12 anos em 12

Capítulo 54


Os dois permanecem imóveis. Vitor vai para a janela e tenta se acalmar, enquanto Paula o observa.

– Não pensei que você fosse capaz...

– Também não pensei que você fosse...

– Chega disso! - se vira para ela. Pare de falar como se eu tivesse te traído! Não admito mais! Já falei a verdade, se você quiser acreditar, bem! Se não quiser, para que, né? Está pedindo o divórcio...

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– Vitor...

– Agora você vai me ouvir! Não sei o que está passando pela sua cabeça, mas coisa boa não é. Aguardei seu tempo para tudo! Todos esses anos fui para você o melhor de mim... Eu errei sim, eu paguei muito caro por isso, mas eu reconheci e fui em busca de você de novo. Enfrentamos tantas coisas para estarmos juntos de novo! Para agora você não confiar em mim...

– Eu...

– Já falei CHE.GA!

– Não grite comigo...- se segura. Você está perdendo a cabeça, é melhor pararmos por aqui...

– Me diz como não perder com tudo isso acontecendo, ainda mais por algo que não fiz? - sai chorando.

– Vitor...- o segue. Eu...

– Vai embora, Paula... - sobe as escadas.

Imóvel, o observa sair de perto de si. Nesse momento se recorda do quanto ele começa agir estranhamente, confundindo as coisas mais simples, estando longe dela. Via o cansaço em seus olhos, a tristeza como se fosse parte de si. Já não desconfiava dele... Na verdade, sempre havia algo no fundo lhe dizendo que ele não tinha feito nada demais. Mas, a mente lhe jogava aquela imagem e tudo parecia reverberar em si. Busca por Vitória, se despendido de Marisa sem entrar em muitos detalhes. Coloca Vitória na cadeirinha e segue para a fazenda. Ao ligar o som para não ouvir o próprio choro, mergulha na canção, cantando para Vitória que parece entendê-la perfeitamente...

– Foi a última canção que ele ouviu nesse carro... Ainda está aqui.

Ela olha a filha na cadeirinha, como se já fosse grande a observando com aqueles olhos que tanto lembravam o pai.

– Você tinha que se parecer tanto com ele? Acho que já falei isso...- enxuga as lágrimas. Mamãe está bem... Só está com saudades dele. Você também? - a olha, ainda a observando como se a questionasse. Também, né... Eu sei.

O caminho interio vai repetindo a canção, se recordando dele cantarolar ela enquanto andavam.

– If you gave me a chance, i would take it... It's a shot in the dark but I'll make it, know with all of your heart... - canta.

Vitória bate palmas a cada vez que os vê cantar. O som a agrada e ali não estava sendo diferente.

– Gostou? - ri. Mamãe vai cantar mais, então... We're a thousand miles from comfort, we have traveled land and sea... But as long as you are with me, there's no place I'd rather be... - canta a olhando bater palmas, se divertindo. O que eu era antes você, hein!? - sorri.

Minutos depois chegam na fazenda. Diva as esperam na porta, junto de Dulce, Cintia, Sol e Lucy.

– Reunião? - pega Vitória e sai.

– Bom dia! - Dulce se aproxima e pega a neta. Meu bebê...

– Bom dia... - sorri.

– E como foi?

– Como Vitor está, Paula?

– Foi uma comemoração pequena... Só a mãe, Leo, Tati, as crianças.

– Você...

– Leo jogou comigo! Me enganou... Quando combinamos que ele não estaria lá, quem abre a porta? - entram.

– Ele? - pergunta Cintia.

– Ele...

– Daí você abraçou ele?

– Beijou, né... Diva.

– Nada disso! E ele está bem...- mente.

– Não acredito nisso...- Diva se entristece.

– Diva...- coloca as bolsas no chão da entrada.

– Com licença...- sai.

– Paula...

– O que posso fazer, Cintia?

– Trazer Vitor de volta para cá, seria uma boa.

– Vamos conversar... Agora! Eu te espero no quarto...- Dulce segue com Vitória.

– Lucy, arrume as roupinha dela que estão na mala? Já a trago...

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– Tudo bem...- pega a bolsa e sai.

– E então...? Agradeceu o carro por mim?

– Aham...- mente.

– Nem tive essa oportunidade...Você poderia deixar de ser orgulhosa. Tem ele como maior exemplo que isso só faz as pessoas quebrarem a cara!

– Até você, Cintia? - sai. Por hoje não...

Ao chegar no quarto, Dulce a aguarda sentada na cama com Vitória.

– Deu trabalho essa noite...- fecha a porta. Na verdade acredito que só estranhou a casa...

