No primeiro momento que Gina teve de solidão, já em casa, pegou o celular e leu a mensagem de Erik outras vezes. Suas palavras eram simples, tão simples que a rasgavam-na por dentro.

“Você sumiu então devo considerar um adeus, é isso? Me desculpe por qualquer dor que tenha lhe causado. Nunca foi a intenção. Estou saindo da escola na semana que vem, pode voltar sem medo. Não desista, você sempre dançou com tanta alma...”

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Deitou sentindo uma dor de cabeça latente, imaginando onde Erik estaria agora, no que deveria estar realmente pensando dela. Mandou dezenas de mensagens nos dias após o último desastroso encontro deles, dizendo que afastara duramente, e definitivamente, Camille. Ele estava certo em questioná-la. Era um “adeus”? A ex-namorada dele e a agressão gratuita a assustou ao ponto de uma corça traumatizada? Ou fugiu por outro motivo? Ignorou as ligações dele porque começou a se envolver com Harry ou começou a se envolver com Harry para tentar ignorá-lo? Que confusão!

O sono não veio fácil, mas quando acordou na fria manhã de segunda-feira já sabia o que tinha de fazer. Se Erik achava que iria desestruturar seus planos, sair da escola somente para trazer um ambiente mais cômodo para ela estava redondamente enganado. Esse era o tipo de fardo que Gina não iria carregar.

Depois do almoço pegou o transporte público e traçou aquele caminho tão conhecido para a escola de dança. Ainda dentro do ônibus, Harry tentou ligar para ela duas vezes, porém o ignorou para evitar desculpas esfarrapadas. O namorado ficaria notoriamente irado por saber de sua visita a um território “concorrente” e a ruiva precisava de tempo para inventar alguma mentira satisfatória.

Dentro do prédio cumprimentou rostos conhecidos na portaria, e ficou feliz por sua turma de dança não estar marcada para as segundas-feiras. Teria de explicar para as garotas o motivo do seu abandono, o que levantaria outra série de especulações. Era bem irritante isso, pensou ela enquanto tomava o elevador, o elevador que teve sua primeira experiência sexual de verdade. Ficar bolando tantas desculpas para ver Erik lhe dava sensação que algo estava errado em suas ações.

Ao aproximar-se do local onde o encontraria teve um acesso de calafrios no estômago. Suas pernas quase recuaram involuntariamente de medo de encará-lo, e seu coração bateu tão rapidamente que podia senti-lo reverberando na garganta. Abriu a porta do salão devagar, revelando pouco a pouco o recinto parcamente iluminado pela luz vespertina de Londres, por suas janelas grandes e polidas. E ele estava lá. De costas para entrada, os braços cruzados encarando a rua, possivelmente na mesma medida de devaneio que ela durante todas essas semanas de separação.

— Erik. — chamou baixinho para não assustá-lo. Ele virou-se rapidamente. — Oi. — disse como uma criança que fez algo errado.

— Gina! — ele exclamou com felicidade nos olhos, entretanto não correu para abraçá-la.

— Não respondi sua mensagem ontem porque queria vir conversar pessoalmente. — justificou-se. Era uma justificativa bem hipócrita levando em consideração que não respondeu todas as mensagens anteriores dele.

— Que bom que pôde vir. — Erik sentou nos bancos laterais, próximo as janelas.

— Vai dar aula agora? — Gina o inquiriu andando para ele e indo sentar bem ao seu lado.

— Daqui quarenta minutos.

— Tudo bem. Acho que dá tempo de conversarmos. — o professor ficou calado, esperando que ela prosseguisse. — Quero me desculpar pelo meu desaparecimento.

— Eu ia me desculpar com você por Camille e tudo mais, mas seria gastar saliva à toa, acho. Já supliquei e expliquei sobre aquele dia e as consequências dele de todas formas para você, de todos os jeitos, com todas as palavras suplicantes possíveis, pelo celular.

— E eu li. — ela não resistiu e pegou a mão dele. Foi uma ação impulsiva que a deixou aliviada por ele não repelir o toque. Ao invés disso, apertou carinhosamente os dedos dela. — Tá bravo comigo?

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— Claro que não. — lhe deu um sorriso mais cansado do que triste.

— Então eu posso sair descendo o sermão. Que papo é esse de que você vai sair da escola?

— Sabe aquela regra máxima do professor nunca se envolver com a aluna? É dolorosamente verdadeira. Acha que temos algum clima para ficarmos juntos na mesma turma? Se tocando?

— Profissionalmente...

— Não existe mais profissionalmente entre nós, Ruiva. Olhe nos meus olhos, acha que consigo? Porque quando olho nos seus sei que não consegue.

— É algum vidente agora? Eu nem te disse exatamente porque vim. Dei a minha opinião sobre nós, afinal?

— Seu namorado deu. — ele sentenciou. — Vi as fotos do seu jantar com os pais dele pelo seu Facebook.

Harry saiu me marcando nas redes sociais da vida? Quem deu o direito a ele? Quem deu? Ficou aborrecida.

— Devia ter falado com você antes. Antes de tudo.

— Gina, não estou jogando nada na sua cara. Eu fui por esse caminho sabendo o quanto previsível ele era. O professor de dança falastrão versus o primeiro amor. Como alguém pode ganhar quando compete com o primeiro amor de uma mulher?

— Você não é falastrão! — ela reclamou. — Olha...

— Porque sua mão está tremendo?

Porque eu inteira estou uma pilha de adrenalina! Porque você tem um efeito atormentador sobre mim!

— Erik — a moça ignorou a questão, prosseguindo — Eu vim aqui para dizer que não te autorizo a abandonar a escola. Você sair não fará com que eu volte, sabemos disso muito bem.

— Então você sabe o quanto está sendo vazia essas aulas sem sua presença. É difícil para mim também. E além de perder minha namorada, perdi meu par de dança no concurso. Nenhuma das alunas faz uma química tão boa comigo quanto você.

— Eu sei que sou única. — ela tentou descontrair.

— Vou ver se me apaixono por alguma delas pra encontrar outra química.

— Faria isso? — perguntou sentindo ciúmes pela insinuação dele.

— Você não me dá chance pra brincar, deve ser a convivência com seu namorado atual. — Erik disse num tom abusivamente sarcástico.

— Você vai prometer não sair daqui então? — Gina decidiu que era hora de ir levantando. Ficar próxima ao dançarino estava dando desejos compulsórios, que não condiziam com sua natureza fiel.

— E você, promete que está feliz? Digo, vivendo seu amor platônico como sempre desejou?

— Te desejo tudo que há de melhor na vida, Erik. Palavra de Weasley!