Magic Mirror

Maldição


Acordei em uma cama confortável, com milhares de travesseiros fofinhos ao meu redor. Um sorriso se formou em meus lábios quando eu me lembrei da noite anterior.

Me levantei e coloquei um vestido verde simples. Saindo do quarto assim que terminei de arrumar meu cabelo.

– Bom dia. – Ouvi sua voz atrás de mim e me virei.

– Bom dia. – Respondi retribuindo seu sorriso.

– Está com fome? – Indagou vindo até mim.

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– Não muita...

– Mas é melhor comer, temos várias coisas para fazer hoje. – Fiz uma careta e ele riu. – O que foi?

– Sempre que me dizem isso, significa que eu tenho um dia inteiro de lições horríveis e chatas. – Eu contei e ele negou com a cabeça.

– Não teremos lições hoje, só se você quiser. – Falou e eu neguei fortemente. – Então, o que quer comer?

– Panquecas de banana. – Pedi sem nem pensar direito. Ele estalou os dedos e nós fomos transportados para o jardim, onde uma mesa já estava arrumada com pratos com panquecas fofinhas e xícaras com chá de jasmim, meu preferido. – Como você faz isso?

– O que? – Ele puxou a cadeira para que eu me sentasse, sentando-se na outra cadeira, à minha frente.

– Sempre sabe quais são minhas comidas, músicas ou até minha cor favorita. – Respondi e ele pareceu surpreso.

– Mesmo? São seus preferidos? – Perguntou, sorrindo para si mesmo quando eu assenti. – Eu estava sempre pensando em qual seria o meu favorito... Que coincidência estranha, não é? – Riu e eu o acompanhei.

As panquecas estavam maravilhosas, assim como o chá. Os pássaros cantarolavam em algum lugar por perto e eu me sentia mais feliz do que nunca.

– O que quer fazer? – Perguntou ele de repente.

– Bem, tem uma coisa que eu sempre via as crianças fazendo e que eu queria fazer... – Falei e ele pareceu ficar curioso.

– O que é?

– É um jogo um pouco bobo... – Me levantei e fui até ele, tocando em seu ombro. – Está com você! – Gritei e saí correndo pelo jardim. Me virei e ele ainda estava parado ao lado da mesa com uma expressão confusa. – Agora você tem que correr atrás de mim!

– Por quê? – Gritou de volta.

– Se você me alcançar, é a minha vez de correr atrás de você. – Respondi. Ele deu de ombros e começou a correr extremamente rápido.

Passei pela entrada do castelo a toda velocidade e disparei pelos portões. Não tinha a menor ideia de onde estava indo, e isso apenas me fazia correr mais rápido. A sensação do vento batendo no meu rosto e jogando meu cabelo para trás, minha respiração ofegante, minhas pernas tocando o chão enquanto tudo atrás de mim ficava cada vez menor... Quantas vezes eu tinha desejado aquilo?

– Peguei! – Ouvi alguém gritar e em seguida, eu caí na grama. – Ganhei. – Nós dois rimos.

– Tudo bem, você ganhou. Pode sair de cima de mim agora? – Pedi ainda rindo levemente. Ele corou e me soltou, deitando na grama ao meu lado. – Foi divertido.

– Sim. – Concordou suspirando. – É Len. – Falou repentinamente.

– O que? – Me sentei e ele fez o mesmo, olhando em meus olhos.

– Meu nome. – Disse baixinho. – Len.

– É um nome bonito. – Falei e ele riu levemente. – Por que não queria que eu soubesse?

– Porque eu não podia me aproximar de você. – Confessou.

– Eu... não entendo. – Falei com sinceridade. Não compreendia porque ele não podia se aproximar, já que ele veio atrás de mim.

– Tem muitas coisas que você não entende ainda. Mas eu não posso contar. – Len disse me deixando ainda mais confusa. O que eu não sabia?

– Me conte. Por favor. – Pedi e ele negou com a cabeça. – Eu desejo que você me conte. – Recorri ao meu último recurso, me arrependendo no mesmo momento, ao ver a expressão de tristeza que ele fez. – Len, eu...

– Me desculpe. – Falou correndo para longe.

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– Eu retiro! Por favor! Len! – Me levantei para correr atrás dele mas minhas pernas fraquejaram. – O que...? – Senti lágrimas escorrerem por meu rosto, e eu tinha certeza de que, dessa vez, não era por causa das minhas pernas.

Voltei a me deitar na grama e comecei a chorar alto, como nunca tinha chorado antes. Eu tinha estragado tudo. E pior ainda, tinha magoado Len, que só quis me ajudar.

A dor em minhas pernas parou e eu consegui senti-las novamente. Fiquei de pé e voltei lentamente para o castelo, evitando olhar para o outro castelo que ficava logo ao lado.

