Amor internacional

Melhor dia


Eu ria tanto que lágrimas escorriam pelo meu rosto. John ria junto.

– Não, é sério! – Disse, após tomar fôlego. – Ele fez mesmo isso. Caiu dentro do mar gelado, chegou em casa tipo um pai-colé.

– Não acredito que seu pai resolveu pescar em pleno inverno, John. – Falei, ainda rindo um pouco enquanto limpava minhas lágrimas.

Nós dois estávamos parados, sentados em um banco no playground em frente à sorveteria, nos balançando em um balanço grande o suficiente para nós dois. John era bem mais legal do que eu pensava, já que durante todo nosso passeio ele tinha me feito rir muito, o que fora quase um milagre tendo em mente o que tinha acontecido naquele dia. Pelo menos, eu tinha esquecido Peter por algumas horas. Sinceramente, eu estava tão triste que se não fosse por John, já teria comido uns dois potes de Nutella e assistido quatro vezes Titanic. Sim, eu sempre fazia isso quando tinha alguma desilusão amorosa (para a infelicidade da minha saúde, já que dois potes de Nutella definitivamente não são pouca coisa).

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– Agora, falando sério – Começou ele. – Porque você estava chorando quando cheguei na sua casa?

Respirei fundo, e meus sapatos pareceram bem mais interessantes do que seu rosto naquele momento.

– É que... Peter e eu brigamos.

– Entendo... Mas olha, não fica triste. Mesmo sendo meu melhor amigo, Peter tem um gênio bem forte e isso é fato. – John pegou de leve meu queixo me fazendo encará-lo. E já que nós estávamos no mesmo balanço estreito, eu fiquei tipo, a um centímetro do seu rosto. Preciso dizer que corei como um pimentão? – Acho que você deveria esquecer um pouco isso.

– Também acho. – Concordei, mirando sua boca, e estávamos quase nos beijando quando ouço uma voz familiar.

– Celina. – Chamou Peter. Rapidamente me separei de John e me pus em pé, com uma expressão seca.

Ele não parecia nada bem, de verdade. O nariz estava vermelho por causa do vento frio (ele sempre espirrava quando estava ventando muito) e parecia meio pálido.

– O que você quer?

– Podemos conversar? – Perguntou, me encarando.

– Tem mesmo que ser agora? – Respondeu John com uma pergunta, tirando as palavras de minha boca.

– Sim, agora. – Respondeu Peter, me puxando para um canto.

– Então tá. – Disse John, se levantando e vindo falar comigo, me dando um abraço. – Preciso ir então, Cê. A gente se vê.

Assenti, frustrada, e ao ver meu quase ficante se afastar, pus as mãos na cintura e encarei Peter, indignada.

– Que droga, Peter! Satisfeito? Mandou o cara embora. Eu estava me divertindo aqui, sabia?

– É, eu percebi. – Comentou, rolando os olhos. – Mas eu tenho uma coisa importante pra conversar com você.

– Ah, sei. Veio pedir desculpas, é? – Perguntei, bufando. – Pois saiba que eu ainda estou muito irritada e não quero conversar. Por sinal, hoje você vai dormir no sofá. Pra garantir, eu...

– Celina, cala a boca! – Ele se descontrolou por alguns instantes e eu arregalei os olhos, surpresa. – Pode me deixar falar, por favor?

– Não, não posso – Repliquei. – Licença.

Eu me virei para ir embora, mas ele me seguiu e puxou meu braço.

– Porque você tem que ser tão irritante?! – Exclamou. – Me deixa falar!

– Tá, fala, mas fala rápido porque...

– Caramba, Celina, eu gosto de você! – Me pegou completamente desprevenida. – Finalmente ficou calada, não é? Eu gosto de você. Não suporto esse seu gênio forte, meu Deus, não gosto quando você me chateia, não gosto quando você me bate ou me dá lição de moral, mas incrivelmente eu gosto de você. O seu conjunto, tudo isso junto, é perfeito pra mim.

Eu estava totalmente atônita. Não consegui emitir nada além de “Ah... Tá ok...” e acho que ele ficou meio decepcionado com isso. Novamente meu cérebro retomou aquela coisa irritante de querer analisar ele. Seus olhos me fitavam, sérios e suplicantes, e ele mordia o lábio inferior como se estivesse nervoso. Percebi que ele suava um pouco e me lembrei de falar.

– Eu também. Gosto de você demais, Peter. E você não sabe o quanto você me magoou quando parou de falar comigo. – As malditas lágrimas começaram a surgir de novo nos meus olhos. – Eu não suporto esse seu jeito de olhar pra todas as meninas, nem quando você deixa sua toalha molhada em cima da cama, nem como você implica comigo, nem como...

– Tá bom, chega. – Cortou ele, me puxando pela cintura para perto de si. Senti sua respiração e o cheiro de erva doce do seu remédio, que sempre tomava nos dias frios.

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Ele chegou perto de mim devagar. Eu tinha plena consciência de uma de suas mãos em minha cintura e outra em minha nuca, enquanto eu segurava seu rosto. Finalmente ele encurtou nossa mínima distância com um beijo.

Foi completamente diferente do dia em que nos beijamos no acampamento. Ele estava sendo carinhoso e cuidadoso, como se eu pudesse quebrar, e dessa vez eu não me preocupei com nada. Era como se o playground não estivesse lá, como se John não estivesse ali cinco minutos antes, como se existisse apenas eu e Peter.

Não posso dizer quanto tempo passamos lá, mas fomos de mãos dadas para casa. Eu estava tão feliz que nem prestei atenção no caminho.

– Peter, Celina! – Exclamou Hudson, desviando os olhos da televisão que passava o jogo de basquete de sei lá quem. – Vocês nem vão acreditar que vem para cá amanhã de noite!

– Quem? – Perguntei, aérea, sentindo o cheiro delicioso da comida que Lola estava preparando na cozinha.

– Sadie! – Exclamou Hudson. Eu franzi o cenho em confusão, mas Peter deu um sorriso gigante e virou pra mim, repetindo “Sadie!”, animado. Senti um pouco de ciúmes.

– Sadie? Quem é Sadie? – Perguntei.

– A irmã de Peter, nossa filha mais velha, querida. – Explicou Lola, saindo da cozinha enquanto limpava as mãos no avental. Desanuviei a expressão e sorri. – Ela ligou hoje dizendo que queria fazer uma surpresa, mas queria saber se estaríamos aqui.

Nós nos sentamos pra jantar e eles me mostraram Sadie em uma das fotos que haviam na sala. Eu já havia visto e Peter já me dissera quem era, mas não estava lembrada do nome. Ela era realmente muito bonita, tinha cabelos louro-escuros como os de Peter e olhos castanhos. Parecia uma adolescente surfista, mas segundo a família ela já tinha vinte anos e morava em Paris, onde fazia faculdade.

Depois do jantar, eu e Peter jogamos videogame e depois acabei adormecendo enquanto ele me contava a história do Bowser. Preciso dizer que estava feliz como nunca?