Annabeth levantou-se e observou seus joelhos roxos. Estava um dia quente, e o ar dentro do Parthenon estava abafado. Uma constante brisa fresca soprava para amenizar o sofrimento.

Ela virou-se para o Tempo.

– Você conseguiu. – Ele sorriu.

Annabeth suspirou, aliviada.

– E agora? – Ela perguntou. – Já controlei o Tempo, já fiz as modificações necessárias...

– Se você acha que está tudo certo, então não precisa mais disso aí. – Ele indicou o tabuleiro com o queixo. – O mais seguro é destruí-lo. O Tempo nunca pode ficar em mãos erradas, senão muito coisa pode acontecer. Coisas ruins. Saiba que, depois que fizer isso, nada poderá ser mudado.

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– Eu não preciso de indecisão. – Annabeth juntou o tabuleiro do chão e o bateu com força contra o joelho. O material espatifou-se e se dissolveu diante de seus olhos. – Eu fiz o que podia.

– Eu também. – O Tempo sorriu. – Tenho uma grande dádiva para convosco, Annabeth Chase. Uma dádiva que espero pagar um dia. Se o Tempo nos permitir... – Ele riu da ironia. - Agora é hora de partir. Tanto eu quanto você.

– Para onde devo ir? - Ela indagou, amarrando sua jaqueta cinza e estraçalhada na cintura e dando um jeito de esconder a espada.

– Lá. – Ele apontou para noroeste. – Siga e não pare, até achar que deve parar.

Ela franziu a testa.

– Eu não perguntaria, se fosse você. – O velhinho advertiu. – Lembre-se, que a ruína dos inteligentes é o desafio de responder às próprias perguntas.

Annabeth assentiu.

– Obrigada. – Ela agradeceu. – Por... Tudo. Pelas histórias e pela companhia.

Ele piscou com o olho direito e sua imagem tremulou antes de desaparecer.

Annabeth se virou quando um bando de turistas entrou no templo, admirando tudo. O guia que liderava as pessoas falou algo em grego com ela, que Annabeth não entendeu. Ela falava grego antigo, e o atual grego falado na Grécia era diferente. Ela balbuciou algo em inglês e saiu do templo de sua mãe.

Para o seu infortúnio, noroeste significava ir diretamente para o Sol. Ela obrigou-se a caminhar, dando um passo a frente do outro, sem olhar pra trás. Seus pés estavam cheios de calos e bolhas. Seus braços e suas coxas começaram a arder devido ao calor. Seu cabelo balançava pelas costas, todo engomado.

Ela engoliu em seco e continuou por mais duas horas. Estava chegando cada vez mais perto da praia, e se perguntava o que faria quando noroeste significasse nadar até achar o navio. Ela estremeceu. Não seria uma boa ideia, porque o navio estava, da última vez, bem longe.

Annabeth tinha a visão embaçada, as íris ardiam. Ela passava por ruas estreitas e grandes, por lugares vazios e por locais cheios de gente.

Ela passava por uma rua deserta quando um beco chamou sua atenção. Ela parou de andar e hesitou, olhando para o corredor de tijolos.

Siga e não pare, até achar que deve parar. A voz do Tempo ecoou em sua cabeça. Algo dentro dela dizia para parar. Então ela voltou e entrou no beco.

Não era exatamente um local sombrio. Era mais parecido com aquelas terminações de Nova Iorque, onde não havia nada a não ser por caçambas de lixo e gatos de rua. Naquele não tinha nada, mas tinha algo que a incomodava, algo que a atraía. Sabia que tinha alguma coisa ali, alguma coisa que a fez sacar a espada.

Ela andou cautelosamente pelo pequeno labirinto, tomando cuidado para não fazer muito barulho. Chegou a passar por uma bifurcação. Ela se agachou e regulou a respiração. Estava dando mais um passo quando algo segurou seu pulso.

Annabeth iria reagir, mas quando virou-se, deparou com dois olhos verdes fitando-a. Dois olhos verdes familiares... Que fizeram seu corpo entrar em colapso.

– Percy? – Ela sussurrou fracamente.

Ele sorriu sarcasticamente.

– Pois é. – Ele sussurrou de volta.