– Onde dormiram? Você só me ligou dizendo que ia ficar por lá...

– Na Marisa...- senta-se com elas.

– E o Vitor?

– Na Marisa...- olha para ela.

– Vocês dormiram juntos?

– Claro que não, mãe!

– Como ele está, Paula? De verdade...

– Cansado, abatido. - se entristece.

– Por que continuar com isso...? Me explica...

– Não sei...- abaixa a cabeça. Eu já não sei... Eu me senti tão péssima tendo que negar ele toda hora, sendo que, o que eu mais queria era tê-lo!

– Você falou de divórcio?

– Falei...- volta a olhá-la. Discutimos na casa da Marisa, ele se enfureceu, começou a chorar...

– O que você quer fazer, Paula...? Porque não entendo...

– Ainda não sei... Mãe, se a senhora visse o quanto ele ficou feliz em ver Vitória...- não se segura. Me senti um nada...- chora. A reação dela perto dele... Jamais deveria ter afastado ele da Vitória, seja lá por quanto tempo for. Me arrependi tanto...

– E afastando ele da casa dele, também...

– Isso é outra coisa que...- se levanta, tentando se conter.

– Que...?

– As roupas que ele estava vestido... O jeito que estava. Parecia não ter lugar em lugar nenhum e veio me dizer isso....

– Vocês conversaram?

– Sim... Quero dizer, ele foi falando e eu evitando para não me sentir mais culpada.

– Paula... - coloca Vitória no berço. Ninguém está te culpando por sua dor que eu imagino que foi imensa. Nada o favorecia naquele momento. O que eu estou fazendo é tentar que você veja que o impulso em decisões não é a melhor escolha... Você o expulsou de casa, o proibiu de ver a filha, deu entrada em um divórcio em menos de uma semana! Você agiu pela dor, minha filha. Não pensou nas consequências...

– Eu sei, mãe! Agora eu sei...

– Você deveria ter pensado um pouco...

– Mãe...- se vira para ela.

– Tudo bem, não falo mais! O advogado ligou que viria hoje aqui... Daqui a pouco deve estar chegando. Vou me deitar um pouco... - para na porta. Pense bem no que vai fazer!

Evita responder, indo de encontro com Vitória que se distrai com um brinquedo no berço. Pega a filha e vai até o closet, colocando-a no chão.

– A mamãe não fez nada disso para o seu mal... - começa ver as roupas dele. Estava péssima, Vitória... Senti que nada mais tinha sentido e nada do que a gente tinha vivido foi importante para ele. Já estava me corroendo ele ter tratado daquela maneira a nossa viagem... Mas, eu não tive culpa, não sabia da surpresa dele. Você entende a mamãe, né?

Passa as roupas dele, uma por uma. Observando cada peça como se ele logo chegasse para vestir. Sorrindo com as camisetas que ele nunca encontrava, ficando furioso com ela achando que ela tivesse guardado em outro lugar.

– Vitória... Essa camiseta aqui, ele estava quando você nasceu! É tão linda... - olha para ela brincando no chão. Nunca quis te afastar dele... Nem que você sentisse qualquer dorzinha de saudade. - senta-se com ela. Dá para mim...- pega o brinquedo dela. Quer esse outro? - entrega. Esse não machuca...

Alguém bate na porta e Paula autoriza entrar. Era Lucy para pegar Vitória. Entrega a filha para o banho e a hora de dormir, ficando sozinha no quarto com todos os seus pensamentos. Precisava saber o que fazer agora, que decisão tomaria. Pensou novamente naquela cena do escritório e resolveu fazer uma ligação.

– Agência de viagens, Grupo Chaves. Bom dia!

– Oi... É a Paula Fernandes.

– Olá, Sra. Chaves, aqui quem fala é o Gabriel.

– Tire o Sra. - ri. Já conversamos quando estive aí...

– Sim, perdão.- ri. No que posso ajudar?

– Gostaria de falar com a Erica.

– A Erica pediu demissão faz dois dias...

– Ela pediu demissão?

– Sim, ela mesma.

– Você poderia me passar um número particular dela? Preciso muito conversar com essa moça...

– Claro! Você é uma das proprietárias, então posso passar. Só um minuto...

– Obrigado. - aguarda.

Minutos depois, o funcionário da agência passa o número particular de Erica e Paula resolve ligar para ela.

– Quem fala?

– A Paula.

– Paula!? Paula Fernandes?

– Ela mesma, Erica...

– Paula, gostaria mesmo de falar com você. Sobre o que houve aquele dia...

– Só quero que me responda uma coisa...

– Sim...

