Corria, como se sua vida dependesse disso. Talvez realmente dependesse, não? No momento, o tempo era seu pior inimigo. Caso não tivesse pressa, perderia toda e qualquer chance de dizer o que precisava. E sufocaria com aquilo para sempre. O arrependimento a corromperia. Só de pensar nisso, sentia seu coração se apertar e uma extrema angústia atingia todo o seu ser. As pernas doíam sem parar, mas precisava continuar. Mesmo que o cansaço estivesse lhe corrompendo, precisava...!

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A dor foi enorme. Era como se segurassem sua panturrilha e puxassem-na com extrema força por ambas as extremidades. Resumidamente, a sensação era de estarem rasgando seus músculos. Gritou. Como doía! Foi então que percebeu que todo o seu corpo gritava, moído. O trânsito estava terrível, então – após pagar – apenas descera do táxi e disparara a correr. E já estava nessa há mais de meia hora. Sabia que era loucura, mas o local cujo objetivava era um tanto distante e era uma boa opção, considerando o tráfego.

Não poderia perder essa chance por nada no mundo. Precisava revelar o que guardara para si por tanto tempo. Descansou por aproximadamente dois minutos, quando decidiu que não poderia perder mais tempo e tornou a caminhar. Não muito depois, já estava a correr novamente, sabendo que não faltava muito para chegar. E como imaginara, logo o aeroporto da cidade surgiu a sua frente, grande e imponente.

Entrou e começou a procurar pelo local o qual tinham lhe indicado nas horas anteriores. Pela janela, podia ver o sol despontando, dispersando, aos poucos, a escuridão. Isso não era um bom sinal. Chegando onde almejava, procurou por cabelos vermelhos, ouvido uma chamada para certo voo. Provavelmente o que temia. Indo para perto dos portões de embarque, viu quem queria. Mas a pessoa já entrara no local.

– Me deixem passar, por favor. - pediu aos funcionários.

– Sinto muito, senhorita, mas não é permitida a entra–

– MELANIE! - gritou, com toda força que seus pulmões puderam reunir.

Segundos se passaram, suas esperanças sendo lentamente esmagadas. Perdera a chance. Nunca mais poderia dizer. Fora estúpida. Ia para casa. Dessa vez, de ônibus. Deu as costas e se dirigiu para a saída do aeroporto. Mal dera os primeiros passos, aquela voz soou:

– Emily? O que você está fazendo aqui?

– Você ouviu... - sorriu, aliviada, apoiando-se nos joelhos.

– O aeroporto inteiro ouviu. - comentou, com certa ironia. - Como sabia que eu estaria aqui? - Emily arfou, cansada.

– A Lin me contou. Eu vim pra te dizer uma coisa importante.

– Sim, percebi. Que seria...?

– Eu também te amo.

Silêncio. Parecia que o aeroporto inteiro tinha parado para presenciar a declaração. Ou seria apenas impressão? Elas não saberiam dizer. O lábio inferior de Melanie começou a tremer, claro sinal de que controlava o choro.

– Depois... de todo esse tempo... O que te faz pensar que meus sentimentos são os mesmos? Eu me lembro bem da fria rejeição.

– Deveria também lembrar que eu tentava afastar tudo o que fosse romântico, não? Eu me fechei ao máximo. Fui fria. Mas ser amiga da Lin desde sempre acabou me fazendo conhecer você. Isso me tornou menos fechada, inclusive quando o PP entrou no grupo. Eu estava tendo amigos. Isso me amoleceu. Mas meu passado com romance tinha me destruído. Tanto meu ex quanto minha ex me traíram e me fizeram de brinquedo. Eu só queria evitar isso.

– Eu não tinha noção... Mas eu sou diferente! Eu nunca pensei que logo você fosse achar que sou igual a esse tipo de gente!

– Não é isso, Melanie. Eu só não podia nem queria ter esses sentimentos. Tanto que eu me afastei de você. E não fiquei sabendo que você ia voltar para a Suíça. Você ia simplesmente me abandonar. Eu quem deveria ter raiva. - falou, magoada, mudando a feição geralmente apática. - Mas eu não consigo, porque eu te amo. E dói tanto te perder... - os olhos encheram-se d'água.

