Lisbon juntava suas coisas com um pouco de pesar nos ombros. O que faria a partir desse momento? Tinha dedicado tanto tempo e esforço de sua vida com a agência e agora deveria ir embora, sem sequer se despedir adequadamente.

Era frustrante, mas não se tratava apenas de estar desempregada. Aquele lugar era o contato mais “familiar” que ela desfrutara em décadas. Do porteiro à mulher da limpeza, passando pelo mal humorado e pouco presente Virgil Minelli, Grace e Wayne. Era neles em quem ela pensava enquanto estava só. Poderia se sentir aborrecida e isolada quando estava em casa nas noites tediosas de domingo, mas sabia que ao amanhecer da segunda, encontraria com todos na agência e seu dia faria mais sentido. Agora aquilo simplesmente não a pertencia mais.

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Perdida nesses pensamentos juntava suas coisas, até que ele, o odioso Patrick Jane, a despertou de seus devaneios:

– Lisbon, na minha sala, por favor. – Ordenou.

A última pessoa com quem ela desejava falar neste momento era Jane, mas não poderia negar o chamado. Precisavam acertar os trâmites de sua demissão. – Ok – Ela se veste com sua carapaça de coragem, a fim de esconder a tristeza pelo momento, e se dirige a sala do ex-chefe.

– Estou aqui, do que se trata.

– Irei direto ao assunto, Cho – Ele acenava para o amigo na sala – Poderia nos deixar a sós um segundo?

O asiático acena com a cabeça e se dirige para fora da sala. Lisbon não gostou nada da situação. Algo nela achava tudo àquilo muito estranho, mas se sentou em frente à mesa de Jane, aguardando o que ele tinha a dizer.

– Agente Lisbon, lhe chamei a minha sala porque preciso te fazer uma proposta.

– Olha Jane, me desculpe, mas pra mim já não dá mais. Não consigo concordar com a maneira que você lida com as investigações, isso não vai dar certo.

– Não estou falando sobre a agência. – Ele a interrompe, a deixando confusa – Vou lhe propor em casamento. – Concluiu, com uma serenidade que chegava a assustar.

– O que você disse? – Ela se levanta de supetão, encosta a porta direcionando seu olhar confuso para Jane.

– Estou te pedindo para casar comigo.

– Eu escutei.

– Então porque perguntou?

– Foi uma pergunta retórica! – Disse enfática – Você não pode estar falando sério.

– Ué, por que não? Você precisa que eu me ajoelhe para que pareça sério?

– POR QUE NÃO? POR QUE NÃO? – Era apenas o que ela repetia, como se não conseguisse enumerar as tantas razões óbvias, para não terem sequer aquela conversa.

– Calma mulher, sente-se – Apontou para a cadeira, fazendo com que ela se sentasse a sua frente – Não é exatamente um casamento. Vou lhe explicar melhor.

Jane contou sobre o visto negado e que precisava se casar com uma americana. Explicou também que o casamento forjado deveria ser perfeito e convincente, caso contrário eles poderiam acabar na prisão. Por fim, disse-lhe que acabou por escolhê-la como sua “futura esposa”, por possuírem uma idade próxima e terem se conhecido no ambiente de trabalho – Todos fatores que davam veracidade ao casamento fictício.

– Certo, então se não nos casarmos, você será deportado...

– Isso.

– E se casarmos, eu posso acabar presa.

– Exatamente.

– Há! Au revoir. – Lisbon sorriu de maneira sádica – Essa é sua maneira de tentar me convencer a te ajudar? Não é muito persuasivo.

– Você obviamente terá uma compensação financeira.

– Entenda uma coisa Jane – Ela se apoiou na mesa, aproximando desafiadoramente – Nenhum dinheiro no mundo pagaria minha felicidade de te ver do outro lado do planeta. – Completou, sorrindo triunfante.

– Você parece irredutível, mas sei que vai ceder por duas razões. Primeira: Não é verdade, você não quer me ver do outro lado do mundo. – Ele disse sorrindo e por um momento, pensou tê-la visto corar – Segunda, mas não menos importante: onde seus amigos trabalhariam se por acaso, a agência fechasse?

