Take Back the Night
Anormalia
Rick sabia que devia se levantar, mas a preguiça imensa não o deixava fazer isso. Ele infelizmente estava ciente de que o dia seria bem longo. Mas, como o Mestre Eddard sempre dizia “você não tem opção”.
Lembrando-se dele, percebeu que o Mestre já havia levantado fazia tempo, julgando a luz que entrava no quarto. Praguejando por dentro, se desenrolou da coberta rapidamente e preparou-se para comer a comida matinal.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Ainda calçando a bota de couro apressadamente, foi pulando em um pé só em direção à cozinha, com a sua faixa para afastar o cabelo dos olhos na sua boca.
Mestre Eddard já saíra de casa. A mesa estava limpa.
– Desgraça! Sou um desgraçado mesmo! Mas o Mestre é mais que eu! – ajustando a faixa verde na cabeça, saiu correndo em direção ao exterior da residência.
Julgando pela posição do sol, devia ser em torno das oito horas. Correndo entre as casas, avistou a casa de Jean, onde ali perto o mesmo treinava estocadas com um graveto em um cacto. Ele finalmente arranjara um professor para ensiná-lo manobras de combate. Mas Jean nunca gostara de ficar parado. Sempre acordava cedo e treinava, mesmo que fosse sozinho.
Rick o alcançou arfante por conta da correria.
– Rick! Cara, ele vai te matar quando o encontrar! – Jean disse sem um pingo de piedade em seu tom de voz.
– E acha que eu não sei disso? Sabe onde o Mestre está?
– O vi indo para a ferraria...
Nem se despedindo, Rick retomou a corrida. Jean somente balançou a cabeça.
– Um dia os dois irão literalmente se matar desse jeito...
Rick não sabia o que era melhor: sair correndo para encontra-lo ou se esconder dele. Sempre tinha que acordar cedo para receber as tarefas do dia. Se ficasse na vila dessa vez, seria melhor, pois iria poder comer o café da manhã e fazer os deveres tranquilamente ao lado de Jean. Porém se fosse treinar, como quase sempre, por conta do atraso o Mestre iria pegar realmente pesado na parte física do treino.
Engoliu em seco e encarou o medo; afinal “A situação é ruim, mas simplesmente fugir é covardia”*; outra frase de seu Mestre.
Na ferraria, como Jean havia dito, lá estava ele. Polia a espada de diamante que depositava na sua casa. Quando Rick parou e a contemplou por meio segundo, não pôde deixar de apreciar sua beleza.
– Preciso dizer que está bem atrasado? – Eddard perguntou com um tom de ironia, não desviando o olhar de seu trabalho.
– Não. Perdi a hora. – Rick disse, não o encarando nos olhos.
– Isso é óbvio. Bom... Infelizmente para você, pequenino, vamos treinar. Só aguarde aqui um segundo...
Depois de nem um minuto, o Mestre o mandou levar a arma novamente para o lugar dela, aproveitando a viagem de pegar a mochila. Cuidadosamente, Rick voltou rapidamente para a casa e a depositou no encosto na parede.
Realmente, o objeto era belo... A luz do sol atravessava a lâmina, deixando-se ver a luminosidade azul claro ainda mais claramente... Magnífica a visão.
Rick só tocara em espadas algumas poucas vezes... Uma vez ainda em Altos Terrenos e outras quando o Mestre Eddard levava as suas outras de ferro para o treinamento; então ainda tinha cautela com essas coisas. Pois, por bem ou por mal, essa coisa era usada para matar. E não somente monstros...
Parou de pensar bobagens e seguiu em frente.
* * *
Mestre Eddard e Rick caminhavam por belos campos. O gramado hora e outra era recheado por várias flores de diversas cores. O reflexo dos dois passou pelo lago ao lado. Depois de quatro anos, Eddard não mudara nada; seus olhos verdes-mar sempre severos, sua barba castanha continuava sendo aparada um pouco abaixo do queixo e nenhum cabelo para ajeitar.
Contudo Rick é uma história completamente diferente. Crescera bastante durante esse tempo; usava um colete verde, calças pretas, botas de couro e na cabeça uma faixa verde, para afastar o cabelo louro de seus olhos.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Caminhava com confiança e nem se importando com a mochila, que havia deixado de ser pesada. O céu ficara recheado de nuvens carregadas; mais cedo ou tarde iria cair uma tempestade.
Mas alguma coisa o incomodava. Não saberia explicar direito se o perguntassem, mas estava com um pressentimento ruim. Olhava para todos os lados, procurando alguma anormalidade. Porém tudo permanecia normal. O vento remexia o mato tranquilamente...