– Ah, meus deuses... – Antes que se desse conta, Annabeth tinha a garganta fechada como um nó, e estava prestes a começar a chorar. – Percy... Eu... Eu...

Ele calou-a com um olhar. Lentamente, tirou a espada de sua mão e a pousou no chão, então puxou-a pelo pulso – que ainda estava segurando – e a abraçou apertado.

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A mente de Annabeth derreteu quando ela beijou seus lábios delicadamente. Como sempre, estavam salgados e carinhosos. Ela se deixou encostar na parede e segurou-o pela nuca, as lágrimas de saudade escorrendo de suas bochechas.

Percy sabia o que ela sentia. Também havia sentido, por mais que seu tempo fora tivesse sido menor. Mas aquela saudade toda vinha bem de antes, de quando eles começaram a ser tirados um do outro. Ele segurou-a pela cintura e a puxou para cima, até ficarem na mesma altura.

Annabeth beijou seu pescoço e encostou a testa na dele.

– Eu te amo. – Ela sussurrou.

– Eu sei. – Ele disse e ela deu-lhe um tapa no braço. Ele riu baixinho. – Eu te amo.

Annabeth queria tanto ficar com ele ali, abraçados, quietos, mas juntos... Era só o que importava.

– Desculpe. – Ela pediu. – Pelo o que eu fiz.

– Você fez o que era certo. – Ele segurou suas mãos e beijou seus dedos. – E eu não morri de verdade.

– Eu sei que você não morreu de verdade, Cabeça de Alga. – Ela revirou os olhos e beijou sua boca novamente. – Se tivesse morrido, eu teria sentido.

– Alguém contou? – Ele perguntou, beijando seu ombro quente pelo sol.

– Não. – Ela fechou os olhos quando ele chegou à parte de trás da orelha. – Eu... Eu...

– Eu...? – Ele provocou.

– Eu... – Ela suspirou quando seus lábios se encontraram de novo. Annabeth apertou seus braços. – Percy...

– Sim? – Ele deslizou as mãos pela cintura dela.

– Temos que ir pro navio. – Ela riu quando seus pelinhos das costas se arrepiaram.

– Eu sei. – Ele disse e se afastou, colando as costas na parede oposta.

– Não precisa ir tão longe. – Ela sorriu, provocando.

Ele fez uma careta para ela e regulou a respiração.

– Eu sei onde está. – Ele pegou sua mão e a conduziu pelo beco e pelas ruas, indo direto no mar. – Você primeiro.

Ela recuou alguns passos, correu e pulou na água. Percy a imitou.

Annabeth olhou para a superfície, que se afastava. Ele passou um braço pela cintura dela e bateu os pés, e ela ajudou.

O mar era cristalino e meio escuro. Quando se aproximavam, peixes e até alguns monstros se afastavam, dando passagem.

Annabeth tinha uma bolha de ar no nariz, mas não precisou usá-la muito. Por mais longe que o navio estivesse, não demorou muito para chegarem lá. Ela avistou o imenso casco por baixo da água e as pontas de seus noventa remos.

Ela agitou os braços e os pés, até estar exatamente embaixo do porão, naquele piso de vidro. Ela apalpou e encontrou uma alavanca, puxando-a para baixo. O compartimento se abriu e ela arrastou-se para dentro. Percy a seguiu.

Por mais que estivessem alguns metros abaixo da linha d’água, Percy controlou a pressão para que o porão não alagasse. Ele estava completamente seco. Ela, completamente ensopada, com os cabelos pingando. Quando olhou para o lado, viu montes e montes de armaduras.

– O que é isso? – Percy perguntou.

– Longa história. Vamos discutir isso quando todos estiverem aqui. – Ela o tranquilizou.

– E será que eles já não estão aqui? – Ele levantou a sobrancelha, então os dois seguiram para o convés.

O que mais preocupava Annabeth era que o chão estava cheio de sangue. De verdade. Havia sangue para todo lado.

Ela acelerou o passo e subiu ao convés. Lá, Piper estava caída no chão. Annabeth correu para ajudá-la, e a encontrou com os braços roxos e um imenso corte que cruzava seu lindo rosto. Ela estava consciente.

– Deuses... – Annabeth arquejou. – Piper...