– Mas você não precisaria fechar a agência por causa disso. Minelli sequer mora em Sacramento e a administrava.

– E a julgar pelo caixa, isso funcionava muito bem – Disse o loiro com sarcasmo – Mas ainda que desse certo, não tenho interesse em mantê-la se eu não puder trabalhar aqui. Entenda Lisbon, sou uma pessoa entediada, preciso de ocupação. Conheço pessoas que colecionam relíquias de celebridades, algumas praticam esportes, eu gosto de investigar. Esta é a única razão de ter comprado essa agência, e seria o único motivo para mantê-la.

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– Isto é algum tipo de chantagem? – Pergunta exaltada.

– Não. Estou sendo honesto contigo. Preciso me casar para ficar no país, você precisa que eu fique para manter o emprego de seus amigos. Não é pessoal, são apenas negócios. A conta é simples, e no fim, você ainda levará uma quantia razoável em dinheiro.

– Eu não tenho preço.

– Não é disso que se trata. Não estou interessado em adquirir “você”, quero apenas um contrato assinado e o Green Card no final do ano. Olha – Ele continuou – Sequer precisamos ser amigos.

Lisbon ponderou. Talvez ela devesse aceitar, afinal, era o trabalho de seus amigos que estava em jogo. Além do mais, agora que estava desempregada, uma compensação financeira viria a calhar. Calcada nisso, tomou sua decisão.

– Tudo bem, eu aceito... – Jane sorriu aliviado, porém incrédulo.

– Mas...?

– Tenho condições.

– Condições? Você irá receber por isso! – Ele retruca indignado.

– O senhor não está em posição de exigir nada – ela fez questão de lembrá-lo – Além do mais, são condições simples, nada financeiro. Prometo.

– Certo... – Ele concorda, ainda que a contragosto - E quais seriam?

– Primeiro: Você vai trocar aquele carro ridículo. Pelo amor, você tem o que? 17 anos? – Jane apenas consentiu, abalado demais para argumentar. - Segundo: Iremos morar em casas separadas e terceiro... – ela hesitou.

– Terceiro?

– Você não poderá sair com ninguém nesse período. – Completou, ainda que tímida.

– Hm... Ciumenta e possessiva. Já desconfiava. – Ele provoca.

– O que? Não tem nada disso! – Respondeu irritada, com as bochechas coradas - Só não quero aparecer nos tabloides como uma esposa burra, que é conivente às “escapadas” do marido. Você está comprando um Green Card, não a minha dignidade!

– Justo. – Ele respondeu sorrindo. – Então estamos acordados, Sra. Jane?
Abriu a porta para que ela passasse, e com este ato de cavalheirismo, se dirigiram ao cartório mais próximo para selar a união.

Ela já havia se imaginado casada, lógico. Mas definitivamente não eram naquelas condições. Estava se sentindo aborrecida e constrangida, mas não reclamava, afinal, tornar-se esposa de Patrick Jane era a única forma de salvar o emprego de seus amigos. Tentava se agarrar na possibilidade de um ano passar rápido, e por fim, alguém como ela, que esperava a tanto pela felicidade poderia aguardar um pouco mais.
Ela não gostava de Jane, não gostava da ideia de casar por dinheiro, não gostava de ser obrigada a fazê-lo. Eram muitas questões borbulhando, sabia que não conseguiria dormir, portanto foi buscar abrigo onde se sentia mais confortável.

– Você acaba de se casar e vêm para um stand de tiros? – Pergunta Jane sarcasticamente, enquanto ela aproveita para recarregar as balas.

Lisbon não fazia ideia de como ele a encontrou ali. Apenas tenta ignorá-lo, mas Jane continua:

– Sabe... Eu deveria me preocupar com isso? Você não atira mal. – Ele provoca.

– Escuta aqui Jane, eu estou vendo o que está tentando fazer, e te digo que não deveria. Lembre-se que não precisamos ser amigos, só temos que honrar um contrato. Não é disso que tudo se trata? Sempre um contrato?

– Desculpe, só pensei que talvez quisesse conversar.

