Quando Tudo Aconteceu

Capítulo XXXVI


Naquela quarta-feira chuvosa depois da aula, eu e Isabel levamos Pepel ao único veterinário da cidade para uma consulta diária, só para saber se estava tudo bem com ele. Voltamos muito mais cedo que o esperado, e caia uma chuva daquelas. Pepel todo assustado se encolhia em meus braços, enquanto Isabel segurava o único guarda-chuva para nós três, que ainda assim nos molhava da perna pra baixo. Deixando-nos ensopadas.

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Na sexta-feira durante a aula de educação física eu me sentei na arquibancada do ginásio. Estava muito cansada, tinha jogado três partidas seguidas - sem intervalos - de voleibol com as meninas da minha turma. Agora, de longe enquanto tomava água na minha garrafinha eu observava a Marina jogando futebol com os meninos da sala.

O Bernardo era o destaque, apesar de admitir não jogar muito bem nenhum esporte. De fato, ele nem era tão bom quanto o Gustavo, que praticamente é um especialista no assunto. O Miguel dá seu jeitinho, também muito desajeitado, quase sem folego correndo atrás da bola. O Eduardo aproveitou a distração do professor para fugir da aula, certamente para ver a Isabel. Bom, e a Marina praticamente é um garoto, ela não só se dar bem com os amigos, como também com todos os outros garotos da nossa turma.

Ela é como se fosse um deles.

É admirável.

― Nossa! Que lindo! O Bernardo te deu? – não tinha percebido que três garotas da turma haviam se aproximado de onde eu estava. Uma delas, a Paula Gonçalves se inclinou pra perto de mim, tocando meu colar em volta do pescoço.

O colar que há pouco tempo eu havia ganhado de presente do Bernardo de dois meses de namoro. Um colar simplesinho de prata, com a letra B como pingente.

― Você é uma garota de sorte, Clarissa. – Paula disse, com as outras duas olhando e sorrindo pra mim também. Não consegui dizer nada, apenas sorrir de volta. Pois ela tinha mesmo razão, eu era uma garota de sorte. Ou muito mais que isso.

Bernardo é o melhor namorado que eu poderia ter. Sempre prestativo, companheiro, carinhoso, romântico, dedicado, divertido. E até quando brigamos, quando vamos entender logo em seguida ele consegue ser um fofo ao se desculpar. Bernardo me conta seus segredos, me faz cocegas, me dá presentes, cartinhas de amor, planeja passeios românticos ou entre amigos. Basicamente ele é tudo em um só. Um namorado completo, admirável até mesmo quando estar com raiva de mim por eu ter feito ao que não lhe agrada.

Volto meus olhos pra ele, ainda jogando. Bernardo está com a camiseta branca do colégio grudando no corpo por causa do suor, apesar de não estar fazendo calor, é mais pelo cansaço mesmo. O que é extremamente sexy vindo dele. Algumas vezes, quando ele está livre da bola ele levanta um pouco a camiseta, deixando o abdômen reto a mostra. O cabelo preto está grudado na testa, suas bochechas estão rosadas e seus olhos azuis cansados.

Ele é maravilhoso.

O sinal para o fim da aula toca logo depois. As meninas praticamente saltam de contentamento por enfim se livrarem da educação física, já os meninos suspirar e resmungam aborrecidos em direção aos banheiros nos fundos do ginásio.

Ao passar por mim, mesmo suado e cansado, Bernardo me puxa para um abraço. Dar-me vários beijinhos pelo rosto, mesmo com todos nos olhando, o que as vezes me envergonha. Mas nada é tão importante quando a presença dele, então não me importo tanto.

― Gostou da minha performance? Hoje eu tive que jogar muito, caso contrário o Gustavo me matariam já que éramos do mesmo time. – Bernardo comentou durante a saída, divertido. Com seu moletom cinza-claro e o capuz sobre a cabeça.

― Eu vi sim, você estava lindo, digo, jogando. – sorri timidamente, jogando os braços dele sobre o meu ombro. Estava friozinho.

― Fico lisonjeado. – Bernardo brinca, beijando meus cabelos. ― Tá afim de sair hoje à noite? A galera ta pensando em sair pra descontrair, fazer um programa diferente, sair da rotina.

