Amor Real - Peeta e Katniss
Capítulo 24
Assim que a grade se fecha e eu, Peeta e Haymitch adentramos no jardim da mansão presidencial, uma mulher, que eu imagino que seja uma espécie de recepcionista, vem a nosso encontro.
– Bom dia. Vocês são os senhores Mellark, Everdeen e Abernathy, não são?
– Sim – responde Peeta.
– Meu nome é Grace e eu sou a governanta da mansão presidencial. Venham. Eu vou lhes mostrar seus quartos.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Ela nos conduz para dentro da mansão. Internamente, a aparência é a mesma da última vez em que estive aqui. Sinto um pouco de angústia ao me lembrar de mim mesma andando para lá e para cá completamente perturbada e com a pele remendada, mas não permito que essa lembrança me perturbe. Sei que agora as coisas mudaram. Tudo ficará bem.
Após subirmos uma escada, entramos no corredor e Grace abre a porta de um dos quartos.
– Senhor Abernathy, esse quarto foi reservado para o senhor – diz Grace. – Aí dentro tem tudo o que o senhor precisar.
– Certo – diz Haymitch. – Obrigado.
Ele entra no quarto e Grace fecha a porta. Andamos mais um pouco e Grace abre outra porta.
– Senhores, esse é o quarto de vocês. A informação de que os senhores estão... – ela hesita –, bem, dividindo o mesmo teto, chegou até aqui. A presidente Paylor achou que gostariam de ficar no mesmo quarto.
Sinto meu rosto esquentar e presumo que estou corando violentamente. Peeta entende meu embaraço e toma as rédeas da situação.
– Tudo bem. Obrigado – diz ele a Grace. – Venha, Katniss.
Ele pega meu braço e nós entramos juntos no quarto. Grace, assim como fez com Haymitch, fecha a porta.
É um quarto arejado, confortável e luxuoso. No meio, há uma cama de casal tão grande que eu acho que dois casais dormiriam nela confortavelmente.
– A história dos amantes desafortunados acabou, mas as pessoas continuam fofocando a nosso respeito – diz Peeta, rindo, enquanto tira seus pertences da mala para guardar nas gavetas.
– Eu me pergunto se um dia nós voltaremos a ter privacidade – digo, também desfazendo a minha mala.
– Eu estou tão feliz de estar com você que não ligo a mínima para isso, sinceramente – diz ele, sorrindo para mim.
Retribuo o sorriso, mas não digo o mesmo. Estou feliz ao lado de Peeta, sim, mas não sou indiferente a essa invasão de privacidade. Isso me incomoda.
– Você está chateada, não é? – pergunta Peeta.
Antes que eu possa responder, ouço batidas na porta. Eu a abro e logo vejo uma Annie sorridente segurando um lindo bebê que dorme tranquilo em seus braços.
– Annie! – exclamo.
– Eu trouxe o Finn para vocês conhecerem – diz ela, sorrindo.
– Annie, ele é lindo! – diz Peeta, chegando junto da porta. – Venha, entre!
Timidamente, ela entra no nosso quarto.
– E então, como estão as coisas, Annie? – pergunto, satisfeita ao ver que ela parece bem.
– Está tudo bem – responde ela. – O Finn já está bem. Decidi que eu e ele iremos para o distrito 12 com vocês, quando a presidente Paylor nos liberar.
– Isso é ótimo! – diz Peeta. – Seu filho é tão lindo, Annie! Vai ser maravilhoso poder vê-lo crescer.
– Vai ser muito bom, mesmo – concordo.
– Ah, obrigada! – diz Annie, com lágrimas em seus olhos verdes da cor do mar. – Fico feliz que o Finn irá crescer perto de grandes amigos que o pai dele teve. Estou de que ele terá muito orgulho de vocês dois.
Eu e Peeta estamos quase chorando ao nos lembrar de Finnick, mas sons de gemidinhos quebram o clima emocional. Olhamos para Finn e vemos que ele acordou e abriu os olhinhos.
– Esses são o tio Peeta e a tia Katniss, meu amor – Annie diz carinhosamente ao filho, enquanto acaricia sua cabecinha.
– Ele tem os olhos de Finnick – comento.
– Annie, posso pegá-lo? – diz Peeta, todo derretido.
– Sim, mas...
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!– Eu sei. Lavar as mãos, não é? – Annie assente com a cabeça e Peeta ruma para o banheiro que tem no nosso quarto.
– Ele é sempre calminho assim, Annie? – pergunto, olhando para Finn.
– Sim – responde ela, orgulhosa. – Ele quase não dá trabalho. É um anjo.
