Viagem sob o manto das trevas

Bem vindos ao Canadá


Como sempre que acontece quando não consigo dormir, senti uma tremenda tonteira ao me colocar de pé. Hedge tinha saído a poucos minutos, estava cantarolando no banheiro. Coloquei minhas roupas na mochila, junto com outras coisas. Peguei a espada no canto do quarto e coloquei-a perto da mochila.
Hedge saiu do banheiro e eu pude tomar um banho. Depois, fui até a cozinha. Haviam poucos centauros lá, acho que a maioria acorda tarde.
– Bom dia, menino. Não quer tomar um sol antes de partir? Sua pele está doentia. - disse um dos pôneis de festa.
– Não, obrigado. - prefiro ficar com minha pele lívida a ficar torrando no sol.
Enchi uma tigela com cereal colorido. Bianca costumava me dar bastante disso, e nunca perdi o hábito. Encolhi-me em um canto da mesa e tentei comer em paz, mas claro que não foi assim.
Reyna apareceu na cozinha, cabelos trançados, jeans escuros, uma camiseta preta e um casaco bege de aviador. Nossos olhares se encontraram e desviei rapidamente, minha tigela de cereal se tornou super interessante de repente. Droga, droga, droga... Pensei.
– Bom dia, garota. Sirva-se com o que quiser.
A refeição de Reyna era bem mais saudável que a minha. Frutas, suco, grãos... Novamente, nossos olhares se encontraram. Ela sentou-se ao meu lado, haviam muitos lugares na mesa, só que ela queria conversar.
– Escute... Sobre ontem a noite... Eu estava totalmente fora de mim e...
– Não, Reyna, sem problemas. - menti. Eu realmente queria que ela dissesse que algo foi verdadeiro.
– Obrigada, pelo casaco. Eu devolvo assim que pegar minha mochila.
– O.k. - ficamos em total silêncio até eu interromper. - Foi até legal, eu não tinha tido a chance de conversar com você antes. - esbocei um sorriso, embora eu fosse péssimo nisso.
– Verdade. Podemos conversar mais quando não estivermos... "Drogados". - agora ambos sorrimos.
Nos despedimos dos pôneis de festa e prosseguimos com a viagem. Seria cansativo, mas acho que hoje eu conseguiria chegar ao Canadá, país vizinhos dos Estados Unidos. Estamos perto. Ainda temos oito dias. Fico me perguntando o que estará acontecendo com os sete da profecia, ou o que acontecerá quando chegarmos ao Acampamento.
Isso só me fazia ficar mais nervoso, então decidi ignorar. A escuridão era reconfortante, mas aposto que Reyna e o treinador não sentiam-se do mesmo jeito. Hedge estava estranhamente inquieto.
– Algo errado, treinador?
– Não. Sem problemas. - sua voz estava um pouco trêmula. Eu e Reyna nos entreolhamos, preocupados.
– Algum monstro por perto? - perguntou Reyna.
– Não. Estamos livres.
Meu corpo já começava a fraquejar. Só que desta vez, foi pior. Eu estava realmente muito perto do Canadá, em uma estrada. Mas não consegui continuar, minha visão ficou turva, e quase desmaiei.
– Nico, Nico! - Reyna e Hedge seguraram meus braços por trás.
– Vamos sair do meio da estrada. - aconselhei, fraco.
Eles me arrastaram para a margem direita e eu me sentei no chão, enterrando a cabeça nas mãos.
– É melhor eu preparar alguma coisa. - disse Hedge, adentrando na floresta novamente.
Reyna sentou-se ao meu lado.
– Você estava quase lá.
– Eu sei, não sei o que houve... - ela suspirou.
– Não tem problema. Aqui. - ela colocou meu casaco de aviador nas minhas costas, já que fazia bastante frio. - Você estava nervoso, não é? Eu também estou.
– Fico imaginando como será quando chegarmos com a estátua gigante.
– Eu também. - O sátiro peludo voltou correndo da floresta, com um frasco cheio de um líquido verde.
– Beba. - ele me entregou o frasco.
Sem careta, era o que a Bianca falava quando me dava algum remédio repugnante. Torci o nariz e engoli o chá.
– Consegue caminhar? Estamos quase em Quebec. - perguntou Hedge.
– Consigo. - afirmei, me colocando de pé.
Senti uma tonteira, mas Reyna disfarçou, colocando meu braço ao redor de seus ombros e me apoiando enquanto caminhávamos. Era estranho estar tão perto dela de novo, seu perfume adocicado preenchia minhas narinas, e os pelinhos do casaco me faziam cocégas no pescoço.
– Estamos quase lá, Nico, aguente firme. - o mais estranho era que sua voz não soava mais tão rígida.
– Estou dando trabalho, não gosto disso... - falei.
Ela não respondeu, apenas olhou nos meus olhos e abriu um sorriso, tão pequeno e disfarçado que quase não notei. Chegamos a Quebec, e pagamos uma pousada para passar a noite.
Meu quarto cheirava a mofo, e as cortinas tinham furinhos em que a luz do sol poente penetrava. Minha força já estava voltando, mas podíamos descansar um pouco. Ficamos praticamente o dia todo viajando, então era mais que justo.
Comemos uma pizza e fomos dormir. Coloquei três cobertas em cima de mim, e ainda sim batia os dentes de frio. Olhei pela greta na cortina, e vi que nevava. Como sempre, não consegui pegar no sono. Então, ouvi minha porta se abrir, o rangido foi assustador, e os passos estavm cada vez mais próximos. Agarrei minha espada e me preparei para atacar. Quando o monstro, que parecia realmente um humano, estava suficientemente perto, tirei as cobertas de uma vez pronto par atacar. O monsto sufocou um gritinho.
– Reyna?! - exclamei, estreitando os olhos.
– Sou eu, abaixe isso! - abaixei a espada. - Não consegui dormir, e imaginei que você também.
Acendi o abajur, Reyna estava vestida com um roupão felpudo por cima dos pijamas.
– Claro, deite aqui. - a cama era de solteiro, mas bem espaçosa. Mesmo assim, me encolhi contra a parede.
– Foi mal acordar você, me senti sozinha. Quer dizer, sempre me sinto, e acho que você também, então...
– Podemos nos sentir sozinhos juntos. - completei, e ela sorriu.
– É, acho que podemos.
Não nos tocamos durante a noite, eu continuei espremido na parede, com medo do mínimo toque. Mas devo admitir que foi divertido conversar com ela. Ela me contou sobre o Acampamento Júpiter, e até um pouco sobre o Jason. Eu contei coisas sobre minha infância, mas nem cheguei perto de mencionar Percy, que agora eu via que era besteira, mas não queria sair contando para todo mundo.
E enfim, consegui dormir.

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