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― Nesse friozinho? – pergunto, unindo-me mais a ele enquanto caminhamos até a minha casa.

― É. Ta afim? Vai ser legal. – ele sorriu, animado. ― Qualquer coisa eu ligo para o seu pai e peço a ele.

― Não, sem problemas. Eu falo com ele. Ele tá naquela fase boa, sabe? Que aceita qualquer coisa sem discutir muito.

Tirei o resto da tarde para ler um bom livro no aconchego do meu quarto, de baixo das minhas cobertas. Até arrisquei escrever um pouquinho na minha caderneta e reescrever umas frases legais que eu vi no Facebook para guardar e reler sempre que eu quiser.

Lá pras oito da noite eu a Isabel fomos nos arrumar pra sair com a galera. Vicente concordou, desde que Isabel pudesse ir pra me fazer companhia. O que foi só alegria pra ela, já que ela poderia ficar mais à vontade com o Eduardo sem levantar suspeitas.

Coloquei meu vestido preto básico, meia calça cinza e uma botinha de cano médio. Como lá fora fazia mais frio com a noite, joguei por cima um casaco neutro, passei uma maquiagem simples e deixei uma parte do cabelo solta e outra presa.

Isabel optou por um jeans, moletom vermelho, All Star e os cabelos castanho-escuros soltos mesmo, em cachos volumosos. Os olhos verdes ressaltados pela sombra e o lápis de olho escuro.

Bernardo veio nos buscar de carro, garantindo de que não iria beber um se quer gole de cerveja ou coisa do tipo. O lugar escolhido foi um barzinho no final de uma rua deserta, mais afastado do centro. Portanto nem estava tão cheio assim, com as mesinhas de madeira do lado de fora.

Tinha uns caras lá dentro no palco pequeno tocando alguma coisa que de fora não dava pra ouvir muito bem. Quando nos sentamos em um meio círculo, um garçom alto e muito magro logo apareceu para anotar os pedidos em seu bloquinho. Gustavo e Miguel pediram cerveja, Marina petiscos e Isabel refrigerante com gelo e limão.

― Eu não vou ficar aqui segurando vela, de jeito nenhum. – disse o Miguel, fingindo-se de magoado. Ele pegou seu copo de cerveja e saiu da mesa, adentrando o bar com aquele ar de malicioso.

Eduardo e Isabel se isolarem na ponta da mesa, mais distantes, conversando um no ouvido do outro, sorrindo e se beijando.

Gustavo e Marina pareciam discutir sobre alguma coisa. O que já era normal pra mim, agora que eu os conhecia melhor. Esses dois vivem em pé de guerra. A grande questão são as muitas diferenças, os dois quase não tem gostos parecidos e as vezes isso é um problemão.

Bernardo e eu ignoramos todo o resto e ficamos conversando por um longo tempo. Ele me contando como fora sua infância com o Miguel sendo sempre seu melhor amigo, seu braço direito. Os dois quando pequenos sonhavam em sair viajando pelo mundo, conhecendo lugares novo, pessoas diferentes, culturas distintas, só os dois e uma câmera fotográfica.

― Quer dançar? Vem, vamos dançar. – Bernardo levantou-se sorrindo, após dar um último gole em seu copo com Coca-Cola. ― Vamos mostrar pra essa gente como se dança de verdade.

Bernardo estava ficando mesmo maluco. Primeiro que, nenhum de nós dois sabia dançar. Segundo que, eu estava morrendo de vergonha. Terceiro que, só faria aquilo por ele. Me permitiria essa noite.

Tudo que conseguimos foi arrancar boas gargalhadas do pessoal em volta e de nós mesmos com nossos passos desengonçados. Pelo canto do olho vi o Miguel conversando com duas garotas perto do balcão, vi Isabel passando para ir ao banheiro e vi também o Gustavo pegando mais cerveja com um garçom.

― Clarissa, tá com seu celular? – Marina rompeu aquele momento ridiculamente desastroso. ― Vamos tirar uma foto! Vem, vou reunir todos. Nossa primeira foto em grupo, agora com duas novas integrantes.

Ela se referia a mim e Isabel.

