigo. Como percebeu, eu e a Ju voltamos. Mais felizes do que nunca.

– Isso é ótimo, cara. – Sorri, sincero.

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Contei para ele da noite passada e John ficou bem feliz, além de me deixa aliviado ao dizer que não sentia nada forte por Celina. Perguntou se namorávamos e eu neguei. Mesmo sentindo algo próximo a amor por ela, queria esperar mais pra namorar, por que... Bem. É uma longa história, mas eu conto.

Eu tinha quatorze anos. Lembra que eu disse que eu nunca havia me apaixonado? Mentira. Me apaixonei sim, uma vez apenas, por a garota mais linda que eu já havia visto no auge da minha oitava série. Ela era ruiva, tinha os cabelos longos e cacheados, a pele branca como papel e um leve rosado no rosto. Os olhos dela eram de um cinza tão profundo e gelado que, sinceramente, eu me sentia no meio da tempestade mais forte e apaixonante do universo.

Nós começamos a sair. Não foi o sentimento mais forte do mundo, como uma paixão real e gigante, assim como eu vi que poderia sentir por Celina, mas foi o mais forte que a idade permitiu. Eu era como se fosse sua mascote, não seu namorado, mas mesmo assim eu não tentava me proteger porque para mim, aquilo era o jeito dela de demonstrar que me amava também. E então, quando chegaram as férias, Dalilah (o nome da tal) viajou para o Havaí e, depois que voltaram as aulas, todos menos eu sabiam que ela havia ficado com 13 meninos.

Eu não acreditei, é claro, até ir falar com ela. Dalilah me encarou com aqueles olhos frios e tempestuosos, e ouvi da sua boca pintada de vermelho todas as palavras que haviam me dito. E eu me lembro até hoje, tudinho. Ela riu que nem uma bruxa de desenho e disse:

– Ah, por favor, Pet. Você achou mesmo, de verdade, que eu ia gostar de alguém como você? – Me olhou de cima a baixo. – Você beija bem, mas por favor, eu valho mais que isso.

– Você está me machucando, Lilah. – Eu consegui dizer, mesmo com um nó gigante na garganta.

– Baby, – Ela disse, passando a mão pelo meu rosto com um sorriso compassivo e dizendo a frase que me fez chorar durante dias. – I was made to break your heart*.

Parece frase de novela mexicana, mas me afetou tanto porque era da nossa música, *Suck it and See. Depois disso, parei de usar meu cabelo-cuia e fiz um penteado legal, passei a usar roupas descoladas e ficar com várias garotas. Então, dois anos depois, soube que Dalilah havia se mudado para o Havaí com a família para viver com o pai do seu segundo filho.

Moral da história: Nunca vá para o Havaí. Ou, nunca seja tão cruel com alguém que não merece. Você escolhe.