Levei Reyna para seu quarto mais de meia hora depois.
– Você vai ficar bem? - perguntei a ela.
– Acho que sim. - ela estava quase fechando a porta, mas parou. - Nico?
– Hum?
– Não se preocupe, seu segredo está a salvo comigo. - minha boca se abriu, mas as palavras não sairam. - Sinto muito por Percy estar com a Annabeth agora.
– Mas... Eu não sinto mais nada por ele, juro pelo rio Estige. - ela arregalou os olhos. Não era simples jurar pelo rio Estige. - Cuide-se, Reyna.
Deixei-a sozinha no quarto e fui procurar pelo treinador. Não via o homem-bode há um bom tempo, e isso não era bom.
Encontrei-o no seu quarto, conversando com sua esposa. Ele estava quase chorando, o que me surpreendeu, assim como sua esposa. Sua voz era fina e fraca, eu não sabia nem o nome dela. Quando a mensagem de Íris chegou ao fim, Hedge finalmente notou minha presença.
– Está me espionando?! - ele berrou, me chamando de vários nomes feios. - Saia daqui, agora!
– Treinador! Você está bem? Era sua mulher?
– Era... Ah, Mellie... Pobrezinha... - então percebeu o jeito que estava falando e franziu o cenho, carrancudo. - Isso não é problema seu!
– Treinador... Eu tenho que contar-lhe uma coisa.
– Sabe, ela está grávida. - ele admitiu. - Mas isso não é da sua conta! Pare de perguntar!
– Não estou...
– O que você quer?
– Eu... Bem, recebemos a notícia de que... - fraquejei. - Jason Grace morreu.
– O que...? - ele balançou a cabeça, pasmo. - Dê o fora daqui.
– Mas...
– Saia!
Obedeci, embora não tenha sido fácil. Reyna me procurou algumas horas depois, ela estava tremendo de frio, abraçando seu casaco ao redor de si. Eu estava sentado na neve, pensando.
– Oi. - ela cumprimentou, seus olhos estavam vermelhos e ligeiramente inchados. - Podemos contatar os outros agora?
– Ah, claro. Temos que ter um dracma e fazer um arco-íris.
– Eu faço. - ela se afastou.
Não sei como ela fez, mas logo apareceu um arco-íris onde ela estava. Peguei alguns dracmas e pedi a Íris que nos mostra-se nossos amigos. Eles estavam na Grécia, isso eu tenho certeza, mas estavam mais especificamente no Argo II.
– Nico? Reyna? - Piper foi a primeira a nos ver. Sua situação era pior que a de Reyna, seus olhos pareciam bolas de sinuca de tão inchados. - O que estão fazendo aqui? Ah, vocês sabem... - sua voz vacilou e ela voltou a chorar.
Annabeth colocou a mão em seu ombro e nos cumprimentou. Logo, todos se reuniram. Todos estavam arrasados.
– Queremos saber o que houve. - exigi.
– Jason foi sacrificado para acordar Gaia. - explicou Percy, cheio de dor na voz.
– Mas pensei que ela quisesse uma garota também. - ponderou Reyna.
– E ela quer, mas uma parte já foi feita, a outra não. - continuou Leo. - Fora isso, estamos até nos dando bem. Estamos perto das portas, e depois... Vocês sabem.
– Sentimos muito pelo Jason. - eu falei. - Nós estamos a caminho do Acampamento.
– Nico, tenha cuidado! - pediu Hazel. Meu coração acelerou ao vê-la.
– Vou ter. E você também, está bem? Quando tudo isso acabar, vamos ser uma família. Eu prometo. - disse a ela. Lágrimas escorreram por seu rosto.
– Eu te amo.
– Eu também te amo, Hazel. - a imagem deles tremeluziu. - Temos que ir.
– Adeus! - disse Reyna.
– Adeus! - responderam eles, em coro.
Quando nossos amigos desapareceram, pensei que Reyna iria chorar de novo, mas ela sorriu de lado para mim.
– Demonstração de amor, ein? Pensei que nunca fosse ouvir você dizer algo assim. Ela é especial para você, não é?
– É sim. Eu perdi minha outra irmã, Bianca, muito cedo, e acho que...
– Você tem consolo na Hazel, certo? - ela completou.
– É, certo. Ahn, Reyna... Você está bem mesmo? Vamos partir amanhã, mas se quiser podemos ficar mais um dia. - sugeri.
– Não, Nico, sabe que eu me sentiria horrivelmente fraca se pedisse isso. Vou ficar bem, vamos todos ficar bem, ok?
– Você ainda o amava?
– Não daquele jeito, mas... Não se esquece uma pessoa tão fácil, quer dizer... Fomos pretores juntos por um bom tempo, e eu gostava dele.