Marina pediu para um senhor barrigudo tirar a foto da gente no meio do bar, na pista de dança. Não só uma foto, como várias, com poses diferentes e caretas. Foi uma noite divertida, diferente de tudo que já vivi antes. Que ficaria marcada pra sempre. Era tudo muito novo pra mim, e eu estava adorando.

Em outra área nos fundos do bar que eu completamente desconhecia, mas Marina fez questão de me apresentar, havia um karaokê e uma galera dando muita risada dos mais ousados. Aconteceu exatamente o que eu imaginava quando a Marina me arrastou até ali com a Isabel, ela praticamente nos obrigou a cantar com ela, tipo um trio sertanejo. E diferentemente do que eu pensava, eu acabei me divertindo mais do que me sentindo constrangida.

Em volta as pessoas estavam bêbadas demais para se importarem se nós cantávamos ou não bem. Por fim elas não se lembrariam desse momento, nem se quer sabiam nossos nomes.

A coisa toda ficou ainda mais legal quando o Miguel nos encontrou, chamou os outros três que se uniram a nós e formamos uma banda sertaneja – se é que é possível – e cantamos tanto, demos tanta risada, que eu nem vi a hora passar.

Era um pouco mais de meia-noite quando o Bernardo nos levou até em casa de carro com todos dividindo o minusculo espaço no banco de trás. Ao pararmos em frente a minha casa, Bernardo e eu saímos na frente de mãos dadas para ter mais privacidade na hora da despedida, que praticamente era sagrada. Em seguida despedi-me de todos e entrei, Isabel vindo logo atrás.

Vicente nos esperava no sofá da sala, vendo tevê.

― Pensei que teria que ligar para polícia. – ele comentou, sem olhar pra gente. Eu já ia acreditar que ele estava falando sério, pegamos pesado ao passar do horário permitido para nossas saídas; mas aí ele riu e ficou tudo bem. ― Tô brincando, meninas. O Bernardo e sua turma são realmente pessoas de confiança. Eu gosto deles. – ele levantou-se, desligando a tevê com o controle. ― Agora vamos todos dormir, já é tarde. Nada de ficarem acordadas até tarde.

O que o Vicente não sabia é que eu e o Bernardo tínhamos planos de ficar até muito tarde conversando por telefone. Eu deitada na minha cama, coberta e aquecida e ele em sua casa, em seu quarto, também coberto e aquecido. Conversávamos como se não nos víssemos há meses, sempre tínhamos o que conversar. O tempo que passávamos juntos na companhia um do outro nunca parecia suficiente. Precisávamos sempre de mais.

Foi uma surpresa e tanto quando o Vicente nos enganou naquela tarde de sábado, dizendo que iriamos almoçar fora. Tecnicamente ele não mentiu completamente, só emitiu alguns fatos. Porque na verdade o almoço seria na casa da Aline, mãe do Miguel.

Ele até levou vinho e flores pra ela.

O Miguel por sua vez ainda com a ressaca da noite passada nos recebeu com maior cara de espanto, como se sua mãe também não tivesse dito toda a verdade a ele. Só que sua cara não mudou em nada depois, ele realmente estava incomodado com aquilo. Se recusou a descer do quarto para almoçar com a gente na sala de jantar.

― Enquanto o almoço não está pronto, se me permitem eu vou até lá em cima falar com ele. – digo, levantando-me do sofá. Isabel está ao lado, entretida em um joguinho qualquer no celular.

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Dei duas batidinhas na porta entreaberta antes de entrar.

― Olha Clarissa, esse meu mau-humor não tem nada a ver com você ou com a sua irmã. Não é nada pessoal, entende? – ele virou-se pra mim, girando o corpo na cadeira de frente escrivaninha. ― Eu só não vou com a cara do seu pai. E não admito que minha mãe fique mentindo pra mim dessa forma. Ela não era assim....

― Já entendi. – sorri, sentando em sua cama mesmo sem sua permissão. Percebi que seu quarto era muito parecido com o do Bernardo, eles praticamente têm os mesmos gostos. Só que o Miguel é bastante desorganizado, há calçados espalhados por todos os lados. ― Você tem é ciúmes da sua mãe. Ela sempre foi só sua, não é mesmo? E agora que o meu pai entrou na história você se sente traído, acuado, deixado de lado, maltratado, esquecido.

