Stray Heart

Ônibus desgovernado e Aulinhas de dança.


P.O.V. Percy

Rapidamente, pus a minha mão no ombro do Nico e me afastei dele. Nós dois não estávamos acreditando no que tinha acontecido. Ele é gay! E ainda por cima me beijou! ECA! Ele escorou a cabeça no volante do carro.

– Ah... – foi o que saiu da minha boca. Eu devia estar com uma cara de otário tão grande – Eu vou indo.

Saí imediatamente do veículo da boiolice. O carro também saiu dali. Infelizmente, deparo-me com um Grover perplexo. A boca dele formava um “O” perfeito. Senti que ele ia começar a rir da minha cara.

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É muito azar para uma pessoa só!

– O que você viu, não pode ser comentado com ninguém! – decretei e fui logo entrando no meu apartamento. Ele me acompanhou subindo as escadas logo atrás de mim.

– Percy é impressão minha, ou você foi dar em cima da Annabeth e conquistou o motorista dela? – brincou. Virei-me para ele e mostrei o dedo do meio.

– Foda-se o que você acha... – fiz uma breve pausa – Garoto-bode.

Eu já estava prevendo que nós dois íamos brigar ali mesmo, no meio da escada. Porém Grover desviou o olhar e passou a prestar atenção na minha prima que estava descendo os degraus.

– Gata, você não é ônibus, mas eu te espero em qualquer parada. – disse Grover bobamente enquanto a Thalia retorcia o nariz para ele.

Thalia trajava uma blusa sem mangas preta com detalhes vermelhos, uma saia soltinha e curta cinza escuro, meias pretas e suas típicas botas de couro. Segurava uma mochila escura enorme que ela usava para guardar a guitarra dela.

Ela apenas revirou os olhos e continuou descendo.

– Quem é ela? – perguntou meu amigo curioso e esperançoso.

– Thalia Grace, minha prima. – respondi voltando a andar.

– O QUE? Aquela gata é a sua prima esquisitona que eu conheci há anos atrás?

– É!

Finalmente chegamos ao meu apartamento. Entramos. Grover estava com uma mochila roxa que só agora eu tinha percebido.

– Pra quê a mochila? – indaguei – E cadê a Rachel?

Rachel, Grover e eu tínhamos combinado de preparar as coisas para o baile de formatura da Annabeth. Eu precisava aprender a dançar alguma coisa para impressioná-la.

– A Rachel não pode vir, porque a irmã dela está internada e ela foi fazer companhia durante essa noite. – disse ele. Eu não sei o que estava dando nele, mas ele tirou um sutiã branco desgastado da mochila e o vestiu por cima da camisa listrada. Depois, tirou duas laranjas e as pôs dentro do sutiã, para ficar com busto. E para fechar com chave de ouro: uma peruca loira.

– O que é isso? – pronunciei lentamente.

– Íamos usar a Rachel para dançar com você, mas já que ela não pode estar aqui... Então vem logo antes que eu me arrependa.

Fui até o Grover, quer dizer, a versão masculina da Annabeth.

– Pra falar a verdade, acho que você ficou até legal. – comentei – Você daria um excelente travesti!

– Cala boca!

Levei a minha mão até os “seios” dele e fingi apertá-los.

– Ah, Annabeth! Deixa de ser enjoada e vem logo transar comigo! – falei gemendo como se estivesse excitado.

– Percy. – chamou ele.

– O que?

– Esse sutiã é da minha mãe!

Saltei para trás e comecei a esfregar as mãos na minha roupa.

– AH! QUE NOJO! – exclamei. Grover apenas ficou rindo de mim.

– Eu sabia que você ia fazer alguma coisa assim! – admitiu.

Concentramo-nos. Pus a mão direita na cintura dele e com a outra mão, peguei a mão direita dele. Começamos com pequenos passos de para lá e para cá.

Não tem como o meu dia ficar pior!

