Entre Otakus
Hermione
Jane Granger ficou intrigada com o comportamento da filha desde que ela havia voltado da universidade. O fato é que tinha um bichinho azul de asinhas brancas lhe sorrindo na bancada da escrivaninha enquanto a garota consultava assuntos que nada tinha haver com artigos acadêmicos ou compêndios médicos.
— Coisas de otaku? — Jane não se aguentou e puxou uma cadeira ao lado da filha.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Não entendia muito bem esse mundinho japonês pelo qual Hermione era fascinada, achava alguns “desenhos” realmente incomuns para sua cabeça ocidental, mas buscava respeitar.
— Er... sim. — Hermione foi evasiva. Fechou algumas guias no notebook quando viu que a mãe estava observando a tela.
— Quer? — Jane saboreava uma porção de cereal com iogurte em sua xícara de porcelana vermelha estampando os dizeres “Sim, eu amo Paris”.
— Já comi na universidade. — a voz da jovem era um tanto impaciente — Os clientes de hoje desmarcaram?
— Fui atendê-los mais cedo. Agora estou livre para xeretar no que minha filha anda fazendo nessa tarde, com um peculiar mascote a tira colo. — e apontou para Happy.
Hermione deu um suspiro e largou um risinho de rendição.
— Eu o ganhei hoje. — confessou.
— Que mimo!
— Cute, na verdade. — ela retrucou acariciando o chaveiro.
Jane apoiou a xícara sobre a bancada e cruzou as longas pernas. Possuía um requinte feminino nos gestos que Hermione achava que jamais conseguiria herdar. Para a garota movimentar o corpo era algo funcional, não uma dança de harmonia como sua mãe esbanjava. No rosto jovial de Jane ela detectou qualquer ruga incomum abalando o constantemente otimista.
— Tá, o que houve? — Hermione fechou o notebook. Havia algo mais naquela intromissão.
— Você ficou linda, filhinha. Uma verdadeira mulher com o passar dos anos.
— Estou com medo dessa conversa.
— Eu só estou tentando dar embasamento para todas essas coisas que vem passando diante dos meus olhos desde que você entrou na puberdade.
— Nossa, socorro! Essa conversa tá muito estranha mesmo!
Jane riu das exclamações da filha, mas sentiu que tinha de prosseguir. Aquele assunto nunca a deixara em paz.
— Andei reparando que Vitor tem diminuído o passo pro lado da nossa calçada nessa semana.
Hermione temeu algo do tipo em algum lugar da sua truculenta intuição.
— Eu tive de contar para ele sobre mim e o Córmaco. — disse tristemente — Do casamento.
— Por quê? — a mãe pareceu chateada.
— Ele já sabia por alto. Papai comentou com a Sra. Wilson.
Jane semicerrou os olhos e contorceu os lábios com escárnio.
— Seu pai! Aquele fofoqueiro de...
— Mãe, vamos ser francas. Uma hora ou outra ele acabaria sabendo. O que posso fazer?
A Granger matriarca adoraria ter tal resposta, mas apagar os sentimentos e as frustrações das pessoas que passavam pela vida deles não constituía um tipo de habilidade que pudesse se adquirir com a experiência ou meia dúzia de palavras motivacionais.
— Fico tão triste por esse rapaz. Quanto tempo mesmo?
— Que ficamos juntos ou que terminamos?
— Que vocês deixaram de serem namoradinhos.
Hermione achou curioso o termo “namoradinhos”. Jane estava provavelmente usando palavras no diminutivo para não trazer a tona a ímpar importância que fora o relacionando da jovem com Vitor Krum.
— Quatro anos.
— Eu gostaria que ele superasse. Vitor sempre foi um garoto tão bom. Os Krum sempre foram ótimos para nós, principalmente a você, Mione.
— Não gosto de falar nisso. A verdade é simples, mãe. Daqui uns meses me caso e ele não vai precisar esbarrar com meu rosto a todo o momento. Falta isso para ele esquecer...
— E você também?
Hermione começou a ficar impaciente sobre toda aquela conversa acerca do ex-namorado.
— Estou com Córmaco. Tenho o que preciso.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— Claro, ele é outro ótimo rapaz. — Jane esforçou para trazer entusiasmo na voz. — Vamos mudar de assunto: de quem você ganhou esse chaveiro? Algo me diz que tem haver com isso que estava pesquisando na internet.
— É insuportável essa sua mania de adivinhar tudo, mãe. — ela fez uma careta.
Depois lapidou uma expressão nova e incógnita para Jane quando informou.
— Fiz um amigo novo. É o rapaz que trabalha onde compro meus mangás. Estava precisando de alguém que entendesse e gostasse dessas coisas, pois estou com alguns volumes inacabados na minha coleção e ele tem ótimos contatos. Conhece o ramo. Vamos a uma feira otaku no fim de semana e receberei uns toques.
— Feira otaku... Vocês vão se fantasiar de Pokémon ou algo do gênero? — a mãe ironizou.
— Rá-rá! O que tinha nesse cereal? Dicas de piadas prontas para usar com seus familiares?!
— Estou brincando, coraçãozinho.
— Humm... — Hermione abriu o notebook novamente. — Como estava dizendo, estou por fora desse mundo mais intenso dos otakus então fico dando uma pesquisada por aqui nas atrações padrões dessas feiras pra não fazer nenhum vexame.
— Claro. E foi ele que lhe deu esse presentinho então?
Não querendo ver caraminholas na cabeça da mãe, ela floreou.
— Ele me disse que comprou outro e iria aposentar esse. Mostrei meu interesse, com toda educação e que a senhora me ensinou...
— Não me chame de senhora. — Jane advertiu duramente por cima dos óculos.
Hermione guardou a vontade de rir. Havia posto daquela forma porque sabia o quanto ela odiava receber esse tratamento.
— Ok. Simplificando e terminando definitivamente aqui, ele me deu o chaveiro. Ponto final.
— Certo. Perguntas respondidas, dúvidas tiradas. Está liberada! — a mãe levantou e levou a xícara consigo. Quando estava meio caminho da cozinha retornou apenas para provocar e tirar a filha de concentração em suas pesquisas. — Se quiser posso mandar fazer um chapeuzinho do Pikachu, com as pontinhas das orelhas pretinhas e tudo mais.
— Socorro! Cadê meu pai?
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