Entre Otakus

Hermione


Nos filmes, nos livros e até mesmo nos mangás, a traição parece descomplicada. No mundo das pessoas reais, era o contrário. Os corpos não ficavam leves, pelo contrário, pesavam toneladas.

Córmaco olhou Hermione e lhe sorriu. Ela conseguiu devolver um sorriso muito falso que teve certeza que ele percebeu.

Estavam sentados naquele lugar barulhento e sufocante ainda. A morena aproveitou e entornou seu segundo copo de cerveja para ver se a agitação dentro do peito passava. E não deu resultado.

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O bom fora que Rony não retornara para mesa. Minutos depois o amigo dele anunciou para os demais que ele tinha ido embora mais cedo. Layse perfurou Hermione com o olhar porque não passou despercebido o fato dos dois sumirem de lá no mesmo momento, e depois voltar só ela com uma estranha cara de tacho.

Layse chegou a levantar e convidar a garota para o banheiro a fim de obter outra dose de fofocas quentinhas, mas desta vez recebeu uma determinada recusa. Hermione não queria descrever nada do confuso momento que tivera com o ruivo as escondidas no balcão.

— Tá tudo bem mesmo? — Córmaco perguntou de repente.

— Hã? Por que fica me perguntando isso toda hora? — assustou-se.

— Por nada. Só estou te achando um pouco pálida. Acho melhor maneirar na cerveja... — Empurrou o copo vazio dela para o longe e beijou-a calmamente na bochecha.

— Acho que quero ir embora. Você tá certo, estou cansada.

— Tem certeza?

— Esse ambiente lotado já deu pra mim.

— Ok, a senhorita que manda! — disse gentil.

O casal despediu-se dos demais, com Layse fazendo sinais as costas de Córmaco para ligar para ela, e partiram.

Dentro do carro e enquanto ele dirigia para casa dos Granger, Hermione estava com a cabeça longe, pesando suas escolhas e suas insatisfações. Alguma coisa que pudesse lhe trazer uma luz, ao menos uma explicação coerente de porquê cedeu, participou e gostou do beijo de outro.

Sem se dar conta, seu corpo tremia levemente.

Córmaco estacionou em frente de sua casa e desligou o carro. A rua estava deserta e escura. Era quase meia-noite.

— Amor...? — ele tocou-a no ombro.

Hermione o fitou na penumbra do carro, descobrindo algo estranho em sua expressão.

— Eu preciso te contar uma coisa.

Meu Deus! Ele me viu beijando o Rony! Foi a única coisa que passou na cabeça dela.

— Lembra-se do que disse que precisava te contar uma coisa quando chegássemos?

O alívio a inundou. Ficou esperando-o prosseguir.

— Eu consegui afastar minha mãe de nós. Sei o quanto ela estava sendo detestável e inacreditável com você, quanto invadiu nosso espaço e palpitou da forma que bem quis. Então eu dei um basta. Disse pra ela que a quero fora do caminho! Que minha vida agora é com você, que te amo muito e não vou admitir mais interferências em nossa felicidade. E assim vai ser. Vamos fazer aquele nosso casamento mais reservado e íntimo que você sonhou, e eu peço afastamento da empresa do meu pai, você tranca a medicina e vamos passar um ano viajando pela América do Sul. É isso que eu quero! É isso!

Hermione olhou-o em choque. Encarou Córmaco lhe vendo reter uma avassaladora expectativa no semblante. Inadvertidamente, sem que a jovem desse aval aos sentimentos, lágrimas escaparam pelos seus olhos.

Teoricamente, era para ela estar exultada pela notícia recebida. Era essa a atitude que pensava faltar para tornar Córmaco o amante irresistível. Quebrar a barreira ditatorial de Tremelique e pela primeira vez optar por Hermione, somente por ela. Contudo, não havia nenhum sinal do entusiasmo de paixão pelas boas novas. Foi com muito choque que percebeu isso.

— Mione, amor, o que foi? — o loiro tocou no rosto dela secando-lhe as lágrimas aflitamente. — Essas lágrimas são do que? Felicidade?

— Acabou. — ouviu-se dizendo.

Ele a ignorou, ainda tentando secar as grossas gotas que escorriam. Ela afastou a mão dele.

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— Acabou, Córmaco.

— O que acabou? — ele forçou uma risada.

— Nós.

— Vamos parar de gozação? Eu te dou uma notícia boa e você fica fazendo piada. — riu agourentamente.

— Eu não posso mais continuar.

— Quê? — ele levou uma mão na testa e coçou-a nervosamente. — Não brinca comigo. Você nunca fez isso.

Hermione continuava sentindo o remorso corroer suas entranhas.

— Córmaco, você é perfeito. É o homem mais maravilhoso que já pôde ter cruzado meu caminho e é por isso que...

— Quanta brincadeira, Mione. — relutou mais uma vez.

— Não é brincadeira! — ela gritou — Não sei o que anda acontecendo comigo, dentro de mim, mas não consigo te olhar e te beijar como antes. Eu nunca quis casar...

— A gente adia. Esquece essa ideia e só vai morar junto.

— Não, não, não! Você não me merece!

— Não é você quem decide quem eu mereço ou não. — tentou abraçá-la e ganhou um esquivo de mãos espalmadas contra o peito.

— Por favor, chega. — ela implorou finalmente chorando alto.

Ele, que Hermione sabia jamais ter experimentado o sabor da rejeição, se afastou com o corpo, atônito.

— Quem tá te tirando de mim? — perguntou.

— Oh... Para! Não começa a dar um de Vitor não!

— Eu não vou te deixar partir.

— Córmaco...

— Mione, me dá um pouco de consideração!

— Não é nada com ninguém. Sou eu, droga! Eu quero ficar sozinha.

— Então foi algo que fiz. O que eu fiz? Já não disse que acabaram as interferências da minha mãe? Quer mudar de país? A gente some daqui!

— Não...

— Eu não tô acreditando. — ele olhou para a rua vazia e começou a chorar.

Ela o observou com grande tristeza, (e um perverso alívio) e tocou em seu braço. Ele aproveitou o toque, envolveu-a e a apertou num abraço sofrido. Sem avisar beijou-a num imenso fervor na bochecha e parte dos lábios. Hermione recuou.

— Me dá um tempo, então. — o loiro suplicou.

— Isso pode não significar nada.

— Eu mereço isso. Ou não mereço?

Claro que merecia. Ele era seu cavaleiro branco.

Hermione estava muito confusa também, o beijo e a traição somada a inédita notícia de que Tremelique não estaria mais na sua perseguição, eram fatos conflitantes dentro de uma mente já embaralhada.

— Tudo bem.

Ele sorriu radiantemente em meio a nova esperança. Enxugou as lágrimas e beijou-a nas mãos.

— Eu te amo. Quero passar minha vida toda com você.

— Você foi uma coisa maravilhosa na minha vida, Córmaco, meu querido.

— Não fale em nós no passado, por favor.

Como não podia dar mais vazão às declarações dele, que poderiam enveredar para outras chances de enchê-lo de esperança, se despediu e entrou em casa.

Assim como quando deu um basta em seu relacionamento com Vitor Krum, Hermione sentiu que tudo mudaria bruscamente outra vez.