– Por que você saiu do banheiro naquele momento? O que você ia fazer daquele jeito na sala dele? Me responda a verdade Erica... Sei que você já deve ter se decepcionado muito na vida, entenda minha dor também.

– Ouvi você chegar. Pensei que mais cedo ou mais tarde, você descobriria e seria pior se eu ficasse escondida... Iria parecer que realmente havia algo. E não houve e nem haveria...

– Você em algum momento apareceu daquele jeito para ele?

– Não... Claro que não! Mesmo que eu e Vitor já tenhamos saído algumas vezes, eu aprendi respeitá-lo desde aquele ocorrido. Ele não me viu daquela maneira... E quando sai foi realmente para tentar evitar algo que infelizmente aconteceu. Sinto muito por vocês...

– Por que pediu demissão, se diz precisa desse dinheiro?

– Uma vez, vocês já toleraram... Na segunda, achei melhor eu sair.- um longo silêncio se instaura. Paula!?

– Oi...

– No seu lugar, eu agiria da mesma maneira. Não havia muito o que se pensar naquele momento, eu entendo... Mas, não houve nada. Mesmo! Muito menos haveria, pois estou namorando também e dessa vez com uma pessoa que realmente me respeita e não faria nada para magoá-lo.

– Sim...

– Sei que você deve ter ficado muito decepcionada, furiosa... Se sentindo traída por alguém que você amava tanto. É uma dor terrível...

– É sim...

– Mas, ele realmente não fez nada demais. Nem eu...

– Tudo bem... Preciso desligar! Tenha uma boa tarde.- desliga.

Deita-se olhando para o teto. Sabia que errou em ter tomado atitudes muito impulsivas, em tão pouco tempo. Mas, não se culpava pela dor que sentiu. Não sabia o que pensar quando os viu naquela sala, não havia o que se pensar. O problema agora era como iria resolver tudo isso.

– Entre...- alguém bate.

– Paulinha?

– Diva...- se senta.

– Podemos conversar?

– Claro! Entre...

– Prefiro que seja na cozinha...

– Tudo bem...- levanta-se, a acompanhando. Algum problema na casa?

– Não... Está tudo bem. Ao menos por aqui...

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– Sim...- a observa. Tem aquele bolo maravilhoso que você faz? - senta-se.

– Não... Era Vitor quem sempre pedia, ninguém me falou mais nada. Mas, se quiser antes de sair eu faço...

– Sair? - é servida com uma xícara de café.

– Paulinha...- senta-se. Quero pedir minha demissão...

– O quê? - se assusta. Demissão? Não...

– Paula, eu vim para cá porque Vitor veio. Sempre fui funcionária dele...

– Diva... Você não pode pedir demissão. Você viu Vitória nascer, nos ajuda a criar ela...

– Eu sei...- começa a chorar. Vou sentir muito a falta daquela pequena...

– Não Diva...- segura a mão dela. Você não pode sair daqui!

– Vitor sempre me ajudou, Paula. Ele sempre foi muito bom para minha família... Meu filho trabalha na fazenda do Leo e Lucy veio cuidar de Vitória. Me sinto... Não sei explicar. É que foi tão doloroso o jeito que ele saiu daqui.

– Eu sei...- abaixa a cabeça. Me dê um tempo...- a encara novamente. Vou resolver tudo isso...

– Eu...

– Você entende a dor que sinto?

– No início não entendia. Mas, depois te vendo aqui pela casa eu entendi... Imagino que tenha ficado muito mal. Que tenha se decepcionado muito com ele e que naquele momento ele realmente não tinha nada a favor...

– Sim...

– Mas...

– Entendo...- a interrompe. Entendo que tomei algumas atitudes, muito...

– Sim. Ele merece uma boa lição, sim! Não estou aqui dizendo que ele fez tudo certo... Que ele é perfeito e você foi errada. Não é nada disso... Nenhum dos dois foram certos e nenhum dois foram errados. Vocês só não se equilibram...

– Sim! Diva... Faça o bolo, porque quero comer! E... Vou tentar resolver... Prometo.

– Tudo bem.... Vou aguardar sua decisão.

– Obrigado...

– Ele está bem?

– Um pouco abatido... Todo relaxado, como eu nunca o deixei ficar!

– Imagino...- ri.

– Paula! - Sol chega.

– Oi Sol...

– O advogado, chegou!

– Certo...- respira fundo.

– Peço para ele ir pro escritório?

– Não tem necessidade...- se levanta. Nosso negócio vai ser rápido! - sai.

– Boa tarde, Paula...

– Boa tarde, Filipe...- o cumprimenta.