– Eu sou a Chase e estou dançando com o Jackson. – cantarolou o Grover. Acho que ele estava tentando tornar aquilo menos constrangedor, o que era em vão.

Foi quando eu olhei pela janela e percebi que, do outro lado da rua, tinha um casal de idosos nos espiando. Parei aquilo e fui fechar a janela e as cortinas.

– Grover, já chega de viadagem para mim por um dia! – falei – Amanhã vamos alugar um terno eu aproveito para ensaiar isso com a Rachel. Ela vai amanhã, né?

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Ele tirou seus acessórios de mulher.

– Ela vem e eu já vou indo, antes que nós dois resolvamos mudar de lado! – disse ele. Apenas rimos daquela situação.

[...]

P.O.V. Grover

Saí do apartamento do Percy.

Já estava na calçada. Caminhei para a parada de ônibus. Fiquei sentado esperando e esperando. Cerca de meia hora depois, aquela lata-velha finalmente apareceu. Subi nele, paguei o motorista e sentei no único assento que estava vazio.

Do meu lado, estava um belo par de pernas cruzadas. Eu não consegui ver direito o rosto da moça já que ela olhava o tempo todo para a janela, mas pude ver cabelos castanhos caramelo lisos. Ela usava um short jeans com detalhes rasgados, uma regata branca com desenhos de árvores, um colete fininho marrom quase transparente e sandália marrom com tiras finas.

Fingi atender ao telefone, só para chamar atenção da garota.

– Alô? – comecei – Sim, eu fiz uma transferência de trinta mil dólares para a conta da minha mãe na Suíça. – menti – Ok. Obrigado. Eu acho que passo aí amanhã para retirar cinco mil dólares para ajudar crianças no orfanato que não tem muito acesso ao lazer e à diversão. – senti que falei a coisa certa, pois a garota começou a se virar para mim, porém eu desviei o olhar só para disfarçar – Tenha uma ótima noite.

“Encerrei a ligação”. Ah, eu estou parecendo o Percy tentando impressionar a Annabeth.

Olhei para a garota e... EU A CONHEÇO! É aquela garçonete dançarina, Júniper. Ela ficou tão espantada quanto eu.

– Ah, oi Júniper! – disse um pouco desapontado.

Menti só para impressionar uma garçonete qualquer?

– Oi...

– Grover. – falei. Acho que ela não lembrava o meu nome. Eu já tinha me encontrado com ela uma ou duas vezes na rua. Mas nunca conversávamos, ela sempre dizia que estava com pressa e me deixava no vácuo. E quanto àquela noite que eu paguei para assistir uma dança particular dela? Foi só uma dança. Eu deixei a entender que nós dois tínhamos feito coisas promiscuas, mas não aconteceu nada.

Ela sorriu minimamente.

– O que estaria fazendo uma pessoa tão rica no ônibus Grover? – brincou. Realmente, eu não tinha pensado nisso.

– É eu não sei! – admiti. Talvez, eu poderia ter dito que sou uma pessoa muito humilde. Ah, deixa para lá!

Ela voltou a prestar atenção na janela. Aquele ônibus estava tedioso ao extremo. Ninguém conversava com ninguém, escutávamos as músicas bregas do motorista e todos esperavam que a sua parada chegasse logo.

– TODO MUNDO PARADO! – ordenou um sujeito careca e pálido. Ele mostrou um revolver e eu senti minhas pernas tremerem – NÃO PARE O ÔNIBUS! – apontou a arma para o motorista, que continuou dirigindo só que de maneira assustada.

E agora? Ele vai me assaltar! Mas eu sou pobre e não tenho nada! E SE ELE DECICIR ME MATAR OU ME ESTRUPAR PORQUE SOU POBRE E NÃO TENHO NADA HÁ DAR?

Júniper pôs as pernas para fora do ônibus e se atirou para fora pela janela. Decidi fazer o mesmo. Pus meus braços e minha cabeça para fora.

