Quando ele entrou na sala, Gui aplicava um cafuné nos cabelos platinados de Louis. O sobrinho estava deitado no sofá, a cabeça apoiada nas pernas do pai, e havia adormecido. Gui assistia a uma programação vespertina qualquer com o som baixinho. Todas as quintas o irmão mais velho buscava o filho na escola e ficavam ali até bem perto da noite, esperando o momento de Fleur sair da aula de pintura, perto dali, e eles poderem ir pra sua própria casa.

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De todos os seus irmãos, e eles somavam muitos, o mais velho era aquele que Rony encontrava mais afinidade para discutir certas coisas, e o que lhe dava conselhos que achava realmente bons e proveitosos. Gina tentava ajudá-lo de seu jeito atrapalhado, e Carlinhos dava conselhos truculentos também. O primogênito, porém, tinha uma experiência de vida bem maior e articulava-se numa calma muito semelhante à de Rony.

Ele chegou de mansinho na sala e acomodou-se na poltrona ao lado.

— Que é isso? Programa culinário? — inquiriu ao irmão vendo uma senhora avantajada bater uma massa amarelada sobre a pedra da pia.

— Tá ensinando a fazer baguete recheada. — eles falavam baixo, não aos sussurros, mas num tom ameno, para não acordar Louis.

— Sinto saudades de quando a mamãe fazia aqueles pães assados de sábado. Ela faz bem raramente depois que você saiu de casa.

— Eram os meus preferidos, oras. Ela fazia pra mim. — desdenhou.

— São os meus preferidos também.

— Tudo é da sua preferência, caro irmão.

— Aí você me pegou. — deu um risinho engasgado.

Na TV, a cozinheira esmurrava a massa na pedra, dizendo ser bom para o crescimento da massa. Depois ela teria de descansar por uma hora inteira.

— Gui... como foi com a Fleur? Você a conheceu e saiu da sapataria ou saiu da sapataria e a conheceu?

— Eu saí da sapataria e dois meses depois a conheci.

Gui trabalhara na adolescência numa sapataria familiar, próxima do centro. Os menos otimistas acharam que faria "carreira" lá, mas conseguiu entrar no curso de engenharia e hoje administrava um setor tecnológico. A mãe e pai diziam ganhar bem, o que haveria de ser verdade com o apartamento espaçoso que conseguira comprar.

— Ela alguma vez ficou te pressionando sobre seus empregos?

— O que houve? Não é a Lilá não, é? — olhou-o desconfiado.

— Nem vejo mais aquela garota. Não é nada. — ocultou — Apenas fiquei curioso em como galgou na carreira e se casou. Jogando conversa fora.

O irmão mais velho sabia exatamente que não era nada disso. Rony não conseguia ser menos sutil do que um elefante se equilibrando como saltimbanco. Todavia, manteve a admirada discrição.

— As mulheres são um tanto impacientes às vezes, devo confessar. Arrisco a dizer que ainda vivemos um período de transição entre sermos os donos do lar economicamente falando, ou deixá-las assumir um pouco o leme. Tyra... Lembra-se dela?

Tyra fora uma namorada de Gui antes de Fleur. Japonesa e risonha, embora a Sra. Weasley enxergasse o capeta fumegando em brasas sempre que a via.

— Lembro.

— Nos últimos meses de namoro ela tentou me empurrar pra vários empregos malucos do pai dela. Ele exportava bugigangas, ganhava bem. Não demorei a perceber que ela estava com medo de partir para algo mais sério com um aprendiz de sapateiro.

— E com Fleur?

— Fleur é a mulher da minha vida. Já tivemos nossas crises, algumas discussões acaloradas, porém, nem quando fiquei indeciso se gostava mesmo da engenharia ela me pressionou. Ela confiava em mim desde aquela época, no meio da turbulenta gravidez inesperada que foi a Victoire. — ele sorriu as margens das lembranças.

— Que bom.

— E você? Soube que está namorando a moça do outro domingo.

— Não... Sei. — as palavras vieram cautelosas — É só um lance.

— Conheceu a família dela? Conhecer a família delas é a pior parte. Ainda bem que só passei por isso duas vezes.

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O ruivo deu-se conta que Hermione nem fizera a menção disto. A vez que esteve na casa dela pareceu algo escondido dos pais.

— Os vi por foto. Estou indo aos poucos, você entende? — se referia a Lilá e todo o pesadelo de outrora. O irmão acenou em concordância. — A vida dela é um pouco turbulenta. Tem a faculdade, as amigas, os atendimentos aos pais dos ex-namorados...

Por mais complacente que Rony fosse, ligar para Hermione na noite passada chamando-a para irem ao cinema pela primeira vez e receber a notícia que o pai do tal Vitor ficara ruim outra vez, e que ela, salvadora, teve de correr com o tal para o hospital, porque o ex parecia transtornado demais em dirigir o próprio carro, irritou o ruivo até a alma. Não conhecia o Sr. Maromba, portanto podia seguramente julgar que bem pudesse estar drogando o pai para chamar a médica e prestativa vizinha.

Aquela morena nem era dele por completo e tinha de disputá-la com outros?

— Então comece com muita cautela, Rony. Gina disse que ela acabou de sair de um noivado.

Maldita linguaruda!

— Ao que parece.

— Talvez ela esteja querendo se resguardar nesse início. É natural.

E o resguardo dele? Teria de esperar a vez dos outros e viver errantemente porque suas escolhas nunca eram assertivas?

O comercial voltou e a cozinheira tirou um pão dourado e inchado do forno. Cortou em pequenas fatias e ao descer a faca no primeiro corte, o queijo esticou e calabresa escorregou para o prato.

— Gui, vem pro chá no sábado e peça pra mãe fazer os pães crocantes. — pediu podendo sentir o cheiro do assado.

— Agora fiquei com fome também. — o outro concordou.