– Vim te avisar que Vitor recebeu a notificação hoje.

– Hoje!?

– Sim, como combinado. O próximo passo será uma audiência de reconciliação, que o juiiz...

– Filipe...- o interrompe. Senta-se...- sentam-se. Eu queria te falar uma coisa... - respira fundo.

– Sim, o que quiser...

– Não quero mais o divórcio.

– Não!?

– Não... - o observa. Fiz isso em um impulso e... Enfim, não é a melhor solução para mim e Vitor.

– Bem... O que posso dizer? É você quem manda... Eu só obedeço.

– O que você vai fazer agora?

– Me parece que nem advogado ele tem ainda... Provavelmente porque soube faz pouco tempo do divórcio. Se ele quiser prosseguir, nós teremos que ir a juízo... Está nas mãos dele, agora.

– Quer dizer que mesmo que eu queira desistir, se ele quiser prosseguir...

– O processo segue em frente. Você entrou com divórcio litigioso... Sem que ele quisesse. Agora desistiu, mas se ele quiser continuar...

– O que fui fazer? - se levanta. Mas, ele não vai querer... E não querendo, o que acontece?

– Encerra tudo antes mesmo de irmos a audiência, ficando tudo como está.

– Ótimo! Você poderia falar com ele? Que eu não quero mais o divórcio...

– Sim...- se levanta. Farei isso ainda hoje...

– Ok... Estarei aguardando o que ele disser. - o cumprimenta.

– Mandarei notícias! Até mais...- se retira.

Um medo lhe consome, se Vitor agora quisesse continuar?

– DIVA! - grita enquanto pega a bolsa e as chaves.

– Sim? - aparece.

– Estou indo para a cidade... - sai.

– Fazer o que!?

– Outra hora explico! - diz já entrando no carro.

Procura pelo celular, mas se lembra que o deixou no quarto. Segue para a cidade, com a intenção de chegar lá antes que o advogado. Passa por ele na estrada, mas não a vê devido aos vidros erguidos. Ao chegar na casa de Marisa, desce do carro correndo.

– Bom dia! - passa pelo jardineiro.

– Bom dia, Sra. Paula.

– Tem alguém em casa? - toca a campainha.

– Tinha sim... Só não sei se saíram!

– Oi! - a funcionária atende. Posso entrar?

– Claro, nem precisa pedir...

– Com licença.

– O Vitor já saiu?

– Não... Está no escritório com o irmão.

– Certo...- sai.

Ao se aproximar do escritório, ouve Leo e ele conversando.

– Você precisa aceitar!

– Leo, por favor... Estou cheio de coisas na cabeça.

– Vitor, escuta... Isso vai ser ótimo! Você precisa aceitar esse convite...

– Leo! - se vira para ele. Deveriam ter convidado você!

– Mas, convidaram você que é quase a mesma coisa.

– Quase...- vai até a mesa.

– Olha... Se você não aceitar isso, será...

– Leo, por favor... Outro momento nós falamos sobre isso. Preciso arrumar um advogado...

– Advogado?

– É...

– Para quê?

– Aqui...- entrega a citação de divórcio para ele.

– A Paula só pode estar brincando! Ela está maluca?

– Pode entrar...- ela bate.

– Bom dia. - aparece na porta.

– Você escutou eu te chamando de maluca? Porque daí economizo saliva agora!

– Escutei Leo...- entra.

– Leo...- se levanta. Nos dê licença.

– Paula... Você não vai fazer isso, né? - a encara.

– Leo! Por favor...- vai até ele, o empurrando para fora. O assunto é nosso! Depois a gente se fala...- fecha a porta. O que veio fazer aqui? - volta para a mesa. Se é trazer o resto das minhas coisas, obrigado... Estou realmente precisando.

– Não...

– O que é então? - se senta.

– Falei com meu advogado faz pouco tempo...

– Paula...

– Vitor...- o interrompe. Pedi que ele cancelasse o divórcio! Ele viria falar com você, mas acredito que isso eu mesma tenha que fazer. Errei em algumas atitudes, fui impulsiva... Mas, pensei bem e vi que essa não é a solução para gente.

– Qual é a solução para gente?

– Eu...- se senta. Vitor, por mais que eu saiba que não houve nada, você precisa entender o quão mal eu fiquei!

– Eu sei... Me arrependo de ter ido lá. Não deveria ter ido... Claro que entendo sua dor! Mas, você nem quis me ouvir...

– Sim... Naquele momento eu não sabia o que pensar...

– Também não saberia, Paula...- abaixa a cabeça. Mas, você deveria saber que eu não te trairia!

