–--(Peeta)---

Ele rabisca a folha de papel enquanto ela pinta uma das telas dispostas no chão, as vezes recebendo alguns dedinhos do irmão em sua obra, ambos com os dedos sujos de tinta.

Johan, que agora já passa dos dois anos e meio, já tem se mostrado muito mais agitado e bagunceiro do que Prim era com sua idade, apesar de quase não dar trabalho na hora do sono, e agora que já não somos mais pais de primeira viagem nos damos melhor com algumas situações e aprendemos mais ainda com outras.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Katniss e eu tinhamos um certo medo de que quando Johan nascesse, Prim custasse a se acostumar a dividir tanto nossa atenção como seus objetos e espaços e porque também a experiência de ter mais que um filho era nova para nós. Mas ficamos tranquilos quando ela demonstrou total aceitação e afeto pelo irmão, e apesar de sempre haver algumas brigas comuns entre eles, a maior parte do tempo é apenas alegria.

Meus filhos. Aqueles que sempre sonhei em ter mas que quase nunca realmente acreditei que teria. Mas também nunca imaginei que Panem um dia seria diferente e olhe onde chegamos. Meus pensamentos apenas mudaram no final dos primeiros jogos e foi Katniss quem os mudou. Ela foi minha esperança assim como ouço-a dizer que fui a sua.

Hoje posso dizer que tudo valeu a pena. Temos uma boa estabilidade tanto física como emocional, mesmo não estando totalmente livres dos pesadelos. Mas fazemos o máximo possível para esquecê-los, ficar bem e sempre desejamos passar isso para nossos filhos: o conforto e a segurança que não tínhamos quando nós eramos apenas crianças.

Katniss visita a floresta frequentemente, não mais para caçar mas apenas para recordar um lugar que tanto lhe é especial e que ainda adora, apesar de ainda ter o desejo de ensinar essa prática para nossos filhos um dia. Muitas vezes eu a acompanho e vejo nossos filhos em contato com a natureza e quanto isso agrada tanto eles quanto nós.

Continuo com a padaria e também é com frequência que as crianças estão lá, seja para tornar meu dia mais alegre com a arte e as bagunças que fazem ou no final do meu expediente quando Katniss os leva para irmos embora juntos.
Gostamos que nossos filhos tenham contato com isso. Ensinamos à eles a aproveitar os benefícios de coisas que um dia já nos ajudaram em situações diferentes.

Termino de tirar os pães de queijo no forno e coloco-os sobre a mesa, deixando esfriar um pouco antes de chamar as crianças para tomar café.

–Meu amor?

Me viro e vejo Katniss debruçada no balcão sorrindo para mim. Seus cabelos presos em um coque com apenas alguns fios soltos deixam seus olhos cinzentos e ainda parecendo sonolentos em destaque. Ela vai até nossos filhos que brincam na sala estar e da um beijo em cada um antes de chegar até mim e enlaçar meu pescoço com seus braços delicadamente.

–Bom dia -digo beijando-a carinhosamente.

–Bom dia -diz apenas quando nos afastamos. Consigo sentir a ponta de seus dedos na base de minha nuca antes de subirem e afundarem em meu cabelo.

–Dormiu bem?

–Dormi muito bem. Os pesadelos tem sido bem menos frequentes... -responde encostando a cabeça em meu peito tendo a perfeita visão de nossos filhos brincando no tapete da sala.

–E um dia poderão sumir por completo -sussurro beijando-a entre seus cabelos.

–Espero que sim -sussurra entre um suspiro.

Esperamos mais alguns minutos os pães esfriarem antes de terminarmos de pôr a mesa e chamarmos as crianças para o café para depois irmos ao lugar preferido delas. A campina.

–--(Katniss)---

O sol brilha ardentemente no céu enquanto os pássaros cantam como se não fossem abalados belo calor, mas isso não impede que a tarde esteja completamente perfeita.

Peeta se mantém concentrado ao meu lado em seu esboço de um novo quadro. Ele diz que sempre que surge uma nova ideia, não quer perdê-la e apesar de isso ter acontecido com cada vez mais frequência, nunca me canso de observá-lo tão concentrado no que ama fazer, ainda mais consciente de que esse prazer já o ajudou em tantas coisas.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Johan ora anda, ora engatinha pela grama, explorando com seus pequenos dedinhos e sua grande curiosidade cada planta que encontra. Parece tão concentrado quanto o próprio pai.

Prim também tem a atenção voltada para as plantas, apesar de a maioria estar concentrada apenas na floresta, deixando aqui apenas com flores. Ela com certeza se lembra da flor que dá origem ao seu nome quando a vê sob a grama. Vem correndo mostrá-la para mim mas seus olhos parecem se concentrar em outra coisa.

–O que é isso mamãe? -pergunta apontando para o local acima do meu cotovelo direito, quase chegando ao meu ombro. Não preciso olhar para ela saber do que está falando. Uma de minhas cicatrizes.

Nunca me acostumei a usar roupas que deixam meu corpo bastante à amostra exatamente por querer escondê-lo, esconder as marcas que a guerra me deixou, até dos meus próprios filhos por não querer abrir a verdade para eles, pelo menos não ainda. Mas como hoje está um dia quente, me permiti um desses delírios, e além disso, esse momento algum dia chegaria.

Percebo que não só tenho a atenção de Prim mas também a de Peeta, que me incentiva a continuar.

–Uma das minhas cicatrizes -começo insegura mas vejo Peeta dar início à um sorriso -Que a grande guerra deixou.

–Papai também tem as dele -completa Peeta -Assim como a perna, elas tem um significado e logo você vai aprender mais sobre ele.

Apesar de já termos explicado para Prim com nossas palavras o básico sobre a revolução, ainda me preocupo com o chegar do dia em que vou estar ouvindo meus filhos falando sobre os jogos, o dia em que vou ver escrito em um livro escolar o título "Jogos Vorazes" e em que minha mente vai me lembrar de que aquilo já fez parte de minha vida. Mas sei que quando eu olhar para minha família vou relembrar que o tempo passou e houve mudanças. Talvez o tempo passaria imperceptível se não pudéssemos olhar ao nosso redor e observa-las.

Quando olho para minha mãe, vejo o quanto ela evoluiu desde a revolução e a grande superação que teve com tantas perdas. Nós ajudamos uma a outra e passamos por isso juntas. Assim como olho para Effie e Haymitch e vejo por quantas dificuldades cada um deles também passaram. Ou quando apenas olho para Thor e vejo o quanto ele cresceu.

Lembrar dos tempos em que Haymitch era nosso mentor e Effie nossa escolta e acompanhante, ou de todos os dias torturantes que passamos, já não é tão doloroso como antes. Agora conseguimos olhar para traz com menos dor porque nosso presente está em paz.

Quando olho para meu marido e nossos filhos não preciso nem voltar ao passado e comparar com o futuro para descobrir que tudo valeu a pena. E se houvesse algo que eu pudessse dizer à Peeta que resumisse tudo o que passamos, de todas as dores e dificuldades, todas as brigas e reconciliações, todos os momentos maravilhosos e toda a minha gratidão por ele sempre ter estado comigo, eu diria a verdade. Que ele me ensinou a superar tudo que passamos juntos, que a vida podia voltar a ser bela independente das tragédias do passado e que sempre há como seguir em frente. E, principalmente, que ele mudou a minha vida.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.