Passei pelos portões e fiquei caminhando pelo jardim. Até o céu pareceu perceber minha tristeza, mudando seu tom azul claro para cinza escuro. Em um segundo a chuva leve e suportável que caía se transformou em uma tempestade horrível, me forçando a entrar.

Fui até meu quarto e troquei meu vestido sujo e molhado por um seco. Deitei na enorme cama com dossel e abracei os travesseiros, me sentindo mais sozinha do que nunca.

Ouvi uma batida fraca na porta e me sentei na cama.

– Len? – Perguntei indo até a porta.

– Sim. – Ele respondeu. Com um certo esforço, já que as portas eram extremamente pesadas, eu abri uma delas e olhei para a figura sentada no chão em frente ao meu quarto.

– O que você está fazendo aí? – Indaguei confusa. Ele se levantou e antes que eu pudesse ter qualquer reação, me abraçou.

– Desculpe por ter fugido. – Disse e eu me senti ainda pior. – Mas eu...

– Eu que devo pedir desculpas, se eu não tivesse te forçado a me contar você não teria fugido. Então, me desculpe. – Falei retribuindo o abraço.

– Mas você está certa, esconder a verdade não vai adiantar em nada. – Ele me soltou e estendeu a mão para mim.

Peguei em sua mão, já sabendo o que esperar. Senti aquele aperto no estômago que agora já tinha virado algo comum e em um piscar de olhos estávamos na sala que eu via do outro lado do espelho.

As paredes de um tom roxo escuro com detalhes prateados, o piso frio de pedras, os objetos esquisitos que eu nunca conseguia reconhecer contribuíam para deixar aquela sala ainda mais misteriosa.

– Antes de conhecer você, eu era o príncipe daqui. Mas eu menti quando te disse que entendia como você se sentia. Eu não sabia o que era a tristeza, todos os dias da minha vida eram ótimos e eu era a pessoa mais feliz do mundo. – Contou olhando pela janela. – Então um dia um homem entrou no castelo carregando um espelho. “Qual é a razão da sua felicidade? Pergunte ao espelho mágico.” Foram suas palavras.

Olhei para o espelho enorme que não refletia imagem alguma e sim mostrava o sótão de minha casa.

– Eu fiquei cada vez mais curioso e finalmente perguntei ao espelho. Imediatamente, ele me mostrou uma garota que não podia andar, que era ignorada pelos pais e que sonhava com a felicidade. – Como se pudesse ouvir, o espelho mostrou as várias vezes em que eu me escondia no sótão, chorando inconsolavelmente, completamente sozinha. – O homem disse que era um feiticeiro e que a garota que eu via no espelho era real. Desesperado para mudar aquilo, eu pedi que ele me ensinasse o que ele sabia, para que eu pudesse te fazer feliz também.

– Você... – Comecei mas me impedi. Ele tinha desistido da própria vida para me fazer feliz.

– Tudo é invertido no outro lado do espelho. Enquanto eu fosse feliz, você seria triste.

– Então se eu for feliz, você será triste também. – Afirmei sentindo um aperto no coração quando ele assentiu. – Mas... Deve ter algum jeito de reverter isso!

– Eu já li todos os livros dessa sala. Não tem como acabar com essa maldição. – Disse melancólico.

– Len, você está triste agora não está? – Perguntei. O garoto assentiu, confuso. – Eu também estou! Pronto, a maldição está quebrada!

Ele deu uma risada amarga e olhou em meus olhos.

– Rin, não é fácil assim. – Murmurou. – Essa maldição reverte nossos destinos. Mesmo que você esteja triste nesse momento, lá no fundo você ainda está feliz por eu ter realizado seus desejos, não é? – Eu queria negar e dizer que era mentira, mas bem no fundo, eu ainda me sentia feliz.

Pela primeira vez eu quis voltar a ser triste.

Ficamos em silêncio pelo que me pareceu uma eternidade. Constantemente, eu abria a boca para tentar confortá-lo, voltando a fechá-la no mesmo instante.

– Isso não é justo. – Murmurei olhando para o chão.

– Não. – Ele concordou. Olhei para o enorme livro aberto em uma mesa no canto do quarto e tive uma ideia.

– Me ensine magia então. – Pedi e ele me olhou com uma expressão confusa. – Talvez assim consigamos reverter esse destino.

Ele pareceu pensar por um tempo, andando pela biblioteca sem prestar atenção em onde ia.

– Talvez dê certo, mas... – Ele parou e olhou para o espelho. – Não. Não vai funcionar. – Suspirei e me sentei em uma cadeira qualquer, sentindo um cansaço repentino. – Está tarde, amanhã conversamos. Boa noite, Rin. – Antes que eu pudesse protestar eu já estava de volta ao meu quarto.

Me troquei e deitei na cama, já arrumada, pensando em como poderíamos quebrar essa maldição que nos perseguia.