So close, So far

Capítulo Sexto


Capítulo Sexto

Outro dia de verão

Veio e foi embora

Em Paris e em Roma

Mas eu quero ir para casa

(Home – Michael Bublé)

Seis meses depois

“Querida Lisbon,

Eu espero que essa carta chegue até você, aqui está tudo bem! Eu tenho a minha rotina. O tempo finalmente está mudando agora. Está um pouco mais frio, mas não muito; porém o oceano ainda está quente. É impressionante com as correntes quentes trazem uma abundância de vida marinha. Ainda ontem, eu vi um grupo de golfinhos brincando tão perto da costa que eu podia quase tocá-los. Eram o tipo de coisa que acho que você gostaria de ver.
Eu encontrei um alfaiate, Chip. É difícil explicar a ele o que quero, mas ele apenas concorda e então faz de qualquer maneira. Apesar do mal gosto o trabalho dele é excelente.
Eu queria pedir desculpas por ter deixado você na praia naquela noite. Você não estar aqui é a única coisa que faz esse capítulo estranho e triste.

Assinado você sabe quem.”

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Aquela havia sido o primeiro verdadeiro contato que Lisbon tivera com Jane por seis meses. A princípio, nas primeiras semanas, no primeiro mês, ela tentou entender que seu amigo precisava de um tempo só para si, tempo para se acostumar com a ideia de que finalmente ele poderia voltar a viver. Mas então outro mês veio, e mais outro, e enquanto o tempo passava, nenhuma notícia chegava. Sentia-se como se houvesse voltado anos atrás, na época em que ele desaparecera por Las Vegas, fazendo todos acreditarem que havia desistido de sua vingança, e se entregara a uma vida completamente miserável.

Foi então que a primeira carta chegou, sendo entregue por alguns antigos amigos de circo de Jane, Peter e Sam. E depois da primeira, várias outras vieram tão constantemente que se tornaram parte de sua rotina ler suas cartas. Antes chegou a se perguntar por que ele demorou tanto tempo para finalmente fazer contato, e porque suas cartas pareciam mostrar um lado dele que antes ficava tão bem escondido. Eram palavras cheias de sentimentos, de significados. Boa parte das informações que lhe dava sobre sua simples rotina era cheias de nada, apenas informações, mas ele sempre conseguia arrumar um jeito de tocar em algum assunto importante sobre o passado dos dois, rindo de alguma mentira que dissera antes para ela, ou pedindo desculpa por algum erro que cometera.

E da mesma forma que o tempo passava, e as cartas vinham, Lisbon seguiu em frente com sua vida, fazendo uma completa reavaliação sobre tudo que havia acontecido até aquele ponto, e decidindo-se por sair daquele ponto morto, e permitir-se viver além de uma simples realidade onde ela era uma policial e Jane era seu consultor dor de cabeça com a qual tinha que preocupar-se constantemente.

Agora, Teresa Lisbon, era xerife em uma cidade chamada Cannon River em Washington. Tinha uma bela casa, e conseguia dormir oito horas por noite, e não ter pesadelos, na maioria das noites. Tudo era calmo, e estava bem assim.

Cho estava no FBI, enquanto Rigsby e Van Pelt dedicaram-se a abertura de uma companhia de vigilância digital. Enquanto Jane... Bom, Jane estava perdido por alguma ilha na América central, aproveitando o sol e a vida marinha, comendo ovos em uma pequena tenda a beira do mar, e tentando não esquecer o seu inglês.

Dois anos depois

Talvez cercado por

Um milhão de pessoas, eu

Ainda me sinto totalmente sozinho

Eu só quero ir para casa

Eu sinto sua falta, sabe?

(Home – Michael Bublé)

“Voltar nem sempre significa andar para trás, pode significar seguir em frente”.

– My Blue Haven

Tudo mudou, quando ao pegar aquele pequeno pedaço de guardanapo sobre o balcão, Jane escreveu: “Meus Termos”.

Pensando muito rapidamente, lembrou-se de Lisbon, notando que ela era sempre o seu primeiro pensamento sobre o que lhe era de precisão imediata na vida. Se fosse para voltar aos EUA e seguir em frente, então ele queria que ela estivesse junto de si.

Muitas coisas aconteceram desde que fora embora. Podia notar claramente pelas respostas de Lisbon em suas cartas. Ela parecia feliz, pelo o menos, sentindo algo muito parecido com isso. E ele havia pensado, pensado muito mais do que já fizera um dia, sobre tudo, revisando cada momento, identificando cada pensamento e sentimento desde que sua família se fora. Pensara que havia encontrado o que procurava naquele lugar, a paz que tanto almejou. Mas quando Abbott veio a sua procura lhe oferecendo um emprego, afirmando que ele não tinha motivos para se deixar definhar em um lugar onde seus dons de observação não tinham a menor utilidade, pode sentir que tudo o que havia definido como certo após muito pensar naquele pedaço de paraíso havia se bagunçado, e descobriu que precisava de uma nova avaliação sobre o que realmente queria.