– Não, eu não quero. Eu não gosto de você, e não estou exatamente orgulhosa com o que acabei de fazer.

Jane poderia dizer que ela não estava sendo 100% sincera naquela afirmação. Não que morresse de amores por ele, longe disso. Ele sabia que ela estava aborrecida, mas achava que toda aquela raiva era momentânea, e que em algum momento teria que passar.

– Olha... Sei que você ainda esta chateada com o que aconteceu na casa do Sr. Parker – Lisbon apenas revirou os olhos.

Ele caminhou até o lado dela, colocou as mãos em cima da arma, e a abaixou, forçando para que ela o olhasse.

– Assim está melhor, não me sentia confortável em ter esse tipo de conversa com uma mulher armada. – Ele sorriu, na intenção de quebrar o gelo, mas falhou miseravelmente – Lisbon... Somos pessoas diferentes, é verdade. Tudo que faço, é em busca de um fim. Às vezes, os meios não serão tão nobres quanto você espera, mas quando terminar, terá valido a pena. Eu prometo.
Quanto ao casamento... – Ele a olhava de maneira terna – Eu também não queria isso pra mim, mas entenda que foi a alternativa que me apareceu.

Ela parecia um pouco mais calma, então ele continuou – Acontece que agora está feito, e temos duas maneiras de encarar essa situação: Ou esquecemos o nosso começo ruim e tentamos nos dar bem; ou você atira em mim agora mesmo, fica viúva e rica, mas condenada por assassinato.

Lisbon parou um pouco, sorriu no canto da boca fazendo com que Jane se arrependesse amargamente de listar a segunda opção.

– Certo Jane, embora atirar em você tenha soado tentador, não pretendo gastar o resto de juventude que tenho, na cadeia.

– Muito sábia decisão. Por um instante imaginei que tivesse considerado a segunda alternativa.

Este comentário fez Lisbon sorrir e ele sorriu com ela. Não pôde deixar de notar, o quanto ela ficava bonita assim. Vasculhou sua mente, e percebeu que este fora o primeiro sorriso sincero que pode observar desde que se conheceram.

– Agora que você não me odeia tanto quanto a quinze minutos atrás, aceitaria sair comigo para, sei lá... Comer alguma coisa?

– Tá me convidando para um encontro? – Ela perguntou incrédula.

– Não. – Lisbon arqueou as sobrancelhas sem entender exatamente – Já estamos casados, um encontro agora não faria muito sentido. – Jane explicou sorrindo, mas ela não retribuiu o gesto – Ah Lisbon, vamos lá, estou me esforçando para me desculpar...

– Não sei não Jane...

– Ok, já que está irredutível, façamos um trato: Você me mostra como atirar, e se eu acertar no centro do alvo a frente, você aceita sair comigo.

Ela pensou que seria uma ótima maneira de despachá-lo, afinal, ninguém conseguiria acertar sequer perto do alvo sem prática, quanto mais ao centro.

–Tudo bem, desafio aceito. Chegue mais perto. – ela se postou atrás dele, tão próxima, que Jane podia sentir o cheiro de sua colônia. Pegou suas mãos e direcionou onde elas deveriam estar posicionadas enquanto atirava. Ele segurava a arma desengonçadamente, o que fez com que Lisbon se divertisse com a situação.

– Agora você vai apontar para onde vai atirar, mirar bem e puxar o gatilho – Dizia próxima ao ouvido do milionário, fazendo com que ele quase perdesse a concentração.

Ela se afastou para que Jane tivesse liberdade para executar o tiro, e ao fazê-lo, ele empunhou a arma como se já o fizera milhares de vezes, mirou ao alvo e acertou cinco tiros precisamente no centro, um atrás do outro.

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– Primeiro lugar de caça em Auckland. Desculpe... Te pego as oito? - Perguntou com a arrogância habitual. Ela permanecia sem reação. -Vista algo sexy, por favor... A imprensa deve fotografar, e as garotas que eles estão habituados a me ver acompanhado, costumam fazê-lo.

– Sabe que eu ainda estou armada, certo? – Foi apenas o que ela conseguiu responder, mas ele não pareceu se importar, saindo do stand com aquele sorriso vitorioso.