– EI MELIANTE! – senti que o ladrão estava falando comigo – O QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?

Impulsionei-me para frente e pronto! Já estava fora do ônibus. Só que eu não tive uma queda lá muito perfeita. Caí no chão terroso batendo a parte superior das costas. Minha perna se chochou contra o batente da calçada. Urrei de dor.

– Você está bem? – perguntou Júniper se ajoelhando no chão ao meu lado.

– Acho que sim. – pronunciei com a voz dolorida. Consegui ficar de pé.

Ladrão filho da puta!

– Ok. Eu já vou indo! – disse ela ficando de pé e se afastando de mim.

– Espera. – falei e ela se virou para mim.

– O que?

– Nada. – disse eu. E ela apenas acenou e saiu dali.

Eu queria conversar com alguém, assim teria companhia de volta para casa. Mas quem iria perder tempo e saliva com uma simples garçonete?

[...]

Percy começou a analisar os ternos que estavam dentro de um material transparente e enfileirados numa barra de ferro.

– Do que será que a porquinha gosta? – perguntava ele a si mesmo.

Já era dez da manhã. Eu estava numa loja que alugava roupas de festa. Percy precisava alugar um terno para levar Annabeth ao baile de formatura dela.

– Grover, você acha melhor gravata borboleta ou a normal? – interrogou.

– A normal. – respondi.

Cerca de vinte minutos depois, aparece a Rachel com seus óculos escuros redondos, vestido verde florado e sandálias rasteiras.

– Bom dia rapazes. – disse ela quase que cantarolando.

– Como está a Raquel? – perguntei.

– Ela descobriu ontem que tem AIDS. – respondei Rachel. Franzi o cenho.

– Pensei que ela fosse casada. – disse Percy.

– E ela é! – falou a ruiva.

Resolvemos mudar de assunto. Rachel escolheu um terno e o entregou para Percy. Ele foi até uma cabine se trocar. A “cabelo de fogo” sentou no sofá ao meu lado.

– Parece aflito Grover. – comentou.

– Que nada. Só estou cansado mesmo. – na verdade, a minha perna ainda doía um pouco da queda que eu tinha levado.

Percy veio até nós trajando um terno preto estilo galanteador. Rachel foi até ele e ajeitou a gravata.

– Então, vocês ensaiaram ontem à noite? – perguntou ela com um sorrisinho na cara.

– Claro. – respondi – Começamos assim que o Percy terminou de dar uns amassos no motorista da Annabeth.

– GROVER! – exclamou Percy raivoso.

– O QUE? – a risada da Rachel era gostosa de ouvir – Percy você é gay?

– Não! – negou batendo o pé no chão – Eu sou espada! Homem com H maiúsculo! – ele bufou – Foi aquele esquisitão antissocial que me agarrou dentro do carro.

Rachel e eu gargalhamos ainda mais alto. A face do Jackson ficou vermelha de ira e de vergonha. De repente, ele pôs um sorriso malandro na cara.

– Que eu saiba Rachel Elizabeth Dare, já lhe dei provas suficiente de que eu sou homem! – vangloriou-se.

– Isso quer dizer que você é bissexual? – rebateu Rachel – Então, você curte os dois?

– Não! Eu curto apenas mulheres! – piscou para ela – Principalmente as ruivas.

Ele pôs a mão no queixo dela e a puxou para um beijo. Porém, ela desviou o rosto. Percy ficou meio sem entender e a estranhou.

– Que foi? – indagou ela.

– Por que recusou meu beijo? – interrogou o “pseudo bissexual”.

– Porque você vai começar a namorar a Annabeth. – respondeu.

– E daí? – pronunciou ele arregalando os olhos.

– Percy, eu sou sua amiga. Eu. Nunca. Serei. Sua. Amante. – decretou pausadamente.

O clima ficou meio pesado, mas logo eles se entenderam e ela o ensinou a dançar valsa ali mesmo.