– Ele é muito lindo – digo, fazendo Annie sorrir.
– Pronto, agora estou limpo para carregá-lo – diz Peeta, voltando ao quarto.
Annie passa Finn para os braços de Peeta e ele o acomoda com todo o cuidado; uma de suas mãos segura-lhe a cabecinha. Finn olha para ele com olhos espertos, como se o avaliasse.
– É o tio Peeta, meu amor – diz Annie ao filho.
Peeta fica tão feliz que parece irradiar luz própria. Seu jeito com criança é incontestável, e isso me dá uma sensação ruim na boca do estômago. Deve ser porque eu sei que jamais conseguirei dar a ele o filho que ele já me disse desejar tanto.
Batidas na porta é que me tiram dos meus pensamentos. Eu me encaminho até a porta e a abro, e quem eu vejo é uma pessoa que eu não conheço.
– Eu sou Mary, a secretária pessoal da presidente Paylor. A reunião já vai começar. Me acompanhem, por favor.
– Eu vou deixar o Finn com a babá e vou – diz Annie, pegando Finn dos braços de Peeta. – Vocês podem me esperar?
– Claro – digo. – Nós já vamos, Mary.
***
Eu, Peeta e Annie somos conduzidos por Mary à mesma sala em que fizemos a votação com Coin meses atrás. Quando entro, vejo sentados à mesa Johanna, Beetee e Enobaria, todos com uma aparência infinitamente melhor que a de meses atrás. Em Johanna, cabelos curtos e aparentemente sedosos substituíram a cabeça parcialmente careca de antes.
– Olha eles aí, os amantes desafortunados do distrito 12! – diz Johanna, com seu jeito ácido de sempre. – É verdade que vocês estão morando juntos? Pela carinha feliz de vocês, imagino que sim e que tá sendo muito bom! – ela dá um sorriso safado.
Sinto meu rosto esquentar e não consigo dizer nada.
– Senti falta das suas loucuras, Johanna – diz Peeta, rindo, enquanto eu e ele nos sentamos.
– Ah, qual é? Vocês não vão responder? – diz ela.
– Fico feliz que estejam bem – diz Beetee, cortando Johanna. – Achei que nunca mais os veria juntos.
– Confesso que também achei isso – diz Enobaria.
Antes que eu e Peeta possamos dizer algo, Haymitch entra na sala seguido da presidente Paylor. Haymitch se senta ao lado de Beetee e a presidente, após fechar a porta, se senta na ponta da mesa.
Ao ver que a reunião é formada apenas pelos vitoriosos que restaram, tenho a sensação de que tem algo a ver com a última reunião, na qual votei pela continuação dos Jogos Vorazes com crianças da Capital.
– Bem, primeiramente, boa tarde a todos! – começa a presidente.
– Boa tarde – dizemos em uníssono.
– Bom, como vocês lembram, meses atrás vocês estiveram nesta mesma sala, numa reunião com a então presidente Alma Coin, para fazer uma votação a respeito de uma edição final dos Jogos Vorazes com as crianças daqui da Capital. A maioria votou a favor, mas eu e os ministros sentimos a necessidade de fazer uma nova votação, pois além de Coin ter falecido e outra pessoa, no caso eu, ter assumido a presidência, achamos que a condição psicológica de vocês na época influenciou no resultado.
“Eu não disse a vocês do que se trataria a reunião para que vocês não combinassem nada entre si. Quero que cada um de vocês vote no que realmente acredita que seja o certo. Novamente, o voto de cada um será secreto lá fora. E então, vocês votam sim ou não?”
– Sim! – dizem Johanna e Enobaria, em uníssono.
– Não! – exclama Peeta. – Eu não acredito que vocês, depois de todos esses meses, vão insistir nessa insanidade!
– Eu também voto não – diz Beetee. – Mantenho o que disse da outra vez. Nós precisamos de união, não de mais conflito.
– Ah, qual é! – esbraveja Johanna. – Esse povo da Capital acabou com a nossa vida!
– Silêncio! – ordena Paylor. – Cada um tem o direito de votar no que quiser, sem interferências externas.
Depois da “bronca” de Paylor, nós olhamos desconcertados uns para os outros e um silêncio constrangedor se instala entre nós. Annie é quem o quebra.
– Eu voto não novamente – diz ela.
– Bem, eu voto sim novamente, pela minha família – diz Haymitch.
Empate.
Todos me olham, sabendo que meu voto será decisivo. Olho para Peeta e vejo em seus olhos o pedido silencioso de que eu vote não. Penso nos últimos meses, em como apenas o amor foi capaz de me tirar do fundo do poço, de dar novamente um sentido à minha vida.