Piper olhava para algo atrás dela. Quando se virou, Annabeth viu que não estavam sozinhas.

Jason segurava um cara pela garganta. Um cara alto e forte, que Jason segurava com tanta raiva que seu rosto começava a ficar azul pela pressão que o filho de Júpiter fazia em sua garganta.

Percy, Frank e Leo estavam encostados na amurada, de braços cruzados do mesmo modo e observando a cena.

Annabeth era rápida e percebeu o que se passava em um instante. O Tempo a alertara da missão da filha de Afrodite.

Annabeth considerou. Jason provavelmente vira o cara espancar Piper. Ela estremeceu. Vira-o espancar Piper e não pudera nada fazer. Bem, agora era a hora da vingança.

O cara olhou para Piper.

– Você... Me... Paga...

– Eu já cumpri o acordo. – Piper disse com a voz firme.

Jason, ao escutar as palavras, apertou-o ainda mais e disparou pulsos elétricos contra o cara. Ninguém ficou surpreso quando ele desfaleceu, e ninguém ficou surpreso quando Jason jogou-o para o mar, não sem antes fazê-lo bater as costas na amurada.

Percy encarou Jason de um jeito que consentia com o que ele havia feito. Annabeth recordou-se de que ambos tiveram uma conversa com seus pais. E parecia que seus pais derramaram uma boa dose de conselhos encima deles.

– Merecido. – Frank assentiu.

Hazel subiu ao convés segurando um frasco com um líquido verde dentro.

Ela aproximou-se das duas garotas e fez Piper beber aquilo. Ela tossiu, mas engoliu.

– Leve-a para a cabine. – Hazel ordenou para Jason. – Se ela dormir até o jantar, ficará inteira novamente.

Jason assentiu, se aproximou e pegou Piper no colo. Ela estava tão verde quanto o líquido que havia tomado, mas ainda sorriu para Annabeth.

– Depois dessa alegre cena... – Leo caminhou para Festus. – É bom ver vocês novamente. E você também, cara. – Ele bateu na cabeça de bronze, e Festus cuspiu fogo.

Frank segurou Leo pelos ombros e coçou sua cabeça, espalhando seus cabelos. Hazel deu um leve sorriso. A testa dela estava pontilhada de suor, como quando os semideuses poderosos ficavam quando usavam mais seu lado imortal do que o mortal.

Mais uma vez Annabeth lembrou-se de que ela era a única ali que não tinha poderes. Não podia controlar nada. Água, ar, terra, fogo, magia ou qualquer coisa.

Você tem a sua inteligência.

A voz de sua mãe retumbou em sua cabeça. Annabeth inclinou o queixo em consideração e assentiu soturnamente.

– Posição? – Inquiriu ela para Leo.

– Hum, de pé, um e setenta e oito de pura gostosura, parado perto dos controles, ao lado do Zhang.

Annabeth revirou os olhos e riu.

– A posição do navio, garoto.

– Trinta nós para Noroeste, afastando-se da costa e pulsando para força total na direção de Atenas. – A menção do nome fez Annabeth estremecer. Estivera lá não muitas horas antes, mas certamente estavam mais longe do que ela imaginava. – Levaremos uns dois dias margeando a Grécia, devido a todas as ilhas e tal. E aos imprevistos. Algum monstro a caminho?

Percy sacudiu a cabeça.

– Não se você desligar o sonar.

– Oh, Estige! – Leo exclamou e bateu em alguns botões. – Deuses me livrem de encontrar mais uma Tartaruga Ninja.

Hazel e Frank riram.

– Eu fico no primeiro turno. – Hazel deu um passo a frente. – Trocamos no jantar.

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– Eu fico com você. – Frank disse.

– Bom, acho que o navio precisa de um capitão e aquela coisa toda, então vocês entendem se eu precisar ficar também... – Leo ergueu as sobrancelhas.

– Valdez... – Percy o pegou pelo braço e o puxou.

– Ah, está bem! – Leo gritou. – Mas cuidem de Festus. E do navio! Os remos estão...

Ele parou de falar quando Jason apareceu no corredor segurando um sanduíche. Ele agitou-o debaixo do nariz de Leo.

– Comida. – Ele murmurou. – Mas... Não se esqueçam de regular os remos!