Rainfall

Um Conto Que Não Me Pertence


Caminhando sob aquele majestoso céu azul acinzentado — adornado por nuvens que se estendiam por sua extensão, enquanto o sol emitia um brilho pálido ao horizonte — absteve-se de mergulhar novamente nas páginas intrigantes de seu tão cobiçado conto.

Se o retirasse da bolsa agora, seria difícil encontrar forças para colocá-lo de volta. Poderia mesmo esbarrar em estranhos ou se perder no caminho que trilharia para chegar à aliança, ponderou.

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Na noite anterior, uma seqüência de imagens desordenadas havia tomado conta de seu sono. Lembrava-se dos gritos; sussurros; das chamas e, principalmente, das luzes seguidas pela ardência agonizante que dominara seu corpo.

Seu onírico parecia confuso em relação ao recado que transmitia — como se secretamente soubesse parte da mensagem; mas relutasse em compartilhá-la, revezando entre momentos de mínima compreensão e outros de escuridão absoluta.

Não havia sido capaz de descobrir onde estivera, nem mesmo com quem estava; mas, de alguma forma, sabia que ordenavam que fugisse — vozes se exaltavam, as chamas consumiam toda a pureza do ar, e logo após uma breve cessão do coro... tudo se iluminou.

Então, depois da dor lacerante que a invadiu, acordou num sobressalto — suando frio, tremendo e, por alguma estranha razão, chorando por uma vida que nem mesmo a pertencia.

As lembranças evaporaram quando seus olhos se encontraram com o velho lembrete do fim de seus dias solitários. A guilda que tanto amava. Os tímidos raios luminosos, que se esgueiravam por entre as nuvens, eram refletidos pelo sino vigorosamente sobreposto no topo da construção;e mesmo o clima melancólico não parecia afetar em nada a habitual energia que sua casa emanava.

Era, literalmente, como um conto de fadas.

Balançando a cabeça e sorrindo levemente, continuou a caminhar até os portões — capaz de prever a visão catastrófica que receberia quando entrasse.

No entanto, não foi capaz de alcançá-lo.

Sentiu seu corpo fortemente atingido por algo duro, seus joelhos prontamente cederam e os pés logo foram varridos do chão — agora suspensos, indo numa direção que ainda fora incapaz de avistar.

Ocasionalmente, ela esperou pela colisão.

Mas, novamente, errou em sua presciência.

A mulher aterrissou no chão com um baque abafado, rolando brevemente pela grama antes finalmente parar em seu caminho. Tentou virar-se para cima, mas apenas descobriu um misterioso peso mantendo seu corpo caído, forçando-a contra o solo.

E, tinha quase certeza, não era uma mulher.

— Juvia-sama! — braços desconhecidos apertaram sua figura esguia, chacoalhando-a e soltando sons propositalmente abafados de comemoração.

— Quem... — ela tentou perguntar; mas, novamente, algo a impediu.

A figura que antes a prendera, agora dava caminho à ausência. Algo forte — e um tanto quanto violento — havia retirado o peso sob si, e, agora esse recém chegado repetia as ações do anterior — com um pouco mais de delicadeza e cuidado, evitando palavras e envolvendo-a num abraço convidativo.

— Juvia-sama... — a terceira voz, agora feminina, murmurou em êxtase, a emoção transbordando de suas curtas palavras.

E então, pelo que pareceu a milésima vez aquele dia, Juvia fez uma breve pausa antes de continuar. Endireitou a postura e pigarreou, intentando girar o pescoço para ver aqueles que a acompanhavam.

— Quem são vocês?