– Eu sei... Me perdoa. É que na hora a gente nem pensa em nada... Eu vi tudo ali daquele jeito, o que ia concluir?

– Você tem desconfiado de mim de uma maneira... E você sabe que isso tem sido o motivo das nossas brigas!

– Sim... - ficam em silêncio.

– Vitória veio com você?

– Meu Deus! - corre para o telefone. A Vitória...

– O que aconteceu? - se preocupa.

– Preciso falar com Lucy...- liga.

– Alô?

– Lucy... Me perdoa! Sei que você tem a palestra e eu sai de casa sem te avisar! Olhe... Deixe a Vitória com minha mãe que já estou indo, ok!? Me desculpa, mesmo...

– Não se preocupe...- ri. Ainda está cedo... Mas, farei isso. Obrigado por me permitir ir...

– Imagina. Deixe ela com mamãe que estou voando para aí!

– Ok...

– Tchau...- desliga. Preciso ir...

– Espera...- segura-a. Não vamos mais nos divorciar, mas não terminamos a conversa. Se sua mãe vai ficar com ela podemos...

– Vitor...- se solta. Volte para casa quando quiser!

– Paula! Voltar para casa e você ficar assim comigo? Se já sabe de toda verdade, por que...?

– Vitor... Preciso pensar ainda... - se vira para ele. Na verdade, eu não sei nem o que te falar!

– Não te entendo... Juro que não entendo.

– Desculpa...

– Por que veio até aqui conversar comigo?

– Porque não quero me separar de você! Mas, eu preciso de um tempo... Porque, como você disse, tenho feito nós dois brigarmos muito.

– Não... Eu disse que sua desconfiança sem...

– Não é desconfiança!

– Tudo bem...

– Me desculpa...

– Peça para alguém mandar minhas roupas...

– Não... É...- respira fundo. Vitória sente muito sua falta!

– E você?

– Eu? - engole seco. Eu também sinto... - se vira e sai.

Já não sabia o que fazer. O queria perto de si, perto da filha. Mas, não entendia o porquê sentia ainda aquela dor. Talvez só ele pudesse curar. Mas, não sabia mais como pedir isso. Entra no carro e vai para a Fazenda, o deixando para trás com inúmeras dúvidas sobre o que ela queria de verdade. Ao chegar na fazenda, não diz onde foi. Pega Vitória com Dulce e vai ver os bichos...

– Mamãe falou com ele... - sorri, passando a mão em um bezerro. Logo ele volta, filha... Eu espero.

– Paula...

– Oi! Tudo bem?

– Tudo certo...

– Que bom que apareceu, Elias! Quero te agradecer pela compreensão aquele dia...

– Espero que tenha ficado tudo bem!

– Vai ficar...- fecha os olhos por conta do sol.

– Vim avisar que chegou uma entrega! Parece que é um instrumento...

– Ah...- se entusiasma. É o piano... - vai para a casa.

Ao se aproximar um homem a aguarda com uma carta em mãos.

– Paula Fernandes Chaves Zapalá Pimentel?

– Ela mesma!

– Assine aqui? Por favor...

– Claro...- segura Vitória com um braço e assina.

– Muito obrigado!

– Eu agradeço! - olha pro piano, indo até ele. Que lindo!

– Me dê ela para você ver...

– Mãe, olha isso! - ri. Caramba! - senta-se em frente.

– Toque aí...

– Precisa afiná-lo! Vou pedir para Monteiro fazer isso...

– Paula...- Cintia chega. UAL! Que lindo...

– Gostou? Também adorei...- olha pra ela entusiasmada.

– Você quem comprou? - se aproxima.

– Não...- desfaz o sorriso. Esse aqui era meu presente de casamento...

– Pro Vitor?

– Não... Do Vitor para mim!

– Nossa...

– O que você tinha comprado para ele?

– Segredo...- se levanta. Que já não vai acontecer...

– Tá... Independente se vai acontecer ou não, te trouxe uma coisa. - entrega a pasta para ela.

– O que é isso?

– Monteiro enviou... Você já deve imaginar.

– Meu Deus... Droga!

– Você precisa entregar para Vitor...

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– Eu sei...

– Está tudo atrasado. Se ele é seu produtor musical, é melhor ir falando com ele logo!

– Está bem...- entrega para ela novamente. Mas, isso eu resolvo depois! Vamos almoçar?

– Vamos...

– Eba! Papa...- pega a Vitória e vai para a sala de refeições.