De repente, Rick viu um vulto pelo canto do olho. Girou rapidamente no mesmo lugar – nada. Tivera certeza que havia alguém ali... Começou a realmente ficar temeroso.
Ouviu um farfalhar brusco atrás de si. Virou-se novamente e travou com a visão. Três zumbis corriam em sua direção e estavam perigosamente perto.
– Mas que diabos... Ah! – Rick escapou por pouco de um ataque.
De onde vocês vieram? – ele pensou, deixando a mochila no chão para ter mais agilidade.
Mestre Eddard escutou a voz do menino e percebeu o que ocorria. Rapidamente, alcançou a mochila e sacou o conhecido cabo revestido de ferro. Enquanto Rick se desviava de uma mordida após a outra de dois dos zumbis, Eddard exterminou o restante que o atacava. Logo após o oponente cair duro no chão, o Mestre foi ajudar seu aprendiz. No final, sucesso completo.
Rick, arfante, estudou os corpos desfalecidos. Percebeu um fato interessante: um deles carregava uma pá. Era a primeira vez que via algum zumbi carregando alguma coisa.
– Rick, de onde esses monstros vieram? – Mestre Eddard perguntou seriamente, também estudando o resto dos seus inimigos.
– Eu... Não sei, Mestre. Eles vieram do nada.
– Eles não podem ter surgido do além simplesmente.
Será? – Rick perguntou-se. O que era aquele vulto?
– Melhor nos apressarmos... Vai cair uma tempestade. Podemos nos abrigar na floresta. – Eddard concluiu, olhando para o céu.
* * *
– Deplorável. – Mestre Eddard dizia, esquivando-se de um ataque.
Rick estava encharcado de suor. Treinavam há três horas. O objetivo do treino era, como sempre, efetuar algum golpe relativamente bom. Só que essa tarefa seria muito mais fácil se o alvo não fosse simplesmente o melhor espadachim dos últimos anos.
– Consigo antecipar facilmente seus movimentos. É necessária uma finta e rapidez na hora de atacar.
A grama estava escorregadia por conta da chuva de mais cedo. Rick tentou mais uma vez. O cabo não acertou por pouco a cabeça do Mestre. Quase conseguira...
– Bom. Mas não foi o suficiente. E deu uma brecha para mim. – Aproveitando a proximidade, o Mestre deu uma rasteira, fazendo Rick cair com tudo em cima de seu braço.
– Uma falha inaceitável. Se eu estivesse armado, certamente estaria morto agora. Pague cem flexões por esse erro.
* * *
– Pelo jeito o Mestre pegou pesado com você hoje – Jean comentou, analisando seu empenho na luta.
– Bem, acho que essa não é uma novidade. – Rick falou, com um sorriso sarcástico no rosto, fazendo uma defesa na altura do peito.
Ambos lutavam com cabos de vassoura. As espadas ainda eram muito pesadas para a idade deles, por isso não as usavam. Jean, depois de conseguir um professor, melhorara muito nos golpes. Agora a tarefa de vencê-lo se tornara complicada.
Efetuando golpes, davam um “passeio” pela vila. Os adultos ao redor já haviam se acostumado em desviar dos garotos, embora nunca tenham parado de praguejar.
– Há, olha só Henry, os dois estão se exibindo de novo. – Otávio, um dos garotos que Rick nunca gostara, comentou alto perto das plantações.
– E o que você esperava de um príncipe e o seu escudeiro, afinal de contas? – Henry respondeu maliciosamente.
– Pelo menos nós sabemos lutar, bando de ignorantes! – Rick gritou sem parar de lutar.
– Somente ignore-os – Jean disse. Ele nunca se importava com insultos, sempre continuava calmo. Rick, por outro lado, era mais facilmente irritável.
– Eles nunca entenderiam do por que queremos ser fortes. – Jean explicou e se Rick não se jogasse para o lado teria sido acertado bem no estômago.
Bem... Eu nunca tive escolha quanto a isso. Ele refletiu. Só estou sendo treinado para defender a aldeia no futuro.
Mas sua ideia de ser aproveitado mudara um pouco nos últimos anos. Claro, tinham interesse nele, contudo se falasse seriamente com o Mestre que não gostaria de lutar e defender o lugar, Rick tinha a impressão de que ele cessaria o treinamento.
Porém Rick não possuía interesse nesse pedido. Essa pequena vila o acolhera e lhe dera comida e uma casa. Queria retribuir essa bondade.
E como Jean havia muito bem dito, gostava de se sentir útil.
Contudo, esses pensamentos de utilidade o lembraram de uma ocasião.
– Jean, eu preciso falar de uma coisa séria com você. – Rick falou, abaixando o cabo.
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