― Não é bem isso...

― Claro que é! – eu ri, descontraída. ― Olha, não precisa mentir pra mim. Eu sou sua amiga. E sei dessas coisas. Acho que todos nós passamos por isso em um determinado momento de nossas vidas. – levantei-me, aproximando-me dele. ― Agora vamos. Levanta já daí. Vamos descer e almoçar todos juntos, mesmo que não concordemos com isso tudo. Tenho certeza que a última coisa que você quer no mundo é aborrecer sua mãe e se você não aparecer.... Eu te ajudo! Também não está sendo fácil pra mim, mas podemos nos ajudar.

Eu acabei o convencendo. Miguel é muito bonzinho, eu realmente gosto dele. Ele pediu pra que eu esperasse um instantinho no corredor enquanto ele trocava de camiseta e depois apareceu, pra gente descer juntos, com o braço sobre o meu ombro. Ele colocou um sorriso no rosto, apesar de forçado – eu percebi – e encarou a situação, fazendo parecer fácil. Mas sem falar muito com o Vicente, só o necessário.

O almoço foi bem tranquilo, eu me senti muito bem, pois estava entre pessoas que eu gostava. O Vicente e a Aline tinham mais intimidade e nem por um momento deixaram o assunto morrer. Os dois pareciam mesmo só amigos, apesar de terem uma espécie de ligação. Um bonito casal, caso eles fossem um. Isabel ficou o tempo todo ocupada com o seu celular, jogando ou provavelmente conversando com o Eduardo por mensagem de texto. O Miguel mais calado, mais reservado, ainda muito desconfortável com aquilo. E eu, bem, eu me esforcei muito e até fiz parte da conversa para me distrair.

Aline preparou um pudim divino pra gente de sobremesa, enquanto ainda conversávamos agora na sala de estar. Quando voltamos pra casa já era noitinha, o ar até estava mais gelado. Mas adivinhem só quem estava plantada na porta de entrada esperando pelo Vicente? Sim, acertaram. A Karen, parecendo uma estátua.

Eu cumprimentei ela de longe mesmo sem muito animo em vê-la, passei por ela e entrei em casa com a Isabel vindo atrás. Fechamos a porta, mas mesmo assim dava pra ouvir do sofá os berros que ela estava dando lá de fora. Mais uma de suas ceninhas de ciúmes.

O Vicente não iria tolerar isso por muito tempo, já que ele tinha falado mais de mil vezes pra ela que ele e a Aline eram amigos.

A Karen que se cuidasse.

― Vamos escutar tudo? – Isabel sugeriu, toda animadinha. Não achei que ela estava falando sério a princípio, mas bastou olhar pra ela novamente com aquela carinha de sacana pra eu entender tudo.

Pulamos do sofá em direção a porta e colamos nossos ouvidos na madeira fria. Dava pra ouvir absolutamente tudo.

― ...então é assim, você realmente vai continuar mentindo pra mim? – ela gritava, histérica. Imaginei ela bicuda e de braços cruzados.

― Quantas vezes você ainda quer que eu repita pra você? Porque eu já estou cansado dessa palhaçada toda. Karen, você é muito imatura! Tá agindo como uma menininha do colegial.

― Agora eu sou imatura? Menininha do colegial? – ela riu pelo nariz, sarcástica. ― Por favor, Vicente, me polpa. Você é o meu namorado! Eu exijo explicações.

― Foi uma almoço. Um almoço! – dessa vez ele se equivocou, aumentando o volume da voz. No lugar dela eu teria medo. ― As meninas estavam lá comigo! O filho dela também estava. Não havia nenhuma possibilidade de alguma coisa acontecer. E nem que tivesse, eu já disse, somos só amigos. Amigos!

E nos minutos seguintes os dois continuaram batendo na mesma tecla. Ela especulando coisas que poderiam ter acontecido entre o Vicente e a Aline. E ele tentando fazê-la entender que não era nada daquilo, ela estava alterada demais para entender. Ela vivia alterada demais para entender qualquer coisa.