– Eu sei, está tudo bem.
– Não! Não faça isso! - fiquei confuso com o que ela disse. - Não me mime! Eu sou forte o suficiente para lidar com isso sem você, ok?!
Encarei-a, e então, comecei a rir.
– Qual é a graça?! - ela perguntou.
– A maioria das garotas choraria e pediria consolo, mas você... - ela sorriu.
– Eu sei, eu sei.
– Já está anoitecendo... - comentei, como um idiota.
– Dia longo, ein? É melhor irmos.
Pedimos macarrão na cozinha e comemos na sacada do meu quarto. Não ficamos chorando e fazendo drama, mas sim conversando. Reyna me contou que tinha sido treinada por Lupa, e que ela, em muito tempo, era a única que considerava-a como uma grande heroína.
– E foi isso que me motivou a ser tão esforçada para me tornar pretora.
– Entendi... Você deve ser ótima nisso, toda... Durona. - comentei. Ela riu.
– Eu vou dormir.
– Pode ficar aqui, se quiser. - disse, corando um pouco.
– Está bem.
Escovei os dentes e vesti uma roupa mais confortável, depois de Reyna. Quando saí do banheiro, ela estava enroscada em vários cobertores, ainda assim tiritava. Me deitei, não dissemos nada.
O silêncio era terrível, eu queria falar alguma coisa, mas não conseguia pensar em nada, e meu coração pulsava tão desajeitado que tive medo de ela estar escutando.
– É melhor eu ir. - ela saiu desajeitadamente, me deixando atordoado. Eu fiz alguma coisa? Por que a Reyna tem que me deixar tão confuso? Sentei-me na cama enquanto ela caminhava até a porta.
– Reyna! - ela olhou para mim, e tremia um pouco, mas acho que não era de frio. - O que há de errado com você?! - abaixei a cabeça. - Quer saber? Esqueça.
– Eu não posso fazer isso! Não com você sendo... - então ela parou. Olhei para ela, triste e ao mesmo tempo assustado. - Eu não quis...
– Sim, você quis. - vociferei. - Saia.
– Nico, eu... Vamos ao menos conversar!
– Conversar sobre o quê?! Sobre como você ama um garoto morto e como eu tive uma queda por um menino?! - gritei. - Nunca daríamos certo, nunca mesmo.
– Acredito em você, sobre não gostar mais dele. Eu entendo. Ele era seu herói, você o admirava, e era apenas uma criança! Mas você tem que entender que eu não o amava mais, e ele está morto, Nico!
– E daí, Reyna? Você é rabugenta e mandona, e eu sou sombrio e excluído! Nunca daríamos certo. - agora eu estava de pé, a alguns centímetros de distância dela.
– Grrr! - ela me deu um tapa no rosto. - Você é um idiota! E está certo, quer saber? Nunca daríamos certo!
Segurei sua mão que tinha me dado um tapa, o que eu estava fazendo? Nossos rostos estavam perigosamente próximos.
– Estou disposto a tentar. - sussurrei, e quando ela sorriu, foi como se eu pudesse senti-la.
Então, nos beijamos. Eu já tinha beijado uma garota antes, mas nem se compara ao que senti quando beijei a Reyna. Quando nos faltou fôlego, nos separamos, na verdade, continuamos bem perto um do outro, eu podia ouvir e sentir sua respiração e suas batidas cardíacas.
– Boa noite, Nico. - ela sussurou e me deu outro beijo, esse bem mais curto.
Ela me deixou lá, parado e confuso, mas feliz. Depois de tantos anos de escuridão e tristeza, eu finalmente me sentia bem.
Me esforcei para dormir de novo, mas não consegui. Meu corpo formigava e meu cérebro não parava de repetir aquele beijo, de novo e de novo.
De manhã, sair da cama foi difícil. Apenas Hedge estava na mesa do café, cumprimentei-o e me servi, comi muito menos que ontem, porque realmente não estava com fome. Reyna me lançou um sorriso quando chegou.
– Vamos embora hoje, e acha que podemos chegar a Nova York, Nico?
– Acho que sim, estou descansado o suficiente.
– Isso é bom. - disse Hedge. - Vamos logo, então.
– Vou pegar minha mochila. - falei, me retirando.
– Eu também. - disse Reyna.
Esperei até estarmos fora de vista para o treinador e peguei-a de surpresa com um beijo.
– Ei! O que foi isso? - ela perguntou. Fiquei confuso, eu não imaginei ontem a noite, não é?! Mas aí ela começou a rir. - Brincadeira! Precisava ver sua cara! - mas de repente ela se tornou séria. - Mas, Nico, isso vai ser nosso segredo por enquanto, está bem?
– Está bem. - concordei. - É melhor nos apressarmos.
– Certo, vamos.

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