Os Blackwood estavam aprendendo muito rápido. Em apenas quatro meses, eles já sabiam praticamente todo o conteúdo até o sexto ano de uma escola de magia. Sem dúvida, Liadan e Kenrick eram mesmo filhos de Voldemort. Sabiam executar as Maldições Imperdoáveis, preparar poções vitais e, recentemente, aparatar. Tudo isso depois de muita leitura e prática.
Ralph continuava com suas aulas misteriosas durante o dia. Ninguém se atrevera a especular o que ele estaria aprendendo — essas foram as ordens dele: “não se intrometam”. Mas Liadan não conseguia se controlar.
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— O quê?
Elora Carrow estava de sobrancelhas franzidas. A garota, pequena e carrancuda, tinha se mostrado mais interessante do que Liadan pensara que podia ser. As duas se tornaram amigas — ou quase, pois Liadan não confiava em ninguém — e conversavam o tempo todo.
— Nada — respondeu Liadan, disfarçando.
Ela e o irmão progrediram tanto que passaram de aprendizes a professores. Na ausência de Ralph, os dois eram responsáveis por ajudar os outros a lançar os feitiços mais complicados.
— Pode repetir pra mim como se agita a varinha ao lançar um Orchideous? — indagou Orson a Liadan.
De cara fechada, ela mostrou ao garoto como executar o feitiço, mas na sua cabeça, Liadan ainda pensava no que Ralph estaria tramando.
***
O almoço daquele dia foi estranhamente silencioso.
Ralph Lestrange comia com pressa. Enfiava o garfo nos bifes como se estivesse fazendo sua última refeição, o que Kenrick achou anormal da parte dele. Quando conhecera o garoto, ele era tão carismático, e agora parecia ser uma pessoa completamente diferente.
Duas vezes, Kenrick o pegou encarando-o na mesa. O olhar dele era esquisito, carregado de desconfiança e talvez até desprezo. Que diabos ele tem?, pensou o Blackwood.
— Ralph — disse Kenrick, cuidadoso. — Tem alguma coisa errada?
Todos olharam para ele. Elora Carrow largou os talheres, e ficou imóvel, apreensiva. Provavelmente ela também queria saber o que o Lestrange estava escondendo.
— Ralph? — perguntou Kenrick de novo, pois o garoto não respondera.
O Lestrange levantou a cara para ele. Uma gota de suor corria por sua têmpora esquerda.
— Não há nada de errado. Por que haveria algo de errado, hein? — disse ele, histericamente. — Francamente, está tudo bem. Você... desconfia de que algo esteja errado, Kenrick?
— Talvez — respondeu Kenrick. — Você está meio estranho.
Ralph juntou as mãos, respirou fundo e se levantou. Não acabara a refeição.
— Perdi a fome — disse ele. Andou até o arco do corredor e sumiu em uma das curvas.
— Ralph. Ralph! — chamou Paige Malfoy, enquanto se levantava da sua cadeira. — Espere! Ralph!
A garota o seguiu a passos apressados, os cabelos voando em volta da cabeça. Na mesa, todos aparentavam ter perdido a fome também, e uma tensão inexplicável se espalhou pelo ambiente, fazendo o coração de Kenrick bater mais rápido do que o normal. Ele olhou para a irmã. O que está acontecendo?, dizia a expressão dela, e Kenrick sabia que a dele era exatamente igual.
Um grito ressoou pelos quatro cantos da casa. Um grito feminino.
Paige!, pensou Kenrick, e ele arrastou a cadeira rápida e desesperadamente, agarrando sua varinha no cós da calça e atravessando o corredor. Ele pôde sentir que os outros vinham atrás dele, alarmados e confusos.
Ao virar a curva do corredor para a sala comum, ele encontrou Paige Malfoy caída no chão, inconsciente, provavelmente por causa de um Estupore.
Ralph estava em pé, a alguns passos de distância dela, a varinha ainda apontada para a garota.
— O que você fez? — desesperou-se Kenrick. Ele correu para Paige, colocando a cabeça dela no colo e tentando acordá-la.
— Ralph...? — indagou Liadan.
O Lestrange estava com os olhos arregalados de adrenalina.
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— Mas Ralph... — começou Elora.
— Mas Ralph, nada! Eu sou o líder aqui! Ouviram?! Eu! E se as coisas não estiverem do jeito que eu gosto, então vocês é que vão arcar com as consequências.
Os outros pareciam chocados. Até Scabior, o mais próximo de Ralph, estava boquiaberto.
— Ralph, acalme-se... — falou ele.
— Não me dê ordens! — e apontou a varinha para Marshal. Ele ergueu as mãos, para demonstrar que não queria brigar, e Ralph pareceu se moderar um pouco. Baixou a varinha, e em seguida, encarou todos no recinto. — É isso mesmo. De agora em diante as coisas serão assim. Cansei de ser tratado como um igual. Sou um líder, e mereço respeito.
Liadan fechou os punhos com aquela frase.
— Se alguém aqui for contra mim, rebele-se agora.
Um silêncio mortalmente incômodo pairou pela sala comum. Liadan cerrou os dentes, raivosa. Esse filho da puta terá o que merece... mas não agora. Ela inspirou e expirou, controlando a respiração e tentando se acalmar.
— Você não é um líder, é um babaca.
Espantada, Liadan e os outros correram o olhar pela sala a fim de ver quem pronunciara aquelas palavras desafiadoras.
Kenrick Blackwood estava de pé, e sacara sua varinha em direção ao peito de Ralph. Mal tivera consciência do que acabara de dizer, mas agora que dissera, não tinha mais volta.
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