― Quer saber? Eu cansei. Definitivamente cansei. Chega pra mim. Se você não acredita em mim e eu não suporto mais você, vamos terminar. Acabou. Será melhor assim, para nós dois.

Naquele momento eu imaginei que ele virou as costas e iria deixa-la pra trás, entrar em casa e tentar esquecer aquela cena patética. Seguir com sua vida como se ela não representasse mais nada.

Eu e Isabel saímos rapidinho da porta, acreditando que ele iria entrar a qualquer momento. Mas então ouvimos algo.

Estávamos enganadas.

― Não! Volta aqui Vicente. – a voz dela era chorosa. ― Não me deixe assim. Eu amo você! Vamos nos entender, por favor. Chega de brigas, está bem? Não é isso que você quer? Vamos parar com isso. Vamos voltar a ser feliz. Nós nos amamos e....

Vicente entrou naquele momento, deixando-a falando sozinha, batendo a porta e nos pegando no flagra escutando tudo atrás da porta.

Ele não apareceu nenhum pouco surpreso conosco.

― Que vexame! – ele balançava a cabeça de um lado para o outro, negativamente. Parecia inconformado. ― Agora os vizinhos sabem exatamente tudo que acontece na minha vida! Tudo porque a Karen resolveu surtar novamente...

Ficamos paralisadas, sem saber o que dizer, sem saber como ajudar.

― Pai? – chamei-o, quando ele já estava no topo da escada.

Vicente virou-se para mim.

― Tá tudo bem? – arrisquei em perguntar, preocupada.

― Agora está minha filha. Não se preocupem.

E então, ele se trancou em seu quarto até o dia seguinte.

Bernardo fazia aniversário na segunda semana de outubro. E eu tive a ideia de fazer uma festinha surpresa pra ele. Reuni todos os seus amigos em sua casa depois do colégio, aproveitando que ele deu uma saidinha para ir buscar a Liz na creche. Sim, agora ela estava na creche com outras criancinhas.

O bolo, os doces e salgados já estavam prontos desde o dia anterior, a mãe dele e a Aline me deram a maior força e me ajudaram muito com os preparativos. As bebidas ficou por conta de seus amigos. A decoração simples, com alguns bexigas azuis, brancas e pretas fui eu mesma quem fiz com uma forcinha da Isabel. Bom, basicamente nada seria possível sem a ajuda dos meus amigos. Ter amigos é extraordinário. É como se tudo ficasse mais completo.

Tudo que eu sabia é que o Bernardo detestava surpresas, e também não era muito afim de festinha em comemoração ao seu aniversário. Nessa data ele preferia sair com os amigos, como se fosse só mais passeio habitual. Mas esse ano seria diferente, pois era o ano das surpresas. E também, ele sempre faz tudo por todos, especialmente por mim, que pensei que já estava mais que na hora de retribuir esse carinho que ele tem por tudo e todos.

Além dos nossos amigos, havia mais uns quinze convidados. Alguns do colégio, outros da vizinhança. Incluindo a Lorena, mãe da filha dele e a Brenda, apesar de elas ainda estarem brigadas. Nada de Rafael, até porque seria confusão na certa.

Reuni toda a galera na cozinha da casa dele, pedi para que fizessem silencio, pois ele chegaria a qualquer momento.

Sabia que de cara, assim que ele entrasse iria perceber que havia algumas novidades, como as bexigas que foram coladas nas paredes muito rapidamente e alguns enfeites decorativos. Tinha também a faixa que a Marina escreveu com letras bem desenhadas e contornadas, tudo muito colorido e bem feito. Estava escrito: “Feliz Aniversário, Bêzinho. Nós te amamos!”. Foi ideia dela e do Gustavo. Eu não questionei, estava adorando cada detalhe. E sabia que apesar de tudo, ele também iria gostar. Quem não gostaria de todo esse carinho?

Bernardo estava demorando mais que o normal para chegar, cochichou a mão dele no meu ouvido, impaciente pela demora. Ouvimos, todos, a porta de entrada se movimentar lentamente. Tudo parecia em câmera lenta. E eis que o Bernardo aparece, todos saem da cozinha fazendo muito barulho, cantando, batendo palmas. Ele faz a maior cara de surpreso, o queixo caído, os olhos azuis sobressaltados.