Enquanto almoçam pensa em Vitor. Por mais que Marisa seja cuidadosa com o filho, tem seus compromissos. Será que estaria almoçando? Hoje fizeram um dos seus pratos prediletos, lembra-se de como ele ficava quando faziam o que ele gostava; se entristece.

– O que foi?

– Nada...

– Está tudo bem?

– Está sim... Pode olhar Vitória por um minuto?

– Sim...

– Licença...- sai.

Liga para casa de Marisa, uma funcionária atende.

– Tudo bem, Ana? É a Paula... Mas, não diga meu nome.

– Tudo sim...

– Queria saber uma coisa... Marisa está em casa?

– Não, apenas o Vitor...

– O que ele está fazendo?

– Ainda no escritório. Não saiu de lá desde que acordou!

– Ele já almoçou?

– Não... Nem fizemos, porque Marisa foi almoçar com Tati e Vitor pediu para não fazermos...

– Entendi...- respira fundo. Ana, passe a ligação para ele!

– Só um minuto... - transfere para o escritório.

– Quem fala? - atende enquanto mexe em uns papeis.

– Paula...

– Paula...- deixa os papeis e se concentra. Aconteceu algo com Vitória?

– Não! Ela está bem...

– Ótimo... O que quer então? Estou ocupado...

– Vitor... - pensa. Cintia me trouxe uns papeis há pouco, preciso que você analise. São da produção...

– Ah... Precisa ser hoje?

– Precisa! Para agora tarde...- mente. Preciso que você venha analisar, porque não posso ir até aí...

– Estou sem carro, Paula... Vou tentar pegar um táxi e já chego aí.

– Ótimo! Estou aguardando... Tchau. - desliga. Agora já foi...- fala para si mesma.

Retorna para a sala de refeições e já estão terminando de almoçar. Senta-se com Vitória.

– Diva...

– Sim? - vira-se.

– Quando Vitor chegar, ofereça comida para ele?

– Tá...- sorri. Ele vai vir aqui?

– Vai... Ver os papeis da produção.

– Pensei que já vinha definitivo, Paula!

– Mãe...- volta a comer.

– Deixe de besteira, Paula! Diva... Você não vai oferecer nada, quem vai é ela. O marido é dela! A obrigação é dela!

– Nossa...- a encara.

– Quando você se casou assumiu esse compromisso! Você quem cuidaria, você quem exerceria seu papel de esposa...

– Aham...- continua comendo.

– Paula!

– Oi mãe...- a olha.

– Nada, já falei! - se levanta.

– Cada coisa... Eu já com uma filha, tendo que ouvir todo esse...

– O que, Paula!?

– Nada...- desiste.

– Quando ele chegar, ofereça a casa dele de volta. Seria uma boa...

– Cintia...- respira fundo.

– Paula...

– Gente, qual é!? Isso aqui virou o que? Ninguém mais pensa no meu lado?

– Mas, nós estamos pensando! É exatamente em você que estamos pensando... Estamos tentando te ajudar!

– Tá...

– Paula...

– Ok! - respira fundo. Eu já fui falar com Vitor... Já cancelei o divórcio! Eu só não estou bem ainda para voltar tudo como antes... Sei que não era verdade, mas ainda sinto a dor de tudo que aconteceu! - sai da sala. Quando ele chegar, entregue os papeis... Vou para o quarto.

– Paula, espere... Ninguém aqui quer te julgar! Nós entendemos sua dor... Mas, também sabemos que se você permanecer assim com Vitor, você vai sofrer bem mais. Por quanto tempo acha que conseguirá ficar longe dele?

– Mãe...

– Minha filha... Você sente falta dele. O deixe voltar para casa... Se entendam.

– Ele já pode voltar... - se retira.

– Mostre isso, além de falar...

– Tá...- fecha a porta. Fique aqui, Vivi... - a coloca no chão. Mamãe precisa guardar umas coisas aqui... Seu pai vai vir! Gosto dele comendo bem... E não nessa vida desregulada como ele tinha antes. Você não sabia como era antes, ainda bem... Seu pai não era muito certo, não! Sem horário para tudo... Responsável sempre foi, mas organizado... Nunca. Com nada. Pronto...- a pega. Quer ir nos cavalos? Vamos voltar nos cavalos!? Upa...- brinca com ela no colo, saindo do quarto.

– Paula...

– Oi Sol...- sorri.

– Vitor vem para o café?

– Também...

– Vou fazer o outro bolo que ele gosta, porque Diva já está fazendo um...- ri. Licença...

– Toda...- perplexa. Todo mundo só pensa nas comidas que seu pai gosta... Desse jeito ele não vai emagrecer nunca! - vai para fora. Mas, a mamãe até que gosta da barriguinha dele...- ri. Vamos lá... UPA, UPA!