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Já Melanie chorava copiosamente, as lágrimas tomaram sua face, agora vermelha. Sorriu.

– Meus sentimentos não mudaram. Nesses três meses que estivemos distantes, eu só pensei em você. Eu te amo, muito, muito, Emily.

Aproximaram-se, sendo separadas apenas pela faixa divisória. Os passageiros que aguardavam as duas terminarem para passar, em sua maioria assistiam ao desenrolar dos fatos emocionados, alguns poucos irritavam-se, sem paciência.

– Idem. - deu um de seus típicos sorrisos de canto e selou seus lábios nos da amada em um beijo inocente. O primeiro inocente de Emily em anos. Afastaram-se pouco depois, com as faces carregadas de emoção. Melanie observou seu relógio de pulso, cabisbaixa.

– Eu tenho que ir. Meu avião vai decolar em breve...

Ficaram em um silêncio agradável por mais alguns segundos, aproveitando o momento e reunindo forças para se separarem. Ambas se abraçaram por um tempo, com sorrisos nos lábios.

– Sabe... eu vou te esperar. Vou esperar você voltar.

– Eu não me importo se você ficar com outras meninas nesse tempo. - A outra arqueou a sobrancelha. - De verdade. Apenas não se apaixone. Nem namore. Ok? - Emily assentiu e apertaram as mãos.

– O mesmo vale para você.

– Tudo bem. Até mais.

– Boa viagem. E até um dia.

E cada uma seguiu seu caminho. Estavam felizes. Satisfeitas. E seus corações estavam preenchidos. Agora só restava esperar até o dia em que se sentiriam assim novamente. O dia do reencontro.

Epílogo

A campainha tocou, insistentemente. Estava ansiosa para revê-la. Logo, um homem abriu. Parecia ter a sua idade. Naquele momento, sentiu como se estivesse sem chão, não conseguia acreditar! Ela seguira em frente. Certo, três anos se passara e combinado era que poderiam ter outras relações, mas ela já estava morando com um homem? Com apenas 26 anos?

– B-boa tarde. - gaguejou, a voz fraca.

– Boa tarde, posso ajudar?

– Meu nome é Melanie e procuro uma garota chamada Emily.

– Emily? Ah, esse nome me soa familiar... Gostaria de entrar? - ofereceu, sendo gentil.

Melanie deu um suspiro de alívio. Emily não era nada desse rapaz. Mas ainda sim...

– Não quero incomodar. - sorriu torto.

– Não seria incômodo algum. Por favor, entre.

O homem deu a passagem, para que ela pudesse entrar no pequeno apartamento, e assim ela fez, olhando admirada para o a residência, tão diferente de outrora.

– Quem é essa garota? - Um rapaz loiro questionou.

– Ela veio procurando uma tal de Emily. - respondeu, entregando um copo d'água a Melanie. - Alguma das tuas ficantes?

– Era a antiga moradora, cara. Não seja estúpido. Ela saiu porque o aluguel é só para estudantes de faculdade, foi o que ela disse, lembra?

– Ah, verdade! Isso mesmo, moça, eu e meu colega conhecemos essa mulher.

– Nós temos o celular dela, você quer? - O loiro ofereceu, de maneira displicente. - Ela deixou, caso precisássemos.

– Eu gostaria. Ao que parece, ela trocou de número há bastante tempo e eu não tenho o novo.

Pouco depois, ligava de seu celular, já na rua. A voz que atendeu era mais madura do que se lembrava.

– Emily?

Sim?

– É a Melanie. - constatou baixo. Um suspiro se fez ouvido.

Há quanto tempo, Melanie.

– Você não parece contente. - murmurou.

Um pouco chateada, sim .Perdemos contato. Eu achei que você não voltaria.

– Então você arranjou alguém?

– Não, sua idiota. Eu só tinha perdido as esperanças. Nada que te ver não resolva. - A voz vinha de algum ponto de trás de si. Virou-se, deparando-se com a amada. Desligou o celular, alegre.

– Emily!

E um beijo cheio de amor e lágrimas foi trocado.

– Eu nunca mais vou te deixar ir. - E foi só o que Emily disse antes de tomar os lábios rosados mais uma vez.

The End.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.