– Katniss, só falta você – diz a presidente.
Todos me olham com expectativa. Sei exatamente o que dizer.
– Eu voto não – digo, e vejo um sorriso imenso se construir no rosto de Peeta. Olho para os outros e vejo Beetee também feliz, Haymitch com uma expressão indecifrável no rosto e Johanna e Enobaria com cara de quem está me amaldiçoando mentalmente.
– Quatro votos contra e três a favor – diz a presidente Paylor. – Sendo assim, a última edição dos Jogos Vorazes não irá mais acontecer. Hoje mesmo irei ordenar que destruam as arenas. Fiquei feliz que a maioria votou contra. Meu posicionamento sempre foi contra a continuação dos Jogos. Eu não disse isso antes para não influenciar a opinião de vocês. Bem, todos podem ir, exceto Katniss.
– Eu? – digo, surpresa.
– Sim. Eu disse na carta que nós conversaríamos, lembra?
Assinto com a cabeça.
– Peeta pode ficar? – pergunto. – Nós não temos segredos um com o outro.
– Tudo bem – diz a presidente, levantando-se de sua cadeira. – Saiam todos, menos Katniss e Peeta.
Os outros se retiram, a presidente fecha a porta e volta a se sentar.
– Então – começa a presidente –, o assunto do qual vou falar agora é sigiloso. Não comentem com ninguém, certo?
Eu e Peeta assentimos com a cabeça.
– Quando você matou Coin – continua ela –, ficou presa por um tempo enquanto aguardava julgamento. No julgamento, o Doutor Aurelius intercedeu por você, alegando que você estava mentalmente desorientada, e você se livrou de ir para a cadeia. Ficou presa só no seu distrito, até que novas decisões fossem tomadas.
Ela dá um longo suspiro e continua:
– Não tenho certeza a respeito do que motivou você a matar Alma Coin, mas independentemente do motivo, você fez um grande favor a Panem.
– Como assim? – pergunto. Olho para Peeta e vejo uma expressão de dúvida em seu rosto.
– Eu sempre estranhei os posicionamentos dela. No meu íntimo, algo me dizia que havia algo errado com ela. Eu tinha a sensação de que ela planejava dar um novo golpe ditatorial em Panem.
– Esse foi um dos motivos que me fizeram matá-la – digo subitamente.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!– Sim, eu imaginei que fosse isso, embora não tivesse certeza. Muitos acharam que você a matou somente por vingança, pelo que aconteceu com a sua irmã, mas algo me dizia que você, assim como eu, temia que Coin desse um novo golpe de estado em Panem. Por isso, depois que eu assumi a presidência, decidi abrir uma investigação a respeito.
Olho para Peeta mais uma vez, e ele parece tão curioso quanto eu. Paylor prossegue:
– Eu não posso falar com detalhes como se deu a investigação, pois é tudo sigiloso, mas nós conseguimos reunir testemunhas e documentos que provaram que Alma Coin, de fato, planejava dar um golpe de estado após a guerra acabar e Panem entrar num regime democrático. Foi tudo tão bem bolado que estou certa de que isso aconteceria com apoio popular, porque as pessoas iam demorar muito a perceber que se tratava de um golpe. Em meio a isso, descobrimos também que ela planejava matar você, Katniss.
– Matar Katniss? – exclama Peeta. – Como ela ia conseguir apoio popular para o que quer que ela estivesse fazendo matando Katniss?
– Ela não ia matar abertamente, ela ia forjar um acidente – explica Paylor. – Ela sabia que Katniss seria um empecilho ao que ela estava tentando fazer.
– Então quando eu a matei, na verdade eu estava me livrando da morte – concluo.
– Sim, Katniss. E tem mais: Quando ela fez com vocês aquela votação a respeito de uma edição final dos Jogos Vorazes com as crianças da Capital, ela sabia que a maioria iria votar sim, já que todos vocês haviam sofrido muito. O objetivo dela não foi vingar o sofrimento de vocês com o mínimo possível de mortes. Ela já tinha planos de fazer com que os jogos continuassem. Ela queria que os distritos do 1 a 12 e a Capital ficassem subjugados ao distrito 13.
– Então por isso você fez uma nova votação? – pergunto.
– Sim. Eu queria cancelar logo essa edição final dos Jogos, mas os ministros não concordaram. Eles acharam que o justo seria vocês terem a chance de votar novamente. Então, só me restou torcer para que a maioria votasse não.