Paula leva Vitória para perto de um dos cavalos, sem os protetores explica para a filha que não podem montar, como se ela a questionasse isso.

– Disse alguma coisa? - pergunta um funcionário.

– Não...- ri. Estou com falando com a Vitória mesmo!

– Certo...- sai rindo.

– Aiai... Agora vamos brincar com Flokinho e o Paçoca! - sai. Mamãe não dá conta, assim... Subir e descer toda hora!

Quando se aproxima da casa, vê o táxi chegando. Evita continuar e o observa chegar. Vitor desce do carro, retira o óculos escuro e entra na casa.

– Boa tarde! - sorri para Diva.

– Ah...- o abraça. Que saudade!

– Também estava...- a olha.

– Você quer comer? Tem aquele bolo maravilhoso que você ama, seu prato predileto! E Sol ainda está fazendo seu outro bolo!

– Estar em casa é tão bom... Mesmo que por poucas horas. - se vira ouvindo Vitória.

– Boa tarde...- o olha.

– Boa tarde...- se aproxima olhando para Vitória. E você? - sorri, a pegando. Onde estava?

– Nos cavalos...

– Ela adora os cavalos! - a beija, indo até a cozinha.

– Adora...- o segue.

– Me desculpa... - se vira para ela. Entrei de qualquer maneira, sem...

– Não...- o interrompe. Já te falei, Vitor... Você pode voltar quando quiser. Qualquer coisa, é só me chamar...- sai para o quarto.

– Vitor...

– Oi Diva...

– Volta para casa... Aos poucos você conquista ela de novo. Talvez ela só precise de você e tem um orgulho imenso para dizer isso!

– Não sei... - continuam andando até a cozinha. Eu realmente não sei o que ela quer... Mas, que ela precisa de mim, eu sei! Porque também preciso dela...

– Me dói tanto ver vocês dois assim...

– Dói em mim também não estar em casa com ela, com a Vitória, com vocês... Esses dias tem sido difíceis, Diva. Já não sou mais acostumado a viver sozinho!

– Me vem na mente seus tempos de solteiro... Você era sempre sozinho. Sempre independente, dono dos seus próprios horários. Quando Paula chegou, tudo mudou! E quando Vitória, chegou...

– Minha vida ganhou mais um sentido! - a beija. Ela agora quem dita todos os meus horários! - ri. Pro papai aproveitar cada segundo de um minuto... Né!? - senta-se com ela. Minha vida mudou, Diva... Sou uma nova pessoa que se descobriu em uma família. Passei tantos anos em busca de uma família, com tantas mulheres... E quando estive com Paula novamente, entendi porque nunca deu certo com as outras.

– Sempre foi ela...- o serve.

– Sempre foi... Obrigado.

– Enquanto você come o bolo, vou preparar seu prato.

– Está bem...- come, dando um pedaço para Vitória também. O problema é que agora não sei como vou fazer! Não tenho casa, não tenho mais nada... Sem a Paula e tudo que ela trouxe para minha vida, eu não sou nada. Não sei até quanto tempo ela vai permanecer assim... Fico dependente das decisões dela. Logo eu, que como você disse, sempre fui independente...

– Elas mudaram sua vida!

– Elas viraram tudo de cabeça para baixo! - olha Vitória. E agora preciso saber como me virar sem elas...

– Não diz isso! Você vai voltar para cá... Vai voltar para Paula.

– Vitor!

– Dulce...- a vê entrar.

– Espero que tenha trago suas coisas...- o cumprimenta.

– Ah...- ri. Não tenho nada além de mim mesmo...

– Espero que tenha se trago, então...- senta-se junto.

– Acho que a gente nunca se traz, de onde nunca se foi! Por mais que eu esteja longe daqui, vai ser aqui o meu lugar... O problema é o que eu disse para Diva, eu não sei me virar mais sozinho.

– Vitor... Paula durante anos lidou com seu orgulho. Sofreu por ele... Dessa vez, você sofre pelo dela. Mas, assim como ela soube te perdoar, peço que insista... Ela o quer aqui mais que qualquer outra pessoa. Ela tem sentido a sua falta, mais do que qualquer outra pessoa... Mas, ela é durona, não quer ceder! Então eu estou te pedindo... Faça isso. Chegou sua vez de insistir mais um pouco... Sei que já fez isso antes, mas faça novamente. Não fique esperando ela tomar uma decisão... Porque a decisão dela é quando você tomar uma atitude. Fique nessa casa a partir de hoje, exerça sua função de pai e esposo... Você vai ver como logo, logo ela vai ceder!