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Nos primeiros seis meses, tudo nunca havia sido tão difícil. Jane realmente não sabia exatamente o que fazer, apenas sabia que precisava de um lugar calmo, onde pudesse pensar. Nada melhor do que um pedaço de ilha no meio do continente com uma bela vista para o mar, rodeado por pessoas que não o conheciam, nem mesmo notavam sua presença.

Pensara que para seguir em frente com sua vida precisaria abandonar tudo que o ligava a suas más lembranças. Nada mais de trabalhar para a polícia, nada de morar em lugares onde as pessoas se matavam a cada segundo. Jane estava seguindo em frente, encarando sem medo a dor de que parte da culpa de sua família ter ido para sempre, ainda era sua, que Red John finalmente estava morto, e que ele poderia retirar sua aliança. Entendera finalmente que sua vingança não havia lhe trago o alívio que pensara, pelo o menos não de maneira tão plena. Sentia-se melhor por saber que aquele bastardo infeliz havia tido o fim que merecia, que não havia saído em puni, mas a cada dia ainda precisava lidar com suas perdas, que ele não poderia mudar a realidade, não importa quantos seriais killers ele matasse.

Sua vida agora era muito mais do que fora toda uma perseguição de anos, ela poderia ser normal. Um pena que havia se esquecido de como era ser normal.

XXX

– Esses são os meus termos.

– Senhor Jane, creio que não está em posição de exigir “termos”... – Abbott parecia achar graça de toda a situação.

– Vamos, leia-os, tenho certeza que não serão nenhum problema para você.

O agente não pareceu muito confiante, apenas arqueou as sobrancelhas demonstrando suas dúvidas. Ele havia viajado por horas, em busca de um homem que resolvera se isolar de tudo e de todos, para lhe oferecer um emprego no FBI, tudo graças a seu grande índice de fechamento de casos, e este mesmo homem ainda tinha coragem de fazer exigências.

– Escute Jane, eu apenas estou aqui porque meus superiores acreditam que você seria de grande ajuda para o FBI – Disse Abbott – Eu particularmente acredito que podemos seguir muito bem sozinhos... Por mais que eu esteja começando a achar que quem está realmente fazendo um favor aqui sou eu, a você – O homem encarou o loiro de cima a baixo, pensando onde diabos ele havia arrumado aquelas roupas, e qual fora seu último banho – Então não acredito que nós vamos ter algum acordo.

– Apenas leia os meus termos. – Disse Jane sério, balançando nas próprias pernas.

Então ele o fez, pegando o pequeno guardanapo amarelo e lendo seu conteúdo. Deixou que um sorrisinho se instala-se no canto de seus lábios, até que encarou Jane.

– Viu? – O loiro falou sorrindo, seu melhor sorriso prepotente – Nada que você não vá se beneficiar conseguindo.

– Como eu havia dito, não acho que poderei ajudá-lo com os seus termos.

– Porque não?

– Porque sua namorada não quer trabalhar conosco.

Jane o encarou curiosamente, tentando entender o que ele havia perdido de tão engraçado no tom de voz do homem a sua frente.

– Como...

– Deixe-me esclarecer algumas coisas com você Senhor Jane – Abbott sentou-se mais confortavelmente em sua cadeira no grande quiosque do hotel que se encontrava hospedado, cruzando as mãos sobre o colo – A senhoria Lisbon não está indo para trabalhar no FBI.

– Porque não? Nós dois sabemos que ela é uma ótima agente... E que não tem nada haver com a Associação Blake, nós dois sabemos que você já deu um bom limpa em todos os departamentos e agencias do país.

– Você não está me entendendo, ela não quer trabalhar com o FBI.

– Como pode saber? – Jane colocou-se de modo que podia olhar muito de perto para Abbott, analisando cada expressão do homem a sua frente, tentando captar qualquer mentira que ele pudesse estar lhe contanto.

– Nós oferecemos um emprego a ela a dois anos atrás e ela recusou.

– Como? – Jane pareceu confuso com essa afirmação, Lisbon não havia lhe dito nada sobre uma proposta de emprego do FBI em suas cartas.

– Nós oferecemos um emprego a ela e o restante do pessoal do seu departamento – Explicou o homem pacientemente, parecendo verdadeiramente divertido com a situação – O único que aceitou foi Cho.

– Oh.

Bom, aquilo era novidade para ele. Jane sabia que Cho estava trabalhando para o FBI, mas não sabia que os outros haviam recebido a mesma proposta de emprego. Mas especialmente, não sabia que haviam recusado.