– Ainda bem que Katniss votou não, então – diz Peeta, dando um leve sorriso.
– Então, Katniss – continua Paylor –, como você prestou um grande favor ao povo de Panem, decidimos absolver você completamente. De hoje em diante, você poderá circular pelos distritos livremente. Vou pegar o documento que te autoriza a isso.
Ela se levanta da cadeira e vai até uma cômoda, abrindo a gaveta para pegar o documento. Enquanto isso, Peeta me abraça e dá um beijo na minha testa.
– Pronto – Paylor me entrega o documento –, aqui está. De agora em diante, você é livre – ela sorri.
– Obrigada, Presidente – digo.
– Por nada. Mais tarde, iremos anunciar ao vivo que os Jogos acabaram e que as arenas serão destruídas. Depois, haverá um jantar que contará com a presença de vocês, vitoriosos. Não será algo realmente elegante, será apenas uma confraternização. Vocês não são obrigados a ficar, mas eu realmente gostaria que vocês ficassem.
Penso em dizer que quero ir embora daqui o mais rápido possível, mas não quero fazer essa desfeita com Paylor. Peeta, ao menos até agora, está bem e tranquilo. Não há motivo para não ficarmos.
– Tudo bem. Nós ficamos.
– Certo. Podem ir, agora. O almoço já será servido.
Eu e Peeta saímos da sala e ele subitamente me agarra no corredor vazio, beijando-me com tanto entusiasmo que me tira do chão.
– Obrigado, meu amor! – diz ele quando rompe o beijo. – Obrigado por ter voltado atrás e votado não!
– Hoje eu entendo que esse é o justo a se fazer – digo. – As crianças da Capital não têm nenhuma culpa por tudo o que aconteceu.
Peeta abre um sorriso imenso.
– Eu te amo – diz ele, acariciando meu rosto.
– Eu também. Mas então, vamos almoçar?
– Sim. Estou morrendo de fome.
***
– É bom ver que dessa vez não tem ninguém vomitando para poder comer mais – diz Peeta, servindo seu prato.
– É bom também estar dessa vez num jantar simples, e não naquelas festas de gala da Turnê da Vitória – digo, também me servindo.
Estamos numa das salas da mansão presidencial, no jantar ao qual a presidente Paylor se referiu. Após seu anúncio ao vivo do fim dos Jogos, ela se juntou a alguns ministros, secretários e a nós, vitoriosos, em um jantar. Não é nada de gala ou coisa do tipo, é simples, conforme ela disse. Estão todos vestidos com roupas de passeio, em vez de roupas chiques.
Eu e Peeta nos sentamos em uma das mesas para comer e logo Haymitch e Annie se juntam a nós.
– Onde está Finn? – Peeta pergunta a ela.
– Dormindo no quarto – responde Annie. – A babá está lá com ele.
– Vou lá vê-lo, depois.
Eu poderia ter, mais uma vez, ficado sentida com o encantamento de Peeta por crianças, mas no momento eu só consigo me concentrar em Haymitch, que parece incrivelmente deprimido. Achei que a viagem poderia animá-lo um pouco, mas me enganei.
– Haymitch, está tudo bem? – pergunto, embora saiba que a resposta, obviamente, é não.
Ele olha para mim com uma expressão dura no rosto e depois volta seu olhar para o próprio prato. Também olho para o prato dele, e percebo que há pouquíssima comida, mas decido não dizer para ele comer mais. Ele já está parecendo miserável demais, e eu não quero fazer algo que possa aborrecê-lo.
Enquanto como, vejo que Beetee, Johanna e Enobaria estão em outras mesas, cada qual conversando com pessoas de seu interesse. Vejo pela minha visão periférica alguém se aproximando da mesa onde estou sentada e olho para ver quem é.
– Katniss! Peeta! – exclama Plutarch, parecendo muito feliz em nos ver.
– Olá, Plutarch – digo, me levantando para cumprimentá-lo. Peeta me imita.
– Como vocês estão? – pergunta ele, enquanto aperta minha mão e a de Peeta.
– Estamos bem – responde Peeta. – E você?
– Bem também. Eu já tinha visto Haymitch e Annie, mas ainda não tinha visto vocês dois. Gostaria de falar algo importante com vocês. Posso?
– Nós vamos terminar de comer e já vamos – digo. Não tem mais quase nada no meu prato e eu já estou cheia, mas não quero desperdiçar comida.
Minutos depois, após terminarmos de comer, eu e Peeta seguimos Plutarch até um corredor vazio da mansão.
– E então, o que você tem de importante para falar conosco? – pergunto.
Continua...
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