– Não quero que ela olhe para mim e se sinta...

– Vitor, Dulce está certa... Se você ficar e insistir, Paula logo vai ceder. A dor que ela sente, só você pode curar... Porque foi você mesmo quem colocou dentro dela.

– Eu sei...- respira fundo.

– Lidar com Paula é para poucos... E sei que você é um desafiador! Né, Diva!?

– E como... Aproveite do seu domínio por ela. Ao menos uma vez...

– Vocês realmente estão unidas... - riem.

– Todos estamos! Não quero ver Paula sofrer... Uma mãe nunca quer isso!

– Sei que não.

– Esse era meu pedido para você...

– Vou pensar com muito carinho...

– Sei que vai! - levanta-se. Preciso fazer uma ligação, já volto... Onde ela está!?

– No quarto... Eu acho.

– Ok... Com licença. - sai.

– Todos conversaram com Paula... Para você voltar para casa!

– Mas, eu não quero voltar só para a casa... Eu quero voltar para minha mulher, Diva. E isso eu nao sei se a Paula quer... Ao menos por agora.

– Mas, é exatamente isso que estamos falando! Você precisa ficar... Para ter ela também.

– Vou pensar! E essa comida? O cheiro está tão bom e eu estou com tanta fome... Como você adivinhou?

– Olha aí...- olha para os lados. Não adivinhei... Foi Paula quem falou!

– Como assim? - termina de comer o bolo, junto de Vitória.

– Ela me pediu para te oferecer comida quando chegasse. Acredito que ela soubesse que não havia comido ainda... Contou para mim que você estava de um jeito que ela nunca deixaria você ficar!

– Deve ter sido Ana... A funcionária da minha mãe que falou.

– Deve ter sido... Escutei por alto, mas... - observa novamente se não vem ninguém, o que faz Vitor rir. Esses papeis que você veio assinar, não são necessariamente para hoje! Ou seja... Ela só arrumou uma desculpa para você vir para casa!

– Você deveria fazer um teste para o FBI! - ri.

– Só estou te passando as informações da casa. - mexe a panela no fogão. Ah... Tem mais! - limpa as mãos e se aproxima dele. Ela ficou muito feliz com o piano...

– Já chegou?

– Já... Ela ficou... Nossa!

– Ela toca piano, mas nunca teve um em casa... Só em estúdio! Pensei que ela fosse gostar, mesmo...

– Amou! - volta-se para a panela. Amou mesmo, mesmo! - Vitor ri do jeito dela.

– Que saudade de você! Disso tudo...- ri.

– Nós estamos com saudades de você, também...

– Onde está a Sol? A Clara, Lucy, Cintia?

– Sol está fazendo seu bolo na cozinha lá de fora... Porque estavam limpando aqui. Lucy foi para uma palestra, Cintia deve estar por aí... Adorou o carro também! E Clara está no colégio.

– Que bom... Todos bem?

– É... A casa estava um pouco tensa durante esses últimos dias. Paula mal falava conosco, chegava e saia pros shows do mesmo jeito! Dulce ficou aqui para não deixar ela e Vitória sozinhas...

– Entendo...

– Você vai voltar hoje mesmo, né!? - desliga o fogão.

– Diva...- ri. Tenha paciência...

– Volte hoje mesmo que eu te ajudo a quebrar o gelo entre vocês dois...

– Só você mesmo... - ri. Como vai me ajudar?

– Faço um jantar especial pros dois... A gente dá um jeito de não ficar ninguém em casa.

– Isso aí... Nem é cócegas para Paula.

– Mas, o jantar não vai ser aqui... Vai ser no jardim! Ela vai adorar...

– Eu sou expulso de casa, proibido de ver minha filha, recebo a frieza da minha esposa a todo instante... Mas, sou eu quem tenho que reconquistar de novo!

– Claro! - vira-se para ele. Você também não foi certo...

– É, eu sei...

– E então... Posso preparar tudo?

– Está bem... Prepare tudo! - ri. Se eu acabar apanhando de Paula, a culpa é sua!

– Ela quer fazer outra coisa, não bater! - riem. Aqui está...- entrega o prato. Me dê ela para você comer...

– Vai com a tia...- entrega.

Vitor termina a refeição entre risadas. Diva conta tudo que aconteceu, novamente, em mínimos detalhes. Paula sai do quarto e os fica observando da sala. Sente-se feliz, por vê-lo rindo novamente na casa que é dos dois. Gostaria de estar lá, junto, o acariciando e dizendo o quanto sentiu sua falta, mas se priva do momento ficando de longe.