Liadan andava estranhamente próxima de Kenrick. Não em relacionamento, mas em distância. Se nos últimos dias ela havia feito o máximo possível para se afastar dele, agora estava fazendo justamente o contrário.

Várias vezes ele encontrou o olhar da irmã enquanto ela o encarava, mas quando isso ocorria, Liadan logo desviava o rosto para outro lugar. Kenrick sabia que ela estava tramando algo, mas não iria participar, de modo nenhum, das maluquices dela.

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Liadan ia acabar se ferrando uma hora ou outra, disso Kenrick tinha certeza. O plano dela era simples: estava tentando jogar os colegas uns contra outros, até que só ela fosse “a boa menina”.

Porém, ela começara mal; tentara jogar Scabior contra Greyback, mas o lobisomem morrera, e isso só provocou um caos desnecessário. Por isso Kenrick não contara nada a Ralph, mesmo sabendo dos planos da irmã. Porque ela iria achar sua própria ruína. Iria falhar.

E Kenrick não estaria lá para ajudá-la.

***

No almoço daquele dia, todos estavam divididos em suas conversas. Paige falava com Kenrick sobre como era sua vida antes de ir para a casa de Ralph. Elora Carrow tagarelava com Liadan fervorosamente, e ela tinha de admitir, até que a garota era interessante. Enquanto isso, Scabior sussurrava silenciosamente para Ralph.

— Você ainda está achando que o culpado da morte de Greyback foi Kenrick? — quis saber ele, tomando cuidado para que ninguém mais ouvisse suas palavras.

— Sim — foi só o que Ralph respondeu.

— Mas e ela? — indagou Scabior, lançando um discreto mas preocupado olhar à Liadan. — Ralph, ela tem mais motivos para ter trocado a poção de Harold que o irmão...

— Eu confio nela — alegou o Lestrange. — Ela tem sido muito agradável...

Mas não está na cara? Liadan está tentando ganhar sua confiança.

— E está conseguindo.

— Pois é, ela está. Mas já passou pela sua cabeça que ela provavelmente deve ter segundas intenções?

— Que tipo de segundas intenções?

Liderança — respondeu Scabior, sinistramente. — Alguém egoísta como Liadan Blackwood só pode querer ser a líder do grupo. Mas ela não é capaz de brigar com você, pois você é o que mais tem conhecimento em magia dentre todos nós. Garanto que só está esperando o momento em que se equipare a você...

— Cale a boca — disse Ralph, subitamente, silenciando Marshal. — Escute. Eu, Ralph Lestrange, confio naquela garota. Eu cresci sozinho, e agora eu estou realmente interessado nela, se é que você me entende, Scabior. Quero ter alguém como ela ao meu lado, mas para isso acontecer você tem que deixá-la em paz, ouviu bem?

Scabior ouviu. Ralph quer ter Liadan ao seu lado, mas Liadan não quer ter ninguém ao lado dela, pensou ele.

— Ao menos — suplicou Marshal, em uma última tentativa. — fale com Rabastan. Ele sabe muito bem o que fazer. Por favor, Ralph, fale com ele.

Ralph fechou a cara ao ouvir o comentário do garoto.

— Você sabe que eu não gosto de falar com aquele velho patético.

— Não seja idiota, ele é seu pai.

O Lestrange ficou quieto. Parecia estar numa conflituosa luta interior sobre que decisão tomar naquela situação. Por fim, disse:

— Liadan não está fingindo.

E não falou mais nada.

***

Liadan estava trancafiada em seu quarto, lendo sem parar os livros que Ralph lhe dera. Era realmente muita coisa para ler, mas ela daria conta de tudo, prometera a si mesma. Além do mais, a casa de Ralph era um lugar silencioso ao extremo, coisa que só ajudava na hora de decorar o conteúdo.

Ela estava lendo um parágrafo sobre as bubotúberas, criaturas pegajosas e nojentas que produziam um líquido capaz de curar espinhas, quando ouviu um barulho no corredor.

Uma porta se abriu e fechou. Em seguida, passos ressoaram no chão de madeira, produzindo um som oco e duro. A pessoa que caminhava o fazia lenta e suavemente, como se a última coisa que quisesse fosse ser seguida. Será Ralph? Indagou-se Liadan. E se fosse?

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A garota resolveu checar. Saltou de sua cama, girou a chave da porta e a abriu, tomando cuidado para não fazer barulho. Ao botar a cara para fora do quarto, ela pôde ver uma pequena mancha de cabelos pretos e curtos desaparecer escada abaixo. Sim, era Ralph.

Ela fechou a porta atrás de si e seguiu em direção à escada. Ao descer os degraus, viu que o Lestrange havia sumido. Não estava na sala comum, ou na sala de jantar. O térreo estava aparentemente vazio, exceto por uma porta entreaberta no final de um corredor, que projetava um feixe de luz no assoalho.

Era o quarto de Rabastan Lestrange.

Vozes sussurradas e apressadas vinham de lá. Liadan grudou-se na parede, com medo de que sua sombra a denunciasse. Seguiu pelo corredor sombrio até estar perto o suficiente para ouvir o que as vozes diziam.

—... me mandou vir aqui — disse a voz de Ralph.

— Ele fez a coisa certa — falou outra voz, fria, rasgada e rouca, sem dúvida de Rabastan Lestrange.

— Não vim porque quis — prosseguiu Ralph com desprezo. — A última coisa que quero é falar com você.

— Eu penso o mesmo — respondeu o pai dele, surpreendendo Liadan.

O silêncio reinou por um tempo, desconfortável e incômodo.

— Scabior acha que Liadan está mentindo para mim. Acha que está cobiçando minha liderança. — disse Ralph.

O coração de Liadan acelerou-se com isso. Maldito Scabior, pensou ela. Ele era mais inteligente do que aparentava.

— Mas eu não acredito nele. Nem um pouco — ressaltou o garoto. — Porém, preciso ter certeza.

— Parece-me ser o mesmo que aconteceu entre mim e sua mãe — um ar de riso aquecia a voz de Rabastan. — Eu confiava demais nela...

— Pare de falar da mamãe!

Rabastan riu friamente.

— Só porque você a matou, não posso mais falar nela?