The Heiress

Capítulo 1- Meu corvo de estimação.


Adoraria começar minha narração falando do dia em que salvei o mundo trouxa, ou de quando capturei uma onça pintada e a tornei meu bichinho de estimação, mas não devo contar mentiras...

Eu estava no dormitório da casa Leste (existem 4 casas em Forccinari: Norte, Sul, Leste e Oeste), em Forccinari, refletindo sobre alguma frase de Nietzsche. O cômodo é um lugar aconchegante. As paredes de pedras cinza, cobertas por diversos pôsteres, tornam o lugar fresco, e lembram um clássico castelo medieval europeu. As camas de madeira com cobertores azuis, alinhadas em forma de meia lua tornam o lugar único. A cada novo ano que nesse misterioso quarto entro um frio na barriga me toma. Enquanto pensava, apreciava o clássico cheiro de lavanda mofada, quando uma ave na janela interrompeu meus pensamentos.

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Na Forccinari não temos corujas. Elas não se adaptam ao clima tropical brasileiro. Cada aluno tem sua ave típica, como tucanos, araras ou calopsitas. Eu tinha um tucano, mas o dei quando o pássaro de meu primo morreu (após ele dar alguns caramelos explosivos para ele), sem nossos pais saberem. Acontece que desde quando cheguei à escola, um corvo vem na minha janela todo dia. Ele me persegue. Isso não é nada normal, mas eu atualmente, o adotei.

Raven, o corvo, não deveria viver em uma floresta tropical, mas certamente ele tem algo de especial. É como se ele tivesse... Uma alma, uma alma forte. A negra ave pousou em uma janela do quarto, atrás de minha cama, e começou a grasnar. Fui acariciar ele (sim, além de tudo ele era manso), que começou a aninhar em meu braço. Fiquei apreciando a beleza dele. Como eu podia gostar tanto de um corvo? No quarto, o silencio reinava, só se escutava a baixa crocita de Raven. Ele só aparecia quando minhas colegas estavam fora, e eu gostava de ter um tempo com minha ave de estimação. Depois de alguns minutos ele saiu voando, provavelmente indo caçar. Guardei meus livros, e desci correndo as escadas até o salão comunal. Lá, meu primo me aguardava.

Meu primo se chama Bruno. Ele tem 16 anos. Nós crescemos juntos, e somos como irmãos. Ele é daqueles garotos galanteadores e divertidos. Bruno não era da casa leste, era da Sul, mas todo dia a gente se encontrava. Ele era um ano mais velho, mas tinha repetido, e agora nossos horários de aulas eram iguais. Eu o ajudava com os estudos, e ele me animava.

Avistou-me e sorriu. Vestia uma blusa leve verde, ele realmente ficava bonito com aquela cor. Veio até mim, me dando um abraço.

— Bom dia... Pronta para dormir comigo na aula de poções?

— Bom dia. Deixa de ser idiota, vamos ter matéria nova! Lembra? As provas tão chegando!

— Deixa de ser neurótica— Ele bagunçou meus cabelos negros— Tava zoando.

Saímos do salão, e descemos as grandes escadas de mármore até o refeitório, tomar café. O refeitório era gigantesco, cheio de mesas. Em cada mesa, as comidas apareciam, como mágica (quer dizer, por causa da mágica). Eu e Bruno sentamo-nos à mesa de sempre, onde Cristina e Juliano estavam conversando enquanto comiam. Bruno nem sempre sentava conosco. Ele tinha vários amigos, várias garotas, mas mesmo assim eu continuava próxima dele. A Cris e o Ju eram meus melhores amigos. Eles também eram da Leste e tinham a minha idade.

—E ai, dorminhocos? — Cris falou rindo, enquanto penteava com a mão seus lisos cabelos castanhos.

—Alguma novidade, pivetes? — Bruno falou, com seu jeito convencido.

—Nem— Juliano olhou para mim— Lena, a gente tem que fazer aquele trabalho lá. Hoje, pode ser?

— Ok, combinado. Eu pensei em... — Logo meu primo me interrompeu.

— Olha, foi bom falar com vocês, mas to indo. Té mais. — Ele disse se levantando enquanto olhava para o outro lado do salão, onde uma loira gesticulava palavras com a boca, olhando para ele.

Era engraçado ver ele com tantas garotas. Até alguns anos atrás, nós brincávamos de “super heróis e princesas” no meu quarto, onde ele jurava nunca namorar alguém, e hoje em dia ele é um dos maiores pegadores do colégio.

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Fiquei durante um tempo conversando com Juliano e Cris, quando escutei um clássico grasno de Raven.

A adrenalina logo percorreu meu corpo, ele nunca havia aparecido em público! Vi um vulto negro voando rápido pelo teto, e então, a ave pousou em meu braço. Ela tinha um pequeno pássaro morto na boca, e em suas afiadas garras havia um pergaminho.

O salão inteiro ficou em silencio. Os professores, sentados na maior mesa, olhavam para mim com intensidade e confusos. A diretora se levantou, para olhar melhor. Não era nada normal um corvo naquele lugar, repito. Peguei e abri a carta, alguma coisa, muito esquisita, estava acontecendo.