Com certeza as coisas mudaram de perspectiva para si agora. Voltar a trabalhar para a polícia, e sem Lisbon, com certeza não era uma ideia que havia cogitado, com certeza, sua determinação em voltar havia mudado, pouco. Ainda havia uma coisa que ele poderia tentar.

– E seu eu conseguisse convencê-la, a proposta de emprego se mantém de pé?

Abbott o estudou em silêncio, imaginando que provavelmente Jane estava planejando alguma coisa.

– Se sua namorada finalmente aceitar a trabalhar conosco... – Suas palavras foram lentas, pausadas, quase soletradas – Nós podemos pensar no que fazer sobre a proposta de emprego.

– Ótimo, vamos deixar a parte de convencê-la comigo. – Jane cantarolou alegremente.

– Mas creio que deveria te avisar de uma coisa Senhor Jane...

– Hum?

– Dois anos são muita coisa, as pessoas mudam em dois anos... Talvez você continue o mesmo pé no saco arrogante... Mas o mundo continua girando, e não é em torno de você.

Jane ponderou, mas não pareceu se importar com as palavras de Abbott, mesmo sabendo que elas eram mais reais do que gostaria.

– Vamos deixar que eu decida se o mundo está ou não girando ao meu redor.

– Okay, temos um acordo – O agente estendeu uma de suas mãos.

– Temos um acordo – Jane sorriu triunfante, apertando sua mão.

Eu continuo guardando todas as cartas que te escrevi

Em cada uma delas, uma ou duas linhas

"Estou bem querida, como você está?"

Bem, eu as enviaria, mas sei que isto não é o bastante

Minhas palavras eram frias e vazias

E você merece mais do que isto

Outro avião

Outro lugar ensolarado

Eu tenho sorte, eu sei

Mas eu quero ir para casa

Tenho que ir para casa

Deixe-me ir para casa

Estou tão longe

De onde você está

Eu quero ir para casa

(Home – Michael Bublé)

Depois de algumas desconfortáveis horas dentro de um avião, na companhia de um milhão de pensamentos, e alguns poucos minutos de taxi, Jane foi capaz de finalmente chegar ao lugar onde Lisbon estava vivendo. Olhou para a bela casa a sua frente, e não pode evitar um sorriso.

Aquele lugar com certeza se parecia com ela, simples e ao mesmo tempo, perfeito.

Pegou um pedaço de papel meio amassado dentro de sua pequena sacola de viagens, passando os dedos inconscientemente sobre os dizeres em sua capa. Teresa Lisbon. Aquela era a primeira carta que havia escrito para ela, em uma de suas noites de angústia após chegar naquela ilha. Era uma carta que continham palavras vindas direta de seu coração, falando sobre sentimentos que não tinha noção de que realmente poderiam um dia vir a existir novamente dentro de si, uma pessoa tão danificada.

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Não havia enviado a carta, e demorara meses para finalmente conseguir formular alguma outra, menos sentimental. Agora, de frente para sua porta, sentindo ao mesmo tempo a hesitação e excitação em rever Lisbon, pensava se algum dia seria capaz de finalmente lhe entregar aquelas palavras, ou quem sabe, se ele mesmo seria capaz de entender seus dizeres.

Bateu levemente na porta, balançando o próprio corpo em ansiedade. Não conseguindo deixar de sorrir, numa enorme felicidade antecipada que não lhe cabia no peito.

Então a porta se abriu, dando a visão para Jane de uma pequena mulher bonita, os cabelos amarrados em um coque desajeitado, vestida em uma blusa de grandes dimensões, os pés descalços. Mas seus olhos, oh! Como sentira falta daqueles olhos!

– Nunca te ensinaram como é perigoso abrir a porta para estranhos tarde da noite?

A mulher não conseguiu dizer nada imediatamente, estava ocupada de mais ficando em estado de choque.

– O que te garante que não estou com minha arma? – Um sorriso começou a se formar em seus lábios, enquanto olhava muito atentamente para o loiro, completamente desarrumado, a sua porta.

– Bom, já que perguntou... – Ele da um passo a frente – Não vejo como esconder uma arma nesses seus trajes...

– Oh, você se surpreenderia com minha capacidade... – Lisbon se mateve em seu lugar, sem afastar-se da súbita aproximação de Jane.

– Me surpreenderia eh? Porque você não me mostra então? – Outro passo de Jane para frente.

– Oh, cale a boca Jane! – Então sem recuar, Lisbon deixa-se ir ao encontro do amigo, afundando-se em seus braços, em um abraço apertado. Podiam sentir seus corações a mil naquele instante, batendo em ritmos iguais, tão acelerados como se era possível.

– Eu senti sua falta – Disse ele.

– Eu também senti sua falta.

Me deixa ir para casa

Eu tive minha chance

Baby, estou acabado

Estou indo para casa

(Home – Michael Bublé)

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.